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Estudos

A droga da música

 

Por Andrea Dip
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Nova moda entre adolescentes, arquivos digitais de áudio podem causar efeitos semelhantes ao de entorpecentes e até viciar
“Inacreditável! Eu comecei a escutar e meus braços começaram a ficar quentes. Depois de alguns minutos eu comecei a sentir ondas percorrendo minha cama.
Então minha cama começou a ir para frente e para trás, de um lado para o outro. Neste momento eu senti que estava em um skate gigante e descia uma rua (…).
Em alguns momentos eu ria sem parar e em outros fiquei bem assustado.” O depoimento acima foi retirado do site I-doser e não está descrevendo o efeito de alguma droga alucinógena. Pelo menos não o de uma droga real. As e-drugs ou drogas digitais são arquivos de áudio com 15 a 30 minutos de duração que podem ser baixados na internet e que prometem – se ouvidos com fones de ouvido, luz apagada e concentração – simular efeitos de drogas reais. Entre as promessas estão sensações como euforia, alucinação e relaxamento.
A chamada “Hand of God” é a mais popular. É dela que fala o “usuário” do começo da reportagem. Ao ouví-la, algumas pessoas sentiram tontura ou dores de cabeça.
A pedido da reportagem, uma DJ experimentou a “Hand of God” como pede o site e disse que “relaxou muito, até os olhos lacrimejaram” e que “em determinado momento os batimentos cardíacos aceleraram”.
Ainda não existem estudos a respeito do assunto, por isso é difícil dizer se as drogas virtuais podem fazer mal ou realmente se aproximam dos efeitos de drogas reais.
Para a neurologista Sonia Brucki, do Hospital das Clínicas de São Paulo, as e-drugs têm mais a ver com autosugestão: “Se a pessoa está propensa a acreditar, pode realmente sentir ou ver coisas.
Músicas podem liberar endorfina ou serotonina, que provocam sensações de relaxamento ou alegria, euforia, mas não chegam a causar alterações nos neurotransmissores como as drogas reais.”
Ela lembra que há pessoas que entram em transe com repetições da mesma música, mas também que a mente tende a desligar após muito tempo ouvindo um determinado ruído.
“É como quando ouvimos um alarme disparado na rua. Aquilo nos incomoda por determinado tempo. Depois esquecemos porque o cérebro ‘desliga’”, explica.
Quanto a causar algum dano ao cérebro, Sonia diz que é improvável: “Pode fazer mal se virar um vício, se a pessoa passar horas naquilo. Assim como tudo que é feito em excesso faz mal.”