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Portugal investiga suposto tráfico de crianças articulado pela Universal

GIULIANA MIRANDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LISBOA

 O Ministério Público de Portugal abriu investigação para apurar uma suposta rede de tráfico internacional de crianças que seria articulada pela Igreja Universal do Reino de Deus.

O inquérito, a cargo do Diap (Departamento de Investigação e Ação Penal) de Lisboa, foi aberto na semana passada.

Uma série de reportagens do canal TVI, líder de audiência em Portugal, acusa a Igreja Universal do Reino de Deus e a família de seu líder, o bispo Edir Macedo, de tráfico internacional de crianças.

Segundo a emissora portuguesa, dois dos netos do fundador da Universal teriam saído irregularmente de Portugal para serem adotados no Brasil.

A instituição nega as acusações e classifica o material de “campanha difamatória, mentirosa”.

A Universal chegou a Portugal em 1989 e rapidamente se espalhou, impulsionada pela grande quantidade de brasileiros residentes. Hoje, segundo a própria universal, há mais de 120 igrejas no país.

   REPORTAGENS

A primeira de dez reportagens da série “O Segredo dos Deuses” foi ao ar na noite desta segunda (11).

Segundo a TVI, a Igreja Universal manteve de forma irregular uma casa de assistência a crianças carentes em Portugal na década de 1990.

Batizada de Lar Universal, a casa era uma mistura de orfanato e organização de apoio. Aberto em Lisboa em 1994, o espaço foi legalizado em 2001. Dez anos depois, a organização foi fechada, alegadamente devido à crise econômica do país.

A reportagem denuncia um esquema clandestino de adoções, em que as crianças eram entregues diretamente ao Lar Universal “à margem dos tribunais, por famílias em dificuldades financeiras”.

Segundo a TVI, depois de entregues à instituição mantida pela Igreja Universal, essas crianças desapareciam. Muitas delas “acabavam no estrangeiro”, adotadas de forma irregular, muitas vezes por bispos e pastores da denominação.

A emissora também fala em um suposto esquema de vasectomias forçadas nos pastores da Universal e, posteriormente, pressões dentro da instituição para que seus integrantes adotassem crianças.

A reportagem da TVI desta segunda tratou da suposta adoção irregular de dois netos do bispo, incluindo uma entrevista com quem seria a mãe das crianças –uma mulher que diz ter sido vítima de um complô.

Mais detalhes desta acusação devem ir ao ar nesta terça (12).

A emissora diz que investiga o caso há sete meses e que mais de 10 mil documentos foram consultados.

OUTRO LADO

Em nota, a Universal nega as acusações e diz que irá processar a TVI. A instituição acusa um ex-colaborador de estar por trás das denúncias: o ex-pastor Alfredo Paulo Filho, um dos entrevistados da primeira reportagem exibida pela emissora.

“O referido cidadão deixou de colaborar com a Universal no final do ano de 2013, por acordo voluntário das partes. A sua saída foi motivada pelas suas condutas impróprias, que tornaram insustentável a sua permanência na Igreja Universal do Reino de Deus, não havendo quaisquer condições para que ele prosseguisse com a sua missão espiritual. Ressalvamos que os bispos e pastores têm de manter um comportamento moral irrepreensível, o que não foi o caso de Alfredo Paulo Filho, que assumiu, ele próprio, ter falhado em seus compromissos, nomeadamente com a sua família, com os fiéis e com a Igreja. As crianças foram encaminhadas pela Segurança Social e pela Santa Casa de Misericórdia de Lisboa para um Lar –que evidentemente à época não era ilegal–, e vários pais adotivos se candidataram a adotá-las. Contam-se pelos dedos de uma mão as crianças que foram adotadas por essa via –com decisão judicial, sublinhe-se– por casais ligados à Universal”, diz o texto.

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ESCÂNDALO CATÓLICO

 

Documentário da BBC expõe tráfico de crianças praticado pela Igreja

Um documentário da Rede BBC causou polêmica ao exibir esquema de tráfico infantil na Igreja Católica que funcionou quase meio século na Espanha.

Estima-se que aproximadamente 300.000 bebês espanhóis foram roubados de seus pais e vendidos para serem doados durante cinco décadas. Essas crianças foram traficadas na Espanha desde a ditadura do General Franco até meados dos anos 1990, por uma rede secreta de médicos, enfermeiros, padres e freiras.

A Igreja Católica possuía uma forte influência nos serviços sociais do país, como hospitais e orfanatos. Somente no ano de 1987 o governo espanhol passou a regulamentar as adoções e não mais os hospitais.

Muitas famílias que tiveram seus bebês retirados dos hospitais espanhóis agora estão correndo por uma investigação oficial do governo por causa desse escândalo. Várias mães, muitas vezes, jovens e solteiras, dizem que foram informadas que seus filhos faleceram durante ou logo após o parto, e que nunca puderam ver o corpo ou assistir o enterro do bebê. No entanto, sabe-se hoje que essas crianças foram vendidas para casais sem filhos em que suas crenças e segurança financeira provariam para a Igreja Católica que eles poderiam ser os pais ideais. Documentos oficiais foram forjados para que os pais adotivos aparecessem com seus nomes nas certidões de nascimento dos bebês. Em muitos casos, eles não tinham conhecimento de que a criança havia sido roubada. As freiras diziam que a mãe biológica os deu para serem doadas.

A jornalista Katya Adler foi quem investigou o caso que será exibido na rede inglesa BBC esta semana. O programa nem foi ao ar ainda e já está levantando polêmicas, pois centenas de famílias que perderam seus bebês em hospitais espanhóis pedem que o governo faça uma investigação rigorosa sobre o que aconteceu.

O caso só veio à tona após dois homens, Antônio Barroso e Juan Luis Moreno, descobrirem que foram roubados quando bebês. O pai adotivo de Moreno confessou pouco antes de morrer que havia comprado o filho de um padre em Zaragoza, no norte da Espanha. Ele teria dito ai filho que na viagem, foi acompanhado dos pais de Barroso e cada criança custou 200.000 pesetas, que na época era uma enorme quantidade de dinheiro. “Era o preço de um apartamento naqueles tempos”, disse Barroso. “Meus pais pagaram em parcelas ao longo de 10 anos, porque não tinha dinheiro suficiente”.

Foram feitos testes de DNA com os pais de Barroso que provaram que eles não eram seus pais biológicos e admitiram que ele tinha sido vendido por uma freira. Foi quando os dois homens tornaram o seu caso público que mães de todo o país resolveram contar suas experiências de nunca terem acreditado na morte de seus filhos durante o parto. Uma delas foi Manoli Pagador, que começou a procurar pelo seu filho.

O documentário da BBC, ‘ This World: Babies Stolen from Espanha’, seguiu os passos dela até ela descobrir que seu filho chamado Randy Ryder, foi criado no Texas e agora está com 40 anos.

Em alguns dos casos, sepulturas de bebês foram exumadas, revelando ossos que não pertenciam a eles, e sim, a adultos ou animais. Outros túmulos estavam vazios.

Procurada, a Igreja Católica da Espanha não quis se pronunciar sobre o caso.

Data: 19/10/2011 08:46:00
Fonte: BBC