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EVANGÉLICOS PREGAM INTOLERÂNCIA

Ao lado de diferentes religiões, grupo caminhou contra intolerância

Milhares de fiéis de diferentes religiões, a maioria vestida de branco, ocuparam cerca de um quilômetro da orla de Copacabana, para o início da segunda Caminhada em Defesa da Liberdade Reiligiosa. Umbandistas, católicos, evangélicos, muçulmanos, candomblecistas, kardecistas, judeus, presbiterianos participaram da caminhada, mas a maior parte é formada por integrantes de centros espíritas e terreiros de candomblé do Rio, Baixada Fluminense e até de outros estados. A caminhada começou às 14h, no Posto Cinco, e seguiu até a Praça do Lido.

Os que seguiram pela orla portavam bandeiras com pedidos de paz e exibiram recortes de reportagens sobre depredação de templos.

Os grupos Olodum e Ile Ayiê tocaram cânticos afro e até músicas evangélicas, com toque iorubá, como símbolo da integração respeitosa das crenças.

Entre os presentes estava o ministro Edson Santos, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Segundo ele, o governo federal vem fazendo, com a PUC-RJ, um censo que revelará o número de casas religiosas no Rio e suas condições socioeconômicas. O objetivo é criar um programa de apoio aos templos.

A presidente da Congregação Espírita Umbandista do Brasil (Ceub), mãe Fátima Dantas, defendeu o diálogo como a principal arma contra a intolerância religiosa.

– A única forma de a gente se entender é por meio do diálogo. É a gente provar que está fazendo um trabalho sério.

Integrante da comissão organizadora da caminhada, a presidente da Ceub assegurou que o movimento prega paz.

– Não queremos que o Brasil venha a passar por uma guerra santa, como estamos vendo lá fora. Por isso, estamos nessa luta.

Ela citou como exemplo o caso de pastores evangélicos que invadiram um templo umbandista no bairro do Catete, zona sul do Rio, em junho do ano passado, e depredaram a Cruz de Oxalá. Apesar disso, ela prometeu dar seguimento à luta contra a intolerância religiosa.

– Não vamos parar.

Outro membro da comissão é frei Athaylton Jorge Monteiro Belo, o frei Tatá, da Ordem dos Franciscanos. Ele confirmou que apesar de ser maioria no Brasil (73%, de acordo com dados do censo de 2000), os católicos também são alvos de perseguição religiosa.

– Infelizmente, [os católicos] sofrem algum tipo de discriminação, embora sejam ainda maioria no país.

Para o muçulmano Salah Al-Din Ahmad Mohammad, da Sociedade Beneficente de Desenvolvimento Islâmico, não existe dentro de antigos movimentos brasileiros o respeito à diferença religiosa. No Brasil, a Lei 7.716/89 considera crime inafiançável a intolerância religiosa e o racismo.

Segundo Ahmad, batizado no Brasil como Marco Antonio dos Santos, os umbandistas e candomblecistas, por exemplo, "foram e continuam sendo sistematicamente violados". Disse que também os muçulmanos sofrem limitações e agressões governamentais. Dentre essas, apontou o embarque nos aeroportos.

– As mulheres muçulmanas são obrigadas a retirar os seus hijabs (véus), enquanto as mulheres católicas passam e não são sequer solicitadas a conversar com a Polícia Federal. Então, a comissão vem fazendo um trabalho fundamental de conscientização e de luta pela igualdade religiosa. Nós, muçulmanos, vemos essa comissão como um fator de equilíbrio na balança do poder brasileiro.

Data: 20/9/2010
Fonte: O Globo