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O DOM DE SEPULTAR IGREJAS

 

nO pastorado exige mais que desejos profundos de santidade e paixão pelas almas perdidas

Por: Augustus Nicodemus Lopes

É um assunto sensível e delicado, mas acho que devo escrever sobre ele. É o caso de pastores que acabam ficando conhecidos, não pelas novas igrejas que abriram, mas pelas igrejas que sepultaram. A mão deles, ao sair das igrejas, quase sempre foi aquela que fechou os olhos do pobre cadáver eclesiástico.

Soube que os colegas de um desses, na gozação, haviam decidido entregar-lhe “a pá de ouro”, quando finalmente se jubilou para alívio de todos… (qué malos!) Os pastores com o ministério do “esvaziamento bíblico” são um problema para suas denominações, que ficam sem saber o que fazer com eles, após terem criado problemas em praticamente todas as igrejas por onde passaram. O pior é quando um pastor desses acaba obtendo algum poder político no âmbito da denominação, o que torna ainda mais difícil achar uma solução.

     E que solução haveria para os pastores que têm um histórico crônico de problemas nas igrejas por onde passaram? Acho que se deve, em primeiro lugar, dar um crédito de bona fide. Será que o problema é realmente o pastor ou os conselhos e igrejas por onde, por azar, andou pastoreando? (há, de fato, conselhos, consistórios ou mesas diretoras conhecidos por trucidarem pastores. Mas, isso é assunto de outro post…).

     Descontado este crédito, fica evidente que tem gente que errou na escolha do ministério pastoral como sua missão no mundo. Talvez esse engano não foi intencional. O zelo e o ardor de servir a Deus e de viver em contato com sua Palavra e a sua obra fazem com que muitos jovens cristãos, cheios de amor ao Senhor, busquem o pastorado como a maneira prática de realizar seus sonhos espirituais. A esses, muito pouco tenho a dizer, senão que podemos ser espirituais, zelosos por Deus, amantes de Sua Palavra e de sua obra em qualquer outro lugar além do púlpito. Há cristãos zelosos e sinceros que sinceramente erraram na vocação. Há também aqueles que viram o pastorado como meio de vida, ou que ficaram fascinados pelo prestígio que o púlpito e o microfone na mão parecem conferir aos que chegam lá. O pastorado exige mais que desejos profundos de santidade e paixão pelas almas perdidas. E obviamente, nunca será eficazmente desempenhado por quem entrou por motivos baixos.

     Não estou dizendo que a prova da genuinidade da vocação é o sucesso numérico, pastorados longos em um único lugar e um histórico de saídas pacíficas de diferentes igrejas. Sei que números não dizem tudo. Nem saídas pacíficas de pastorados longos. Contudo, dizem alguma coisa. O problema se agrava porque em denominações históricas se incentiva o ministério em tempo integral. O pastor, via de regra, só aprendeu a fazer aquilo mesmo: realizar atos pastorais, elaborar uma liturgia, preparar sermões e estudos bíblicos, atender gente no gabinete, visitar os enfermos e necessitados, animar os cultos de domingo, fazer a sociabilidade da igreja, e por ai vai. Se sair do pastorado, não sabe praticamente fazer mais nada. Vai acabar abrindo uma igreja para ele, como muitos fizeram. Para evitar o problema, algumas denominações incentivam pastores bi-vocacionados, isto é, que além do ministério pastoral, tenham uma profissão secular.

     Pastores com o “dom” de fechar igrejas acabam se tornando um problema para todo mundo, especialmente quando eles vêm com um defeito de fábrica: a falta do “mancômetro”, um instrumento extremamente necessário para o ministério pastoral, que avisa quando está na hora de sair. Pastores sem mancômetro não conseguem perceber aquilo que todo mundo fica com receio de dizer-lhe abertamente: que de pastor mesmo, ele tem pouco ou nada. E que a melhor coisa que ele deveria fazer, era pedir para sair, e sair silenciosamente, sem fazer muito barulho.

     Não posso deixar de admirar pastores que após algum tempo de ministério voluntariamente pedem para sair, ao perceber que cometeram um erro ao entrar. Conheci uns três ou quatro que fizeram isso, apesar de só me lembrar do nome de um deles. Tenho certeza que uma atitude dessas por parte de irmãos com o dom de enterrar igrejas agradaria ao Senhor. A ponto dele abrir-lhes portas para ganharem a vida de uma forma realmente digna e decente. Lembro-me da oração de meu sogro, o Rev. Francisco Leonardo, quando era reitor do Seminário Presbiteriano do Norte: “Senhor, manda para o seminário os verdadeiros vocacionados e coloca para fora os que não são”. Se mais diretores de seminários e conselhos de igrejas fizessem esse tipo de oração com mais freqüência, teríamos que entregar menos “pás de ouro” nos concílios.

20-06-16 034

Rev. Ângelo Medrado, Bacharel em Teologia, Doutor em Novo Testamento, referendado pela International Ministry Of Restoration-USA e Multiuniversidade Cristocêntrica é presidente do site Primeira Igreja Virtual do Brasil e da Igreja Batista da Restauração de Vidas em Brasília DF., ex-maçon, autor de diversos livros entre eles: Maçonaria e Cristianismo, O cristão e a Maçonaria, A Religião do antiCristo, Vendas alto nível, com análise transacional e Comportamento Gerencial.

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Igrejas têm cada vez mais exigências para oficializar o ‘sim’

 

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

Para se casar hoje em uma Igreja Católica, não basta dizer o "sim". Há casos em que é preciso ir a 12 missas ou pagar multa por atraso. Por respeito à religião ou para coibir excessos, padres das igrejas mais procuradas para casamentos criaram restrições na cerimônia.

A Folha consultou 16 paróquias de SP, RJ e MG. Constatou que as normas incluem medidas contra atrasos, decotes e músicas. Ao menos três igrejas exigem dinheiro dos noivos. Caso sejam pontuais, o valor é devolvido.

É o caso do Mosteiro de São Bento, no centro da capital, e, em Ribeirão Preto (SP), da catedral e da paróquia Nossa Senhora de Fátima.

Há regras também para preservar prédios históricos. "Tivemos decorador que usou pregos nos bancos centenários para fixar arranjos", diz Alessandra Paciullo, cerimonialista do mosteiro.

Na Cruz Torta, no Alto de Pinheiros, o padre Renato Cangianelli proibiu a canção "Also Sprach Zarathustra", do filme "2001: Uma Odisseia no Espaço". "Sempre coloco a música aos noivos e pergunto do que se lembram. Todos dizem: macacos. Isso não condiz com a celebração."

Na Nossa Senhora do Brasil, a cruzada do padre Michelino Roberto é contra os decotes. Para cobrir as mais ousadas, ele tem xales para emprestar. Gabriela Chodravi, 25, que vai casar ali, deu o recado do padre às madrinhas.

O banho de arroz foi vetado em várias igrejas. "Além de superstição, é jogar alimento no chão", disse André de Oliveira, padre do Mosteiro de Nossa Senhora do Divino Espírito Santo, em Claraval (MG). Na Candelária, no Rio, o arroz foi proibido após uma funcionária escorregar e se ferir.

Editoria de Arte/Folhapress

Colaborou LUIZA SOUTO, do Rio

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Divórcio ainda é tabu nas igrejas evangélicas

 imagesdNa Igreja ainda persiste a ideia de que um crente que chega ao divórcio, seja por qual motivo for, sofreu não apenas uma derrota pessoal, mas, sobretudo, espiritual.

Volta e meia, Jesus Cristo, em seu ministério terreno, era confrontado com perguntas espinhosas. Uma delas, que até virou dito popular, dizia respeito à validade, ou não, de se pagar tributos ao imperador. “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, a antológica sentença do Mestre, encerrou a questão. De outra feita, diante da mulher flagrada em adultério, os fariseus tentaram condenar o Filho de Deus por suas próprias palavras. Caso autorizasse o apedrejamento, estaria contrariando o perdão que tanto pregava; se optasse por liberar a pecadora, Jesus seria acusado de desobedecer a lei judaica. Simplesmente, ele fitou seus inquiridores e fez um desafio que ecoa até hoje: “Quem estiver sem pecado, que atire a primeira pedra”.

Contudo, uma das falas do Salvador continua rendendo discussões, interpretações desencontradas e inquietação. Instado pelos fariseus a responder se era lícito a um homem deixar sua mulher por qualquer motivo, Jesus foi enfático: segundo ele, apenas em caso de adultério o divórcio deveria seria admitido. O que passasse disso seria devido à “dureza do coração” das pessoas. No momento em que aumenta quantidade de casamentos dissolvidos, na sociedade em geral e dentro da Igreja, a fala de Cristo dá mesmo o que pensar. Hermenêutica à parte, muito mais casais crentes se divorciam hoje do que em tempos idos, quando a ideia de uma separação sequer era cogitada pelos evangélicos. E há argumentos bem razoáveis para sustentar qualquer posição nesta delicada seara da intimidade humana. A verdade é que o divórcio hoje faz parte da realidade da Igreja e cada vez mais gente procura maneiras não só para enfrentá-lo, como também para juntar os cacos e seguir em frente.

Se os levantamentos mostram que o número de divórcios no Brasil cresce a cada ano, ainda mais depois que mudanças na legislação facilitaram bastante a dissolução de um casamento, nas igrejas evangélicas o assunto ainda é tabu. Persiste a ideia de que um crente que chega ao divórcio, seja por qual motivo for, sofreu não apenas uma derrota pessoal, mas, sobretudo, espiritual. Embora não existam pesquisas quantitativas de divórcio entre os crentes, quem trabalha no pastoreio não tem dúvidas ao afirmar que os divórcios estão aumentando, não apenas entre membros de igreja, como também no meio da liderança. “Em minha experiência de vida pessoal e pastoral, nunca testemunhei tantos casos de divórcio no contexto de uma comunidade cristã”, atesta o pastor presbiteriano Ricardo Agreste, colunista de CRISTIANISMO HOJE e autor do livro Feito para durar, em que aborda a questão sob a ótica bíblica.

Apesar da célebre declaração “até que a morte os separe”, tradicionalmente proferida nos casamentos, o fato é que muitos outros motivos estão fazendo as pessoas dividir as trouxinhas e pular fora. Incompatibilidade de gênios, desejo pelo tal “espaço próprio”, desajustes financeiros, transtornos familiares ou simplesmente esgotamento do amor são alguns dos mais invocados. O que não legitima a decisão, na opinião do pastor Carlos Flávio Teixeira, da Igreja Adventista. “Apenas a hipótese de adultério pode justificar, aos olhos de Deus, a separação ou divórcio do cristão”, aponta o mestre em teologia, que também é advogado. No seu entender, embora a legislação e os costumes facilitem cada vez mais as coisas para quem quer botar ponto final no matrimônio, o Evangelho aponta noutra direção. “A lei dos homens dá opções que, para a lei de Deus, não podem ser admitidas”.

“SAÍDA DE EMERGÊNCIA”

Vinculado à Convenção Geral das Assembleias de Deus, o pastor Josué Gonçalves é terapeuta familiar e líder do Ministério Família Debaixo da Graça, em Bragança Paulista (SP). “Não podemos aceitar a banalização do casamento, que é uma instituição divina”, defende. “É equivocado incentivar uma separação como se fosse coisa normal e sem consequências”. Ele reconhece que cada caso deve ser analisado e tratado individualmente, para que injustiças não sejam cometidas, mas acredita que a questão deve ser vista de forma radical, como o fez Jesus. “Sabemos que nem sempre os problemas conjugais podem ser resolvidos. Mas o divórcio nunca deve ser visto como porta de saída, mas sim, como uma saída de emergência”.

É claro que, em se tratando de aspecto tão pessoal da vida, qualquer tribulação na vida conjugal causa dores e frustrações. O que, na opinião de Agreste, é difícil de administrar. “Uma das coisas que mais ouço de casais em crise no gabinete de aconselhamento é a recorrente frase: ‘Eu tenho o direito de ser feliz’”. Na sua ótica, isso é reflexo do hedonismo e do individualismo da cultura secular. E o divórcio sempre tem seu preço.Quando o gerente de marketing Leonildo Aires Durães, hoje com 37 anos, viu seu casamento de sete anos ruir, teve enorme sentimento de culpa. Criado dentro de um ambiente de conservadorismo evangélico, ele foi ao altar com apenas 18 anos – e achava que a palavra separação jamais faria parte de sua vida. “Recebi uma educação legalista na igreja Eu tinha o casamento como um ideal, algo para toda a vida”, conta.

Leonildo era membro da Igreja do Evangelho Quadrangular quando ocorreu a dissolução do casamento. O sofrimento era potencializado por sua idade, uma vez que, aos 25, já divorciado e com dois filhos, ele sentia-se um peixe fora d’água no ambiente evangélico. “O descasado na igreja chama a atenção de uma forma que não gostaria. Alguns se afastam, já que existe muita especulação sobre sua vida”. Passaram-se 12 anos do divórcio e Leonildo reestruturou sua vida, compondo nova família. Casado com Roberta, com quem tem uma filha, Lenildo agora congrega na Assembleia de Deus do Bom Retiro, em São Paulo. E preocupa-se com a situação: “A nova geração quer ser feliz. Se uma união não dá certo, basta procurar outro casamento, ou seja, a fila anda. Ninguém mais quer sustentar um matrimônio frustrante pelo resto da vida. O grande desafio para a Igreja, hoje, é lidar com essa mentalidade.”

DOR E SOLIDÃO

Com um livro-depoimento quase pronto sobre o assunto para ser lançado, a jornalista Virginia Martin conhece o peso de um divórcio quando se é evangélico. Ela permaneceu casada por dez anos e, a partir da separação, em 2004, experimentou um misto de dramas e emoções de que apenas ouvira falar nos bancos de igreja. “Um divórcio tem muitas consequências. Precisamos passar a lidar com problemas com filhos, sustento e a própria identidade pessoal – isso, sem falar na solidão”. Remédio, a bem da verdade, não existe para fazer a dor sumir, mas quem tem a Cristo sai em vantagem. É o que diz Virginia: “A maturidade espiritual é fundamental nessa hora, assim como apoio. Aprendi que amigos são anjos em forma de gente”. O livro, ainda sem título definido, teve origem a partir de um estudo preparado para a escola dominical da Primeira Igreja Batista de São Gonçalo, onde Virginia é membro com o casal de filhos.

Em seus escritos, ela conta sobre traição, mentiras e a ausência do ex-marido. “Preferi ficar sozinha a viver um casamento de fachada. A incompatibilidade tornou-se insuportável”. Segundo ela, ninguém deve ser condenado a permanecer numa relação que gera falência emocional. “Eu reconheço um Deus amoroso e consolador, paciente e perdoador, que concede a possibilidade de um novo contrato, uma nova aliança, abençoada por ele por sua graça”, continua. Embora não esteja, agora, em nenhum relacionamento, ela não exclui a possibilidade. “Imagine se todas as pessoas divorciadas, fora ou dentro da igreja, estivessem condenadas a permanecer sozinhas? Haveria uma epidemia de gente muito esquisita andando por aí”, brinca. “Há gente que foi tão infeliz e maltratada no casamento que sequer sabe o que significa uma verdadeira união”. Por outro lado, destaca, muitos casais em segundo matrimônio são uma bênção para si mesmos e para os outros. A intenção de Virginia é que a obra possa trazer cura às pessoas, assim como fez com ela. “Que o livro leve à percepção de que as feridas que sangram na alma podem ser fechadas”.

Podem, mas o processo costuma ser dolorosamente longo – e, no caso de ministros do Evangelho, acompanhado de muitas cobranças. CRISTIANISMO HOJE fez contato com alguns pastores que se divorciaram, mas quase todos se recusaram a falar ou fizeram questão do anonimato. Mas o pastor, escritor e conferencista Ariovaldo Ramos, da Comunidade Cristã Reformada, contou sua experiência. Logo ele, que passou boa parte do ministério ajudando pessoas a superarem suas crises pessoais e conjugais. No entanto, há cinco anos, viu a família construída havia 22 anos se desmontar com um divórcio. “Perdi grande parte dos que considerava como minha família, que ficou praticamente reduzida às minhas filhas”. Hoje, o religioso já ultrapassou a pior fase, mas ainda assim sofre efeitos do que lhe aconteceu. “Cheguei a ser muito caluniado.”

Ariovaldo não engrossa o coro dos crentes que acham que o casamento, ainda mais quando feito dentro da igreja, não pode acabar. “A Bíblia questiona como duas pessoas poderão andar juntas, se entre elas não houver acordo. Então, sob vários aspectos, o divórcio é admitido. Mas não é o ideal – deve-se sempre lutar pela manutenção do casamento”. Opinião semelhante tem seu colega Luiz Longuini Neto, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Conhecido por celebrar casamentos de celebridades, como as atrizes Juliana Paes e Deborah Secco, ele defende que uma segunda tentativa possa ser feita – e com conhecimento de causa, já que divorciou-se três vezes e está no quarto matrimônio. “Antigamente, a igreja não estava preparada para lidar o com o divórcio, ainda mais de pastores”, avalia.

Ele lembra que sofreu muito preconceito quando de sua primeira separação, há 25 anos. “Contudo, ocorreram muitos avanços”. Deixando claro que não defende o divórcio, Longuini lembra que, entre os evangélicos, o matrimônio não é um sacramento, ao contrário do que ocorre no catolicismo. Mesmo assim, o pastor diz que, quando procurado, sempre ajuda casais em crise a recuperarem a união. “Mas, às vezes, o fim do casamento é inevitável. Não apenas por uma questão de adultério sexual, e sim, pela quebra do pacto do casamento. Um homem que maltrata a mulher ou uma esposa perdulária, que gasta todos os recursos da família indevidamente, também cometem quebra de compromisso matrimonial.”

DESCANSO NO SENHOR

Um dos caminhos para quem busca um recomeço – com ou sem companhia – depois do divórcio são os ministérios voltados os chamados singles, termo genérico que abrange solteiros, viúvos e descasados na igreja. Esses grupos cresceram à medida em que o divórcio foi se tornando mais tolerado no meio evangélico. Eles promovem integração, convívio, edificação espiritual, suporte emocional e ajuda mútua entre o segmento, que tem demandas bem específicas e geralmente não supridas pelas atividades de outros setores das igrejas, como jovens ou casais. Um dos primeiros movimentos do gênero surgiu em 1989, na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro. Chamado Oásis, no início o grupo enfrentou certo preconceito e atraiu apenas seis pessoas. Contudo, mais de 20 anos depois, a associação hoje tem grande atividade na congregação. Além de realizar encontros devocionais e sociais, o Oásis auxilia o departamento diaconal e atua em serviços assistenciais mantidos pela igreja.

Na Igreja Batista de Água Branca (IBAB), de São Paulo, funciona o Ministério de Ação e Integração, o Mai, que tem como responsável o pastor Claudio Manhães. “Temos observado diversos testemunhos de gente que se integrou à igreja através desse trabalho”, diz o dirigente. O grupo promove reuniões quinzenais e realiza um encontro anual, com cerca de 200 pessoas – e, volta e meia, novos relacionamentos surgem ali. Mas nem todos os que deles participam estão à procura de uma nova cara-metade. O comerciante Edélcio Edmir Caraça, 54 anos, divorciou-se em 1996, e só depois aceitou o Evangelho, na Igreja Renascer em Cristo. Mais tarde, transferiu-se para a Primeira Igreja Batista de Perus, onde fez seminário e envolveu-se em diversas atividades. Hoje, é diácono, e permanece sozinho. “Minhas funções na igreja e vida espiritual não são afetadas por eu ser divorciado, porém, a vida social com os membros da igreja fica mais restrita”, admite.

Edélcio, que tem uma filha de 23 anos, diz que a diferença de idade em relação a outros grupos, como os de jovens, dificulta o desenvolvimento de laços de amizade mais fortes. O comerciante diz que não se sente excluído, mas afirma que é necessário saber precaver-se de algumas situações: “Principalmente no início, sempre tentaram arrumar um casamento para mim. Se aparecesse uma viúva ou uma mulher acima da idade jovem na igreja, já queriam marcar até encontro para a gente”, lembra, divertido. Dizendo buscar a vontade de Deus para sua vida, Edélcio garante que não está ansioso por um novo relacionamento. “Sei que, se não me casei novamente, foi porque o Senhor ainda não quis. Descanso nas palavras de Paulo em I Coríntios 7”. Ali, o apóstolo dá uma série de orientações aos crentes acerca de casamento e família e deixa claro que, caso o cristão decida se casar ou permanecer sozinho, não á nada de errado nisso. Uma de suas falas constitui excelente conselho, seja qual for a situação: “O que eu realmente quero é que vocês estejam livres de preocupações”. E, mais adiante, ele é categórico ao defender o valor do matrimônio: “Se estás casado, não procura separar-te.”

Os efeitos das recentes mudanças no Direito de família no Brasil, que facilitaram os processos de divórcio, já podem ser medidos em números. De acordo com dados do Colégio Notarial de São Paulo, a quantidade de divórcios realizados em cartórios, sem necessidade de processo judicial – possibilidade inaugurada com a nova lei –, aumentou em 109% no último ano em São Paulo. Foram 9.317 casamentos que chegaram ao fim, contra 4,5 mil em 2009. Pelas novas regras (Emenda Constitucional 66/2010), não existe mais exigência de tempo de separação de fato para que casais possam se divorciar – antes, era preciso esperar dois anos entre a separação de fato e o divórcio. Além disso, caso não haja filhos menores ou incapazes e seja firmado acordo prévia em relação à partilha dos bens, marido e mulher podem encerrar sua relação com apenas uma visita ao cartório.

“Falta mudança de vida”

Pastor e missionário, Sergio Leoto atua na área de família na Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo, ao lado da mulher, a psicóloga Magali. Ele conversou com a revista evangélica Cristianismo Hoje:

A quê o senhor atribui o aumento dos casos de divórcio no meio evangélico?

SERGIO LEOTO – Embora não haja levantamento específico, podemos dizer, a partir da observação como conselheiros, que esse aumento é um fato. Aponto a falta de discipulado sério junto aos novos convertidos como um dos motivos. Assim, situações erradas da vida anterior à conversão – como a mentira e o adultério –continuam se repetindo, pois não há instrução sobre o que é a nova vida em Cristo e a santificação. A falta de ministérios de família também é um problema. Apesar de diversos trabalhos de ótima qualidade, no geral, não existe atendimento efetivo a casais em crise.

Quais são os principais problemas que levam um casal de crentes a se divorciar?

Os fatores principais são a inabilidade em lidar com as diferenças de comportamento entre os cônjuges, o adultério – muitos crentes, homens ou mulheres, ainda não sabem fugir das “cantadas” – e transtornos ligados à área financeira. Ou por haver muito dinheiro envolvido, ou pela falta dele…

Como pastor de igreja e conselheiro, que orientação o senhor dá aos crentes que, casados já na condição de evangélicos, manifestam a intenção de encerrar o relacionamento?

Partimos do pressuposto de que, se somos procurados por casais a um passo do divórcio, é porque ainda existe chance de reconciliação. Nunca é um trabalho fácil, pois casamentos que se deterioraram através de anos não são recuperados em questão de minutos. São muitos encontros, meses de trabalho, muita oração, muita boa vontade de todos os envolvidos – e, na maioria das vezes, acontece a reconciliação. Nossa maior recompensa é ver famílias que permaneceram unidas, aprenderam a lidar e conversar sobre as diferenças de pensamento, aprenderam a perdoar e amadureceram, entendendo que casamento nos dá direitos mas também deveres.

Curva ascendente

Para cada quatro casamentos realizados no Brasil, um é desfeito (com números do IBGE de 2009):

916.006 foram os casamentos

231.329 uniões chegaram ao fim