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Fim dos Tempos?

 

Por Kátia Mello
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“Cerca de 15 minutos antes do terremoto, a bebê começou a chorar. Não parecia haver nada de errado. Tirei-a do berço e tentei acalmá-la, mas ela não parava. Quando a peguei no colo, o apartamento inteiro começou a tremer. Abracei-a e a protegi até o tremor parar – foi quando ela chorou realmente alto. Quando o terremoto parou, ela também parou de chorar.
Parecia que ela sabia que algo ruim estava para acontecer”, conta a brasileira Márcia Fushima, de 33 anos, há 10 morando em Tóquio.
A pequena Aika, de 10 meses, filha de Márcia com o marido Atsuko, parece já saber que, como japonesa, precisa se acostumar com os tremores que castigam o país. O Japão está localizado em uma das áreas de maior instabilidade da Terra: na junção de três placas tectônicas que, ao se movimentarem, geram tremores. O terremoto de 11 de março, que fez Aika chorar alto, alcançou magnitude 9, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) – é o quarto maior do mundo e o maior já registrado no Japão. Seguido dele veio a onda gigante, o tsunami gerado pelo movimento do tremor, que engoliu vilarejos costeiros inteiros ao nordeste do país e dizimou cidades importantes como Sendai, com cerca de 1 milhão de habitantes, que foi atingida por ondas de 10 metros de altura. Até a quarta-feira (16), apenas dois dos 12 mil moradores da pequena cidade costeira de Otsuchi, por exemplo, haviam sido encontrados.
Houve incêndios em grande parte do país, estradas racharam e as redes de energia e telefonia ficaram destruídas, colocando o Japão em um estado caótico nunca antes visto.
Mesmo em um país que se prepara para enfrentar esse tipo de desastre natural desde o grande terremoto de 1923, que matou 140 mil pessoas na região de Kanto, e já teve de lidar com outras catástrofes como os ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki, no fim da 2ª Guerra Mundial (1939-1945). O Japão não pôde evitar os estragos causados pela quantidade descomunal de água vinda do mar, tampouco os efeitos da falta dela: três dos quatro reatores nucleares da usina de Fukushima superaqueceram por conta de panes no sistema de resfriamento (leia mais na página 12), trazendo de volta o pânico de uma contaminação nuclear.
Na última segunda-feira (14), um incêndio no reator número 4 e uma explosão no reator 2 colocaram em alerta a população, principalmente depois que o premier japonês, Naoto Kan, informou que esse incêndio elevou o nível de radiação consideravelmente e que a área isolada fosse ampliada para um raio de 30 quilômetros. Foram detectados também níveis mais elevados de radiação em Tóquio e a orientação era para que as pessoas ficassem dentro de suas casas, o que colocou parte da população em pânico. O que se viu, na terça-feira (15), foram voos sendo cancelados, empresas retirando funcionários da cidade e turistas querendo voltar para casa, apesar do governo descartar o perigo de contaminação.
No dia seguinte, o imperador do Japão, Akihito, de 77 anos, fez um de seus raros discursos à nação por meio da televisão. “Espero, do fundo do coração, que as pessoas se tratem com compaixão e consigam ultrapassar estes tempos difíceis”, disse.
Depois do incêndio no reator 4, organizações do mundo inteiro começaram a se preocupar com o vazamento nuclear. A Comissão Europeia classificou a situação da usina como “apocalíptica”, apontando o descontrole sobre os reatores, apesar de, no momento da declaração, dois deles já estarem a ponto de normalizar seus sistemas de resfriamento.

“Há desde amortecedores hidráulicos que minimizam os efeitos dos tremores a dispositivos que dissipam as ondas. É caríssimo, mas funciona”, diz o engenheiro civil Sérgio Araújo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
“Minha reação foi sair de casa. O pessoal só sai se o teto estiver caindo. Até aí
a orientação é ir para baixo de uma mesa. Já nós brasileiros somos desesperados. Eu não queria voltar para casa, senti muito medo e impotência. Mas para a maioria dos meus vizinhos tudo parecia normal. Eles arrumaram as
coisas e voltaram à rotina”, conta a brasileira Denize Ono, que mora na província de Yokohama.
“Essa é uma característica cultural japonesa. Entre os símbolos que mais admiramos está a carpa, peixe que é um símbolo de força e determinação. Ele nada contra a corrente, é bravo e não se entrega fácil. Está na cultura do povo japonês não apenas respeitar esses valores, mas persegui-los”, conta Cristiane.
Prejuízos
Até agora, o prejuízo estimado pelo governo japonês é de US$ 180 bilhões (R$ 306 bilhões). “O Japão tem uma das economias mais desenvolvidas do mundo.
As cidades atingidas são responsáveis por quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, o que significa que haverá reflexo na economia, mas não de grande proporção. Eles experimentarão uma desaceleração econômica nos próximos 6 meses, mas acredito que no último trimestre do ano já estejam recuperados”, aposta o professor de economia Giuliano Contento de Oliveira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Se o Japão renasceu depois da 2ª Guerra Mundial, reconstruindo uma economia completamente destruída, além de reerguer duas cidades dizimadas, acredito que este desafio será superado”, compara o professor.
Já a reconstrução física do país deve demorar um pouco mais. “É difícil ‘chutar’ quanto tempo vai levar. Mas acredito que em pouco mais de 1 ano não haverá muitos vestígios do que aconteceu semana retrasada”, acredita o engenheiro Sérgio Augusto. De qualquer forma, ninguém duvida que esse povo guerreiro deve se superar mais uma vez.

“Esse tipo da radiação tem três comprimentos de onda: alfa, beta e gama. A alfa causa queimaduras na pele, como foi o caso das pessoas atingidas pelas bombas lançadas em Hiroshima e Nagasaki. Já a beta e a gama causam alteração no código genético e isso pode causar câncer. Sabe-se que quanto maior a concentração de radiação no corpo, maior a chance da pessoa desenvolver tumores”, explica o professor Nelson Canzian, do departamento de física da Universidade Federal da Santa Catarina (UFSC).
O governo japonês orienta as pessoas a ficarem em casa principalmente porque estes incêndios e explosões geram cinza nuclear, um resíduo que paira no ar, penetra no corpo pelas vias respiratórias e é facilmente assimilado pelo organismo. “A diferença entre a radiação da bomba e a da usina é que a da bomba mata primeiro pelo choque e pelo calor, e depois pela radiação”, explica Nelson.
Treinamento
Não faltariam motivos para que o sentimento geral fosse de apatia e resignação, mas os japoneses enfrentam os reveses de outra forma, além de usarem a dor das tragédias passadas para se aprimorar.
“O dia 1º de setembro é feriado no Japão por causa do terremoto de 1923, e é também o dia do treinamento. Eles falam para as crianças: ‘muita gente morreu para que você tenha a chance de viver’. Quando acontecem desastres dessa magnitude, eles chamam de ‘dia da verdade’, quando você mostra quem é realmente. E então o povo japonês, que costuma ser reservado e competitivo, coloca em prática toda a sua gentileza e solidariedade. Eles sabem que, se começarem a se trair, nada vai dar certo”, explica a especialista em cultura japonesa Cristiane Sato, advogada e autora do site www.culturajaponesa.com.br .
O nível de organização e civilidade do povo japonês transparece nas fotos sobre o desastre. É possível ver que, nos abrigos, todos usam o mesmo
cobertor distribuído pela defesa civil – a mais preparada do mundo –, e não há preocupação com os pertences. Não há saques, como costuma ocorrer em situações de calamidade em outras partes do mundo.
Muitos mercados e restaurantes fecharam, já que não têm o que vender. Já nos abrigos, não falta nada. “Um amigo me falou que a comida do abrigo é melhor que a da universidade”, conta a produtora Tânia Oda, de 26 anos, que morou no Japão entre 2004 e 2005. Apesar de haver um aparente pânico pelo fim dos suprimentos, ninguém mexe no que é dos outros.
“Para um japonês, se você rouba algo está mostrando seu verdadeiro valor. Se rouba o dinheiro do caixa de uma loja, seu caráter vale apenas aqueles trocados. E, ao cometer um ato destes, você envergonha toda a sua família. Não há nada mais importante para um japonês do que a honra”, conta Tânia.
“Eles têm um fator cultural que é: com trabalho e esforço tudo se consegue. Isso está arraigado na cultura e a superação de tantas tragédias está diretamente ligada a esse fator. A questão ‘será possível recuperar?’ nem é
cogitada. Até eu penso assim”, conta a jornalista Angélica Bito, de 29 anos, cujo pai é japonês.
Lições
Há mais de 80 anos o país investe no desenvolvimento de programas de treinamento para os cidadãos, em dispositivos arquitetônicos de segurança – tantos e tão funcionais que passaram a fazer parte das exigências básicas na hora de construir um prédio –, além de manuais de sobrevivência em catástrofes, distribuídos em larga escala. A última grande lição do país aconteceu em 1995, na cidade de Kobe, que sucumbiu a um tremor de intensidade 7,3, matando mais de 5 mil pessoas. Até a quarta-feira (16), o governo japonês contabilizava 4,3 mil mortos em decorrência da tragédia mais recente, número que certamente subirá, já que há algo em torno de 15 mil desaparecidos.

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MARINA SILVA DEFENDE O VERDE

 

Pevista usa exemplo do Japão para questionar usina nuclear no Brasil

Por: Vinícius CintraFoto - Usina Atômica

     Após o terremoto de 8,9 graus na escala Richter seguido de um tsunami que devastou o Japão no último dia 11, a ex-senadora Marina Silva (PV) defende a opinião da atual presidente, Dilma Rousseff (PT), quanto ao alto custo e risco de trabalhar com energia nuclear. Assim como no Japão, onde um desastre nuclear assombra  e agrava ainda mais a devastação após o tsunami, o Brasil também possui usinas nucleares, como as do Rio de Janeiro (RJ), na ilha de Angra dos Reis. A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto é formado pelas usinas Angra Um, Angra 2 e Angra 3, que teve início das operações em 1950 (Angra Um). Já Angra três tem previsão de conclusão em 2015.

     Notória quando o assunto são causas ambientais e desenvolvimento sustentável, Marina disse que em uma de suas conversas com a presidenta Dilma Rousseff sobre energia nuclear, lembra que o argumento da então ministra de Minas e Energia para combater o investimento do Brasil em energia nuclear era o desperdício de recursos comparado a outras fontes alternativas. “Dilma sempre questionou o alto custo da energia nuclear”, afirmou Marina, na entrevista, concedida na sede do Instituto Democracia e Sustentabilidade, ao Poder Online – a primeira depois do desastre do Japão que, para ela, deixa uma grande lição para a Humanidade e coloca em xeque o programa brasileiro. “É como se, no meio de todos os soldados, só nós é que estamos marchando certo”, questiona.

     José Goldemberg, físico da USP, defende que o Brasil reveja os planos de construção de novas usinas nucleares, motivado pelos acidentes ocorridos no Japão após o tsunami. “Acho que é de toda a prudência adotar uma postura, como estão adotando os países europeus, de rever os programas de expansão nuclear”.

     O engenheiro da Eletrobras Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, com uma visão totalmente oposto ao do físico, descartou a possibilidade de que a adoção de novos procedimentos após os acidentes de Fukushima, no Japão, aumente significativamente os custos da eletricidade gerada por esse tipo de usina. “A ferramenta fundamental para aumentar a segurança é aumentar a confiabilidade dos equipamentos, procedimentos e pessoas. Essa mesma confiabilidade aumenta a produtividade”, afirmou.

     O físico afirma que estão previstas pelo menos mais quatro usinas, duas no Nordeste e duas na região Sudeste. Nem a demanda por energia do país justifica, segundo Goldemberg, a construção de novas usinas atômicas. “A matriz energética prevê a expansão do parque nuclear brasileiro baseado em hipóteses que são irrealistas”, afirmou.

     Já o engenheiro Guimarães não acha que os acidentes ocorridos no Japão sejam motivo suficiente para que o Brasil mude os planos de construção de novas usinas. Segundo o especialista, os benefícios da geração nuclear são maiores do que os riscos. “O problema é a sociedade entender quais são esses riscos e quais ela aceita, porque esses riscos não são grandes”, afirmou.

     O planejamento energético brasileiro deveria, na opinião de Goldemberg, dar prioridade ao uso mais eficiente da eletricidade.

     Para Guimarães, a expansão do parque nuclear é necessária para complementar a matriz brasileira. “Não existe uma opção, ou conjunto limitado de opções que seja capaz de resolver ou atender as necessidades energéticas do país”.

     CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA COM MARINA SILVA:

      O que o desastre no Japão deixa de lição para o Brasil na questão da energia nuclear?

      Marina Silva – O que esse acidente terrível deixa para o Brasil e para a Humanidade é a lição de nos reconectarmos com o princípio da realidade. A nossa tecnologia e o nosso conhecimento são muito importantes e necessários para vários avanços na melhoria da qualidade de vida, mas, por outro lado, ela gera também um efeito de nos sentirmos quase que onipotentes, de decretarmos que as coisas estão seguras e de que estamos no controle. E aí vem um acidente com essa magnitude para nos mostrar que não é seguro, que não estamos no controle e que temos que ter um pouco mais de humildade frente a fenômenos que nós não conhecemos e que não controlamos. A grande lição é de nos reconectarmos com a nossa impotência para podermos ficar no lugar da potência, e não da onipotência.

      Como muitos países, o Brasil também deveria rever seu programa?

      Marina Silva – É como se, no meio de todos os soldados, só nós é que estamos marchando certo. É o que eu sempre digo: sábios são os que aprendem com os erros dos outros. Agora, estúpidos são os que não aprendem nem com os seus próprios erros. E neste momento não há erros dos outros. É o erro da humanidade. E a reação dos outros países é se colocando no lugar do Japão. Não é olhando para Japão, é olhando para si mesmo. E o único que não consegue olhar para si mesmo neste momento é o Brasil. A humanidade está em xeque. Fomos colocados em xeque por ousarmos achar que estamos no controle. Aquele navio no meio da pista, aquele caldo de carros, de lanchas, de navios, depois de uma onda gigante, que transformou tudo aquilo num pão de ló, que parecia uma sopa, que parecia lego. Aquilo é para nos conectar com a nossa impotência. Estamos vivendo um período nonsense. Temos que reconectar de novo.

      Houve uma certa arrogância em relação à questão nuclear?

Marina Silva – Da Humanidade. Eu não digo que foi só por parte dos japoneses porque o paradoxo é porque o Japão é a segunda economia mais desenvolvida do mundo, todos tomavam o Japão e as usinas nucleares do Japão como um paradigma. Se no Japão acontece algo dessa magnitude, imagine em outras regiões do mundo em que não se tem as mesmas condições, até mesmo de lidar com eventos naturais de proporções da magnitude como aconteceu no Japão. Há uma coisa que temos que reconhecer, para não sermos injustos: em termos de lidar com terremotos, eles têm uma cultura secular, milenar de lidar com isso e com certeza são um exemplo para a Humanidade. Por outro lado, existem acontecimentos que derivam de eventos semelhantes a esses que fazem com que a junção desses eventos naturais de magnitude insondável com o nosso estilo inadequado de viver causa danos muito grandes. É um grande ensinamento.

      Por que a senhora defende que o Brasil não precisa de energia nuclear?

      Marina Silva – O Brasil não precisa da energia nuclear. Não precisa, não precisa, não precisa. O Brasil tem sol, o Brasil tem vento, o Brasil tem biomassa, o Brasil tem água, o Brasil tem, inclusive, petróleo e gás. Mas, para produzirmos energia, as pessoas estão fazendo um investimento caro para uma energia que não é segura. No meu entendimento, a grande lição é rever o programa nuclear no Brasil. O mundo todo está fazendo isso. Por que não o Brasil? O que nos faz ser diferentes em relação aos outros países nessa discussão é que nós temos alternativas. E uma boa parte não tem as alternativas que nós temos. Em relação a termos a maior área de insolação do planeta, termos um potencial de eletricidade muito grande, o próprio ex-ministro Roberto Rodrigues disse que nós teríamos quatro usinas de Belo Monte só da palha e do bagaço da cana-de-açúcar. Quem tem tudo isso fora o Brasil? Não vejo necessidade de investirmos recursos que não temos para uma energia que é cara e perigosa.

      Por que a senhora acha que existem pessoas que defendem tanto a energia nuclear aqui no Brasil?

      Marina Silva – É difícil a gente fazer qualquer tipo de especulação. Existem aqueles que querem dominar essa tecnologia. Do ponto de vista da pesquisa científica, não tem problema. Podem continuar pesquisando. Com certeza o Brasil já tem o domínio dessa tecnologia. Mas em relação ao suprimento de energia, nós temos outras fontes mais seguras, mais abundantes e até mais baratas. É uma pergunta bem interessante a que você faz. Por que, em que pesa circunstâncias, se insiste tanto na geração de energia nuclear quando a gente poderia investir em outras fontes?

      Como analisa a reação do governo brasileiro nessa questão?

      Marina Silva – A reação mais adequada, no meu entendimento, foi a do ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que diante daqueles que já ficam muito açodados em querer minimizar o que não se pode minimizar, o que não tem como minimizar, e querer mostrar uma segurança e um controle que o mundo inteiro não tem, que supostamente o Brasil teria, o Aloizio falou que nós temos riscos. Não são os mesmos riscos dos japoneses, mas temos outros riscos, e que temos que ter um olhar cuidadoso para esses riscos. Não sei se isso é a fala do governo, mas é a fala de um membro do governo que agiu, eu acho, que de acordo com a prudência, que todo mundo tem diante de algo tão avassalador como o que está acontecendo no Japão. Mais uma vez eu digo: essa visão de suposto saber, de suposto controle, está querendo enganar a quem? Engane a si mesmo, mas não queiram vir enganar a sociedade e a opinião pública.

      Quais são esses riscos que a senhora vê no Brasil?

      Marina Silva – Nós temos problemas com deslizamentos, por exemplo, chuvas torrenciais. Quem disse que esses grandes deslizamentos que acontecem em outras regiões não podem acontecer lá [em Angra dos Reis]. Ali é inseguro por natureza. Do ponto de vista geológico, não sabemos. Não sou especialista para dizer quais são todos os riscos, mas com certeza eles existem. Mas o maior risco é que não sabemos o que fazer com esses resíduos. Eles vão ficando como uma herança maldita para as futuras gerações. O que eles vão fazer com esses resíduos radioativos? Isso nós não sabemos. As pessoas apenas vão acumulando, acondicionando. E, às vezes, nem sempre da melhor forma possível. Não é só o processo de geração em si que está acontecendo nas usinas e nos reatores. São também os resíduos que vão ficando como um depósito e uma herança maldita para aqueles que virão.

      Qual será a atitude do PV, neste momento, em relação à energia nuclear?

      Marina Silva – Acredito que mantém a coerência. Quando eu era ministra do Meio Ambiente, mesmo sendo do PT, votei contra no Conselho de Política Energética. Naquela época, as pessoas acharam que o ministério estava tendo uma posição dissonante do governo e não era admissível ouvir alguns comentários de um ministro que votava contra a posição do governo. Não se tem que votar a favor ou contra a posição do governo, se tem que votar de acordo com aquilo que se acha justo, correto e ético para com a sociedade. E o meu voto e o voto da minha equipe sempre foram considerando o que orientava as ações do Ministério do Meio Ambiente: quando não temos segurança em relação a algo, temos que ser precavidos. E aí entra a ideia do princípio da precaução. Em relação a esses resíduos, é mais do que claro e evidente, e o episódio do Japão nos diz isso, não em palavras, não em papers científicos, diz na tragédia, em três dimensões, que não temos o controle, não temos como dar conta de algo que não temos um antídoto para reverter.

      Em 2006, na reeleição do ex-presidente Lula, quando a então ministra Dilma defendeu a energia nuclear a senhora se posicionou logo depois da campanha…

      Marina Silva – Em primeiro lugar: eu entrei no governo com uma posição contrária à energia nuclear, mantive a minha posição, em qualquer lugar público, mantive minha posição no Senado e na campanha presidencial…

     …a pergunta é se na época do governo, a senhora chegou a conversar com a então ministra Dilma Rousseff a respeito dessa questão da energia nuclear?

      Marina Silva – Sempre conversei no âmbito dos fóruns adequados, que era o Conselho de Política Energética, do Ministério de Minas e Energia. Nós tínhamos um assento e um voto lá. Fizemos um voto e apresentamos as razões pelas quais votávamos contra e dizíamos que não era necessário o Brasil fazer esse investimento. Se era para o Brasil fazer um investimento mais elevado para geração de energia, que se fizesse isso com a energia solar, por exemplo, já que a energia eólica teve hoje uma redução do custo que está altamente competitiva, menor até do que as termoelétricas.

      Como a senhora analisa, dentro desses fóruns e desses debates que aconteceram naquela época, a posição da então ministra Dilma em relação à energia nuclear?

      Marina Silva – A ministra Dilma, na época como ministra e hoje a nossa presidente, levantava uma série de questionamentos em relação aos custos da energia nuclear. Ela sempre levantou esses questionamentos para ser honesta com a posição que ela tinha, que era uma atitude bastante reticente em relação a questão dos custos. Setores do governo, a própria EPE (Empresa de Pesquisa Energética), o próprio Mauricio Tolmasquim e setores do Ministério de Ciência e Tecnologia faziam estudos tentando convencer de que os custos não eram tão altos assim. A gente sabe que mesmo esse custo de R$ 220 por megawatt /hora está bem subfaturado. É muito maior do que isso porque tem uma série de subsídios que não aparecem. Mas lembro-me de ela, enquanto ministra de Minas e Energia, fazer críticas em relação à questão dos custos. Mas, num determinado momento, quando isso foi para votação, aí foi aprovado, inclusive com o voto favorável dela.

Assista o depoimento de Marina Silva. Clique Aqui

      A senhora já pensou em procurar a presidenta Dilma, conversar com o ministro Aloizio Mercadante? Há alguma interlocução com o governo?

      Marina Silva – Mais do que a conversa de uma pessoa com a presidente e com os ministros, o que vai prevalecer é o apelo dessa tragédia do Japão. O que nós precisamos é vocalizar essa tragédia. Não permitir que ela nos paralise e, ao mesmo tempo, não cauterizar a nossa mente, a nossa inteligência política para um episódio dessa magnitude. Ainda mais na realidade de um país como o nosso que, se há investimentos a serem feitos, que sejam para gerar energia limpa e segura. E não para uma energia que é por natureza insegura, como estamos vendo em um dos países mais desenvolvidos do mundo. Mais do que uma pessoa, é a opinião pública nacional e internacional que nesse momento se coloca. E o bom senso dos agentes públicos. É isso que vai falar na consciência de cada um.

Data: 22/3/2011
Fonte: com informações do Poder Online

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O terremoto do Japão e o “castigo de Deus”

 

John-Henry Westen

16 de março de 2011 (Notícias Pró-Família) — Os programas de entrevista de rádio estão cheios de reações indignadas às declarações curtas de Glenn Beck sobre o terremoto do Japão, mas até mesmo o governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, disse aos jornalistas na segunda-feira que o desastre pode ser um “castigo divino”.

A declaração exata de Ishihara, conforme saiu numa reportagem da Rádio de Notícias Otaku Who, foi:

“A identidade do povo japonês é o egoísmo. O povo japonês precisa aproveitar esta ocasião do tsunami como meio de se limpar de sua ganância egoísta. Eu realmente acho que isso foi castigo divino”.

Os comentários de Glenn Beck, os quais estão no momento sendo assunto de muita polêmica, foram semelhantes ao de Ishihara, mas apresentados e tirados do contexto de forma mais grosseira pelos críticos. Beck indicou que os desastres no Japão são uma mensagem de Deus; que precisamos parar de fazer as coisas ruins que estamos fazendo e começarmos a seguir os Dez Mandamentos. Contudo, o modo irreverente com que Beck deu sua mensagem foi visto como bastante impróprio, considerando as circunstâncias trágicas do sofrimento do Japão.

Aqui estão as citações exatas de Beck:

Agora, veja, não estou dizendo que Deus está provocando terremotos. Olha — não estou dizendo isso.

Deus — o que Deus faz é da conta de Deus, eu não tenho ideia. Mas lhe direi isto: quer você o chame de Gaia, quer você o chame de Jesus — uma mensagem está sendo enviada. E essa mensagem é: ‘Ei, sabe essas coisas que estamos fazendo? Não estão saindo muito bem. Talvez devêssemos parar de fazer algumas dessas coisas’. Ontem fui para casa, pensando em todas as mensagens que eu poderia apresentar, todas as coisas que eu poderia dizer, e oh, tenho muita coisa sobre o Hezbolá. Oh, tenho muita coisa sobre o islamismo radical nos EUA que faria seus olhos saltarem de pavor. Ou eu poderia simplesmente lhes dizer a resposta, e a resposta é: Apertem os cintos. Apertem os cintos, pois vai ser um percurso cheio de solavancos.

Certifique-se de que você está mantendo braços e pernas dentro do carro o tempo todo, pois vai haver muitos solavancos e, exatamente como alguns avisos que ficam ali no começo antes da decolagem da montanha-russa, há sempre uma boa dica de segurança: Mantenha braços e pernas dentro. Não faça nada estúpido. Vamos propor que todos sigam Dez Grandes Normas. Você pode chamá-las de os Dez Mandamentos de Moisés ou dez princípios básicos. Que tal começarmos a segui-los? Pois as coisas que estamos fazendo são realmente muito ruins e não vão ficar melhores.

Pediram que eu fizesse um comentário no programa da rádio noticiosa 570 em Kitchener, Ontário na quarta-feira em reação aos comentários de Beck e comentários de outros, que estão provocando turbulência.

A perspectiva judaico-cristã tem a consciência de que Deus criou este mundo perfeito e que só foi depois que o pecado entrou no mundo — quando a humanidade rejeitou a ordem natural de Deus — que as coisas começaram a sair errado. Shintaro e Beck claramente fazem referências indiretas a essa consequência quando se rejeita ou se vai contra Deus.

Ao mesmo tempo, não dizemos que Deus não tem controle sobre o que ocorre em nosso mundo. Ele conhece, Ele vê, e sim, Ele até tem o poder de impedir coisas ruins de ocorrerem.

Entretanto, ao ir contra o plano de Deus para o bem da humanidade (o que chamamos de pecado), empurramos Deus para fora de nossas vidas. Os cristãos são ensinados que quando empurramos Deus para longe, a Proteção dEle também é empurrada para longe — por nós mesmos.

Para os verdadeiros crentes cristãos e judeus, essas são as realidades da vida, não teorias, especulações ou mitos. E em nossa vida ocupada e muito materialista em que não parecemos precisar de Deus de forma alguma, perdemos completamente o senso dessa realidade — até que a tragédia atinja.

Além disso, os cristãos são também ensinados que o diabo é o que as Escrituras chamam de “o príncipe deste mundo”. O diabo tem intenções de que o mal e injustiças nos ocorram.

Deus permite muito mal no mundo, mas a fé ensina que Ele age assim porque Ele pode extrair grande bem das situações mais malignas e aparentemente impossíveis.

Eu acho que isso é explicado com mais facilidade quando damos uma olhada difícil na realidade — a realidade eterna. (Sim, a realidade. Se alguém diz que é cristão ou judeu praticante, ele precisa crer que o mundo espiritual é uma realidade, muito mais do que a vida na terra.)

Mas muitos, talvez a maioria, parecem não viver uma vida que aceita a realidade de que Deus teria um papel, ou até uma mensagem deliberada e propositada para nós, em desastres tais como os que ocorreram agora no Japão.

Estamos aqui na terra por um período muito curto de tempo. Em termos de nossa vida real após a morte, nossa vida que prossegue na eternidade, [a duração de nossa vida aqui] é um piscar de olhos. Aqueles que não creem são propensos a terminar nas profundezas do desespero quando a calamidade atinge.

Vista a partir da perspectiva spiritual, o significado da vida é principalmente sobre decidir qual caminho tomar para a eternidade. E a partir dessa perspectiva pode haver uma esperança especial com relação à situação difícil das vítimas japonesas dos terremotos, tsunami e sobrecarga dos reatores nucleares, e aliás esperança para todas as vítimas de qualquer tragédia.

Um número incontável de pessoas volta o coração para Deus quando se depara com tais calamidades, muitas pela primeira vez, algumas depois de um longo tempo rejeitando a Deus. E embora as orações e súplicas delas por segurança não venham a se cumprir neste mundo, elas de repente se tornam mais abertas a uma profunda mudança de coração que elas sabem as colocará numa direção de felicidade, segurança e tranquilidade com um Pai amoroso para sempre na próxima vida.

Uma das verdades exclusivas e consoladoras do ensino cristão sobre o sofrimento é que Cristo sofre com todos nós em nossos sofrimentos e calamidades. Ele está ali para nos ajudar em todas as ocasiões, mas fica mais perto quando estamos sofrendo.

O povo japonês está na verdade sofrendo de forma terrível e muitos de nós estamos sofrendo com eles em espírito e oração. Mas muitos deles, que têm coração disposto, estão também sendo abençoados ao mesmo tempo com um senso transformador do verdadeiro propósito e sentido desta vida e a importância impressionante de ser bom e fazer o bem e não colocar nossa esperança nas coisas deste mundo.

Artigo relacionado, em inglês:
Why them? – Michael Cook – Mercator.net
This is the hardest question of all in the wake of the death and devastation in Japan.

Traduzido por Julio Severo: www.juliosevero.com