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O vice da Dilma?

Matéria publicada na revista Rolling Stones

Por Ricardo Franca Cruz & Rodrigo Barros

Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados, pode ser a ferramenta estratégica de Lula e do PT em 2010

Foto: Foto Ignácio Aronovich

O VICE DA DILMA?

Michel Temer: “Com a redução do número de partidos voltaríamos ao seu exato significado”

A presença de Michel Temer em uma chapa que teria a ministra Dilma Rousseff como candidata à presidência nas eleições 2010 seria a forma de a aliança PT-PMDB ter um político forte no Sudeste. Presidente da Câmara dos Deputados e presidente licenciado do PMDB, Temer, 68 anos, pai de um bebê de poucos meses, é o preferido de Lula para ser o vice de Dilma. Extremamente polido, ele nos recebe em um dos seus escritórios em São Paulo para falar sobre diversidade ideológica, candidatura própria, troca de fraldas e satanismo.
O presidente Lula afirmou que o senhor tem a preferência dele em uma coligação PT/PMDB para 2010, ou seja, vice na chapa da Dilma. Houve um convite?
Não recebi um convite. Ouvi dizer que o presidente Lula tem se manifestado nessa direção. Evidentemente, ele quer muito o apoio do PMDB, por que, queiram ou não, é um partido numericamente significativo – temos seis ministérios, nove governadores, maior número de deputados federais, estaduais, senadores, 1.258 prefeitos, quase 8.500 vereadores. Temos uma presença muito expressiva no governo. O PMDB vai analisar isso, estamos fazendo congressos regionais e estaduais para depois fazer um congresso nacional, a decisão virá mesmo no fim do ano ou no começo do ano que vem, dependendo também das conversações políticas que se verificarem.
Está descartada uma candidatura própria?
Nós ainda não falamos de uma candidatura própria do PMDB, mas saiba que há internamente no PMDB uma espécie de um sentimento patriótico. O PMDB sempre quer pensar numa candidatura própria, não é uma coisa descartada, vejo pelos congressos estaduais que a tendência é a base pedir um candidato próprio. Eu, até num dado momento, fiz muito esforço para isso. M as a hipótese mais próxima no momento realmente é com o governo. Agora não se pode descartar a ideia de uma candidatura própria nem conversações com outros partidos. As três hipóteses estão abertas.
Fala-se do PMDB como um partido dividido entre governacionistas, oposicionistas e indecisos. Como o senhor definiria o PMDB hoje?
É da essência do PMDB essa diversidade, embora ela exista em função das lideranças locais. Desde o tempo do MDB, que se juntaram no partido as mais variadas correntes, que depois também deram origem a vários partidos. Ou seja, vários partidos nasceram do próprio PMDB. E ele manteve essa característica de ser um partido de muitas lideranças regionais. A diversidade tem sido útil para o PMDB, por que faz com que se elejam muitos governadores, deputados federais, senadores. O partido é não só forte nos estados como também o é no plano legislativo, em que temos a maior bancada.
Essa diversidade não pode se traduzir em falta de ideologia política?
Vejo em outros partidos muitas diversidades também, muitas disputas internas, não é um fenômeno só do PMDB. Dizem: ” Ah! O PMDB não tem um programa, uma ideologia!” Isso não é bem verdadeiro.
Não é “bem” ou não é “nada” verdadeiro?
Não é bem verdadeiro. O programa do PMDB não aparece porque a grande realidade é que, no plano nacional, só aparece quando você tem candidato à presidência da República. Como o PMDB não teve candidato, a ideia de um programa nosso não veio à luz. E por isso se diz: “O PMDB sempre faz uma composição com o governo”. Convenhamos: não há condições de um governo hoje levar adiante seus planos se não fizer uma coalizão com vários partidos. Se estivéssemos no parlamentarismo não causaria estranheza. Ninguém governa no parlamentarismo sem coalizão. O presidencialismo também é assim.
O senhor criou a Delegacia de Defesa dos Direi
tos Autorais. Tem acompanhado a questão?
A situação está muito mais complicada hoje do que quando criei a Delegacia de Direitos Autorais na minha primeira gestão como secretário de segurança pública em 1985. A possibilidade de pirataria é muito mais acentuada. Hoje com a interne t não tenho na cabeça um modo de fazer isso funcionar. Utilizo a internet da maneira mais trivial possível, sei ligar [o computador], tudo muito singelo. Acho interessante que tem uns – como se chamam? – perfis pessoais falsos meus. Minha mulher vive dizendo: “Olha, esse site é falso!”
Sua esposa é 42 anos mais nova que o senhor.
Sim, mas gostaria de nem falar sobre isso.
Que tipo de experiências de vida uma mulher tão jovem proporciona a um homem da sua idade?
Ela me traz jovialidade, um novo elo de vida, uma coisa muito importante. Temos um filho de quase 2 meses. Já tenho três filhas e quatro netos. Tenho um filho, que hoje tem uns 10, 11 anos, de uma relação que mantive durante certo período, e a quem eu prestigio. Mas estou vivendo o dia-a-dia, a mudança da rotina da casa.
Trocando fraldas também?
Não chego a tanto.
Como professor, o senhor não reprovava por falta porque o mercado apontaria os bons advogados.
Quando eu dava aula dizia: “Sou pago pra dar aulas e vocês pagam para que eu dê aulas, então quem tem que exigir minha presença são vocês. Se vocês não vierem à aula eu saio mais cedo e vou para o meu escritório trabalhar. Não passo lista de frequência e vocês estão todos aprovados desde já. Quem vai reprovar é avida”. E sempre deu certo.
Isso se enquadraria à Câmara também?
De vez em quando se critica o deputado por que ele só fica em Brasília de terça a quinta, e isso é corre to juridicamente e politicamente porque Brasília é um Brasil formal. Acontece que ele precisa ir ao seu estado ouvir as realidades locais. Os deputados trabalham às vezes muito mais na sexta, no sábado e na segunda.
As denúncias recentes atrapalham o resgate da imagem do Congresso e da Câmara?
Acho que não. Há uma imagem negativa, mas ela faz com que você procure sempre recuperá-la. O legislativo e a imprensa têm uma certa fraternidade siamesa, um depende do outro. Não acho que as críticas possam abalar especialmente neste momento, vamos superar esta fase e, talvez, nunca precisemos voltar a um sistema autoritário por que o povo já tem mais consciência de que a liberdade se ancora precisamente na ideia de um legislativo forte.
Não há partidos políticos demais no Brasil?
No movimento autoritário havia um bipartidarismo que era muito útil em termos de opção partidária: quem era a favor do staus quo apoiava um partido [Arena], quem era contra apoiava o MDB. Era muito definido. Se nós conseguíssemos uma reforma política com a redução do número de partidos voltaríamos ao seu exato significado, porque a ideia de partido político é a ideia de parcela. O ideal é que parcelas da opinião pública que pensam mais ou menos da mesma maneira se associem para dizer: “Queremos chegar ao poder para aplicar tais regras”. Hoje o eleitor não sabe bem como definir-se. As definições passaram a ser muito mais em função dos candidatos do que em função das agremiações.
O senhor é religioso?
Sou tradicionalmente religioso, mas não praticante.
Há sites evangélicos que afirmam que o senhor é satanista. Tem conhecimento disso?
Sim, tenho conhecimento. F alei com vários evangélicos. Eles acham uma loucura. Na internet dizem que sou filho de Satã, que me filiei a uma corrente satanista. Deve ser coisa de algum inimigo meu.