Categorias
Estudos

Os críticos e os criticados nas igrejas evangélicas: quem nos salvará?

 

Uma mensagem para os evangélicos em suas crises

Julio Severo

Eu estava ouvindo a pregação de um pastor pentecostal contra os pregadores da prosperidade. As palavras dele, cheias de emoção e indignação, estavam corretíssimas, denunciando “servos de Deus” vivendo no luxo, com carrões, aviões, helicópteros, mansões, etc.

Fui tentado a me perguntar: o pai desse pastor, no passado um famoso televangelista da Assembleia de Deus, virou manchete por um escândalo onde foi flagrado com uma prostituta. Mas meu pensamento foi logo vencido pela lógica cristã de que os filhos não devem pagar pelos pecados dos pais — sem mencionar que a graça de Deus abunda muito mais do que o pecado.

Mas, poucas horas depois, me chegaram informações de que o pastor pentecostal se divorciou duas vezes… Crítico e criticados em barcos furados.

Outro pregador, outrora um ícone da Igreja Presbiteriana do Brasil, ataca tradicionais, pentecostais e neopentecostais, e tem um histórico ainda mais bizarro: traiu a esposa, depois traiu a secretária-amante e mais tarde casou com uma “pastora”. Como amante do PT, ele acabou se envolvendo em grandes escândalos políticos e financeiros. Mesmo assim, ele é um grande criticador — e até eu sou um de seus criticados.

Que mundo louco, não?

Se ficamos então decepcionados com as igrejas pentecostais e neopentecostais, podemos então pensar que a solução é as igrejas tradicionais. Mas aí vem outro problema pós-moderno: as igrejas tradicionais estão correndo como manadas de vacas loucas para apriscos politicamente corretos, onde as ovelhas podem pastar sob a liderança de pastoras lésbicas que se aliam a bruxas!

Grandes denominações evangélicas dos EUA e Europa estão nesses pastos há algum tempo, e se você visitar uma dessas igrejas não estranhe se o pastor gay apresentar seu “marido”.

Aparentemente, as igrejas tradicionais do Brasil ainda não estão nos novos pastos de suas igrejas-mães dos EUA e Europa, mas algumas denominações timidamente ensaiam passos nessa direção. É uma questão de tempo.

O que o pastor pentecostal divorciado duas vezes faz, denunciando a extravagância de pastores neopentecostais, está certo. Mas sua vida está errada.

Da mesma forma, os frequentes ataques de certo blogueiro evangélico tradicional aos neopentecostais não estão totalmente sem razão (por incrível que pareça, ele consegue acertar dez por cento ou menos),embora ele mesmo esteja envolvido em vigarices e tenha uma vida sexual suspeita — além de ser fã de um dos maiores vigaristas evangélicos do Brasil. Outro famoso criticador de neopentecostais, igualmente fã do vigarista evangélico, tenta esconder sua homossexualidade, mas sua paixão por Philip Yancey sugere que ele pode estar preparando o público evangélico para uma triunfante saída evangélica do armário. Um adora o deboche, o outro a malícia. E ambos adoram a mentira.

Quando um famoso televangelista brasileiro apresentou em seu programa de TV pastores americanos pedindo muito dinheiro, ninguém foi obrigado a dar. Eu não dei. Muitos o criticaram, inclusive o blogueiro vigarista e o evangélico homossexual enrustido. E quando em seguida a essa petição de dinheiro, o televangelista comprou um jatinho, as criticas se tornaram “onipresentes” na rádio, televisão, jornais, revistas, blogs, sites, etc.

Contudo, até agora não vi evangélicos usando seus espaços em rádio, televisão, jornais, revistas, blogs e sites para denunciar o maior Ladrão do Brasil. O governo federal, com sua política abusiva de impostos, não precisa chamar americanos para pedir uma oferta de 900 reais. O governo tem roubado literalmente bilhões da população do Brasil, e os ladrões estatais têm investido não só em jatinhos e jatões, mas têm também engordado organizações que estão trabalhando ativamente para destruir as famílias do Brasil, sem que o blogueiro vigarista e o evangélico homossexual enrustido deem um pio de contrariedade.

Os “onipresentes” críticos do televangelista brasileiro também fazem vista grossa ao maior Ladrão do Brasil.

Com esse panorama desanimador, onde críticos e criticados estão em barcos furados, o que fazer?

Um homem jovem, convertido há dois anos, me perguntou o que eu achava das “igrejas caseiras”. Com tanto escândalos nas igrejas tradicionais, pentecostais e neopentecostais, muitos estão recorrendo a igrejas nos lares, achando que essa é a única salvação.

Minha resposta a ele foi:

O problema é o homem. Onde há o homem, há pecado. Daí, qualquer lugar onde há o homem, seja numa igreja grande ou numa reunião caseira, há propensão ao pecado e ao escândalo. Há alguns grupos caseiros que são heréticos. Outros julgam que a heresia está somente nas igrejas e que esses grupos caseiros são a salvação. Eu creio que Jesus Cristo é a única salvação.

Claro que, mesmo indo a uma igreja grande ou pequena, nada deve nos impedir de ter “reuniões caseiras”, isto é, independente dos cultos de domingo, é saudável termos reuniões em nossos lares, para ensinar nossos filhos, louvar a Deus, orar, ler um trecho da Palavra de Deus, etc.

A maioria dos cristãos conseguiria fazer esse tipo de reunião em seus lares, se conseguisse dar o horário nobre para Jesus, não para a telinha…

Então, até mesmo dentro dos nossos lares, enfrentamos desafios, onde muitas vezes deixamos que nosso precioso tempo, que deveria ser dado a Deus, seja desperdiçado em banalidades como a novelinha da Globo. A glória de Deus, que poderia ser experimentada na oração e leitura da Palavra de Deus no ambiente do próprio lar, é trocada por “gloriosas” cenas de nudez e sexo, divórcio, traições, etc.

Onde há ser humano — seja na igreja grande, pequena, na igreja caseira, ou mesmo em nossos lares —, há pecado. Quem poderá nos livrar? Jesus! Ele pode nos salvar dos nossos pecados, dos pecados dos nossos lares, das igrejas tradicionais, das igrejas pentecostais e das neopentecostais.

Se amamos a Jesus, devemos segui-Lo. Se amamos a Jesus, devemos colocar a Palavra dEle acima da nossa palavra e acima da palavra dos pastores, sejam tradicionais, pentecostais e neopentecostais. Do contrário, enfrentaremos ruína.

Minha esposa me conta que a igreja luterana onde ela nasceu, foi batizada e criada ensinava frequentemente contra as manifestações dos dons do Espírito Santo hoje como se fossem meros produtos fabricados pelas igrejas pentecostais ou exclusivamente para as igrejas pentecostais, de forma que os membros estavam vacinados contra a influência “pentecostal”. Mas, ao se deparar com enfermidades ou outros problemas graves, vários membros passaram para o espiritismo em busca de ajuda “sobrenatural”, porque o pastor não costumava pregar contra os perigos do espiritismo. Sua preocupação era o “pentecostalismo”.

Se tivessem medido a palavra do pastor com a Palavra de Deus saberiam que as manifestações sobrenaturais de Deus não pertencem aos pentecostais, que apenas se abrem (ou se abriam) para o que Deus dá, e não precisariam recorrer ao espiritismo.

Portanto, não deixe de ir à igreja, mas tenha a consciência de que você é fraco e também o pastor. Tanto você quanto o pastor precisam de salvação. Tenha a consciência de que, por melhor que seja a igreja ou pastor, nenhum deles salva. Nenhuma igreja salva. Só Jesus Cristo salva, resgata e nos liberta de nossos pecados.

Se frequentar uma igreja tradicional onde o pastor nega ou ignora que Deus atua sobrenaturalmente hoje, fique com a Palavra de Deus. As igrejas que estão de portas fechadas para o Espírito Santo são hoje as mais escancaradas para a ordenação de pastores gays. Portanto, mantenha a porta da sua vida aberta para o Espírito Santo e sua santificação.

Se frequentar uma igreja pentecostal onde o pastor impõe usos e costumes, especialmente o que a mulher deve ou não usar, fique com a Palavra de Deus. Siga o Espírito, não a carnalidade religiosa.

Nenhum pregador pedinte pode obrigar você a dar nada

Se frequentar uma igreja neopentecostal onde o pastor pede dinheiro sem parar, fique com a Palavra de Deus. Lembre-se: por mais “persuasiva” que seja a pregação, você não é obrigado a dar nada. Se o pastor disser que quem der tudo receberá uma bênção especial, não vá na palavra do pastor. Siga o Espírito Santo e o bom senso.

Por mais radical que seja a igreja que pede dinheiro, tudo o que ela pode fazer é pedir. Nós temos sempre a escolha de decidir dar ou não. E nenhum pastor pode nos obrigar a dar tudo ou pouco.

Pena que não tenhamos essas mesmas escolhas diante do chamado Estado “laico” adorador de homossexualismo, aborto e bruxaria como “cultura” sagrada.

Quando o governo “pede” dez por cento do seu salário, você não tem escolha, pois suas leis de impostos não são opcionais, mas obrigatórias.

Quando o governo “pede” vinte por cento do seu salário, prometendo saúde, educação, etc., você é obrigado a obedecer.

Quando o governo “pede” quarenta por cento do seu salário, você até pode dizer (para você mesmo e sua família) que é roubo, mas você está de mãos atadas, pois com governo está a “lei”, que ele faz do jeito que quiser.

Felizmente, o governo não “pede” dez por cento do seu salário. Se pedisse, seria como igreja pedindo dízimo. (O PT não é igreja, mas “pede” um dízimo de seus filiados!)

Felizmente, o governo hoje já não “pede” vinte por cento do seu salário. “Pedia” assim mais de dois séculos atrás, mas então havia no Brasil um Tiradentes para se revoltar contra esse roubo estatal.

Infelizmente, o governo hoje “pede” quarenta por cento do seu salário! E ai de você se tentar imitar Tiradentes contra o roubo estatal!

Se você não der 40% de seu salário, o governo mostrará que você não tem escolha

Você tem toda liberdade de não dar dinheiro para uma igreja que pede muito dinheiro. Mas, acorde: você não tem liberdade nenhuma de não dar quando o governo lhe “pede” muito dinheiro.

No entanto, você tem a liberdade garantida por Deus de colocar a Palavra de Deus acima do roubo estatal justificado por abusivas leis de impostos, que tiram dos cidadãos muito, muito além do que deveriam. Se até Tiradentes, usando o bom senso, pôde se revoltar contra isso, por que é que nós estamos de braços cruzados e boca fechada? Onde fica nosso bom senso e a Palavra de Deus?

Se um dos Dez Mandamentos diz que Deus proíbe roubar, por que ficamos calados e parados enquanto o governo rouba de todos os cidadãos? Só porque os outros cidadãos, dormindo em berços esplêndidos, não se importam com o sistemático roubo estatal, deveríamos imitar sua apatia? Ou será que imaginamos que Deus deu isenção para roubo somente quando praticado pelo Estado, significando que o governo está livre para fazer qualquer lei de imposto e cobrar o tanto que quiser?

As igrejas que são acusadas de “roubar” dos membros não atingem nem 10 por cento da população, ainda que ninguém nunca tenha sido obrigado a dar nada ali, com ou sem força de lei. Mesmo assim, esse “roubo igrejeiro” desperta a ira de certos cristãos, alguns dos quais são notórios por seu caráter vigarista.

Mas quem se ira contra o “onipresente” roubo estatal? Quem escapa do roubo governamental? Quem se ira contra o destino do nosso dinheiro sistematicamente roubado através de impostos tão absurdamente elevados que teriam deixado Tiradentes com revolta dobrada? As vítimas do governo atingem 100 por cento da população. Ninguém escapa das leis de impostos. Até produtos básicos, comprados por pobres, vem taxado pelo maior Ladrão do Brasil.

Essa, na minha opinião, é a maior luta. Por isso, me esforço para que, com todas as suas fraquezas, igrejas tradicionais, pentecostais e neopentecostais se unam contra o inimigo comum, que está usando o governo para destruir todas as bases morais e éticas da família e da sociedade.

Há uma grande revolução do mal ocorrendo, onde a população cristã, que é maioria no Brasil, está sendo involuntariamente cúmplice, através do seu dinheiro pago em impostos, usados pelo governo para financiar a promoção do aborto, do homossexualismo e de outras perversões ideológicas, inclusive da bruxaria como “cultura” sagrada.

Cruzar os braços e manter a boca fechada diante desse mal é confirmar nossa cumplicidade.

Eu não tenho um programa de TV, mas se tivesse, eu faria exatamente o que tenho feito no meu blog há anos: denunciar para todo o Brasil o mesmo ladrão que Tiradentes já denunciava mais de duzentos anos atrás. Mas se Deus quiser, e outros se unirem nesse propósito, um dia ainda poderemos ter um programa de TV para fazer essas denúncias públicas, quer o maior Ladrão goste ou não.

Não roube: o governo detesta competição

Se podemos sempre dizer “não” para os televangelistas que precisam de nosso dinheiro para comprar mansões, jatinhos e helicópteros, por que não podemos dizer “não” para o governo que usa nosso dinheiro para investir no homossexualismo, aborto e outras perversões?

Se temos o direito de não ter nosso bolso sugado por pastores que pedem muito, façamos também uso de nosso direito de não ter nosso bolso sugado pelo governo que exige muito, muito mais do que lhe é devido.

Fonte: www.juliosevero.com

Categorias
Artigos

Festival Promessas da TV Globo e suas relações de interesse

 

Orley José da Silva

A Rede Globo de Televisão dedicou pela primeira vez, no dia 18 de dezembro do ano passado, um programa inteiro de conteúdo evangélico. A transmissão do Festival Promessas ocupou 75 minutos de sua programação vespertina e alcançou 13 pontos de audiência, quase o dobro do IBOPE de sete pontos obtidos pela emissora no mesmo horário do domingo anterior. As opiniões favoráveis e contrárias ao Festival circulam dentro da própria TV Globo e também entre os evangélicos. O evento que reuniu nove nomes da música gospel foi gravado na tarde e noite do anterior dia 10, no Aterro do Flamengo, e teve um custo de R$ 2,9 milhões à prefeitura do Rio de Janeiro.

A organização do show mostrou-se decepcionada com o público de aproximadamente 20 mil pessoas porque esperava lotar o espaço que comporta mais de 200 mil. Como precisava de boas imagens para a TV, a equipe de produção tratou de aproximar a platéia do palco para dar a impressão de massa compacta e reajustou o posicionamento das câmeras.

Os rumores que creditam o fracasso de público à baixa popularidade dos cantores, não se sustentam. Em condições normais e através de divulgação “igrejeira”, a cantora Ana Paula Valadão, do Diante do Trono, sozinha, é capaz de tornar pequeno o espaço do Aterro do Flamengo. A chuva que caiu sobre o Rio naquela tarde afastou muita gente. Algumas outras possíveis explicações também podem ser levantadas. Uma delas é que os organizadores globais acreditaram que poderiam atrair o público gospel com o mesmo formato de promoção dos shows seculares. Portanto, confiaram na força de convencimento da mídia e menosprezaram o poder de (des)mobilização das igrejas.

Outra explicação possível é que, mesmo sendo uma operadora da comunicação, a Globo não teve o cuidado de adequar a mensagem e a linguagem utilizadas no texto das chamadas ao público almejado. A mensagem convida para um ajuntamento, sem que para isso estabeleça um claro objetivo espiritual. A linguagem traz palavras seculares como “fã” e “ídolo” para tratar da relação dos crentes com os cantores, e os princípios doutrinários dos protestantes rejeitam, veementemente, a posição de “fã” além de considerarem a “idolatria” uma abominação.

Pode ter ajudado também para esse fiasco de público a ausência de um(a) apresentador(a), reconhecidamente evangélico(a), que emprestasse credibilidade e intimidade às participações. Com o Serginho Groisman nessa função, (ele não é reconhecido pelos crentes como um “irmão” que professa a mesma fé) é possível que o público tenha entendido que não se trataria de um culto inteiramente dedicado ao louvor e a adoração à Deus,  como esperava e gostaria que fosse.

A resistência em não participar da festa pode ter maior razão na desconfiança de boa parte dos evangélicos com a repentina aproximação da TV Globo, porque eles trazem na memória marcas de hostilidades causadas pela emissora. Lembram, por exemplo, de como foram desdenhados e caricaturados em novelas, humorísticos e minisséries, além do sofrimento com difamação, injúria e depreciação da fé deles em reportagens e documentários.

A decisão de aproximar-se dos Reformados faz parte de um conjunto de medidas que visa melhorar a audiência da emissora junto à nova classe média e o consequente acréscimo do faturamento. Esse novo direcionamento resulta da observação de pesquisas que avaliam os anseios do telespectador e também de uma leitura cuidadosa do atual cenário econômico e social do país. Estudos acadêmicos recentes e informações atualizadas do IBGE apontam, por exemplo, para uma forte e crescente presença evangélica na composição da nova classe média. Dessa forma, apesar de contar com apenas 20% da população brasileira, de acordo com o Novo Mapa das Religiões publicado no ano passado pela Fundação Getúlio Vargas, é possível observar sinais de que esse segmento religioso já consegue influenciar a moral, a ética, a política, a cultura, a literatura, as artes, os costumes e a natureza do consumo em espaços sociais nos quais estão inseridos.

Atenta à nova configuração social e econômica brasileira, a emissora procura adequar-se ao novo momento. As mudanças ocorrem na grade da programação e na filosofia que direciona suas escolhas discursivas. A tendência, inclusive, é continuar com a mesma política de promoção de temas relacionados ao catolicismo romano e também ao espiritismo em sua programação. Por outro lado, deve abrir espaço na grade aos evangélicos e, logicamente, dispensar-lhes melhor tratamento e consideração. Isso inclui o uso do bom senso em pontuar ou particularizar eventuais críticas aos escândalos que surgirem no meio protestante, tendo o cuidado de preservar o restante do grupo.

A parceria entre os antigos desafetos vai sendo aos poucos viabilizada, iniciando-se pela música. Não será estranho, no futuro, que pastores ministrem através da tela da Globo. Cooperam para isso, a recusa da Rede Record em abrir espaço para as igrejas em sua grade, e a sua preferência por uma programação secularizada. Interessada em explorar o ainda insipiente e semiprofissional mercado da música gospel, que rende cerca de R$ 2 bilhões por ano, a Gravadora Som Livre, empresa das organizações Globo, criou a sua divisão “gospel” e contrata cantores que se destacam nesse meio.  Animada com a audiência do Festival e a ampla circulação de mensagens e vídeos relacionados ao tema nas redes sociais da internet, a emissora já prepara mais três edições do evento para este ano e estuda a criação de um programa musical gospel para as tardes de sábado.

Essa até recentemente impensável aproximação encontra resistências dentro da própria TV Globo e também entre os protestantes. O grupo ligado ideologicamente ao ex-diretor José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o “Boni”, não concorda com mudanças na filosofia da programação cristalizada e consagrada pela emissora. Essa discordância advém do temor de que as medidas causem prejuízos à imagem da empresa junto ao público e aos anunciantes. Do lado protestante podem ser encontradas pelo menos três correntes de opinião sobre a parceria com a Rede Globo; todas elas oriundas de igrejas, da mídia evangélica e de seminários teológicos.

A primeira diz respeito ao discurso dos que se posicionam radical e incondicionalmente contrários à midiatização do Evangelho, também chamada por eles de espetacularização do Evangelho. Eles são ainda mais intransigentes quando se trata de associação da igreja com a mídia secular, especialmente com a Globo. Para eles, é impossível a conciliação de interesses entre as duas partes visto que os propósitos delas são incompatíveis. Um exemplo desse discurso de resistência pode ser encontrado no blog do pastor Renato Vargens, para quem “é claro que os interesses globais estão bem além dos ritmos e melodias entoadas pelos cantores evangélicos tupiniquins.”

A segunda opinião reflete a visão também crítica e desconfiada, mas com relativa abertura ao diálogo, do grupo dos moderados. Eles são favoráveis à presença do Evangelho na mídia, desde que a temática seja puramente cristã. Assim, alertam para o perigo de se compartilhar a programação santa com a profana; os interesses do Reino de Deus com os do mercado, visto que essas coisas podem resultar na descaracterização ou na banalização da mensagem do Evangelho. No entanto, os moderados não são de todo relutantes em negociar os métodos e as técnicas de evangelismo, desde que essa negociação não ofereça riscos aos princípios da ética cristã e à integridade da mensagem das boas novas de salvação.

O terceiro grupo compartilha as mesmas preocupações quanto à necessidade de divulgar e de preservar a essência do Evangelho. No entanto, diferencia-se dos dois primeiros grupos ao não oferecer resistência à aproximação da mídia secular e por não apresentar rígidas e claras condições prévias para o encontro, o que pode deixar vulnerável a prática dos princípios éticos cristãos e diluir a mensagem do Evangelho. Como objetiva garantir a sua inserção no contexto da programação televisiva, prefere confiar na possibilidade de que os parâmetros balizadores do relacionamento entre as partes sejam construídos, dialogicamente, durante o processo de convivência. Dessa forma, o grupo não se sente constrangido, por exemplo, em participar aleatoriamente de qualquer formato de programa de auditório secular por acreditar que no final, o Evangelho sairá em vantagem.

O pastor Silas Malafaia é uma das vozes mais representativas do discurso evangélico a favor da parceria com a televisão. Ele, inclusive, é o principal articulador do Festival Promessas junto à diretoria da TV Globo. Em resposta às críticas ao show, escreveu no Twitter que os crentes não são ingênuos quanto aos interesses comerciais da emissora. Na ocasião, destacou a importância desse show que pregou a palavra de Deus, por meio da música, utilizando-se da excelente estrutura da maior rede de televisão do país. Para ele, o evento ocorreu em resposta às orações de muitos que sonharam com oportunidades assim, em que milhões de pessoas pudessem ouvir falar da salvação em Jesus, o Cristo. Resumindo o pensamento desse grupo e expressando a natureza dos interesses envolvidos nessa relação de parceria, o jovem pastor Junior Souza afirma em seu blog que “a Globo usa os evangélicos para ganhar audiência e nós usamos a Globo para pregar o Evangelho”.

Para efeito de conclusão, pode-se afirmar que a repercussão desse acontecimento é boa para o arraial protestante porque promove o debate entre as suas mais variadas correntes ideológicas. Longe de ser um problema, a diferença de opinião é saudável em qualquer sociedade. Até porque a heterogeneidade de vozes pode promover a correção de rumo, o controle e o equilíbrio das práticas discursivas numa dada comunidade. Em Provérbios 11:14 mesmo diz que numa multidão de conselhos, é possível encontrar conselhos sábios.

Algumas perguntas preocupadas emergem das discussões sobre o Festival e merecem consideração. Deve-se avançar ou retroceder nesse processo? É possível conciliar os interesses comerciais da emissora com a pregação do Evangelho? Como agir com aqueles que estarão interessados em prestígio pessoal, fama e dinheiro no lugar da evangelização? É possível conciliar prestígio pessoal, fama e dinheiro com a vida de pregação do Evangelho? O que fazer quando chegarem os escândalos dos que estiverem em evidência? Como aproveitar o espaço na TV para evangelizar com eficácia e eficiência? O que muda nas estratégias de evangelismo e de missões de agora em diante, levando-se em consideração essa nova realidade? Quais seriam as condições restritivas básicas a serem apresentadas pelos evangélicos na mesa de negociação com a TV? Que projeções sobre a situação espiritual e sobre o crescimento numérico podem ser feitas, a longo prazo, da parte evangélica que participa da programação da TV secular e da parte que não participa?

Querendo ou não, o Festival Promessas constituiu-se em marco para a grade da TV brasileira e também para a relação dos evangélicos com a televisão. Essa parceria é uma realidade que está posta. Agora é saber como esse relacionamento será conduzido. Possivelmente outras redes de TV também procurarão se aproximar dos crentes com os mesmos objetivos. E não se pode negar a capacidade delas em alcançar o grande público, o que interessa aos evangelizadores. Com isso, espera-se que as águas sejam mexidas e as redes de indistintas denominações evangélicas encham-se de almas. Pode-se estar no tempo da grande colheita de almas tantas vezes orada e profetizada.

Para isso, urgem investimentos cuidadosos e expressivos no treinamento de obreiros e no discipulado dos novos crentes que virão. Essas medidas são necessárias para que o esforço da evangelização resulte em pessoas nascidas de novo em Cristo, que esperem o Céu e sejam testemunhas fiéis do Senhor perante o mundo. Do contrário, poderemos ter um amontoado de admiradores e adeptos sem que sejam, de fato, convertidos. Que o Espírito Santo nos dirija em todo o bom propósito, tornando-nos sensíveis e obedientes à voz de Deus e também que Ele convença uma multidão de brasileiros dos seus pecados, do Juízo e da Justiça.

Orley José da Silva, é professor universitário em Goiânia, mestrando em linguística/UFG e evangelista da Assembléia de Deus do bairro de Campinas. E-mail: [email protected]

Fonte: www.juliosevero.com

Categorias
Noticias

EVANGÉLICOS NA CRACOLANDIA

 

Rede Social Cristã acompanha de perto ocupação no Centro de SP

Por: Robson Morais – Redação Creio

                                                                               Foto: Blog de Marcos Gomes

     Uma operação policial violenta, que já dura duas semanas e promete se estender por mais seis meses. Essa tem sido a rotina de uma das regiões mais devastadas pelas drogas do Brasil: a Cracolândia, em São Paulo. Mobilizados, grupos evangélicos tem acompanhado a medida militar, amparados não na agressão, mas sim no evangelismo. O passo destes verdadeiros heróis agora é a formação de parcerias com empresas cristãs e a intensificação nos projetos de apoio desenvolvidos por entidades integradas a Rede Social Cristã – que engloba Renas, Jeame e PMs de Cristo- do Centro.

O uso do ataque direto às vítimas do crack, sempre reunidos em torno da praça Júlio Prestes, e da truculência militar tem feito, desde o início, com que a medida beire o fracasso. Na última terça-feira, o Ministério Público instaurou inquérito para investigar o já mostrado nos jornais e emissoras de TV: o abuso de autoridade cometido por policiais. O primeiro erro das autoridades é combater meras vítimas e não o verdadeiro mal, conhecido como tráfico de drogas. O segundo, e talvez mais grave, é a falta de assistência aos que procuram a reabilitação. A invasão ocorreu antes da montagem de um centro de atendimento dos dependentes, não houve ampliação dos serviços de apoio ou suporte às casas já existentes. “Toda essa força policial tem servido apenas para uma verdadeira debandada dos que freqüentavam a Cracolândia” é o que diz a fundadora do Ministério Jeame, Suzanne Duppong, que atua no encaminhamento dos viciados a locais de tratamento.

Duppong integra um grupo pequeno de apenas 6 voluntários que espera, a partir de fevereiro, dar início ao Comitê de reestruturação e ampliação de centros de tratamento a dependentes químicos em São Paulo. O projeto visa a parceria com empresas e profissionais cristãos para angariar recursos materiais e utensílios, sem a doação em dinheiro. “Nossa luta é também contra a corrupção e a má fé de outros grupos. Doando materiais, os parceiros sabem exatamente para onde vai sua ajuda” explica.

Dia do Bem

No dia 3 de dezembo de 2011, a primeira edição do ‘Dia do Bem’ foi uma das primeiras e mais significativas ações de evangelismo e reabilitação na região da Cracolândia. Contou com a parceria de grupos envolvidos com a Rede Social Cristã do Centro, que integra Jeame, Renas, PMs de Cristo, entre outros. Daniel Beltrão, um dos organizadores da inicitiva analisa o desafio: “Este ano será mais difícil, pois os viciados estão com medo e espalhados pelas outras ruas”. A segunda edição do evento está programada para acontecer no dia 25 de janeiro, dia do aniversário da cidade. Responsável pela comunicação do grupo e assessoria, o voluntário diz estar confiante e preparado para o clima de guerra causado pela força policial. “Se a ação fosse pensada e feita em conjunto com grupos evangélicos e assistentes socais, a violência não chegaria a este ponto”.

Mesmo assim, Beltrão não minimiza o auxílio dado pela prefeitura na iniciativa. Serviços de assistência social e ambulatórios móveis foram disponibilizados, o que supre em parte a escassez no número de vagas e falta de estrutura nos centros de reabilitação que mantém. A primeira edição do Dia do Bem foi destaque em emissoras de TV. As reportagens podem ser conferidas aqui e aqui.

Cristolândia

Também muito conhecido por todos os que freqüentam a região da Cracolândia está o pastor José Humberto, curador de uma das ações mais eficazes já realizadas no combate ao drama da dependência química. A Cristolândia, um misto de igreja e centro comunitário tem sido muito procurado nos últimos dias. "Fazíamos uma média de 40 por mês. Já chegamos ao dobro disso e em dez dias e vamos abrir novas 200 vagas", disse Humberto, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo. Com a presença ostensiva da PM na região, a missão Batista passou a funcionar em esquema de plantão, com suas portas abertas 24 horas. O projeto encaminhou nos últimos 22 meses cerca de mil usuários para internação e centros de formação evangélica.