Localizado no Rio de Janeiro, Colégio São Bento superou paulistas; Noel Rosa já foi aluno
Sérgio Vieira, do R7, no Rio
Sérgio Vieira/R7
Com mensalidade de R$ 2.000, escola tradicional carioca conquistou o primeiro lugar no Enem
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O Colégio São Bento, do Rio de Janeiro, chegou ao topo do ranking do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) divulgado nesta segunda-feira (12), derrubando o Colégio Vértice, de São Paulo, campeão do ano passado. Fundada no século 19, a instituição particular teve a melhor nota entre as mais de 20 mil escolas brasileiras que participaram da avaliação.
A escola carioca recebeu a maior média: 761,7 pontos no Enem. São 18 pontos a mais do que o Vértice, que desta vez ficou na terceira posição (743,75 pontos), atrás também do Instituto Dom Barreto, colégio particular do Piauí que obteve nota de 754,13.
O bom desempenho do São Bento é resultado do ensino voltado para disciplinas humanísticas e da permanência dos alunos dentro dos muros do colégio durante boa parte do dia. Com horário integral e 40 horas de aula semanais, a escola centenária conta com 1.108 alunos.
Para se tornar campeão, o São Bento contou com uma soma de fatores, afirma a supervisora pedagógica, Maria Elisa Penna-Firme Pedrosa. Ela aponta a experiência dos professores, participação ativa dos pais, metas rígidas e aulas extracurriculares como parte do diferencial do colégio.
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– A experiência acumulada ao longo de todos estes anos, adaptando-se de acordo com o tempo, é essencial para o bom desempenho de um colégio e para a nossa maior meta, que é o aprendizado dos alunos.
Para evitar distorções, o R7 considerou o corte de 50% ou mais de participação dos alunos no Enem como forma de comparar escolas em situação parecida. A recomendação vem do ministro da Educação, Fernando Haddad, que sugeriu ser "coerente" comparar escolas dentro da média nacional de participação. Os dados do Enem são de 2010, os últimos divulgados pelo MEC (Ministério da Educação). As notas das escolas tipo EJA (Ensino de Jovens e Adultos, o antigo supletivo) não foram divulgadas.
Só meninos
O Colégio São Bento só aceita meninos como seus alunos. Quando se trata de currículo pedagógico, o São Bento realmente se diferencia dos outros colégios. Além das disciplinas tradicionais, a escola oferece aulas de história da arte, apreciação musical, filosofia, cultura clássica e sociologia.
Um dos responsáveis pelo bom desempenho da escola no Enem, João Gabriel Pontes, de 18 anos – atual estudante de direito da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), um dos cursos mais concorridos do Rio – conta que só conseguiu ser aprovado em uma boa universidade por ter o estudo diferenciado.
Segundo Maria Elisa, a maior parte dos professores do São Bento tem mestrado e doutorado. No entanto, há muitos professores jovens, “mas estes chegam apenas se tiverem experiência ou por uma indicação muito boa”, diz ela.
Apenas homens podem estudar no colégio São Bento. Crédito: Fabio Motta/Agência Estado – 28/04/2009
A instituição, localizada no topo do morro de São Bento, no centro da capital fluminense, recebeu em seus corredores e jardins nomes que ficaram nacionalmente conhecidos pela sua influência na música, no teatro, na arte e no entretenimento do país.
Entre os ilustres ex-alunos estão Noel Rosa, Heitor Villa-Lobos, Pixinguinha, Lamartine Babo e Procópio Ferreira. Também estudaram no colégio o humorista Hélio de La Peña e o apresentador Jô Soares.
Polêmica
A discussão sobre a possibilidade de o Colégio São Bento receber meninas gera polêmica há muitos anos. Afinal, um dos melhores colégios do Rio de Janeiro e agora do Brasil deveria continuar mantendo o ensino de excelência apenas para os homens?
Os alunos são unânimes: o melhor para o colégio é continuar com suas regras, já que elas são bons frutos. O desenvolto Henrique Rondinelli, de 18 anos, outro aluno responsável pela boa nota no Enem 2010, defende a posição da escola.
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– O colégio sempre foi masculino e alcançou esse nível por focar um tipo de ensino. Não é preconceito, mas acho que temos que manter como está, já que está dando certo. O colégio não age de maneira conservadora.
A questão promete continuar por muito tempo. O São Bento só aceitou professoras a partir de 1960, depois de 112 anos de fundação.
Com turmas do primeiro ano do ensino fundamental à terceira série do ensino médio, horário integral e ensino diferenciado, o preço da mensalidade é alto.
Para que os alunos possam desfrutar de um dos melhores ensinos do país, a supervisora conta que os pais têm que desembolsar cerca de R$ 2.000 mensalmente, o que inclui material escolar, almoço e dois lanches.
– O valor mantém o investimento que fazemos. Mas a gente tem um programa que contempla entre 15% a 20% dos alunos com bolsas de estudo.
Um professor de nível fundamental, da primeira à quinta série, recebe no São Bento, em média, R$ 4.000 por 25 horas semanais. Na cidade do Rio de Janeiro, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação, o salário médio de um professor fica em pouco mais de um terço desse valor.
O ex-aluno João Gabriel lembrou as palavras do antigo reitor Dom Tadeu de Albuquerque Lopes, falecido em 2010, para justificar o sucesso do Colégio São Bento.
– O segredo da gente é continuar fazendo o que os outros colégios não fazem: ensinar.