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Retina é produzida com células-tronco

Fonte:estadao.com

Linhagem obtida de embrião de camundongo gera membrana ocular in vitro; estudo pode permitir transplantes do tecido no futuro

07 de abril de 2011 | 0h 00

Alexandre Gonçalves – O Estado de S.Paulo

Cientistas japoneses conseguiram produzir retinas sintéticas in vitro utilizando células-tronco embrionárias (CTEs) de camundongo. É a primeira vez que as CTEs dão origem a uma estrutura tão complexa em testes de laboratório.  

As células-tronco embrionárias podem, em tese, transformar-se em qualquer tecido do organismo. Por isso, são consideradas uma fonte promissora de terapias regenerativas.

Em no máximo dois anos, os autores do estudo, publicado na última edição da revista Nature, planejam adaptar a técnica para CTEs humanas e células de pluripotência induzida (iPS, na sigla em inglês). As iPS são células adultas reprogramadas para se comportar como CTEs.

Diversas doenças provocam a degeneração da retina e, como consequência, a cegueira. Os cientistas acreditam que células obtidas em sistemas in vitro poderão ser transplantadas em retinas doentes para restaurar o tecido danificado (mais informações nesta página).

"É surpreendente", afirma Claudia Batista, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em células-tronco. Ela explica que os pesquisadores japoneses utilizaram uma subcolônia de CTEs já predisposta a se diferenciar em células neuronais que dariam origem à retina.

De fato, os autores do trabalho não precisaram de protocolos complexos para induzir a transformação das células-tronco no cálice óptico. Simplesmente, dispuseram-nas em meios de cultura que permitiam sua livre organização no espaço, aponta Lygia da Veiga Pereira, chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (Lance), da USP. As células carregavam em si o dinamismo necessário para realizar a transformação. "O trabalho mostrou que não foram necessárias interações com tecidos adjacentes", afirma Lygia.

Debate. Segundo Yoshiki Sasai, do Centro Riken de Biologia do Desenvolvimento, em Kobe, no Japão, o grupo preferirá utilizar CTEs, em vez de iPS, em possíveis terapias de doenças da retina. "Há poucas chances de rejeição na retina", avalia o cientista japonês. "Por isso, consideramos mais apropriada a utilização de tecidos obtidos de CTEs."

Lygia considera sensata a escolha. Ela acredita que seria economicamente inviável utilizar iPS personalizadas para cada paciente. "O processo para induzir a pluripotência das células e garantir sua segurança é demorado, trabalhoso e caro", aponta. Ela se diz surpresa com a rapidez com que surgiram esperanças terapêuticas concretas. No ano passado, a empresa Geron anunciou o início dos testes clínicos de uma droga para tratar paraplegia baseada em CTEs.

Claudia afirma que os recentes avanços não alteram as objeções ao uso de CTEs. "Não há nenhum marco biológico que justifique um estatuto diferente para o embrião. O único marco é a fecundação. Depois dela, é o processo contínuo do desenvolvimento de uma pessoa." Ela advoga a necessidade de se esperar mais um pouco – e de se investir mais dinheiro – para que se estabeleçam técnicas que permitam a retirada de células-tronco embrionárias sem a destruição do embrião. "Já é possível, mas ainda não conseguimos garantir a segurança", pondera.

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Eja, eêja/ Cientistas contra a Igreja

Fonte Estadao.com

Células-tronco são cantadas em verso e prosa

por Renato Terra

Eram 11h15 do último sábado de janeiro quando a atriz Larissa Câmara irrompeu no palco com uma cintilante peruca loira, despenteada à la Ana Maria Braga. Afinou as cordas vocais num timbre à laMarília Gabriela e saudou o público: “Bom-dia! Estamos iniciando mais um programa Comece o Dia Bem! Vamos fazer um exercício: abra os olhos, encha o peito de ar, respire. Ah, respire! Sorria! Hoje vamos mostrar uma grande revolução na pesquisa científica: as células-tronco. Uma promessa de esperança ou um marco na medicina?”

Enquanto a voz loira ressoava pelo auditório, Catarina Chagas suspirava aliviada: “Ufa, encheu.” Catarina é uma das coordenadoras do projeto Sarau Científico, em fase de implantação no Museu da Vida, instituição que fica dentro da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. A Fiocruz, como é mais conhecida, é um oásis científico localizado no início da avenida Brasil, no bairro de Manguinhos. O local é cercado por favelas e a população sofre tanto com o banditismo que a região ganhou o apelido de Faixa de Gaza. A apreensão de Catarina deveu-se ao fracasso de quórum da edição anterior, cuja data coincidiu com a onda de ataques pela cidade que culminou com a tomada do Complexo do Alemão pelo Exército, em dezembro passado. Dessa vez, numa manhã em que as únicas chamas na Zona Norte do Rio vinham do alucinante sol de verão, cerca de 100 espectadores puderam chegar com calma e tomar quase todos os assentos do auditório.

Um cartaz pendurado na porta da Fiocruz apresentava o “Sarau científico: as células-tronco em cena” como “um debate quente, temperado com encenações, músicas, poesia e muito humor” e definia o público-alvo: jovens a partir de 15 anos. E foi nesse diapasão que o programa Comece o Dia Bem! apresentou o quadro seguinte: a “Valsa das células-tronco”.

Num ambiente de baile de debutantes, atores dançavam no fundo do palco ao som da valsa de A Bela e a Fera, enquanto a apresentadora explicava que “as células-tronco podem se transformar em outros tipos de célula” e também “podem se multiplicar gerando células idênticas à original”.

Após sequências em que heróis feitos de vasos sanguíneos, neurônios e células ósseas encenavam acidentes para demonstrar o poder regenerador das supercélulas, chegou a vez de testar a concentração da plateia. Com uma pitada de apreensão, a apresentadora anunciou: “Hoje o programa Comece o Dia Bem! tem o prazer de convidar o biólogo Daniel Veloso Cadilhe, do Laboratório Nacional de Células-tronco Embrionárias, sediado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, para responder às perguntas da plateia.”

O que poderia ser uma brecha para os insones cerrarem os olhinhos ganhou ritmo ágil: as primeiras perguntas foram lidas por monitores e as respostas de Daniel foram claras e certeiras. Nas perguntas vindas do público – quando o temido louco de palestra sempre está à espreita –, surgiram questões gerais como: “A nível de Brasil, em que pé estamos? E a nível de queimaduras?” Quando a pergunta era ininteligível ou caminhava rumo ao infinito, os atores intervinham rapidamente.

O projeto Sarau Científico é financiado pela fundação britânica Wellcome Trust. A cada edição, aborda um tema diferente, sempre polêmico. A primeira tratou dos transgênicos, e a seguinte abordou o uso dos animais em pesquisas científicas. Serão cinco edições ao todo. A entrada é gratuita. O projeto fica sob responsabilidade da diretora do Museu da Vida, Luisa Massarani. “Queremos trazer para cá os jovens de baixa renda que moram no entorno. É um público mais difícil de conquistar, pois tem outros interesses. Por isso, optamos por uma linguagem mais coloquial com música, teatro e dança”, explica Luisa, que levou a mãe e a irmã ao sarau.

Não à toa, a produção julgou conveniente colocar um funk na sequência do quadro com perguntas ao biólogo Daniel Cadilhe. Glamorosa, a Lady Biossegurança subiu ao palco para sacudir a massa e, de quebra, explicar os percalços pelos quais a Lei de Biossegurança passou até atingir o formato atual: “Minha história é polêmica, vou te dizer, criança/ Causei na religião, política e até na segurança/ Vou mandar a real, vou dizer qual é o ponto/ Regulei a pesquisa com célula-tronco”, começava. Depois de usar “aperte o cinto” para dizer que foi aprovada “em 2005” e citar “sua mãe e sua tia” para ressaltar que a aprovação foi apenas “para fim de terapia”, emergiu um refrão – cantado em coro pelos atores –, resumindo o embate ideológico entre as correntes que mais divergiram sobre a regulamentação das pesquisas com células-tronco embrionárias: “Ato aáto/ Será que é assassinato?/ Ito, iíto/ Vai rolar conflito/ Eja, eêja/ Cientistas contra a Igreja!”

Além da discussão religiosa, outros pontos polêmicos foram levantados. Um vídeo no telão mostrou um trecho do Globo Repórter que contava a história de Daniela, uma jovem tetraplégica que desembolsou 40 mil dólares em um tratamento com células-tronco na China. Dois anos depois, Daniela não apresentou melhoras significativas. O vídeo produziu questionamentos na plateia e o sempre alerta Daniel Cadilhe voltou aos holofotes para responder a mais algumas questões. Deixou claro que o tratamento com células-tronco ainda é experimental e, portanto, seria antiético cobrar dos pacientes.

Para o grand finale, o grupo É o Tchun, formado pelos atores, tentou colocar a plateia de pé para dançar uma coreografia. “Oi, pega a célula/ Bota a célula/ Injeta a célula/ Para experimentar/ Oh lalá.” A adesão não foi das maiores. Nem mesmo pedindo ajuda dos monitores, que subiram ao palco, foi possível vencer a timidez do público. Apenas oito pessoas se levantaram e duas arriscaram a coreografia.

Quem trabalha com divulgação científica tem que estar preparado para encontrar maneiras mais empíricas de medir a satisfação de seu público. Na saída, foi distribuído um formulário para cada espectador avaliar o que viu e sugerir novidades para os próximos saraus.  Como nem tudo deve ficar barato, uma menina de 14 anos fez questão de registrar sua indignação no formulário com “a sacanagem que fizeram com a Daniela, ao cobrar por uma coisa que não deu certo”.

O campo livre no formulário – onde o espectador poderia sugerir temas para os próximos saraus – mostrou como a discussão científica é rica. Abrigou desde temas correntes como “reciclagem”, “evolução” e “eutanásia”, como também “efeitos das radiações ionizantes”, “uso de ervas para curar doenças”, “ciência forense” e “polvo” (isso mesmo: “polvo”). Catarina terá um imenso leque de possibilidades para os próximos saraus. Quem sabe a dança do tubo de ensaio ou o reggae das ervas medicinais?

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EUA aprovam novo teste de células-tronco embrionárias para cegos

 

DA FRANCE PRESSE

A empresa de biotecnologia ACT (Advanced Cell Technology) anunciou nesta segunda-feira ter recebido sinal verde do governo para iniciar a segunda série de testes com células-tronco embrionárias humanas para tratar a cegueira, desta vez em pessoas mais velhas.

O teste avaliará a habilidade da terapia para tratar com segurança pessoas com um problema conhecido como degeneração macular senil, o tipo mais comum de perda irreversível da visão entre os doentes com mais de 60 anos.

Ainda não há cura para a doença, que afeta de 10 milhões a 15 milhões de americanos e outros 10 milhões de pessoas na Europa, acrescentou a empresa.

Jeff Miller/AP/UW-Madison University Communications

Teste vai avaliar terapia para degeneração macular senil, que leva à perda da visão entre pessoas com mais de 60 anos

Teste vai avaliar terapia para degeneração macular senil, que leva à perda da visão entre pessoas com mais de 60 anos

A FDA (sigla em inglês de Food and Drug Administration), entidade que regula medicamentos e alimentos nos Estados Unidos, liberou, em novembro, a empresa sediada em Massachusetts para começar umteste similar com pacientes com uma forma progressiva de perda de visão juvenil, conhecida como doença de Stargardt.

"A ACT agora é a primeira empresa a receber o aval da FDA para dois testes com hESC (sigla em inglês para células-tronco embrionárias humanas) e agora é um verdadeiro líder transnacional no campo da medicina regenerativa", declarou Gary Rabin, presidente interino e chefe executivo.

"Representa um grande passo à frente, não apenas na área das células-tronco, mas potencialmente para técnicas modernas de cuidado com a saúde", continuou.

A companhia espera começar os testes clínicos nos Estados Unidos nos próximos meses e pretende procurar aprovação para testes similares na Europa. Os mercados americano e europeu para este tipo de tratamento soma de US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões, acrescentou a empresa.

TERCEIRO TESTE

O anúncio da ACT é o terceiro deste do tipo, depois que a empresa americana Geron inovou no ano passado com a primeira tentativa já feita para usar tratamento com células-tronco embrionárias em um paciente com lesão na medula espinhal.

A pesquisa com células-tronco embrionárias é um campo controverso desde que as primeiras células foram isoladas, mais de 12 anos atrás. Os críticos condenam a prática porque ela envolve a destruição de embriões humanos.

No entanto, os cientistas afirmam que estas células representam uma grande promessa no tratamento do mal de Parkinson, de diabetes e uma variedade de outras doenças.

Assim como em outros testes com pacientes humanos, o primeiro passo nos testes de fase 1 e fase 2 da ACT é saber se a terapia é segura, antes de ver se funcionam.

"Em uma cobaia com degeneração macular, vimos uma notável melhora no desempenho da visão com relação a animais sem tratamento, sem quaisquer efeitos colaterais", disse Bob Lanza, cientista chefe da ACT.

Doze pacientes participarão do estudo em vários locais nos Estados Unidos, incluindo a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e a Universidade de Stanford.

A terapia usa células do pigmento do epitélio retinal (RPE) derivadas de células-tronco embrionárias para substituir as células de RPE danificadas em pacientes com a doença.

A degeneração macular senil, tipo da doença que ocorre em 90% dos casos, causa a deterioração da visão central quando as células de RPE na mácula do paciente, no centro da retina, perdem a habilidade de funcionar.

Pacientes frequentemente experimentam um embaçamento no centro do campo de visão, enquanto a visão periférica permanece intacta.

"À medida que a população envelhecer, espera-se que dobre a incidência de denegeração macular senil nos próximos 20 anos, exacerbando esta necessidade médica, ainda sem solução", disse Lanza.