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ALEGORIA DO FRUTO

Uma reflexão sobre aparência, substância e essência do cristianismo.
Podemos comparar o cristianismo que professamos, praticamos e cremos a um fruto, composto de casca, polpa e semente. Estes três elementos são importantes, mas não têm todos o mesmo valor.
A casca dá boa aparência ao fruto e serve como invólucro protetor contra as pragas e intempéries do ambiente. A polpa é a parte de maior utilidade imediata, sendo também a mais saborosa e nutritiva. Entretanto, a semente é o elemento mais precioso porque tem a função de perpetuar a espécie, possibilitando a produção de inúmeros frutos no futuro.
CASCA – APARÊNCIA RELIGIOSA
O cristianismo também tem a sua casca, que podemos sintetizar pelo uso dos verbos ter e fazer, incluindo nossa liturgia, por mais maravilhosa que seja. Todo o nosso aparato material, inclusive artístico e tecnológico é casca, ou seja, tudo aquilo que pode ser visto pelos homens, podendo funcionar como atrativo, como acontece com a embalagem de um produto. Qualquer religião pode ter templos magníficos e realizar eventos extraordinários. Entretanto, o cristianismo é muito mais do que isso. Se a nossa vida cristã se resume ao que fazemos no templo, estamos enganando a nós mesmos. Não me refiro ao lado espiritual do culto, mas à aparência dos atos em si. Os fariseus eram bons de casca. Sua aparência era a melhor possível, mas Jesus chegou a compará-los aos sepulcros caiados: bonitos por fora e podres por dentro (Mt.23.25-27).
A casca é uma religiosidade superficial. Ela pode não ser ruim, desde que não seja a única coisa que temos, como acontece com aqueles frutos que parecem tão bonitos, mas já foram devorados internamente por algum verme. O pecado pode nos consumir por dentro, apesar do nosso bom aspecto exterior (Sal.32.3).
A religiosidade, com seus usos e costumes, pode garantir boa aparência, mas de nada servirá se faltar a essência. Será como vestir uma roupa nova, cara e deslumbrante em um defunto.
Jesus alertou os discípulos para que não se enganassem com esse nível religioso:
"Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa…" (Mt.6.1-21). O mesmo alerta foi dado em relação às orações públicas e aos jejuns ostensivos.
Não confunda atividade e religiosidade com espiritualidade. São coisas bem diferentes. A religiosidade produz um sentimento de dever cumprido e uma satisfação que sossega a consciência humana sem ter necessariamente agradado o coração de Deus. Não adianta trabalhar para Deus sem conhecê-lo.
POLPA – MODO DE VIDA
Abaixo da casca está a polpa do fruto. Vamos representá-la pelo uso do verbo obedecer. É a substância que vai além dos rituais e abrange nossa vida, nosso comportamento, principalmente fora do templo e das reuniões cristãs.
Na parábola do bom samaritano foram citados o levita e o sacerdote que poderiam estar em dia com seus deveres no templo, mas falharam fora dele.
O evangelho não pode ficar preso nos templos, mas precisa sair pelas ruas e entrar nas casas através de pessoas que vivem o que Jesus mandou. Aqui estão as questões éticas da nossa vida e o testemunho cristão, se obedecemos aos mandamentos de Deus ou não, se fazemos o bem ao próximo ou não. Contudo, se fizermos boas obras com o intuito de aparecer, voltamos ao nível da casca.
Em geral, a polpa é a parte mais nutritiva do fruto. Nosso modo de viver será muito mais útil aos que nos rodeiam do que a realização de rituais.
Se cumprimos ritos religiosos e temos bom comportamento estamos plenamente realizados? Não. O cristianismo é muito mais do que isso. Muitos ímpios também têm boa índole e bom comportamento, mas isto não os livrará do inferno. Muitos fazem obras de caridade, mas não serão salvos por elas.
O jovem rico mencionado em Mateus 19.16 era obediente aos mandamentos e, certamente, cumpridor de suas obrigações religiosas, mas Jesus disse: "Uma coisa ainda te falta". Ele estava acima do padrão dos fariseus, mas ainda não havia alcançado o padrão de Cristo. Além da casca e da polpa está a semente. Além da aparência e da substância está a essência, que podemos resumir pelo uso do verbo ser. É possível ter, falar, fazer e até obedecer parcialmente sem ser.
Isto nos faz lembrar as palavras de Jesus: "Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade" (Mt.7.22-23).
SEMENTE – O QUE ESTÁ NO CORAÇÃO
A semente é o que está em nossos corações. Isto vai muito além da prática religiosa, dos costumes, das tradições e até mesmo do bom comportamento, pois abrange as motivações, pensamentos, intenções e o compromisso com Deus. Este é o cristianismo no íntimo, onde somente Deus vê. Não estamos desvalorizando os atos litúrgicos nem a ética, mas dizendo que a relação com Deus é algo mais profundo do que tudo isso. O jovem rico cumpria os mandamentos, mas não tinha relacionamento com Deus. Era semelhante a um filho obediente que vive longe do pai. O que havia em seu coração? O amor ao dinheiro.
Que tipo de fruto é o cristianismo que eu vivo? Apenas casca? Tem substância? Tem essência? A prova dirá. As tribulações rompem a nossa casca e revelam quem somos. Em algum momento, a casca precisa ser rompida para que a semente se manifeste. Foi o que aconteceu com Jó. Sua "casca" foi arrancada e sobrou somente a essência. Depois de perder tudo, ele se prostrou e adorou, demonstrando profundo compromisso com Deus.
Podemos viver um tempo em que nossos cultos públicos serão impedidos. Isto acontece em países onde o cristianismo é proibido. Então, só resta o que é íntimo. O profeta Daniel, no exílio babilônico, viu-se distante dos rituais religiosos judaicos, mas teve a oportunidade para manifestar a essência da sua fé.
Atos religiosos podem ser realizados mecanicamente. Bom comportamento pode ser resultado da educação, mas existe algo mais profundo que é a vida de Deus em nós.
As palavras de Jesus aos fariseus demonstram que ele estava em busca da semente em seus corações:
"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas" (Mt.23.23).
Os apóstolos de Cristo alcançaram um nível espiritual muito acima dos fariseus e do jovem rico. Tornaram-se exemplos de pessoas que foram quebradas e demonstraram ter a boa semente em seus corações. Provaram isto porque foram fiéis, não em um contexto de prosperidade material, mas em meio às perseguições e perdas, mantendo o compromisso com Deus até a morte.
Nossas reações diante das situações difíceis da vida, das ofensas e das perseguições revelam o que existe em nosso íntimo. Em momentos assim, muitos religiosos se desviam, mas os verdadeiros cristãos ficam firmes porque sua semente é autêntica. A semente é a parte mais forte do fruto, exatamente para resistir ao mau tempo e garantir que, depois do inverno, uma nova vida comece.
Muitas sementes são desvalorizadas, sendo jogadas ao lixo, juntamente com a casca. Da mesma forma, corremos o risco de desvalorizar o mais importante na vida cristã: a intimidade com Deus. Precisamos conhecê-lo e ter experiências reais com ele, pois elas nos manterão de pé quando tudo estiver caindo à nossa volta. Precisamos buscá-lo intensamente e conhecer sua palavra profundamente. Menos do que isso é viver apenas no nível superficial da casca.
Tudo no fruto é importante, mas precisamos investir mais na intimidade com Deus, combatendo os pecados do coração e não apenas na aparência. Deste modo, seremos frutos aprazíveis a Deus. As lutas não nos destruirão se, no profundo do nosso ser, houver a fé e o amor, como sementes divinas e preciosas. Esta é a boa e verdadeira espiritualidade.
A casca é pública. A polpa é particular. A semente é íntima, secreta.

"Teu Pai, que vê em secreto, te recompensará" (Mt.6.6).

Pr.Anísio Renato de Andrade
www.anisiorenato.com

Por Pastor Ângelo Medrado

Pr. Batista, Avivado, Bacharel em Teologia, PhDr. Pedagogo Holístico docente Restaurador, Reverendo pela International Minystry of Restoration - USA - Autor dos Livros: A Maçonaria e o Cristianismo, O Cristão e a Maçonaria, A Religião do Anticristo, Vendas Alto Nível com Análise Transacional, Comportamento Gerencial.
Casado, 4 filhos, 6 netos, 1 bisneto.

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