As loucuras de Renê Terra Nova o papa gospel
Danilo Fernandes & Hermes Fernandes
A WEB cristã se escandalizou com o último delírio de Renê Terra Nova. Cercado de pompa e circunstância o já apóstolo da visão celular foi proclamado patriarca por vários líderes – ligados ao Ministério Internacional da Restauração – dando conta que a sua “unção” é a mesma dada por Deus a Abraão, o que pode ser conferido em seu próprio site (1).
Esta unção foi inicialmente referendada em um “ato profético” realizado no final de 2009 por Morris Cerrullo (2). Desde então, Terra Nova deixou de assinar “apóstolo” e passou a se auto proclamar PAIpóstolo e, agora, patriarca. Ou seja: Temos um Papa Gospel!
Genizah faz uma radiografia do movimento celular brasileiro, em especial o MIR. Apresenta os meandros e técnicas de captação de membros, refuta as doutrinas espúrias do modelo dos 12 e defende a tese de que, por trás das práticas de idolatria geográfica e das mudanças na hierarquia eclesiástica, não há tão somente vaidade ou ignorância bíblica, mas a montagem de um arcabouço de gestão.
Tal estrutura, em conjunto com o dogma da infalibilidade patriarcal, estabelecido recentemente por Terra Nova, e as campanhas de HONRA e FIDELIDADE ao “pai da visão”, garantem o controle financeiro e político sobre a dispersa, mas imensa estrutura da nação celular nacional.
O movimento G12 tem sido acusado de práticas absolutamente anti-bíblicas, em especial, função dos ventos de doutrina e modismos criados a partir de meras ilustrações vetero-testamentárias retiradas de seu contexto.
Contudo, antes de prosseguir, gostaríamos de fazer dois parênteses:
(1) Percebam que não generalizamos a crítica ao modelo ou as pessoas envolvidas, mas às práticas perniciosas vistas em alguns movimentos neste formato.
(2) Que fique claro que o foco da nossa crítica à estrutura celular não é em função da existência de grupos pequenos, ao contrário. Reconhecemos a importância de uma congregação baseada em grupos pequenos.
Entretanto, entendemos que os grupos pequenos são apenas satélites, não se pode transferir para as células a condução do discipulado e as bases doutrinárias da congregação. A nós, preocupa ver pessoas despreparadas assumindo um papel de liderança espiritual e doutrinária que caberia somente a um líder preparado, pastor aprovado e avaliado por anciões, como ocorre em uma congregação tradicional onde é dado o tempo necessário à formação de um líder de pessoas.
Diferentemente de um grupo pequeno de uma congregação tradicional, cujos objetivos são aumentar a comunhão dos membros, fortalecer os irmãos na fé, acompanhar neófitos e encorajar o estudo da Palavra; a estrutura celular assume papeis que caberiam às lideranças preparadas e o fazem no intuito primeiro de crescimento, não de fundamentação.
Sem a devida formação, ficam as células e seus líderes sujeitos a todo vento de doutrina, não são tendas fundadas na rocha, mas grupos frágeis emocionalmente dependentes de experiências sensoriais vividas em congressos e encontros periódicos, onde a sã doutrina passa longe.Ou seja, são cegos guiando outros cegos.
Muitas igrejas saudáveis, ao aderirem ao tal “movimento”, acabaram divididas, comprovando que as células produzidas tornaram-se potencialmente cancerígenas.
No Brasil, não são poucas as ocorrências de claro sincretismo com práticas ocultistas, numerologia, candomblé e outras práticas disfarçadas sob uma “nomenclatura” pretensamente bíblica, mas que não encontra respaldo na Palavra e provoca um verdadeiro abismo entre suas práticas bizarras e a sã doutrina.
Dados a realizar atos proféticos em profusão, destes que demarcam território com urina, atiram pétalas de rosas ungidas de helicóptero, ou realizam performances teatrais que lembram aquelas vistas em filmes de Hollywood simulando cortes de reis da antiguidade, os g12zistas são reconhecidos rapidamente pelo seu linguajar peculiar.
Seus encontros são famosos pelo uso de diversas práticas e jogos psicológicos envolvendo exposição humilhante dos novos participantes a técnicas de lavagem cerebral visando desestabilizá-los e torná-los susceptíveis ao processo de adesão ao grupo, tudo realizado em isolamento, horários maçantes e clima de constante pressão emocional.
Há muito material tratando destes aspectos de alguns movimentos de visão celular e de suas heresias. Nosso objetivo neste artigo é tratar de certos aspectos organizacionais do movimento no Brasil e defender a tese de que certas práticas, incluindo as recentes mudanças na hierarquia eclesiástica evangélica não têm base doutrinária (e nem mesmo são atos apenas de vaidade, como o supracitado caso do “patriarca”), mas são, simplesmente, a implantação de instrumentos de gestão financeira e política.
E tome encontros! E tome penas nos cocares dos caciques!
Quem vê filme de bang-bang sabe que quanto mais pena tem o índio no cocar, mas ele manda na tribo. Com uma estrutura que cria células (e caciques de células) em alta velocidade, botar ordem nesta tribo não é fácil. Mais do que isto, ao contrário dos grandes líderes de denominações com estrutura tradicional, o cacique manda-chuva da visão celular não conta com a mesma facilidade de arrecadação financeira e, função da distância das bases, fica mais sujeito ao sabor das disputas políticas e dos motins dos pequenos caciques.
Atos proféticos são a “alegria” dos encontros. Este aqui era para São Jorge, risos.
Com tantos índios de cocar e muito dinheiro circulando – veja que a arrecadação é alta, a doutrina é fundamentada na teologia da prosperidade e não há os custos tradicionais com obras, luz, aluguel, obreiros, etc. das congregações tradicionais – a gestão política é um caminhar no fio de navalha e gestão financeira… bem; tome taxa de evento ungido!
Congresso disto, encontro daquilo, caravana sabe-lá-pra-onde, esta é forma dos escalões superiores cobrarem das células a sua receita. Crescendo ao ritmo daqueles esquemas de pirâmides, cada encontro local, da região, da cidade, estado, nacional, internacional, vai ficando cada vez mais “tremendo” e enchendo os bolsos do cacique com mais pena.
Ninguém quer ser servo! Torpe ganância!
Bem disse Pedro, que embora apóstolo com pedigree, contentava-se em ser chamado “presbítero”: “Por ganância farão de vós negócio, com palavras fingidas. Para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme” (2 Pe.2:3).
Não quero estar por perto quando o juízo de Deus descer arretado no lombo desses pseudo-qualquer-coisa.
Observe a megalomania da declaração de uma das “autoridades” que refenderam o patriarcado de Terra Nova:
A nação de Israel, representada por Malcolm Hedding, Diretor da ICEJ, reconheceu o Apóstolo Renê como um grande aliado da Terra Santa. “É uma grande alegria reconhecer que você recebeu das mãos de Deus as nações da terra e as tem conduzido a Sião. Deus o enviará ainda mais longe, e você saberá que ele o chamou para ser Patriarca”, enfatizou.
Que bom seria se os pastores que se colocam sob sua “cobertura” atentassem para as palavras de Pedro, e percebessem a encrenca na qual estão se metendo. Se ainda há alguns sinceros, entre os milhares de ávidos por títulos e lucros, é a eles que o apóstolo endereça sua advertência: “Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente, não por torpe ganância, mas de boa vontade; não como dominadores dos que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho” (1 Pe.5:2-3).
Logo o leitor começa a perceber que a criação e distribuição de honrarias e títulos hierárquicos são estratégias necessárias a manutenção da ordem nesta nação.
A FIDELIDADE é um dogma! E como a palavra HONRA é repetida nos discursos de Renê Terra Nova. Ser “legítimo” é ser aprovado pelo cacique e, a este, se deve fidelidade. A “honra” é dada ao fiel e ao pai da visão.
O que ninguém consegue explicar é a razão pela qual o auto-aclamado patriarca se esquece de dar honra ao verdadeiro idealizador do modelo gedozista, o colombiano Cesar Castellanos, de quem, após aprender o pulo do gato, veio a separar-se em Março de 2005.
O princípio protestante de que TODA HONRA e TODA a Glória devam ser atribuídas exclusivamente a Cristo, não faz parte do discurso de Terra Nova:
Filhos, os nossos Congressos estão crescendo na maturidade e adesão de novas lideranças. Estamos vivendo momentos singulares, pois a Visão chegou em um nível de consolidação que está atraindo os novos Filhos e os Filhos Legítimos estão mais sedimentados no propósito que antes.
Vamos consolidar com saúde os novatos, mantendo o testemunho da Honra ao nosso Líder. […] Quero deixar claro aos Fiéis discípulos, Filhos Legítimos, possuidores do DNA da Honra que são de uma linhagem inegociável, que meu coração está pleno de alegria, pois tenho visto a Mão do Poderoso Deus nos dirigindo para coisas maiores. Tenho conhecido uma demanda de fidelidade em discípulos que jamais esperava que Deus fosse nos agraciar com tamanha medida.
A fim de assegurar para si o controle da nação e evitar a rebeldia de líderes regionais, o que já ocorreu diversas vezes, os líderes tomaram para si a aprovação dos líderes locais e o senhor Terra Nova tratou de, reiteradamente, conceder novos títulos aos líderes regionais, organizando macro e micro áreas de influência, o que o levou a conceder no ano passado o título de apóstolo aos líderes regionais, dando um upgrade no topo da hierarquia evangélica nacional, criando para si, a principio, o título de PAIpóstolo (o pai dos apóstolos) e, não lhe parecendo bastante, arvora para si o título ainda mais eloqüente: Patriarca, tal qual Abraão.
A infabilidade do patriarca
De que vale um título de patriarca sem todo o poder que este pode oferecer? O patriarca da igreja católica, o papa, conta com o dogma da infalibilidade que afirma ser o mesmo, em comunhão com o Sagrado Magistério, quando delibera e define solenemente algo em matéria de fé ou moral, ex cathedra, estar sempre correto. Pois não é que o senhor Renê Terra Nova defende para si o mesmo poder, veja o que disse em seu site:
Na Palavra principal desta manhã, o Apóstolo Renê Terra Nova falou sobre a responsabilidade que o líder da Visão Celular tem em preservar a identidade do Grande Eu Sou. Lembrou que o nome de uma pessoa é o bom tesouro que deve ser preservado. Para isso, no entanto, o líder deve em primeiro lugar conhecer a identidade do Grande Eu Sou, que fará toda diferença na sua vida, deixando de lado a exaltação pessoal. “Nunca um líder deve questionar a identidade do Grande Eu Sou. Todos os que fizeram isso, acabaram provando a morte física e espiritual, com o exemplo de Faraó, no Egito”.
Em segundo lugar, lembrou o Ap. Renê Terra Nova, o líder deve preservar a identidade do seu líder. Ele nunca deve questionar a identidade de seu mentor, a identidade de sua liderança. No dia em que João Batista fez isso, perdeu a cabeça. Ele que havia preparado o caminho de Jesus, que era primo de Jesus, mas que perdeu o legado da identidade de Jesus, quando entrou na rota da suspeita da identidade de seu líder. “Herodes questionou a identidade de Jesus e foi comido por bichos. João Batista questionou a identidade de seu líder Jesus e por isso perdeu a cabeça. Todo aquele que duvida da identidade do líder perde a legitimidade e o legado da liderança de Jesus”, disse o Apóstolo.
Que bela exejegue! Alguém já ouviu tamanho absurdo relativo ao profeta João Batista? O que o levou a perder a cabeça foi sua fidelidade para com o exercício de sua chamada, não negociando com a verdade.
Idolatria Geográfica
Encarrapitado no extremo norte do país, Terra Nova sabe que são limitadas as oportunidades de seu rebanho disperso visitar seu luxuoso templo em Manaus, a geografia não ajuda. Apesar disto, realiza ali alguns encontros cercados de meandros faraônicos e usa de forte pressão sobre os seus líderes regionais para trazer membros para as fanfarras gospel.
Mas são as viagens proféticas as grandes receitas do grande líder, que reciclou diversas festas do judaísmo vetero-testamentário e, mesmo do atual, de maneira a encher a “embaixada da visão” em Israel, para alegria dos vendedores de badulaques da baixa Jerusalém…
Comemorar Purim, Festa dos Tabernáculos, ano-novo judaico, Chanucá, etc. pode até parecer doutrina judaizante da parte deste senhor, e é. Mas o propósito maior é reunir o seu rebanho disperso para ouvir de “sua boca ungida de patriarca” a última visão dada por “deus” ao iluminado e garantir uma receita forte nas comissões das caravanas e nas ofertas alçadas em profetadas memoráveis. Quem participou destes encontros sabe que e melhor fazer o free-shop na Ida, pois na volta não vai sobrar nem para o táxi…
Ei, você ai! Me dá uma oferta ai! Me dá uma oferta ai!
Será que o untado patriarca jamais leu Gálatas? Nunca lhe disseram que a Jerusalém atual é escrava juntamente com seus filhos, e que a Jerusalém que é de cima, da qual somos filhos, é livre? (Gl.4:25-26).
Se ele não sabe disso, não serve para liderar. Se sabe, mas prefere manter o povo na ignorância, servindo-se da mesma, ele não presta nem pra ser cristão.
Percebam que estes encontros são necessidades vitais na gestão do negócio, contudo se não há o contexto mágico / espiritual da idolatria geográfica é muito mais difícil forçar uma adesão em massa. Sendo assim, práticas de “tomada de território para Jesus” e atos proféticos dependentes da energia dos locais “santos” são fundamentais para o alimento infantil dos membros deste grupo. (1Co 13:11)
São viagens a Israel, Jordânia, Egito, Coréia (Vai saber o porquê!) e, a cada ano, uma visão nova dada pelo patriarca. E tome sacolinha subindo com ofertas da base para o topo da pirâmide da nação em ritmo acelerado!
Costuram o véu que Cristo rasgou! Sacerdotes, arcas, shofares e outras palhaçadas!
O acarajé de Jesus
A última tacada estratégica do Sr. Terra Nova foi estabelecer no Brasil um centro de peregrinação, mais viável econômica e logisticamente função de uma nação continental. Para tanto, era necessário criar uma falácia espiritual capaz de sustentar o engodo profético.
Neste intuito, há três anos Terra Nova colocou 800 “profeteiros” em escunas e redescobriu o Brasil em Porto Seguro, tomando posse espiritual no país para a visão celular: Uma bela conversa fiada que cria a atmosfera espiritual perfeita para a “Sião” brasileira, que não por acaso, é um destino: (1) central, (2) com super estrutura hoteleira – normalmente pouco ocupada na época do evento de Renê; e (3) conta com a milha aérea mais barata do país, função da profusão de vôos charter. Resumo da Ópera Gospel: Ali a “visão” criou uma espécie de PARINTINS GOSPEL, que a cada ano vem crescendo em gigantismo e bizarrice.
O apóstolo colabora com a mancha de óleo do golfo e unge o mar da Bahia para que não falte atum em óleo nos supermercados da nação.
Porto “Sião” Seguro, um evento feito na medida para atender a todo bolso da visão celular e garantir uma arrecadação milionária aos líderes, veja trecho da carta de Terra Nova sobre o assunto:
O que nos fortalecerá para esse êxito é a FIDELIDADE dos nossos Líderes, que são nossos representantes e que deverão, no ofício do chamado, fazer as convocações regionais ou ministrar nos Congressos acerca de Sião e da nossa aliança. Isso honrará o BRASIL como nação que visita e impacta Israel dentro do território, como equipes e não como isolados, pois a força de uma conquista é a UNIDADE.
Bem, também estamos esperando as inscrições para Porto Seguro, pois sabemos que neste ano de 2010 haverá uma explosão de fiéis que estarão dentro do nosso território profético, selando o melhor momento da História da Nação, a consolidação da Conquista da Terra. Não posso imaginar a hora deste momento histórico, pois foi gerado com muita guerra e Deus estará nos honrando de forma Sobrenatural. É CHEGADO O REINO DE DEUS NA NOSSA NAÇÃO.
Temos, portanto, as comissões de passagens, hospedagem, venda quinquilharias e os ingressos das festas que são caríssimos. Mas não fica ai. Há sempre uma unção nova a ser vendida aos participantes. No vídeo humorístico a seguir, vemos a unção da MULTIPLICAÇÃO que foi vendido por “milzinho” e jogada ao povo, como Chacrinha fazia com bacalhau…
E pensar que o próprio Senhor Jesus, ainda antes de sua derradeira ida a Jerusalém (quando se encontrou com a mulher samaritana no poço de Jacó), decretou o fim das peregrinações a templos e “locais sagrados” objetivando cumprir obrigações religiosas ou para “estar” com Deus (Jo.4:21-24).
Não temos nada contra viagens de cunho cultural a Israel e outros locais. É mesmo especial poder visitar os locais onde acontecimentos tão marcantes ocorreram. Contudo, não é esta a prática da “visão”, mas os atos proféticos, a idolatria geográfica, a insanidade que costura o Véu que Jesus rasgou e ressuscita os sacerdotes do templo e seus vendilhões, até mesmo onde nunca existiram, como nas paradisíacas praias da Bahia.
Dono de uma unção tão especial que o faz representante do “Eterno” na terra e o tem permitido conversar até com o próprio demônio (3), como o próprio afirma em matéria listada a seguir, Renê Terra Nova se consolida como o líder inquestionável de um movimento que, a cada dia, se separa mais e mais do cristianismo enquanto realiza um dos maiores estragos já feitos na Igreja Brasileira. Um homem que hoje assina sua cartas aos “filhos” assim:
PAItriarca, 24 horas gerando a Visão e avivamento no espírito. Shalom!
Podem esperar. A coisa não fica por ai! Enquanto houver cego o Terra Nova vai deitar e rolar!
Extraido da revista Genizah almanaque
Rev. Ângelo Medrado, Bacharel em Teologia, Doutor em Novo Testamento, referendado pela International Ministry Of Restoration-USA e Multiuniversidade Cristocêntrica é presidente do site Primeira Igreja Virtual do Brasil e da Igreja Batista da Restauração de Vidas em Brasília DF., ex-maçon, autor de diversos livros entre eles: Maçonaria e Cristianismo, O cristão e a Maçonaria, A Religião do antiCristo, Vendas alto nível, com análise transacional e Comportamento Gerencial.