24/06/2011 16h02 – Atualizado em 24/06/2011 16h03
Material foi encontrado por pesquisadores do IEPA na periferia de Macapá.
Escavações no começo do século 20 retiraram peças arqueológicas do país.
Mário BarraDo G1, em São Paulo
Um estudo realizado em sítio arqueológico no Amapá revelou urnas funerárias que só eram conhecidas pelos pesquisadores por meio de peças expostas em museus na Europa. Coordenadas pelos arqueólogos João Saldanha e Mariana Cabral, do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), as escavações desvendaram quatro urnas funerárias, uma delas com formas humanas, além de esqueletos de adultos e de uma criança.
Todo o material é de 1000 anos atrás, época tida pelos especialistas como o início do florescimento cultural na região amazônica. "A maior parte dos sítios, com grandes estruturas e materiais mais vistosos, é exatamente desta época", afirma Saldanha, em entrevista ao G1. A descoberta aconteceu em um sítio arqueológico na periferia de Macapá, capital do estado.
Urnas são expostas no Amapá. A maior delas representa um homem e continha ossos de um humano do mesmo sexo. (Foto: João Saldanha / arquivo pessoal)
As urnas têm entre 30 a 60 centímetros de altura e continham ossos humanos. A menor delas abrigava os restos de uma criança. Já a maior, com formas humanas, foi a estrutura que mais chamou a atenção dos especialistas.
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Os pesquisadores normalmente procuram por vestígios funerários e outros indícios de ocupação humana como a terra preta arqueológica. "É um tipo de solo extremamente fértil, encontrado na Amazônia, manipulado pelos índios intencionalmente para recuperar um solo que é notoriamente pobre para a agricultura", explica o arqueólogo.
No caso das urnas, a utilidade é a de preservar o corpo como forma de perpetuar os índios depois da morte. "Assim como existiam as múmias e os sarcófagos no Egito Antigo, aqui na Amazônia nós encontramos essas urnas antropomorfas [com formas humanas]. É uma forma de perpetuar o corpo depois do falecimento do indivíduo", diz Saldanha.
A equipe não sabe afirmar como ocorreu o descarne – a retirada dos tecidos moles dos ossos -, mas possuem duas teorias. "Há vários relatos etnográficos que apontam o enterramento primário, ou seja, os índios soterravam o corpo, esperavam a carne apodrecer e depois recuperavam os ossos", diz o pesquisador. "Há ainda casos nos quais os índios colocavam o corpo em uma plataforma, a carne saía nessas plataformas e eles conduziam os ossos às urnas."
Crânio é visto em detalhe dentro de vestígio arqueológico encontrado no Amapá por pesquisadores do IEPA. Achados têm 1.000 anos de idade, afirmam os especialistas. (Foto: João Saldanha / arquivo pessoal)
Conhecer no exterior
Indícios das presenças de culturas típicas na região como a marajoara, a maracá e a aristé, os vestígios de povos indígenas foram explorados no começo do século por escavações amadoras. O material era levado no começo do século 20 para acervos na Europa, durante uma época na qual não havia uma legislação específica para a conservação do patrimônio e da propriedade arqueológicas.
"A gente não conhecia bem este estilo de urna. Somente após essa escavação é que nós encontramos este tipo de cerâmica, que nós conhecíamos pelas exposições no exterior, a toda uma estrutura usada pelos índios daqui", lembra o pesquisador.
No começo do século passado, escavações amadoras levavam peças arqueológicas de culturas amazônicas para apreciadores em mercados no exterior. "A legislação de propriedade e patrimônio é de 1961. Mas ainda temos esse problema", afirma o pesquisador.
"Hoje em dia ainda há escavações clandestinas. Existe um mercado negro de peças que nós ficamos sabendo, apesar de não ver. Depois de um tempo, peças raras vão parar em museus na Europa ou em coleções particulares."
Local onde foram achadas urnas funerárias na periferia de Macapá. (Foto: João Saldanha / arquivo pessoal)