O lema da Campanha da Fraternidade 2010 é um tapa, bem dado, dos católicos nos "evangélicos da prosperidade".
Rubinho Pirola
Fui supreendido pela Campanha da Fraternidade de 2010 (assinada pela Igreja Católica, através da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e um grupo de outras denominações, representantes do Conic: Igreja Luterana, Igreja Anglicana, Igreja Presbiteriana Unida e Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia.) mais especificamente pelo seu lema: "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro", baseado em Mateus 6:24.
Creio mesmo que essa campanha da Igreja Católica tem destinatário identificado e conhecido, partindo de onde chegamos nós ditos "evangélicos": o fundo do poço.
Nunca antes na história deste país pregou-se tanto sobre dinheiro, riquezas, incentivando o que de pior todos temos como a ganância, o egoísmo e a cobiça, travestida de "verdades bíblicas".
A história mostra onde leva o amor do homem ao dinheiro. Os modelos econômicos idem, quando o motor da existência humana não é mais o amor à vida, a convivência solidária, mas a ganância e a sede do poder – o temporal, o passageiro e transitório, posto que tem aqui – na terra – o supremo alvo de todos nós.
Enquanto os judeus foram abençoados com promessas de fixação nessa terra, nesse chão, de prosperidade material, sem revelação alguma sobre o além, sobre o que teremos todos além da morte, no Antigo Testamento, a igreja, os fiéis da "segunda casa", receberam a revelação de uma pátria superior e um apelo insistente a que marchemos fiéis rumo à nossa cidade, onde Deus está entronizado, onde a riqueza, não tem outra serventia a não ser existir como pavimento da cidade celestial, para que a pisemos, sem outra importância alguma. Essa é a verdade. Basta que leiamos todos as Escrituras com olhar bem atento.
Mas, se Cristo mesmo advertiu-nos que o nosso reino não é daqui, vemos hoje outro evangelho ser pregado que enoja, ultraja e tenta roubar da cruz o seu real significado, que põe as riquezas e os poderes deste mundo no seu devido lugar. As riquezas são mais importantes que a vida humana e os governos (e os falsos apóstolos) todos estão ai, à mercê de Mamom.
Não nos iludamos – a crise que se instalou nesses dias recentes em todo o planeta foi e é motivada pela ganância. As guerras recentes do Iraque e do Afeganistão idem. A fome em toda a parte miserável do planeta também. E não acabará jamais porque cumpre ao homem, servir ao deus deste mundo – o ouro e a prata.
O comunismo faliu dentre outros motivos, porque ignorou que não há motivo maior para que o homem trabalhe a não ser a perspectiva do seu ganho pessoal e, dane-se o estado, dane-se o seu semelhante. E o capitalismo, na sua vertente mais cruel o liberalismo está posto como a religião que mais cresce no mundo, a que privilegia e serve o nosso ventre, privilegiando os bens e não a vida e a justiça.
Muito se tem falado sobre o crescimento islâmico na Europa, mas pouco do poder que a divindade deste mundo que se esconde atrás dos seus santos e ídolos: Nike, Audi, Rolex… podem fazer para amenizar o ardor religioso dos seguidores de Maomé – como também os de Cristo. Essa força terrena pode muito em seus efeitos…
Batemos todos no fundo do poço da vergonha, por isso, essa Campanha dos Católicos vem em boa hora. Como bem sugeriu há anos, o suíço Francis Shaffer no que ficou conhecido como "co-beligerância" (o juntarmos-nos a outras forças da sociedade naquilo que nos une, mesmo que estes não compartilhem de todos os nossos ideais – sem abrirmos mão do que cremos), essa Campanha bem que pode ser assinada por todos os homens e mulheres de bem deste país, dos que amam o verdadeiro evangelho. Não nos esqueçamos: ou servimos a Deus, ou às riquezas. A teologia que privilegia a prosperidade material, também acaba por privilegiar a pobreza ética…
Eu, da minha parte, já estou nessa.
"Ninguém poderá servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mt 6:24