Marcelo Lemos
Era conhecido como “o Tisbita”, e exerceu o ministério profético nos dias do Rei Acabe, aproximadamente uns 8 séculos antes do nascimento do Cristo, o Redentor que tanto esperou em vida. Hoje, várias centenas de anos depois da Promessa cumprida, do Verbo feito carne, e da cruz redentora, ele ouviria histórias que o fariam rir, e talvez fizesse uso de seu afiado sarcasmo, como fez aos videntes de Baal, no Carmelo.
Quem sabe se, dia desses, caminhando pelos Jardins do Paraíso, não tenha ouvido, de algum recém-chegado, certas histórias engraçadas, como a daqueles que andam questionando se ele foi abduzido por um disco voador, já que o relato de uma “carruagem de fogo” não parece muito crível para o homem contemporâneo. “Estes são mais cômicos que os videntes de Baal, acreditam nas fábulas de Mulder, mas duvidam de um Deus criador capaz de fazer milagres!”, zombaria o profeta.
Oh, não! Não estou dizendo que a TV a cabo do céu retransmita X-Files; é só um exercício de imaginação senhores!
Ainda num esforço imaginativo, podemos tentar descrever um diálogo entre Elias, o profeta, e Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita.
“Na sua opinião, o que leva os cristãos modernos a rejeitarem a idéia de que você se reencarnou em João, o Batizador?”.
Nem os cristãos modernos, nem os antigos, jamais acreditaram do contrário – começaria Elias, o profeta. Primeiro, que a tese reencarnacionista contradiz o Evangelho; segundo, que também contradiz as leis mais elementares da lógica. Senão, vejamos: quando o senhor escreveu o “Evangelho Segundo o Espiritismo”, redefiniu conceitos básicos do Evangelho, como a Expiação, explicando-a como esforço humano para se auto redimir, por meio das obras e de sucessiva reencarnações. Como poderiam os cristãos aceitarem que tal doutrina se denomine “Evangelho”, se a Boa Nova trazida por Cristo é justamente a Graça?
Segundo a Escritura – continuaria o profeta; Deus revelou-se ao homem, em Cristo, no Verbo que se fez carne, habitou entre os homens, e padeceu pelos nossos pecados. Eis o Evangelho na definição dos cristãos primitivos: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua Graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pelos pecados dantes cometidos” (ROMANOS 3.23-25). Não é o homem que redime-se a si mesmo, mas Deus.
Ademais, não há motivos para os cristãos compactuarem com uma doutrina que, além de anti-cristã, não consegue subsistir ao crivo lógico da “não contradição interna”. Qualquer cosmovisão que contradiga a si mesma é, por definição, falsa. Que é a reencarnação, uma dádiva, ou uma pena? Se é dádiva, como pode ser pena?; Ou, do contrário, como pode ser pena se é uma dádiva? Numa terceira opção, poderíamos defini-la como “dádiva e pena”? Neste caso, porque os Espíritas fariam algo para melhorar sua própria vida, e a vida dos outros? Será por isso que, apesar de milhões de anos reencarnando, a humanidade só degenera, posto que os espíritas vivem interferindo na “dádiva” e na “pena”, impedindo o aperfeiçoamento? “
Acontece que o próprio Cristo afirmou que você, Elias, reencarnou em João, o Batizador…”.
De modo algum; ignorando o contexto, até mesmo os seguidores de Maomé identificam seu querido profeta como sendo o Consolador prometido, todavia, respeitando a linguagem das Escrituras, toda escuridão é dissipada. “E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus, e irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos”, anunciou o anjo a Zacarias, pai de João (S. LUCAS 1.16,17). O anjo não diz que ‘Batista’ seria o ‘espírito de Elias’ numa nova encarnação, mas sim, que ‘Batista’ exerceria seu ministério “no espírito e na virtude de Elias”. Não há qualquer ministério nas palavras do anjo, ao menos, não para aqueles que conhecem a forma de se expressar utilizada na Bíblia Sagrada.
Podemos voltar 800 anos antes do nascimento de ‘Batista’, afim de nos encontrarmos com Eliseu, que sucedeu a mim, Elias, no ministério profético daqueles dias.
Aconteceu que, sendo por mim avisado da minha iminente partida, eis que Eliseu me faz uma audacioso pedido: “Peço-te que haja porção dobrada do teu espírito sobre mim” (II Reis 2.9). Quando fui levado aos céus, a unção profética que havia sobre mim foi dada a Eliseu, simbolizado pelo manto que lhe entreguei. Ora, Eliseu não pretendia que eu reencarnasse nele, ou coisa parecida, mas sim, que lhe ungisse para ser meu sucessor, meu herdeiro; daí ter usado a expressão “porção dobrada”, que refere-se a herança dos primogênitos (Deuteronômio 21.7).
João, o ‘Batista’, herdou esta mesma autoridade, este mesmo ministério, por isso dele o anjo afirma, “irá diante dele (do Senhor) no espírito e na virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto” (S. LUCAS 1.17). Afirmar o dogma da reencarnação aqui é ignorar a linguagem da própria Escritura.
“Mas, Cristo afirma que Batista era Elias, com todas as letras em Mateus 17. 11-13”.
Sim, Cristo diz que ‘Batista’ era o Elias que os judeus esperavam vir, mas não diz nada sobre Elias ter reencarnado como ‘Batista’. Novamente é preciso atentar para a linguagem das Escrituras.
O argumento dos líderes religiosos daquele tempo era o seguinte: como pode este galileo ser o Messias, se o profeta Malaquias profetizou que antes dele viria Elias preparando o caminho?! Jesus, contudo, sabia que eles estavam cegos, e não compreendiam que o ministério de Elias já havia estado entre eles; por isso, no capítulo 11.14, ele diz: “E, se quereis dar crédito, é este o Elias que haveria de vir”. Aqueles líderes queriam ver o Elias literal, ressuscitado dentre os mortos. Batista não era o Elias literal, mas era o Elias que haveria de vir, ou seja, alguém com a mesma autoridade profética.
Além disso, o episódio bíblico conhecido como Monte da Transfiguração, comprova que Elias e Batista são personalidades distintas. Eu, Elias, vivi 800 anos antes de Cristo nascer, e Batista nasceu alguns meses antes da Virgem dar a luz, morrendo algumas décadas depois. No entanto, na Transfiguração, Jesus conversa com dois personagens, que os discípulos reconhecem como sendo Moisés e eu, Elias. Sendo que, de acordo com a Tese Reencarnacionista, evoluímos a cada nova encarnação, e posto que Cristo apontou ‘Batista’ como sendo “o maior já nascido de mulher” (S. MATEUS 11.11), é impossível que depois de morrer ‘Batista’ tenha regredido a ‘Elias’ e aparecido a Jesus!
A morte de ‘Batista’ também é de grande significado. De acordo com o Espiritismo, as penas que sofremos nesse mundo são para pagar os erros da vida anterior; é justamente por meio de tais penas (expiações) que nós evoluímos até atingirmos a perfeição. Como pode ser, então, que eu, Elias, anterior a ‘Batista’, e portanto, menos evoluído que ele (na ótica reencarnacionista), tenha tido uma vida melhor e mais miraculosa que a de João, o Batista?! Como pode o primeiro, ‘menos evoluído’, ter tido uma “passagem para o além” tão sublime, ao contrário do que ocorreu ao segundo? Ao invés de evoluir, Batista regrediu? Como disse, senhor Kardec, sua teoria não resiste a si mesma!
“Então, como você avalia o enorme bem que minha doutrina faz a humanidade?”.
Avalio da melhor forma possível. Fazer o bem temporal é algo de grande valor, mas não é suficiente, levemos em consideração que o homem estará eternamente condenado se basear sua fé numa doutrina enganosa. Qualquer religião que não seja a de Cristo, é heresia de perdição. E não há bem temporal que feito a alguém que diminua-lhe a danação eterna.
Além disso, se o bem que você realiza é bem sucedido, antes de comprovar a veracidade da sua religião, confirma a veracidade do Cristo, pois é dele que vem a sua inspiração. O bem que Cristo ensinou, vocês seguem, logo, vocês confirmam que Ele é a verdade; mas a teologia que Ele deixou, vocês reinterpretaram, isso prova que em vocês não há a Verdade – e o bem que fazem, como disse, aprenderam d’Ele! Assim, mesmo negando a teologia do Mestre, confirma que o Mestre é a Verdade!
“Como pode ser essa coisa de não ensinarmos a Religião de Cristo, sendo que fazem o bem que o Mestre ensinou?”
Muito simples: Cristo não nos ensinou apenas como nos relacionarmos uns com os outros, nos deixando mandamentos sobre amor, caridade e fraternidade; Ele também ensinou os homens a se relacionarem com Deus – e nisso vocês o rejeitam, deturpando seus ensinamentos.
Por exemplo, um Catecismo Espírita, escrito por um de seus discípulos, diz: “A dor, as humilhações, os reveses, as enfermidades, o trabalho e o estudo são as provas e as expiações com as quais compramos nossa felicidade futura. Com as expiações nós liquidamos nossos erros passados, satisfazendo assim a Justiça Divina” (RIGONATTI, Eliseu; 53 Lições de Catecismo Espírita).
Esta não é a Salvação ensinada pelo Cristo: “E, como Moisés levantou a serpente do deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tão maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça mas tenha a vida eterna” (S. JOÃO 3.14-16).
E foi dessa salvação, por amor e graça, que tanto eu, Elias, quanto todos os demais profetas, falamos: “O vós, todos os que tendes sede, vinde as águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (ISAÍAS 55.1). Eis, portanto, a salvação realmente ensinada pelo Cristo: “E no último dia, o grande dia da festa, Jesus colocou-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Aquele que cre em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre!” (S. JOÃO 7.37,38)
Marcelo Lemos é colaborador de Genizah
Fonte: Genizah
Uma resposta em “Um bate-papo mediúnico com Alan Kardec”
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