Idealizado no Canadá, ato contra o machismo já tem 4 mil presenças confirmadas no Facebook
Eduardo Roberto – Estadão.com.br
SÃO PAULO – Pela terceira semana consecutiva, a Avenida Paulista promete ser palco de uma manifestação que ganhou força na internet. Mas o motivo que promete reunir neste sábado milhares de manifestantes na Praça dos Ciclistas, a partir das 14h, é inusitado: trata-se da Slut Walk, ou "marcha das vagabundas", em tradução livre.
Mark Blinch/Reuters – 03/04/2011
Manifestantes com cartazes durante Slut Walk em Toronto, no Canadá
A ideia vem do Canadá. Em janeiro, na universidade de York, em Toronto, um policial falou a um grupo de estudantes que mulheres não deveriam se vestir como vagabundas ("sluts", na gíria em inglês) para evitar serem atacadas sexualmente. E logo gerou reação: em março, quatro mil pessoas ocuparam as ruas da cidade, em direção ao prédio da polícia de Toronto, para protestar contra a declaração. A maioria dos manifestantes era mulheres, vestidas com roupas curtas, peles falsas, sutiãs e meia-arrastão.
No Brasil, a passeata está sendo organizada por três amigos, entre eles a escritora Solange De-Ré. "A Madô Lopez mostrou para mim e para o Edu K. uma reportagem sobre o Slut Walk lá fora. Começamos a discutir o assunto entre nós e concluímos que o Brasil ainda é um país definitivamente machista, mas de maneira velada", diz.
Os três marcaram então o evento no Facebook. Quatro mil internautas já confirmaram presença. "Superou nossas expectativas. Está sendo surpreendente ver que esse problema sempre existiu e agora podemos discuti-lo publicamente, apoiados por homens e mulheres", afirma Solange. Ela espera 2,5 mil pessoas na marcha.
Apesar do tema espinhoso, os organizadores dizem não temer repressão policial. "A nossa manifestação é pacífica e aborda um tema sério da nossa sociedade, não vejo motivo para repressão", acrescenta a escritora.
A principal atração da marcha são as roupas provocantes, que fazem uma alusão ao estereótipo da prostituta. Mas a organizadora explica que as mulheres devem ir vestidas "delas mesmas". "Não é concurso de miss, nem festa à fantasia", ressalta.
Homens também podem participar do Slut Walk. "O Edu K. está apoiando abertamente a causa", diz Solange. "Homens são mais do que bem-vindos, uma vez que seja pra somar aos nossos ideais."
Evento global. O Slut Walk se espalhou pelo mundo. Depois do Canadá, a marcha foi organizada na Austrália, Argentina, EUA, Holanda e Grã-Bretanha e Nova Zelândia. Para o dia 4 de junho, passeatas em várias partes do planeta estão sendo organizadas simultanemente, além de mais marchas ao longo do ano. Confira a lista de locais aqui.