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Papa é uma ovelha cercada de lobos

 

LEITORA ÂNGELA LUIZA S. BONACCI
DE SÃO PAULO

Extraído do site folha.com

Com base na minha santa ingenuidade ética, alguns seres humanos atingiriam o ápice da grandeza de alma na dedicação ao desenvolvimento espiritual em retiros, conventos, monastérios etc.

Na minha pia crença, até infantil, a cada degrau da hierarquia católica os sacerdotes subiriam em iluminação e tenderiam a uma santidade quase mística. O papa seria, então, um semideus.

No entanto, tudo que é ingênuo termina sofrendo um choque de realidade arrasador. O papa é uma ovelha cercada por lobos. Cardeais que beirariam a santidade (segundo minha pura teoria) disputam no "tapetão" o poder mundano.

Martin Meissner – 25.set.2011/Associated Press

Papa Bento 16 em uma visita oficial à Alemanha

O papa Bento 16 em uma visita oficial à Alemanha, em 2011; chefe da Igreja Católica anunciou que vai renunciar

A intriga palaciana substitui a humildade e a luminosidade mística. O amar aos outros como a ti mesmo, ganha versão pop do "primeiro o meu".

O profano paira como uma nuvem negra sobre o Vaticano. Tudo tão humano, e tão rasteiro… Pouco transcendente, muito imanente; nada metafísico ou espiritual, apenas picuinhas palacianas.

As vísceras religiosas estão expostas na hipocrisia… Mas, como disse, isso tudo é apenas uma visão inocente de quem ainda crê em magnitude espiritual e pureza contemplativa.

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‘Renúncia irritou ala conservadora da Igreja’

 

Para vaticanista, temor de tradicionalistas é o de que decisão de Bento XVI ajude a desmistificar papel do papa

14 de fevereiro de 2013 | 0h 15

  • Estadão.com

Jamil Chade e Filipe Domingues – O Estado de S.Paulo

CIDADE DO VATICANO – A decisão de Bento XVI de renunciar foi um gesto de "realpolitik", pragmático. A avaliação é de um dos principais vaticanistas, o italiano Marco Politi, que acaba de publicar um livro sobre o pontificado de Bento XVI. Em entrevista ao Estado, Politi apontou que, no fundo, a demissão de Bento XVI foi sua "única grande reforma" nos oito anos de seu pontificado. Mas uma iniciativa que ficará para a história e fará muitos pensarem sobre o futuro da Igreja.

Renúncia foi um gesto revolucionário - a única grande reforma de seu pontificado, diz Marco Politi - Jamil Chade/AE

Jamil Chade/AE

Renúncia foi um gesto revolucionário – a única grande reforma de seu pontificado, diz Marco Politi

Segundo o especialista, a ala mais conservadora da Igreja teria ficado irritadíssima com Bento XVI por conta de sua renúncia, temendo uma "desmistificação" do cargo de papa a partir de agora. Eis os principais trechos da entrevista:

Como foi a reação dentro do Vaticano diante da renúncia?

Os conservadores temem a decisão. O temor é de que isso possa causar uma desmistificação do papel do papa. E que, no futuro, um papa possa ser colocado sob pressão para se demitir em determinadas situações. Mas a decisão foi muito lúcida e muito bem planificada. Foi um gesto revolucionário – a única grande reforma de seu pontificado, um exemplo e um estímulo à reflexão. Na Alemanha, há cardeais que já falam abertamente de que seria justo colocar um limite de idade para o papa. Bento XVI completou a reforma de João Paulo II, estabelecendo idades para cardeais e sua participação no conclave. Agora, mandou a mensagem de que um papa pode, sim, renunciar. Nos tempos modernos, não se pode permitir um papa doente.

Fala-se muito de que a renúncia foi um ato político. Como o sr. avalia isso?

Foi um gesto de realpolitik e de reconhecimento da incapacidade sua de cuidar da Igreja, pois não basta ser um intelectual ou teólogo. Para guiar a instituição de 1 bilhão de fiéis, ele precisava de um pulso de governador.

Há o risco de que católicos no mundo não entendam essa decisão de Bento XVI?

Acho que a massa dos fiéis entendeu. Muitos ficaram surpresos e, no começo, desorientados. Mas não houve uma oposição ou mau humor. Na Praça São Pedro, não vimos nenhum grupo pedindo que ele fique. Entenderam que foi justamente uma troca de governo. O papa foi muito pragmático.

Quais são as perspectivas para o conclave, diante dessa situação inédita?

Dentro do conclave, todas as cartas estão embaralhadas. Será um conclave muito complicado. Em 2005, havia um grupo forte de apoio e de mobilização pela candidatura de Ratzinger. Mas ele era o único ator mais forte. O cardeal Martini seria uma opção, mas estava doente. Hoje, temos vários candidatos. Mas nenhum deles tem um pacote de votos claro. O vencedor será um candidato de centro. Não poderá ser alguém de continuidade de Ratzinger. Mas não sabemos se essa pessoa está disposto a fazer as reformas que a Igreja precisa para enfrentar seus desafios.

Quais são esses desafios?

O primeiro é a crise de padres. Não há padres para todas as paróquias. Outro é o papel das mulheres dentro da Vaticano. Há ainda o tema da sensualidade no mundo moderno, o homossexualismo, o divórcio. Finalmente, há a questão do papel do papa.

Um papa do mundo em desenvolvimento estaria sendo considerado?

A primeira questão é se haverá um papa italiano ou não. Os 29 cardeais italianos no conclave estão sobrerrepresentados. Mas isso não quer dizer que todos eles queiram um italiano. Há divisões. No passado, eram os estrangeiros que pediam para que o papa fosse um italiano. Mas há a impressão depois que os escândalos de corrupção foram revelados de que muitos querem que a internacionalização do papado continue. Ele poderá vir da América do Norte ou Sul. Eu dou menos chances aos africanos. Na América Latina existem vários candidatos. Mas há que ver se haverá um mais forte que concentre a atenção. Em 2005, no conclave, os latino-americanos fecharam um acordo de que apoiariam um nome da região se um cardeal começasse a se destacar.

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Próximo papa pode ser um cardeal brasileiro

 

Por Amanda Gigliotti | Repórter do The Christian Post

Com a renúncia inesperada do papa Bento XVI, há agora a expectativa de quem será apontado como o novo papa. Muitos olham para um candidato da América Latina, e o arcebispo brasileiro Odilo Scherer tem sido apontado como um dos prováveis sucessores.

  • cardeais brasileiros

    (Foto: Divulgação)

    Da esquerda para a direita: Dom Odilo Scherer, dom João Braz de Aviz, dom Geraldo Majella Agnelo (no alto), dom Cláudio Hummes e dom Raymundo Damasceno têm chances de suceder Bento XVI.

O cardeal Odilo Pedro Scehrer está entre os cinco candidatos apontados como prováveis sucessores, que incluem também o cardeal Angelo Scola, arcebispo de Milão; Marc Oullet, do Canadá, Luis Antonio Tagle, cardeal de Manila, na Ásia e Peter Turkson, de Gana, na África.

Entretanto, outro brasileiro João Braz de Aviz é visto também como um forte candidato, apontou a Reuters. O apologista cristão brasileiro Johnny Bernardo do Instituto de Pesquisas Religiosas do Brasil (INPR) também aponta para dom João Braz como um dos mais cotados a assumir o cargo.

Ao todo cinco brasileiros estão na lista dos candidatos ao papado. São eles, dom Raymundo Damasceno, atual arcebispo de Aparecida e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Cláudio Hummes, de 78 anos, arcebispo emérito de São Paulo, Odilo Scherer, de 63 anos, atual cardeal arcebispo de São Paulo, dom João Braz de Aviz, de 66 anos, que mora em Roma e é prefeito das congregações dos religiosos em Roma, e dom Geraldo Majella Agnelo, de 79 anos, atual arcebispo emérito de Salvador (BA).

Apesar de haver uma maioria de europeus como candidatos, muitos especialistas apostam que um candidato da América Latina ou da África podem preencher a vaga.

Entre as características apontadas para o Brasil estar no alvo das especulações, está a grande população católica de 133 milhões no país, segundo o Pew Forum on Religion & Public Life e a sua forte tradição católica.

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Johnny Bernardo aponta também para o crescimento evangélico no Brasil como influência na decisão da escolha do novo papa. Segundo ele, o tema foi base de especulações jornalísticas em 2005, quando houve a eleição de Joseph Ratzinger, o que motivou a indicação de dom Cláudio Hummes ao cargo de prefeito da Congregação para o Clero.

Ele cita também para a entrada do arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta na lista dos cardeais com direito a voto. Segundo ele, isso eleverá o número de cardeais brasileiros com direito a voto para seis, ultrapassando a Índia, com cinco cardeais, e se igualando a Espanha e a Alemanha, de onde veio o atual papa Bento XVI.

O apologista relembra que o papado de Bento XVI deu sequência ao diálogo ecumênico e a ruptura na hegemonia italiana e as mudanças advindas do Vaticano II abriram espaço para novas perspectivas com relação à sucessão papal.

“Por outro lado, o conservadorismo – característica comum dos antecessores de Bento XVI – é um aspecto que deve ser mantido no próximo Conclave, apesar de pressões internas e externas por abertura litúrgica e doutrinária.”