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Mitos evangélicos – Estudo bíblico.

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Enviado por  canoa furada

Existem mesmo mitos evangélicos? Afinal, um povo que prega liberdade em Cristo, busca viver a verdade e brada “EU SOU LIVRE” não deveria alimentar mitos.

Antes, uma breve definição do que seja mito. O mito (do grego μυθóς, lê-se “mithós”) é uma interpretação simbólica de fatos, geralmente com fundo cultural. O mito procura explicar a realidade e parece lógico, mas sua argumentação é falsa, seu fundamento é um sofisma.

O mito pode ser vivenciado através de ritos. O rito é o modo de se pôr em ação o mito na vida da pessoa ou comunidade, em cerimônias, danças, orações e sacrifícios.

Não confunda com superstição. Superstição liga-se a misticismo. É a crença sobre relações de causa e efeito que são contrárias à racionalidade. Por exemplo, no Brasil existe a superstição de que quebrar um espelho causa sete anos de azar e o mito de que comer manga com leite faz mal; a superstição de bater três vezes na madeira para evitar um mal e o mito de que se deve evitar tomar banho depois de comer. Portanto, não troque os conceitos.

Às vezes, as correntes que nos impedem de sermos livres são mais mentais do que físicas ou mesmo espirituais. Assim, podemos estar amarrados a “nada”.

Então, vejamos alguns (somente alguns) mitos evangélicos:

a) A ORAÇÃO DE MADRUGADA É MAIS EFICAZ.

Origem provável: (Salmo 88:13) –  “Eu, porém, Senhor, tenho clamado a ti, e de madrugada te esperará a minha oração.”e (Jó 8:5) –“Mas, se tu de madrugada buscares a Deus, e ao Todo-Poderoso pedires misericórdia…”

O livro de Jó e os Salmos são poéticos, e por isso guardam bastante linguagem figurada. No imaginário oriental, madrugada era sinônimo de tribulação e angústia. A escuridão lembra ameaça e grande perigo. Por isso há tantas referências às madrugadas no Antigo Testamento. O salmista queria apenas dizer: na angústia te esperará a minha oração. “Madrugada” (Heb. Transl. Shachar), que também se traduz como “cedo, pela manhã”, também sugere que se deve buscar ao Senhor com prioridade.

Associa-se a isso a nefasta “teologia do sacrifício”, que sugere que práticas ascéticas são agradáveis a Deus. Programar orações às 2h da manhã, renunciando a um sono reparador, dentro dessa perspectiva faz muito sentido.

De forma geral, talvez seja melhor aproveitar a noite para o descanso do corpo e da mente, para o dia que virá cheio de desafios e oportunidades. O mito do “quanto mais sofrido, mais Deus se agrada” deve dar lugar às orações da manhã, da tarde ou da noite, que têm o mesmo alcance daquelas feitas na madrugada.

(Salmos 127:2) –“Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois assim dá ele aos seus amados o sono.”

b) ORAR EM SILÊNCIO É MELHOR PORQUE O DIABO NÃO OUVE.

Origem provável: (Lucas 5:22) –“Jesus, conhecendo os seus pensamentos, respondeu: Que arrazoais em vossos corações?”

A Bíblia é econômica nesse assunto, por isso o imaginário religioso cunhou a ideia de que somente alguém onisciente teria condições de saber o que pensamos. Logo, nem anjos, nem demônios, nem ninguém teria essa prerrogativa, além de Deus. De Lucas 5:22 (acima) talvez possamos extrair que somente Deus possa saber o que pensamos, mas é provável que o astuto diabo consiga mais vantagens do que imaginamos nessa área (Veja II Coríntios 2:10-11). Não podemos ter plena certeza disso.

De qualquer forma, esse mito parece ter nascido do medo do diabo, e quando se tem medo do diabo e do que ele pode fazer com os filhos de Deus, uma das situações é verdadeira: (1) superestima da atuação do maligno, (2) desconfiança no cuidado de Deus e/ou (2) falta de conhecimento da Palavra de Deus. Quem assim pensa precisa dar uma boa olhada em I João.

Pessoalmente penso que pouco importa se o diabo sabe ou não o que pensamos. Orar em silêncio ou em brados não faz diferença alguma, porque o diabo ouvindo ou não, nada poderá contra os intentos de Deus para a Sua Igreja.

(I João 4:4) –“Filhinhos … maior é o que está em vós do que o que está no mundo.”

(I João 5:18) –  “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus … o maligno não lhe toca.”

(I João 3:8b) –“Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo.”

(Veja também Is43:13; 2Ts 3:3; Ef 6:16 e 1Jo 5:19).

c) A ORAÇÃO DE JOELHOS É MAIS PODEROSA.

Origem provável: (Lucas 22:41) –  “E [Jesus] apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava.” e (Efésios 3:14) – “Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Veja também Ed 9:5 e Dn 6:10).

Dobrar os joelhos para falar com alguém é sinal de profunda reverência. Ainda hoje pessoas se ajoelhamperante osreis e o papa.Em alguns contextos, ajoelhar-se é sinal de adoração. Não é sem motivo, portanto, o gesto pessoal de dobrar-se perante o Deus Altíssimo.

Mas em torno desse costume criou-se o mito de que a oração feita de joelhos surte melhor efeito. É comum que a Igreja faça petições a Deus de pé quando o assunto é simples, e quando a coisa é intricada pede-se a posição de joelhos.

Biblicamente, o alcance da oração independe da posição de quem ora, depende apenas de fé. As orações mais célebres que Jesus e outros fizeram não foram de joelhos. Veja 2Rs 20:2; Jn 2:1; Lc 3:21; Lc 18:13;Jo 17:1; Jo 11:43.

d) O JEJUM SANTIFICA E ACELERA A RESPOSTA DE DEUS.

Origem provável: (Neemias 1:4) –“E sucedeu que, ouvindo eu estas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus.” e  (Atos 13:3) –“Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram.”

A abstinência alimentar com fins religiosos tem origem no Dia da Expiação, que era uma festa anual dos hebreus em que se fazia a purificação de todos os pecados do povo (Levítico 16.29-30 e 23.26-29). Nesse dia, era prescrito afligir a alma, com a negação de prazeres ao corpo, incluindo o alimento. No Antigo Testamento, o jejum sempre esteve ligado à tristeza e ao luto, e nunca à santificação ou busca por poder. Bem mais tarde, os israelitas passaram a fazer jejuns interesseiros, no que foram repreendidos por Deus, através dos profetas Isaías e Zacarias. O jejum com a finalidade de “matar a carne” surge a partir da influência grega do dualismo de Platão, que sustenta a oposição entre o material e o espiritual.Nesse contexto, a ascese servirá para aproximar a pessoa da verdadeira realidade espiritual, ao sesublimar os impulsos “carnais”. A ideia da mortificação da carne está ausente no Antigo Testamento.

Com o advento do pentecostalismo, no século XIX, e do neopentecostalismo, nos anos 1980, o jejum assume um viés ainda menos ortodoxo, sem amparo bíblico, e tem sido usado para santificação, sacrifício, preparo para expulsar demônios e outras situações difíceis, subjugar a carne, conseguir uma bênção específica, busca de uma experiência mais intensa com o Espírito Santo, pela libertação de pessoas ou de nações ecomo condição à implantação de decretos divinos (atos proféticos). Mas não há respaldo bíblico sistemático para nenhuma dessas aplicações.

Ao contrário do que parece, o assunto é simples. A polêmica surge mais em função de tradições. Portanto, é mito que o asceticismo seja útil para santificação e resposta de Deus.

(Colossenses 2.20-23) – “Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.”

(Mateus 9.16-17) – “Ninguém deita remendo de pano novo em vestido velho, porque semelhante remendo rompe o vestido, e faz-se maior a rotura. Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás, rompem-se os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.”

e) DIFICULDADE E DOENÇA SÃO SINAIS DE QUE HÁ PECADO.

Origem provável: (João 5:14) –  “Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior.”

Esse texto isolado pode respaldar a ideia de que problemas e doenças são castigos pelo pecado. Mas essa conclusão é prematura e até ingênua. Aquele paralítico pode ter ficado assim por causa de atividades ilícitas, mas naquela época já havia a ideia de que pecados são punidos com doenças, porque ainda não compreendiam as suas causas.

Esse conceito foi firmado na década de 1970, quando surgiu nos Estados Unidos a doutrina da Confissão Positiva, cujo pai foi Keneth Hagin, falecido em 2003. Kenneth Hagin influenciou muitos, como T. L. Osborn, Benny Himm, John Osteen, Morris Cerullo e Joyce Meyer, e muitas personalidades no Brasil, a exemplo de Valnice Milhomens e Silas Malafaia. Essa doutrina propala que devemos proferir palavras de vitória para ter vitória, determinar para a doença que se vá para ficar curado e coisas do tipo, além de quebra de maldições, maldições hereditárias e pecados de geração. Ocorre que essa abordagem não encontra sustento sistemático na Palavra de Deus e tem causado problemas no meio cristão evangélico. Sendo uma inverdade (porque o mundo não gira em torno do que falamos ou decretamos), não raro há casos de pessoas confusas, que não “avançam” na vida, apesar de viverem autoproclamando vitórias. Quando isso acontece, o remédio dessa “teologia” é: Você está em pecado. Simples assim, impingindo culpa e neuroses de toda espécie.

Homens e mulheres fiéis, desde tempos remotos, passando pela igreja primeva até a atualidade, têm sido acometidos por doenças e sérias dificuldades na vida. Essas ocorrências são normais para quaisquer pessoas, em face das limitações do nosso corpo e do estado deste mundo, e de maneira nenhuma empalidece o poder de Deus em nossas vidas. Ironicamente Keneth Hagin morreu por causa de doença. Não me alegro com esses infortúnios, apenas os cito para evidenciar que doenças não são evidência necessária de anormalidades em nossas vidas espirituais, e Deus pode curá-las de assim quiser.

(João 9:3) –“Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus.”

(Romanos 7:24) – “Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?”

(II Timóteo 4:20) – “Erasto ficou em Corinto, e deixei Trófimo doente em Mileto.”

f) A ORAÇÃO DO PASTOR TEM MAIS PODER.

Origem provável: (Hebreus 13:17) – “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.”

O livro de Atos retrata os feitos do Espírito Santo por meio dos apóstolos, pondo em relevo o que os primeiros discípulos do Senhor realizaram em nome de Jesus. Sempre houve e parece que sempre haverá pessoas que nasceram para liderar e outras que anseiam por ser lideradas. Parece ser inerente a alguns buscar a segurança de uma “cobertura” que as proteja.

Na Antiga Aliança havia classes sacerdotais. O sistema clerical do judaísmo contemplava sacerdotes e levitas. Os sacerdotes eram mediadores entre o povo e Deus, e os levitas cuidavam de todo aparato espiritual e administrativo da Casa de Deus.

Contudo, Jesus veio reorganizar esse sistema de normas religiosas e proporcionar um relacionamento novo entre homens e mulheres com Deus, por meio da fé. Ocorre que no meio cristão ainda persiste a ideia de classes sacerdotais composta de pessoas especiais, tal qual havia no sistema levítico, recaindo suas prerrogativas sobre pastores, bispos, apóstolos ou patriarcas. Se a comunidade aceita esse sistema e recebe tais lideranças como vozes exclusivas de Deus na igreja, fica fácil a proliferação de crendices e mitos.

Nesse contexto, a fé na oração do pastor é uma realidade. A partir do pressuposto de que ele é especial, nada faz mais sentido.

É preciso que o cristão entenda que vivemos a profecia do sacerdócio real de todos os crentes. Embora os pastores sejam homens de Deus que merecem todo o nosso respeito e consideração, a petição dele pode tanto quanto a minha e a sua.

(Marcos 16:17) –“E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas.”

(I Pedro 2:9) –“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.”

(Tiago 5:16) –  Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.

(Veja também Jl 2.28-29, At 2.17-18 e At 5.16).

g) PASTOR DIVORCIADO PERDE A UNÇÃO.

Origem provável: (I Timóteo 3:2) –“Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar.”

Há três interpretações correntes para esse texto. (1) Que pretende afastar a poligamia, já que no primeiro século em Israel essa prática ainda era legal; (2) que era condição para o pastorado ser casado; e (3) que era condição para o pastorado que o candidato tenha se casado uma única vez na vida.

Além disso, é preciso considerar Mateus 19.9, onde Jesus orienta sobre o repúdio à mulher, divórcio e adultério. Nessas questões não podemos ser simplistas. É necessário se debruçar sobre o tema para a compreensão do que Jesus pretendeu ensinar quando tratou do “repúdio à mulher”. Não estaria Jesus reprimindo separações por motivos fúteis e banais? Ou será que Jesus proibira quaisquer separações conjugais apesar de todo tipo de dificuldades, incompatibilidades, humilhações, violências, vícios e desrespeitos, mesmo depois de todas as tentativas de perdão e recomeço?

O ideal é que não ocorressem divórcios. A vontade de Deus – está claro – é que o homem casado não se separe. Não podemos fazer apologia ao divórcio, mas parece-me meninice negar que há casamentos que infelizmente se tornam insustentáveis.

Sou casado há 21 anos com a primeira e mesma esposa, e pretendo permanecer assim, até que a morte nos separe. Mas por motivos diversos homens e mulheres de Deus abrem mão de seus matrimônios, e cada caso é uma história. O imaginário religioso, preconceitos e tradições acabam condenando essas pessoas ao ostracismo; pessoas que antes eram ferramentas nas mãos de Deus, transformando-as de um dia para outro em obreiros de segunda linha. Esse é mais um mito que precisamos reescrever, pois a realidade evidencia outro cenário. O Senhor é Deus de misericórdia e graça.

(Romanos 14:19) –“Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros.”

(I Coríntios7:15) – “Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não esta sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.”

(I João 3:20-21) –“Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas. Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus.”

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ALEGORIA DO FRUTO

Uma reflexão sobre aparência, substância e essência do cristianismo.
Podemos comparar o cristianismo que professamos, praticamos e cremos a um fruto, composto de casca, polpa e semente. Estes três elementos são importantes, mas não têm todos o mesmo valor.
A casca dá boa aparência ao fruto e serve como invólucro protetor contra as pragas e intempéries do ambiente. A polpa é a parte de maior utilidade imediata, sendo também a mais saborosa e nutritiva. Entretanto, a semente é o elemento mais precioso porque tem a função de perpetuar a espécie, possibilitando a produção de inúmeros frutos no futuro.
CASCA – APARÊNCIA RELIGIOSA
O cristianismo também tem a sua casca, que podemos sintetizar pelo uso dos verbos ter e fazer, incluindo nossa liturgia, por mais maravilhosa que seja. Todo o nosso aparato material, inclusive artístico e tecnológico é casca, ou seja, tudo aquilo que pode ser visto pelos homens, podendo funcionar como atrativo, como acontece com a embalagem de um produto. Qualquer religião pode ter templos magníficos e realizar eventos extraordinários. Entretanto, o cristianismo é muito mais do que isso. Se a nossa vida cristã se resume ao que fazemos no templo, estamos enganando a nós mesmos. Não me refiro ao lado espiritual do culto, mas à aparência dos atos em si. Os fariseus eram bons de casca. Sua aparência era a melhor possível, mas Jesus chegou a compará-los aos sepulcros caiados: bonitos por fora e podres por dentro (Mt.23.25-27).
A casca é uma religiosidade superficial. Ela pode não ser ruim, desde que não seja a única coisa que temos, como acontece com aqueles frutos que parecem tão bonitos, mas já foram devorados internamente por algum verme. O pecado pode nos consumir por dentro, apesar do nosso bom aspecto exterior (Sal.32.3).
A religiosidade, com seus usos e costumes, pode garantir boa aparência, mas de nada servirá se faltar a essência. Será como vestir uma roupa nova, cara e deslumbrante em um defunto.
Jesus alertou os discípulos para que não se enganassem com esse nível religioso:
"Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa…" (Mt.6.1-21). O mesmo alerta foi dado em relação às orações públicas e aos jejuns ostensivos.
Não confunda atividade e religiosidade com espiritualidade. São coisas bem diferentes. A religiosidade produz um sentimento de dever cumprido e uma satisfação que sossega a consciência humana sem ter necessariamente agradado o coração de Deus. Não adianta trabalhar para Deus sem conhecê-lo.
POLPA – MODO DE VIDA
Abaixo da casca está a polpa do fruto. Vamos representá-la pelo uso do verbo obedecer. É a substância que vai além dos rituais e abrange nossa vida, nosso comportamento, principalmente fora do templo e das reuniões cristãs.
Na parábola do bom samaritano foram citados o levita e o sacerdote que poderiam estar em dia com seus deveres no templo, mas falharam fora dele.
O evangelho não pode ficar preso nos templos, mas precisa sair pelas ruas e entrar nas casas através de pessoas que vivem o que Jesus mandou. Aqui estão as questões éticas da nossa vida e o testemunho cristão, se obedecemos aos mandamentos de Deus ou não, se fazemos o bem ao próximo ou não. Contudo, se fizermos boas obras com o intuito de aparecer, voltamos ao nível da casca.
Em geral, a polpa é a parte mais nutritiva do fruto. Nosso modo de viver será muito mais útil aos que nos rodeiam do que a realização de rituais.
Se cumprimos ritos religiosos e temos bom comportamento estamos plenamente realizados? Não. O cristianismo é muito mais do que isso. Muitos ímpios também têm boa índole e bom comportamento, mas isto não os livrará do inferno. Muitos fazem obras de caridade, mas não serão salvos por elas.
O jovem rico mencionado em Mateus 19.16 era obediente aos mandamentos e, certamente, cumpridor de suas obrigações religiosas, mas Jesus disse: "Uma coisa ainda te falta". Ele estava acima do padrão dos fariseus, mas ainda não havia alcançado o padrão de Cristo. Além da casca e da polpa está a semente. Além da aparência e da substância está a essência, que podemos resumir pelo uso do verbo ser. É possível ter, falar, fazer e até obedecer parcialmente sem ser.
Isto nos faz lembrar as palavras de Jesus: "Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade" (Mt.7.22-23).
SEMENTE – O QUE ESTÁ NO CORAÇÃO
A semente é o que está em nossos corações. Isto vai muito além da prática religiosa, dos costumes, das tradições e até mesmo do bom comportamento, pois abrange as motivações, pensamentos, intenções e o compromisso com Deus. Este é o cristianismo no íntimo, onde somente Deus vê. Não estamos desvalorizando os atos litúrgicos nem a ética, mas dizendo que a relação com Deus é algo mais profundo do que tudo isso. O jovem rico cumpria os mandamentos, mas não tinha relacionamento com Deus. Era semelhante a um filho obediente que vive longe do pai. O que havia em seu coração? O amor ao dinheiro.
Que tipo de fruto é o cristianismo que eu vivo? Apenas casca? Tem substância? Tem essência? A prova dirá. As tribulações rompem a nossa casca e revelam quem somos. Em algum momento, a casca precisa ser rompida para que a semente se manifeste. Foi o que aconteceu com Jó. Sua "casca" foi arrancada e sobrou somente a essência. Depois de perder tudo, ele se prostrou e adorou, demonstrando profundo compromisso com Deus.
Podemos viver um tempo em que nossos cultos públicos serão impedidos. Isto acontece em países onde o cristianismo é proibido. Então, só resta o que é íntimo. O profeta Daniel, no exílio babilônico, viu-se distante dos rituais religiosos judaicos, mas teve a oportunidade para manifestar a essência da sua fé.
Atos religiosos podem ser realizados mecanicamente. Bom comportamento pode ser resultado da educação, mas existe algo mais profundo que é a vida de Deus em nós.
As palavras de Jesus aos fariseus demonstram que ele estava em busca da semente em seus corações:
"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas" (Mt.23.23).
Os apóstolos de Cristo alcançaram um nível espiritual muito acima dos fariseus e do jovem rico. Tornaram-se exemplos de pessoas que foram quebradas e demonstraram ter a boa semente em seus corações. Provaram isto porque foram fiéis, não em um contexto de prosperidade material, mas em meio às perseguições e perdas, mantendo o compromisso com Deus até a morte.
Nossas reações diante das situações difíceis da vida, das ofensas e das perseguições revelam o que existe em nosso íntimo. Em momentos assim, muitos religiosos se desviam, mas os verdadeiros cristãos ficam firmes porque sua semente é autêntica. A semente é a parte mais forte do fruto, exatamente para resistir ao mau tempo e garantir que, depois do inverno, uma nova vida comece.
Muitas sementes são desvalorizadas, sendo jogadas ao lixo, juntamente com a casca. Da mesma forma, corremos o risco de desvalorizar o mais importante na vida cristã: a intimidade com Deus. Precisamos conhecê-lo e ter experiências reais com ele, pois elas nos manterão de pé quando tudo estiver caindo à nossa volta. Precisamos buscá-lo intensamente e conhecer sua palavra profundamente. Menos do que isso é viver apenas no nível superficial da casca.
Tudo no fruto é importante, mas precisamos investir mais na intimidade com Deus, combatendo os pecados do coração e não apenas na aparência. Deste modo, seremos frutos aprazíveis a Deus. As lutas não nos destruirão se, no profundo do nosso ser, houver a fé e o amor, como sementes divinas e preciosas. Esta é a boa e verdadeira espiritualidade.
A casca é pública. A polpa é particular. A semente é íntima, secreta.

"Teu Pai, que vê em secreto, te recompensará" (Mt.6.6).

Pr.Anísio Renato de Andrade
www.anisiorenato.com

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O Evangelho de Cristo e os evangelistas e telespectadores de programas evangélicos na televisão brasileira

 

Posted: 30 Jun 2012 06:43 AM PDT

Jesus mandou ir por todo o mundo pregar o Evangelho para todas as criaturas, batizar e salvar os que cressem, ensinar a Palavra às nações (Mateus 28.19; Marcos 16.15-16). Na geração da tecnologia, o televisor é um ótimo instrumento para propagar a Palavra de Deus, e muitos fazem uso dele para ouvir diversos pregadores cristãos de denominações evangélicas distintas.
Você sentir afinidade por uma denominação, ou não sentir nada por ela, é normal e aceitável. Você gostar da figura e estilo de um pregador apresentar a Palavra, ou desgostar, idem. Entretanto, tanto ser fã de Silas Malafaia, ou outro televangelista, como ser uma pessoa anti-Malafaia, ou contrário a outros, é um erro, se o antagonismo estiver em nível pessoal.
Da mesma maneira que idolatrar uma pessoa, usar o ódio ou a indiferença contra essa mesma pessoa se consiste em pecado. As duas extremidades de sentimentos não são licenças para idolatrar ou tornar-se inimigo de instituições e pessoas. As duas atitudes são configuradas claramente como pecados na Bíblia Sagrada. 
Não é possível ser cristão na concepção da palavra e adotar um desses dois procedimentos. O fanatismo despreza o posto que pertence a Deus; o ódio e a indiferença são sinais de desprezo ao mandamento de amor ao próximo.
Liberdade de expressão
Ninguém deve viver a vida cristã como se fosse um faz-de-conta. Lamentavelmente são muitos que vivem assim, em relacionamentos iguais aos das pessoas que estão no mundo e ainda não tiveram a oportunidade de conhecer a Cristo. Quem quiser opinar, opine sem medo algum. Mas com o devido cuidado para que a opinião não esteja influenciada pelo preconceito e a antipatia de gente anticristã.
Os telespectadores cristãos na frente da TV

Viver a fé cristã significa seguir as orientações de de Cristo, encontradas no Novo Testamento, e uma dessas orientações é usar a pureza na comunicação (Efésios 5.4). Mas os religiosos, de ambos os lados, com alguma frequência costumam desprezar essa orientam.
Ame o outro como a si mesmo (isso também tem a ver com zelo pela reputação alheia).  O uso de adjetivos encontrados na Bíblia, por exemplo lobo, não torna alguém em lobo.  Essa adjetivação, e outras encontradas nas páginas bíblicas, em muitos casos representam apenas a opinião de quem as emite e não o caráter de quem a recebe.
Manutenção
A contribuição financeira de quem assiste aos programas evangélicos os mantém na televisão. A solicitação de oferta é bastante comum. No Brasil, RR Soares e Silas Malafaia estão no há mais de trinta anos, ininterruptamente. Portanto, muitos brasileiros estão dispostos a que continuem em suas atividades. 
Tudo ocorre dentro da legalidade. Estamos em país livre, com liberdade de professar religião. E quem dá a oferta faz isso espontaneamente.
Costumo dizer aos críticos de gente contra a transmissão de programas evangélicos que o dinheiro aplicado é o que mais há de clareza ao contribuir. O resultado é literalmente visto. Todo ofertante vê o uso do dinheiro que doou.
Algumas vezes os valores solicitados causam espanto. Entendo que isso ocorre pela característica do país, com suas diferenças na área econômica. A mesma cifra pode ser considerada alta uns, mas para outros representa uma semana comendo em restaurantes.
Considero que opinar sobre a decisão do telespectador ajudar o trabalho evangelístico na televisão uma espécie de intromissão na vida alheia. Se o dinheiro é de quem oferta, a pessoa ofertante é maior de idade, eu e ninguém tem o direito de dar palpite. Infelizmente, é raro ver respeito quanto a essa situação.

Eliseu Antonio Gomes http://belverede.blogspot.com.br