Fonte: Genizah
Digão
Nancy Dusilek, viúva do pastor batista Darci Dusilek, certa vez escreveu um livro interessante: A mulher sem nome. Nele, ela relata todo o universo da mulher do pastor, tudo o que ela sofre, o que passa, as alegrias e as tristezas.
Alex Smallbone é um personagem de TV. No programa britânico Rev, que mostra com bastante humor a rotina de um vigário anglicano (a definição de pastor / padre depende de que lado do anglicanismo olhamos, se evangélico, liberal ou anglo-católico), Adam Smallbone, e seu relacionamento “comum” com sua esposa advogada que ganha bem mais que ele.
Realmente, a vida da mulher de pastor é complicada. Até mesmo mais que a vida do pastor. Ela sofre com ele e por ele. Fica magoada com os comentários maldosos das “irmãzinhas” – afinal, estão falando é do marido dela! Segura a onda do marido, que toma bordoada por causa do ministério. Não pode esmorecer com ele, senão a casa cai – literalmente. Além disso, tem que ajudar na educação dos filhos, na rotina da casa… e isso tudo, na maior parte das vezes, sem reconhecimento da igreja. É uma mulher sem nome.
Como vivemos em uma sociedade capitalista, há aquelas esposas de pastor que trabalham fora para ajudar no orçamento – é verdade, existem pastores mal pagos, e eles são maioria! Infelizmente, como disse um professor meu, somos iluministas em um mundo pós-moderno, e as igrejas, ou parte delas, não aprendeu a ver a esposa do pastor como uma pessoa independente, que trabalha, estuda, vive a vida. Grande parte das igrejas ainda está sob o paradigma da mulher sem nome: a mulher do pastor deve estar sempre linda, cheirosa, bem-arrumada, os filhos calmos e tranqüilos ao seu lado, enquanto o marido prega. Isso se ela não tiver que reger o coral ou tocar piano… Se a esposa ganha mais que o pastor, então, pode dar até problema na condução da igreja, por causa dos falatórios que podem surgir de gente pronta a fofocar e indisposta a ajudar!
Mas, aos poucos, a coisa está mudando. A esposa de um colega conhecido meu resolveu colocar silicone nos seios – e não houve quem quisesse jogá-la na fogueira da Santa Inquisição gospel. Várias esposas de colegas meus estão buscando profissionalização através de cursos superiores, estágios, concursos, empregos formais. Minha esposa mesmo faz pedagogia, enquanto cuido das nossas filhas nos seus dias de aula.
Mas ainda há muito ao que mudar. Assim como a igreja evangélica, parada no tempo, não sabe como lidar com um pastor humano, feito de carne e osso, também não sabe como lidar com a família do pastor. Daí vive grande paradoxo: a família é um valor basilar da igreja, mas a família do pastor sempre é a primeira a ser atacada com fofocas e maledicências.
A mulher do pastor, enfim, também exerce ministério pastoral. Mas ela pastoreia o marido, nas horas de tempestades, e os filhos, juntamente com o marido. Um conselho que dou às irmãs já esposas de pastores, e aquelas que pensam em ser: vivam a vida conjugal com o seu marido, e não com a igreja. Afinal, a cama agüenta o peso de duas pessoas, não de 50, 100. Você se casou com um homem, não com uma instituição. Antes de ser pastor da igreja – e, por conseguinte, também seu – ele é o homem que você escolheu para envelhecer junto. Isso é muito mais importante que cargos, nomeações, posições sociais.
Mônica, a mulher do Digão, agradece
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