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Programa da BBC ‘toca’ trompete de faraó egípcio Tutancâmon


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Segundo lenda, instrumento de 3 mil anos, roubado e recuperado recentemente no Egito, teria poder de chamar guerras

18 de abril de 2011 | 13h 45

O trompete de bronze do faraó Tutancâmon é um entre outros objetos raros roubados do Museu do Cairo durante o recente levante popular contra o governo egípcio.

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James Tappern executa o trompete do faraó em 1939

Seu roubo, e posterior recuperação – a relíquia teria sido deixada, junto com outros artefatos roubados do museu, em uma sacola no metrô do Cairo -, levaram a BBC a buscar, em seus arquivos, uma gravação que capturou, em 1939, o som do instrumento.

Quando o arqueólogo britânico Howard Carter encontrou, em 1922, a tumba de Tutancâmon, ele também avistou, à luz de velas, perto da múmia do rei menino, dois trompetes: um de prata, um de bronze.

Por mais de três mil anos, os instrumentos, decorados com imagens de deuses egípcios associados à guerra, haviam haviam permanecido, mudos, no Vale dos Reis.

Maldição de Tutancâmon

A notícia do roubo do trompete de bronze – felizmente, o de prata havia sido emprestado a outro museu – durante o recente levante no Egito, provocou consternação no Egito.

Eles estão entre os mais antigos instrumentos musicais do mundo, e são cercados de lendas e mistério.

Algumas pessoas, como o curador de Tutancâmon do Museu do Cairo, acreditam que os trompetes têm "poderes mágicos" e que podem atrair guerras.

Segundo o curador, o instrumento foi tocado antes da primeira Guerra do Golfo e, mais recentemente, uma semana antes do início do levante popular no Cairo.

O histórico programa da BBC, gravado em 1939 e transmitido a cerca de 150 milhões de ouvintes no mundo, também reforça a lenda: a transmissão ocorreu pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial.

Devido à fragilidade dos artefatos, eles raramente são tocados.

Pioneiros do rádio, reconhecendo o potencial de um programa envolvendo os extraordinários instrumentos, conseguiram convencer o Serviço de Antiguidades Egípcias a autorizar uma transmissão do Museu do Cairo para o mundo.

Numa tarde de domingo, o apresentador da BBC Rex Keating entrevistou o arqueólogo Alfred Lucas, um dos poucos integrantes da equipe de Carter ainda vivos na época.

Depois, chegou o momento que todos esperavam. A platéia ficou em transe.

O músico escolhido para este programa histórico foi James Tappern.

Seu filho, Peter, também trompetista, disse que essa foi a grande história de sua infância, recontada, inúmeras vezes, pelo pai.

"Ele tinha muito orgulho (de seu feito)", disse. No entanto, a única gravação que a família guardava da transmissão, um delicado vinil de 78 rpm, havia se quebrado em uma mudança.

Peter só ouviu a gravação do pai décadas mais tarde.

"Fiquei boquiaberto com a qualidade (do instrumento)", disse. "Como os trompetistas daquela época tocavam (os trompetes) é impossível saber. Meu pai usou boquilhas modernas, mas o conhecimento técnico (usado na fabricação dos instrumentos) é impressionante".

Fragilidade

Segundo a egiptóloga Margaret Maitland, durante a Antiguidade, instrumentos de metal eram frequentemente roubados e derretidos.

"Havia escassez de metais preciosos", disse.

Isso explica por que tão poucos exemplares sobreviveram. E por serem frágeis, não é aconselhável tocá-los, ela acrescenta.

"É tentador querermos ouvir como esses instrumentos teriam soado, mas é muito perigoso, especialmente porque há tão poucos", disse Maitland.

Nos arquivos da BBC, um relato não confirmado do pioneiro radialista Keating conta que, antes da transmissão histórica de 1939, uma tentativa de tocar o trompete de prata para o rei Farouk do Egito teria terminado em desastre.

De acordo com Keating, o precioso instrumento teria se despedaçado, possivelmente porque uma boquilha moderna teria sido usada pelo instrumentista.

Ao ouvir a notícia, consternado, o arqueólogo Alfred Lucas teria ido parar no hospital.

A relíquia, no entanto, teria sido restaurada. BBC Brasil – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

fonte: o estadao