Após a confirmação da data do plebiscito sobre a divisão do Pará, as campanhas a favor e contra a divisão do Pará em três Estados, com a criação de Carajás e Tapajós, ganharam voz oficial. A consulta será realizada no dia 11 de dezembro.
A campanha de criação do Estado de Carajás será patrocinada, principalmente, por igrejas evangélicas e associações de criadores e produtores rurais das 39 cidades da região, além de prefeitos, vereadores e líderes políticos da região – que terão a chance de disputar novos cargos em na futura Assembleia Legislativa, Câmara dos Deputados, Senado e Tribunal de Contas. Do lado contra a separação, a luta pela preservação do Estado do Pará do tamanho atual coloca lado a lado associações empresariais, ONGs e sindicatos de trabalhadores.
Se proposta for aprovada, o Pará vai ser o menor dos três Estados que vão surgir da sua divisão
O presidente da Comissão Brandão, uma das entidades que lideram o movimento separatista no Pará, José Soares de Moura e Silva, afirma que existe um “anseio popular” pela criação do novo Estado. Entre as entidades que apoiam o projeto estão as associações de produtores, as centenas de igrejas evangélicas da região, o Rotary Club em Marabá e a Maçonaria, por exemplo. “Ainda não falamos em custos, mas o projeto de criação do novo Estado é um projeto de todos”, afirmou. “Cada um vai dar uma ajuda financeira nessa campanha”, complementou Silva.
O presidente da Associação dos Municípios do Tocantins e Araguaia (AMAT), outra entidade que lidera as discussões dos separatistas, Luciano Guedes, afirma que nesse momento até mesmo partidos adversários estão unidos. “Não existe uma bandeira partidária. Existe uma bandeira pró-Carajás. Nessa causa, temos apoio de gente do PT, do PSDB, do DEM, do PTB, de vários partidos. Existem empresários que já se manifestaram em nos dar ajuda financeira com esse projeto”, diz ele. “Se você fizer uma pesquisa aqui, quase 100% dos moradores são a favor da idéia”, conclui.
Os líderes argumentam que, com a divisão do Estado, será mais fácil a implementação de políticas públicas nos 39 municípios que farão parte de Carajás em saúde, educação e principalmente segurança. Quem é contra a separação rebate essa idéia e afirma que a divisão do Estado vai criar uma máquina pública insustentável.
Do lado contrário à separação do Estado estão entidades como a Associação Comercial do Pará (ACM-PA), a Federação das Indústrias do Pará e os sindicatos de trabalhadores e associações de classes. Nesta semana, foi protocolada a criação de um comitê de defesa do Pará para evitar a divisão do Estado. Eles pretendem apresentar números mostrando a inviabilidade do projeto.
“Nós teremos estruturas administrativas que vão consumir as receitas dessa divisão. Com a divisão, você não aumenta as políticas diretas à sociedade. Você não aumenta a quantidade de médicos nos hospitais, por exemplo. Você aumenta uma estrutura de custeio de máquina administrativa. Dois governos, duas assembléias, dois Tribunais de Contas, entre outros”, pontuou Zenaldo Coutinho, secretário da Casa Civil do governo paraense e líder da frente antisseparatista no Pará.
Entidades sociais também criticam o projeto de divisão do Estado. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), oficialmente, ainda não tomou uma posição sobre a divisão do Pará. Mas a coordenadora estadual do MST, Maria Raimunda César, critica a idéia. Ela afirma que um dos principais gargalos na região, os conflitos agrários, não será resolvido simplesmente com a divisão do Pará em três. “Temos problemas estruturais e somente se atacando esses problemas estruturais resolveremos questões como a violência agrária e rural”, disse. “A divisão foi impulsionada mais por grupos políticos e menos pela população”, afirma ela.
Com a divisão, você não aumenta as políticas diretas à sociedade. Você não aumenta a quantidade de médicos nos hospitais, por exemplo. Você aumenta uma estrutura de custeio de máquina administrativa”, diz líder contra a separação
O diretor do Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS), Atanagildo de Deus Matos, também afirma que os custos de criação de um novo Estado são altos e que, ao contrário do que os separatistas proclamam, a divisão territorial não resultará em políticas públicas mais efetivas. “Quem determina se a política pública chega ou não à população é o modelo de gestão, não a dimensão geográfica”, apontou Matos.
Pelo projeto de desmembramento do Pará, o Estado de Carajás terá 25% do território paraense e 39 cidades. O Estado herdaria o pólo de mineração da Vale e também o pólo de siderurgia de Marabá, um dos grandes focos na disputa entre separatistas e antisseparatistas. A população de Carajás seria de 1,4 milhão de habitantes e teria uma área de 289 mil km². Tapajós teria 58% do território e Pará ficaria com 17% do território atual. Hoje, o PIB de Carajás corresponde a 28% da riqueza de todo o Estado do Pará.
Data: 4/7/2011 08:55:27
Fonte: IG