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Como será o amanhã… Responda quem puder…

 

“Como será o amanhã / Responda quem puder / O que irá me acontecer / O meu destino será como Deus quiser…” É o refrão da canção “O Amanhã”, interpretada pela cantora Simone.

O ser humano sempre teve fascinação pelo futuro. Mera curiosidade? Muita gente acha que tudo está predeterminado antes de nascermos. Se o futuro está mesmo determinado, para que as pessoas insistem em conhecê-lo? Pode ser mudado? E se pode ser mudado então não é determinado, é só uma possibilidade. Se não pode haver intervenção, então não adianta conhecê-lo, é só relaxar e deixar acontecer. Nesse caso seria apenas a satisfação de uma curiosidade.

Todo ano é a mesma história, os videntes jogam búzios, cartas e ligam bolas de cristal. Este ano não foi diferente, afinal há muitas pessoas que se fiam nessas previsões. Semana passada uma revista importante deu destaque a um espiritista, que foi entrevistado como personalidade notória. Suas previsões são bastante consistentes. Os espíritos que lhe falaram estaram, no mínimo, com bom humor. Vejamos: Sobre o Neymar – nosso mais prodigioso jogador de futebol no momento – foi previsto que poderá sofrer uma contusão forte. O vidente declarou que Lula já passou pelo momento mais difícil e que continuará sendo um grande líder em 2012. O Brasil vai brilhar nas Olimpíadas. Sabe em que modalidade? No futebol. Disse que o Euro não acabará em 2012 e que a crise econômica se arrastará por muito tempo. Disse que Barack Obama terá um ano complicado e que vamos perder três comunicadores brasileiros.

Por gentileza, pense comigo: O Neymar é um atleta de alto desempenho e de fato poderá sofrer contusão forte, assim como qualquer outro atleta profissional. Lula já passou pela fase mais difícil, isso os médicos já disseram. Quanto a continuar sendo um líder, enquanto ele viver o será. O futebol do Brasil sempre se destaca nas competições. Ainda é o melhor futebol do mundo, apesar de tudo. O Euro já saiu da UTI. Depois do encaminhamento da Grécia e da baixa do Berlusconi, o cenário clareou bastante. Sobre crises econômicas, desde que o mundo é mundo (sobretudo o capitalista) há uma crise econômica. No sistema de mercados abertos, qualquer resfriado nos EUA – e agora também na China – causa desconforto no resto do mundo. O Barack Obama terá um ano complicado simplesmente porque por lá é ano de eleições presidenciais e todo ano como esse, em qualquer país, é complicado, em vários aspectos, principalmente quando se busca uma reeleição. Por fim, de fato vamos perder alguns comunicadores de peso. Isso é estatística. Jornalistas, atores, autores, apresentadores de programa de auditório e músicos são comunicadores e temos aqui muitíssimos expoentes nessas categorias. Em 2011, perdemos pelo menos 53 comunicadores brasileiros, dentre os mais conhecidos Wilza Carla, Geórgia Gomide, Moacyr Scliar, Neusinha Brizola, Rodolfo Botino e Joãozinho Trinta. Em 2010, outros 50 e poucos se foram, e por aí vai. Portanto, neste ano, infelizmente pelo menos três seguirão, com certeza, seus rumos (em tempo: espero que o Chico Anysio se recupere logo…). A propósito, o fim do mundo está previsto para o próximo 21 de dezembro…

Ou seja, tudo não passa de floreio de informações óbvias, incrementadas por estatísticas. Mas por que esse engodo passa como boa informação?

Certamente Deus, sendo onisciente, sabe o futuro. A questão é se Deus também sempre o determina. Num extremo, admitir que Deus sempre determina o futuro faz de nós meros atores numa grande novela, onde não há nem possibilidade de improviso. Deus então escolhe nossas vontades, planta-as em nossa mente e tudo corre na mais perfeita mecanicidade. Tudo no Universo, bem ou mal, seria fruto dos decretos de Deus. As pessoas então matam e morrem, nascem, se suicidam, ficam ricas ou na sarjeta, tudo por conveniência do Todo-Poderoso. O homem prega então a grande piada do livre-arbítrio, do direito de escolha e da liberdade. (Por incrível que pareça, essa ideia conforta muita gente, sobretudo as que são avessas a responsabilidades, porque sempre poderão pôr a culpa de suas desgraças no “destino”. Pais reclamam que seus filhos “não deram para o estudo”. A história na verdade é outra. Não os disciplinaram quando optaram pelo videogame em vez dos livros. Hoje a culpa de estarem mal empregados certamente é do “destino”).

No outro extremo, admitir que Deus apenas conhece o futuro e não o determina (ao que chamamos de presciência ou pré-ciência) passa a ideia de que Deus não é verdadeiramente soberano e condutor da história, pois se Ele dá ao homem a prerrogativa da escolha de seu caminho, deixa de ser dono do cetro de poder supremo e incondicional que possui sobre tudo. Estabelece-se, portanto, uma tensão que confunde.

Mas a dificuldade se dissipa se olharmos a questão com cuidado e esteio nas Escrituras. Pensemos em Deus como de fato é: livre e soberano, que, por isso mesmo, escolhe planejar o futuro e conduzir a história em situações cruciais, e decide quanto e como intervir (Isaías 43.13), deixando ao mesmo tempo boa margem para as escolhas humanas (Josué 24.15). As Escrituras deixam claro que “se” observarmos os preceitos do Pai colheremos resultados positivos. De outra sorte, nosso mau proceder deixa-nos suscetíveis a raios e tempestades, não porque Deus objetivamente quis, mas por consequência acidental (Deuteronômio 28). A Bíblia diz ainda que podemos morrer “fora do tempo” (Eclesiastes 7.17), dependendo do quanto nos afastamos dos planos divinos (fora do tempo?). As Escrituras também nos informam que Deus tinha escrito todos os dias de Davi, quando nenhum deles ainda havia (Seria isso evidência de um determinismo ou apenas presciência? Sabendo que Deus foi veementemente contrário ao adultério e assassínio cometidos por Davi, concluímos que as palavras do salmista apontam para a presciência de Deus e não para um fato predeterminado e fatalista) – Salmo 139.14-16.

Presciência é saber antes de acontecer. É diferente de determinar o que vai acontecer. Para Deus não há presente, passado ou futuro; Ele transcende o “cronos” e vive no “kairós”. Nós vivemos exclusivamente no “cronos” e por isso temos dificuldade para acompanhar essa compreensão. Deus, por sua exclusiva vontade, que é por natureza livre e soberana, pode sim determinar os fatos e esses não podem ser frustrados (Jó 42.2). Mas a Bíblia demonstra que Deus concede ao homem o privilégio de traçar seus passos, esperando que o faça de acordo com os pensamentos dEle. Para nos certificarmos de que estamos no caminho certo, o Senhor nos dá a paz, que é o “semáforo” de Deus instalado em nosso interior (Colossenses 3.15).

O conceito do futuro fatalista é místico e pagão. A Bíblia está cheia de relatos de algo que Deus desejou para alguém e que acabou não acontecendo. Isto porque a vontade de Deus não se impõe pela força e sim pelo amor.

“Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram.” (Mateus 23.37)

Então sigamos em frente, sabendo que o Senhor tem pensamentos de paz e não de mal, para nos conduzir a realizações espantosas, que às vezes nem imaginamos (Jeremias 29.11). O futuro na verdade foi planejado por Deus, mas não está determinado. Cada dia temos a oportunidade de tomar decisões, que se forem alinhadas aos propósitos do Pai, nos conduzirão à efetivação de Seus altos pensamentos a nosso respeito.

Entenda, na verdade os videntes não veem o futuro, eles apenas trabalham com as expectativas dos ouvintes e boas probabilidades. O espírito de engano reina nesse meio (2Pedro 3.17-18). Portanto, pare de dizer que nasceu para estar onde está e entenda que sua condição é resultado de escolhas e influências do passado. Seja responsável. Diga sim, diga não, avaliando os resultados. Na dúvida, consulte o Pai, leia Seus sinais, e se perceber que se afastou dos planos de Deus, volte, submeta-se a Ele, que prontamente o reconduzirá para os pensamentos que tinha e ainda tem a seu respeito.