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Nicolelis e Pondé fazem na Flip debate sobre ciência e religião

7/07/2011 – 21h55

 

FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PARATY

A última mesa do segundo dia da Flip, reunindo nesta quinta à noite o neurocientista Miguel Nicolelis e o filósofo e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé, com mediação da jornalista Laura Greenhalgh, foi uma das mais instigantes do encontro em Paraty até agora.

Opôs duas visões bem distintas. Nicolelis é um devoto da ciência e crítico das religiões. Pondé, um estudioso delas e cioso da importância da espiritualidade como brecha para o sofrimento humano, defendeu que a "ciência pode produzir um niilismo muito mais profundo, o de que a gente pode fazer tudo".

Foi um diálogo cordial, mas com estocadas de parte a parte. "Já passou da época de cientista bater em quem acredita em Deus. Mas em nome de valores cristãos, judaicos, muçulmanos etc. já se fez tanta miséria…", disse Nicolelis.

Letícia Moreira/Folhapress

O filósofo Luiz Felipe Pondé (esq.) e o neurocientista Miguel Nicolelis em debate na noite desta quinta (7), na Flip

O filósofo Luiz Felipe Pondé (esq.) e o neurocientista Miguel Nicolelis em debate na noite desta quinta (7), na Flip

Em outro momento, afirmou: "Milagre deveria ser palavra adotada pela neurociência, porque nesse departamento fazemos umas coisinhas melhores".

Pondé disse que a distância entre ciência e religião parece ampla, "mas não é, nunca foi".

"Ciência e religião sempre se cruzam", disse o filósofo, a partir da ideia de que "se Deus fracassou, a gente vai conseguir fazer pela ciência".

Citou Nietzsche, que dizia que quando o cristão perdesse a fé religiosa a etapa seguinte seria a fé na ciência. "Ou seja, se a religião não deu sentido à vida, a ciência dará."

Em sua intervenção mais polêmica, ao citar o filósofo alemão Peter Sloterdijk, Pondé afirmou que "a eugenia não é coisa de um bando de alemães malucos". "Está inscrito no projeto filosófico moderno. Somos todos eugenistas, queremos sofrer menos, ser mais saudáveis."

MULTIMÍDIA

Nicolelis fez uma apresentação multimídia mostrando como primatas já se movimentam pelo controle do pensamento, apenas pela ação das tempestades elétricas do córtex cerebral.

"É importante desmistificar o que vem a ser o cérebro e quais são os seus limites", disse Nicolelis, que fez sua apresentação se movimentando pelo palco.

Ele exibiu imagens e ruídos do cérebro em funcionamento, de uma "tempestade cerebral". "Esse som resume todo ato de criação perpetrado por qualquer cérebro de primata".

Nicolelis contou seu plano ambicioso para o Mundial de 2014 no Brasil. "Na abertura da Copa de 2014, espero que uma criança quadriplégica brasileira possa fazer o primeiro gol da ciência brasileira na história", disse o neurocientista, com a voz embargada.