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Na Holanda, igrejas estão fechando as portas

 

Há anos o número de fiéis está em declínio. A tendência toma conta de toda a Europa Ocidental. A Igreja Protestante perde sozinha, a cada ano, cerca de 60 mil fiéis na Holanda.
A Igreja está sofrendo um êxodo drástico na Holanda. Com duas igrejas fechando a cada semana, um homem se tornou o principal consultor do país sobre como reaproveitar as construções antes sagradas. Algumas são demolidas, enquanto outras encontram nova vida como mesquitas, lojas e até mesmo centros de recreação.
Os bancos da igreja são vendidos de acordo com o tamanho. Os menores, com 3,6 metros de comprimento, podem ser comprados por 40 euros, enquanto os mais longos, de 6 metros, por 60 euros. Os fiéis da cidade holandesa de Bilthoven já levaram 17 bancos de seu santuário.
Os bancos não serão um problema, diz Marc de Beyer. Mas o órgão e a pia batismal, pesando centenas de quilos, no fundo da igreja, serão mais difíceis.
Marc de Beyer é um historiador da arte em Utrecht, localizada a meia hora de trem de Amsterdã, mas alguém poderia chamá-lo de liquidante. Ele é o homem que fecha as igrejas. Quando uma paróquia é dissolvida, quando uma igreja é fechada, De Beyer está lá. E ele tem muito a fazer.
Ainda existem cerca de 4.400 igrejas na Holanda. Mas, a cada semana, aproximadamente duas fecham as portas para sempre. Isso afeta principalmente os católicos, que serão forçados a ficar sem metade de suas igrejas nos próximos anos.
“E está apenas começando”, diz De Beyer.
Sua voz ecoa no prédio abobadado, onde a fraca luz de outono entra diagonalmente pelas janelas. De Beyer está atrás de um bloco do tamanho de um freezer. Até 1º de julho de 2006, ele era o altar da Igreja de São Lourenço, em Bilthoven, ao norte de Utrecht. Mas naquele dia a igreja se tornou um imóvel no mercado e o altar, onde os fiéis foram abençoados, casaram e lamentaram, se transformou em um pedaço de cimento.
Inicialmente, foi discutida a conversão da igreja em um centro comunitário. Mas os católicos queriam vendê-la rapidamente e uma empresa comprou a propriedade consagrada. No ano que vem, São Lourenço será demolida, dando espaço a 62 apartamentos.
“Arquitetonicamente, a perda é suportável”, diz De Beyer. A igreja foi construída nos anos 60, quando as comunidades católicas em Bilthoven e De Bilt cresciam tão rapidamente que os dois distritos passaram a precisar de três igrejas. Ela foi construída de forma rápida e simples.
Bancos vazios

Há anos o número de fiéis está em declínio. A tendência toma conta de toda a Europa Ocidental, com igrejas também sendo forçadas a fechar na França e na Bélgica. Mas na Holanda, o recuo do cristianismo na sociedade tem sido particularmente drástico. A Igreja Protestante perde sozinha, a cada ano, cerca de 60 mil fiéis. Nesse ritmo, ela deixará de existir por lá até 2050, calculam representantes da Igreja.
A tendência tem levado a fusões de igrejas de várias comunidades. São Lourenço, em Bilthoven, consolidou sua congregação com a de oito outras igrejas. Mas nenhuma dessas amálgamas precisa de mais do que uma igreja, um órgão e um altar. Todos os outros cálices, cruzes e bancos precisam ser descartados. O problema, diz De Beyer, é que itens sagrados particularmente não vendem bem. Os prédios, ao contrário, encontram rapidamente novos locatários.
Em Helmond, cerca de 80 quilômetros ao sul de Bilthoven, um supermercado se mudou para uma antiga igreja em 2001. Uma livraria abriu em uma antiga igreja dominicana em Maastricht, enquanto igrejas em Utrecht e Amsterdã foram transformadas em mesquitas. Dentre os 17 milhões de habitantes da Holanda, cerca de 850 mil praticam o islamismo. Ainda assim, muitas outras igrejas serão simplesmente demolidas.
De Beyer vem fechando igrejas nos últimos três anos. Ele estava presente quando um “plano estratégico” foi desenvolvido para transformar o Convento de Santa Catarina em um museu. Juntamente com a fundação para o patrimônio de arte religiosa, ele também escreveu um manual com instruções para o fechamento de uma igreja em seis passos – do inventário ao espólio. O guia foi distribuído entre as diferentes paróquias a partir de abril e, em breve, será traduzido para o inglês.
‘A melhor solução’

Recentemente, De Beyer participou de um simpósio na Alemanha e logo falará na Bélgica. Afinal, as igrejas não estão morrendo apenas na Holanda. Quando ele chega ao ponto 5.4 em seu manual, intitulado “demolição”, as pessoas frequentemente precisam recuperar o fôlego, ele diz.
“Mas quando uma igreja tem pouco propósito, valor emocional ou importância histórica, essa pode ser a melhor solução”, acrescenta De Beyer.
Ainda assim, De Beyer vê a si mesmo como um salvador de templos. Ele quer preservar o valor delas. Suas instruções visam ajudar a distinguir entre o que tem valor e o que não tem. Ele frequentemente visita as igrejas para fornecer orientação e apoio. Bancos e Bíblias costumam ser vendidos para os membros da congregação.
“Os altares frequentemente encontram um novo lugar no Leste Europeu”, diz De Beyer. “Há grande demanda lá, porque novas igrejas estão sempre sendo construídas.”
Há poucas semanas, uma paróquia em Arnheim decidiu por um uso totalmente novo para sua igreja, que permaneceu vazia por cinco anos. No final de novembro, a Igreja de São José reabriu como um parque para skatistas, com rampas e obstáculos na nave, cobrando 3,50 euros para passar o dia praticando entre imagens santas. Desde então, o número de frequentadores da igreja tem sido respeitável.

Data: 28/12/2011 08:00:00