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Mulher processa padre por barulho de sino de igreja

LEI DO SILÊNCIO

 

  Uma médica do Rio Grande do Sul acionou judicialmente um padre devido ao som do sino da igreja e à música que anuncia a realização da missa em Campo Novo, município de 5,4 mil habitantes na Região Noroeste. Há 50 anos, o sino da Paróquia São Sebastião toca três vezes por dia, como mostra a reportagem do Jornal do Almoço, da RBS TV (veja o vídeo).

  No documento encaminhado ao Ministério Público, a moradora diz que o padre impõe à população músicas em alto nível de decibéis, por meio de alto-falantes, causando poluição sonora e prejudicando a saúde. Ela também reclama das badaladas do sino, que toca diariamente às 7h. Ela aciona o padre Antônio Ângelo Dal Piva por contravenção penal de perturbação do trabalho ou sossego alheio e crime ambiental. O pároco afirma que a mulher, que mora na cidade há poucos meses, não o procurou antes de recorrer à Justiça. Já a autora do processo lamenta que o religioso não tenha aceitado fazer um acordo.

  Segundo o advogado, se houver condenação, a pena é de 15 dias a três meses de prisão. Além disso, o padre seria obrigado a suspender o toque do sino e as músicas aos domingos. “Estamos fazendo a defesa alegando que os decibéis não chegam a 85, e por isso não há motivo para que seja parado o sino e também a música, que a igreja coloca ao ar para chamar os fieis à Missa”, afirmou.

  O padre recorre à Bíblia para criticar a autora do processo. “Antes de terem ido à delegacia, por que não vieram falar comigo diretamente? Até no Evangelho diz ‘acerte as contas com teu amigo enquanto estás no caminho’, só depois leve ao tribunal. E eu fui levado ao tribunal antes de saber das coisas. Acho que houve um desentendimento e o não conhecimento de um pouco de educação”, criticou o pároco, que atua na região há dois anos e 10 meses.

Moradores apoiam padre

O padre conta com o apoio de boa parte da comunidade. A farmacêutica Vera Regina Rossi conta que mora em frente à igreja há 37 anos e nunca se sentiu incomodada. “Não vejo motivo para parar uma tradição secular por causa de uma pessoa que recém chegou à cidade”, alfineta.

O comerciante Vilmar Dallabrida vê no sino e nas músicas um guia para as atividades diárias. “O sino para mim é um despertador de manhã. Ao meio-dia, quando toca, a gente sabe que tem que fechar a loja, e à tarde, às 18h, é hora de ir embora. Então não atrapalha, só traz benefícios ao comércio”, argumenta.

Fundador da paróquia chora

Um dos fundadores da paróquia há 50 anos, Emílio Gobbi não se conforma com a possibilidade de não ouvir mais as badaladas do sino. “É uma coisa muito triste. Às 7h bate o sino, nos alerta e nos levantamos faceiros. É verdade ou não é? Agora ficamos tristes”, diz Gobbi, sem conter as lágrimas.

Médica se defende

Por e-mail, a médica disse que respeita todas as religiões, mas que elas também devem respeitar o descanso de domingo. Ela conta que a música dos alto-falantes atrapalha o descanso dela após longos plantões de trabalho.

Com informações do G1