PorVilson Scholz | Colunista Convidado do The Christian Post
Ao contrário de outras religiões, o Cristianismo não tem nenhuma restrição à tradução das Escrituras Sagradas. Na verdade, quem começou a traduzir a Bíblia não foram os cristãos; foi o povo de Israel do Antigo Testamento, ainda antes do nascimento de Jesus. A primeira tradução da Bíblia foi feita do hebraico para o grego, uns 250 anos antes de Cristo. A tradução foi feita aos poucos e é conhecida como Septuaginta (ou Versão dos Setenta).
Relacionado
Com a encarnação da Palavra de Deus, em Jesus de Nazaré, o ato de traduzir se tornou mais claro e possível ainda. Em Cristo, Deus mesmo “se traduz”. A encarnação de Cristo é o ponto alto da revelação do Deus misericordioso ao ser humano carente de salvação. Diante disto, ninguém precisa ou deveria precisar aprender outra língua para ouvir a mensagem de Deus. Deus se faz gente e fala a nossa linguagem.
Ao longo dos séculos, pessoas como Jerônimo, Úlfilas, Wycliffe, Lutero, Almeida e outros traduziram a Bíblia para várias línguas. Esse processo de tradução da Bíblia se intensificou a partir de 1804, com a fundação da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, que deu início ao movimento das Sociedades Bíblicas. O resultado desse esforço é que existe, hoje, um trecho da Bíblia traduzido para mais de duas mil e quinhentas línguas. A Bíblia completa existe em mais de 400 línguas. O Novo Testamento existe em mais mil e cem línguas. E umas oitocentas línguas têm uma porção da Bíblia traduzida. Sobram mais de quatro mil línguas do mundo que não têm nenhum trecho da Bíblia em tradução. Essas quatro mil línguas são faladas por 350 milhões de pessoas.
Calcula-se que existam no mundo umas 6700 línguas diferentes. A metade dessas línguas possivelmente estará morta em cinqüenta anos, porque os pais não conseguem transmitir a língua para os filhos. São, em geral, línguas com menos de 10 mil falantes. Enquanto esse pessoal espera a Bíblia ou um trecho dela em sua língua materna, vão se virando com uma tradução fácil numa língua próxima ou na língua oficial do país. Seria o caso, por exemplo, de comunidades indígenas no Brasil: na falta de uma Bíblia na língua nativa, precisam entender o português. E para muitos deles, o nível de português da Nova Tradução na Linguagem de Hoje é complicado demais.
Falando em Brasil, temos em nosso país umas 200 línguas diferentes. Umas 180 são nativas ou autóctones. As demais, em torno de 20, são línguas de imigração (como alemão, japonês, entre outras). No Brasil, além do português (para o qual temos várias traduções), a Bíblia inteira já foi traduzida para mais três línguas: Guarani-Mbyá, Guajajara e Wai-Wai. O Novo Testamento está completo em mais 42 línguas.
E que dizer de Portugal? Pois Portugal tem uma segunda língua reconhecida. Trata-se do mirandês. E não faz muito um cidadão português concluiu a tradução de toda a Bíblia para o mirandês. Levou dez anos, o registro foi feito à mão, e a Bíblia completa encontra-se em seis volumes. Quando a tradução ficou pronta, em 2009, a notícia era esta, em mirandês: “La Bíblia, screbida an mirandés, fai parte de la pieça de l més de l Museu de la Tierra de Miranda, ajuntando-la a este anho de 2009 i a las comemoraçones ls dieç anhos de l reconhecimento oufecial de la lhéngua mirandesa”.
Curta-nos no Facebook
Este é mais ou menos o quadro das traduções da Bíblia no mundo hoje. Muito já foi feito. Muito está por fazer. Mas está claro que a Bíblia é o livro mais traduzido do mundo. E o mais distribuído e lido também. Graças a Deus.
Vilson Scholz tem doutorado na área de Novo Testamento e é consultor de Tradução da Sociedade Bíblica do Brasil. Acesse a páginawww.sbb.org.br.