Por Robinson B. Cavalcanti, Bispo|Colunista Convidado do The Christian Post
Tem sido comum a referência conjunta a África, Ásia e América Latina como espaços de maioria cristã teologicamente conservadora, em contraste com o liberalismo revisionista do Ocidente. Essa expressão também foi usada no comunicado dos Primazes do Sul-Global quando de sua recente visita à China. Conquanto a afirmativa é verdadeira no que se refere ao conjunto dos cristãos, particularmente a crescente comunidade protestante (o liberalismo deixou fortes marcas na Igreja Romana com a Teologiada Libertação), ela não corresponde aos fatos quando nos referimos particularmente ao Anglicanismo. Vários países da América Latina integram a Nona Província interna da Igreja Episcopal (TEC) dos Estados Unidos, e as Províncias do México, América Central e Brasil têm ensaiado a formação de um Centro-Global em contraste com o Sul-Global, e são conhecidas por sua dependência ideológica da TEC, com a qual se comportam como satélites.
A diminuta e decrescente Província do Brasil tem advogado uma teologia mais radical do que a própria TEC. Resta a conservadora Província do Cone Sul, da qual a dissidente Diocese do Uruguai quer sair e se juntar a outra Província liberal, provavelmente o Brasil. É possível que na base dos leigos, e alguns clérigos, se tenha uma presença expressiva de conservadores nos países de fala hispânica (e muito menos no Brasil), mas não em suas cúpulas comprometidas e promotoras da agenda revisionista. Ao que parece, as lideranças conservadoras da Comunhão Anglicana não possuem uma informação mais acurada sobre a realidade da América Latina, nem possuem uma política articulada de inserção naquele continente. O apoio a igrejas e grupos que defendem a fé ortodoxa sobre perseguição não é algo peculiar ao Ocidente, mas uma dolorosa realidade no cotidiano de muitos fiéis anglicanos latinoamericanos.
Edward Robinson de Barros Cavalcanti (Recife, 21 de junho de 1944) é um teólogo, Cientista Político e bispo da Igreja Anglicana do Cone Sul da América, comandando a diocese de Recife. É professor universitário aposentado da UFPE e UFRPE e possui treze livros escritos sobre religião. Em 1997 foi eleito bispo da diocese de Recife. Como bispo diocesano, ordenou 103 diáconos e 87 presbíteros.