Botar ovos pode ter levado dinossauros à extinção

Paleontologia

Extinção dos grandes répteis, há 65 milhões de anos, pode ter acontecido por uma desvantagem adaptativa causada pela oviparidade

Ilustração mostra como seriam os ninhos da espécie Massospondylus há 190 milhões anos

Estudo encontra novos indícios do que teria provocado a extinção dos dinossários há 65 milhões de anos ( Julius Csotonyi/University of Toronto/AFP)

Um estudo publicado nesta quarta-feira na revista Biology Letters traz novos argumentos para explicar por que os mamíferos sobreviveram aos fenômenos que deram fim ao período Cretáceo (de 145 a 65,5 milhões de anos atrás), e os dinossauros foram extintos. Os pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça, acreditam que uma das principais causas da extinção dos grandes répteis é o fato de serem ovíparos.

Segundo o estudo, os filhotes de dinossauros nasciam muito pequenos, justamente por serem ovíparos. O crescimento desses animais era limitado pela estrutura do ovo, que tem restrições de tamanho – a casca precisa ser fina o bastante para permitir que o oxigênio chegue até o embrião em desenvolvimento.

Saiba mais

VIVÍPAROS
Animais vivíparos, como a maioria dos mamíferos, são aqueles cujos embriões se desenvolvem dentro da mãe.

OVÍPAROS
Os ovíparos são animais que botam ovos – ou seja, o embrião se desenvolve fora do corpo da mãe.

O tamanho reduzido desses filhotes provocava desvantagem na competição por alimentos. Alguns nasciam pesando entre dois e dez quilos e chegavam a alcançar entre 30 e 50 toneladas na idade adulta. “Durante o crescimento, os jovens dinossauros tinham que competir por comida com adultos de outros grupos animais e de tamanhos diferentes”, diz o cientista Marcus Clauss, da Universidade de Zurique.

Nessas condições, o estudo mostrou que os animais vivíparos tinham vantagem sobre os ovíparos. Com exceção do ornitorrinco, o restante dos mamíferos é vivíparo. Os cientistas consideram essa característica como um dos fatores que contribuíram para que esses animais sobrevivessem aos fenômenos que devastaram a Terra. Como os embriões são desenvolvidos dentro do corpo da mãe, não sofrem da mesma limitação de espaço para crescimento que os dinossauros. Clauss mostra outra vantagem dos mamíferos.

“Além dos filhotes não nascerem tão pequenos, se comparados aos dinossauros, eles não precisavam competir por comida com outras espécies, já que eram amamentados por suas mães.”

Obra revela quase 60 sítios arqueológicos

12/04/2012 – 09h59

 

ITALO NOGUEIRA
DO RIO

A construção de 70 quilômetros do Arco Metropolitano, grande obra rodoviária do Rio de Janeiro, revelou 58 sítios arqueológicos que, aos poucos, trazem detalhes sobre a história da ocupação da Baixada Fluminense.

Técnicos do IAB (Instituto de Arqueologia Brasileira) já encontraram mais de mil cachimbos, louças chinesas, urnas funerárias da cultura tupi-guarani e sambaquis -depósitos primitivos, formados principalmente por conchas, que apontam para a ocupação humana há 6.000 anos.

Reprodução

Bilha encontrada num dos sítios arqueológicos

Bilha encontrada num dos sítios arqueológicos

No total, são quase 50 mil peças inteiras ou fragmentos. O instituto teve de erguer um novo prédio para abrigar os artefatos descobertos.

O arco liga Itaguaí a Itaboraí cortando oito municípios da baixada, a fim de desafogar o trânsito na avenida Brasil, no Rio. O trecho no qual os vestígios estão sendo encontrados compreende cinco municípios (Duque de Caxias, Itaguaí, Nova Iguaçu, Japeri e Seropédica).

A história da região era conhecida basicamente por relatos de viajantes dos séculos 16, 17 e 18, principalmente do bispo José Caetano Coutinho, que descrevia fazendas da Baixada e seus proprietários.

MISCIGENAÇÃO

O resgate dos sítios revela uma ocupação sobreposta. No mesmo local foram encontrados cachimbos de cerâmica indígena, com cerca de 2.000 anos, bem como outros de louça europeia e com motivos africanos esculpidos.

"Isso prova que o europeu ocupou os mesmo lugares já usados pelos índios. Ele acreditava que, como havia gente no local, era sinal de que a terra era boa. Tirava essa terra dos índios e se instalava", diz a arqueóloga Jandira Neto, coordenadora do projeto.

Num local onde o grupo identificou um antigo porto (aterrado ao longo dos anos) foram encontrados relógios solares, bilhas para armazenar azeite e mais cachimbos, alguns com vestígios de fumo, todos trazidos por europeus recém-chegados.

Relatório no início da obra, em 2008, apontava que havia a expectativa de seis sítios perto da rodovia. Em um ano, o número subiu para 22, chegando aos atuais 58.

A maioria é descoberta durante a passagem das máquinas das empreiteiras. Arqueólogos percorrem a área e, quando algo é identificado, a obra é paralisada.

Em alguns casos, porém, a descoberta é feita por operadores de máquinas. Uma ferraria do que se acredita ter sido uma base de tropeiros foi achada após ter o teto atingido pela pá de um trator.

PATRIMÔNIO

Para evitar que situações assim aconteçam, todos os funcionários passam por capacitação para identificar eventuais sítios -a chamada educação patrimonial.

"O operador bateu numa pedra e notou que ela era trabalhada. Embaixo encontramos uma bigorna e instrumentos de uma ferraria", relata Jandira.

O que é motivo de felicidade para arqueólogos causa calafrios para engenheiros da Secretaria Estadual de Obras. A rodovia, cuja conclusão estava prevista para 2011 com custo de R$ 965 milhões, teve o prazo estendido para o fim de 2013 pelas paralisações ligadas às descobertas.

"Faz parte da obra. Temos de respeitar a história e a legislação", disse o secretário estadual de Obras, Hudson Braga. Os achados estão na sede do IAB em Belford Roxo. Já foram mostrados em exposição itinerante na Baixada e poderão ser também expostos no Rio.

Mais antiga fogueira feita pelo homem tem 1 milhão de anos

3/04/2012 – 09h07

 

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Atualizado às 09h21.

O mais antigo uso do fogo pela humanidade bateu um novo recorde: 1 milhão de anos atrás. A prova disso foram restos de ossos e plantas queimados achados em uma caverna na África do Sul.

Provar o uso de fogo em data tão antiga é delicado. O fogo poderia ter tido origem natural ou poderia ter sido deixado no local pelo vento ou pela água em data posterior.

Para tentar evitar esses possíveis erros, os autores do estudo usaram técnicas de microestratigrafia. Na geologia, a estratigrafia trata do estudo das camadas de rochas depositadas ao longo dos anos. Na sua versão "micro", as formas (micromorfologia) e a composição química ("microespectroscopia") do material são analisadas em grande detalhe.

Arte/Folhapress

Fogueira

Isso permitiu à equipe do arqueólogo Francesco Berna, da Universidade de Boston, EUA, analisar sedimentos de 1 milhão de anos atrás na caverna Wonderwerk, na África do Sul, e achar indícios de que antigos ancestrais faziam fogueiras. Restos de plantas incineradas e de ossos no mesmo lugar deixam claro que era uma fogueira para preparo de comida.

Em vez de lenha ou carvão, esses primordiais cozinheiros pré-históricos usavam folhas, grama e arbustos como combustível.

A análise dos ossos e sedimentos mostrou que eles foram queimados a uma temperatura de no máximo 700 graus Celsius, consistente com esse tipo de fogueira. E os indícios mostram que o uso do fogo era recorrente, sinal de que era "controlado" pelos homens pré-históricos.

O ancestral humano que botou fogo no pedaço era o Homo erectus, uma espécie mais primitiva do que o homem de hoje, Homo sapiens.

Como os cientistas sabem a identidade do antigo cozinheiro? "Ferramentas pré-históricas e o momento no tempo", disse Berna à Folha.

Contudo, "nenhum fóssil humano foi achado até agora em Wonderwerk."

E o que havia no cardápio? "O estudo é preliminar. A fauna inclui roedores, equinos e bovinos", diz.

FOGO E EVOLUÇÃO
"A habilidade de controlar o fogo foi crucial na evolução humana", escrevem os autores na revista científica "PNAS". "Essa é a mais antiga evidência segura de fogo em contexto arqueológico."

O motivo de essa habilidade ter sido importante foi teorizado pelo pesquisador Richard Wrangham, da Universidade Harvard, autor de um best-seller em que defende que cozer os alimentos foi um passo fundamental na evolução, pois a energia extra permitiu o aumento do cérebro: "Catching Fire: How Cooking Made Us Human" ("Pegando Fogo: Como Cozinhar nos Tornou Humanos").

Até agora não havia evidências fortes das habilidades gastronômicas do Homo erectusno registro fóssil.

Wrangham e colegas fizeram outro estudo no ano passado, analisando dentes molares e massa corporal de espécies humanas extintas, de primatas modernos (como chimpanzés) e do homem moderno para demonstrar como surgiu o "processamento" dos alimentos via cocção.