Complexo egípcio do Bacacheri abriga a fraternidade mais antiga do mundo
por Luan Galani
Já esteve no Egito? Se não, passe pela Rua Nicarágua, próximo ao Parque do Bacacheri. As construções monumentais com estátuas e ornamentos típicos não deixam dúvida: ali jaz um pedacinho da terra dos faraós. Em menos de 200 metros, são seis edifícios, cada qual com sua própria característica, que abrigam a sede de língua portuguesa da fraternidade mais antiga do mundo, a Antiga e Mística Ordem Rosacruz (Amorc).
A sociedade, que um dia já foi secreta para se esconder de duras perseguições, completa 60 anos de sua presença no Brasil e hoje é uma organização filosófica que busca transmitir para seus membros conhecimentos místicos sobre os grandes mistérios que cercam a existência humana e o universo, a fim de ajudar no desenvolvimento interior de cada um.
“A Rosacruz não é uma religião, mas uma filosofia, que reúne diversos conhecimentos. Boa parte do Egito, mas não só”, esclarece Hélio de Moraes e Marques, grande mestre da jurisdição de língua portuguesa da ordem e especialista em filosofia antiga. “Ela tomou corpo quando o faraó Tutmés III reuniu as escolas de mistério, agrupações de pessoas interessadas em discutir filosofia, arte e ciências, em uma única ordem. Um século mais tarde, o faraó Amenhotep IV sistematizou os ensinamentos da fraternidade, rompeu com a crença em diversos deuses da época e inaugurou o monoteísmo. Ele reconhecia o sol como símbolo de uma única divindade.”
A partir do século 17, a ordem, que também remonta aos cavaleiros templários – monges que aprenderam a empunhar espadas para defender Jerusalém – torna pública e oficial sua existência, creditando também algumas filiações de peso a sua história, como Leonardo da Vinci, René Descartes, Teresa de Ávila e Francis Bacon.
Egiptomania
O conjunto arquitetônico da ordem em Curitiba foi levantado no Bacacheri não por qualquer motivo esotérico, mas porque uma pequena cachoeira próxima dali roubou o coração dos representantes da fraternidade que vasculharam o Brasil atrás de um local para receber a instituição. “Aqui foi o lugar mais agradável que encontraram”, conta Marques.
O complexo começou a ser construído em 1956 sob a direção da primeira grande mestre brasileira da fraternidade, a carioca Maria Moura. Construtivamente, segue a alvenaria tradicional. E esteticamente é uma releitura contemporânea de proporções menores da arquitetura egípcia clássica.
O prédio que abriga o templo tem como fachada um pilone: uma porta monumental flanqueada por duas torres em forma de trapézios, que representam as montanhas através das quais o sol nasce. “As colunas papiriformes (que imitam papiros enrolados) são outro símbolo, pois os egípcios acreditavam que as plantas foram a primeira forma de vida criada, já que o mundo, para eles, surgiu de uma grande massa de água”, esmiúça o arqueólogo Moacir Santos, especialista em Egito Antigo. “Em resumo: o templo reproduz o instante em que o universo foi criado.”
As paredes inclinadas também são características da época, quando a técnica construtiva era mais limitada e os engenheiros eram obrigados a adotar esse formato para sustentar os edifícios. “Essas releituras são práticas antigas que começaram com os romanos, quando eles se apropriaram de alguns elementos. Mas a egiptomania ganha fôlego no século 20, quando grandes descobertas arqueológicas motivaram o interesse pelo tema.”