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"Faxina ética" de Dilma ameaça coalizão do Governo

 

EFEPor Eduardo Davis | EFE – 14 horas atrás

Foto - Dilma de biquinho

Brasília, 18 ago (EFE).- A "faxina ética" liderada pela presidenta Dilma Rousseff, que já custou o cargo de três ministros por suspeitas de corrupção, pode ameaçar sua diversificada coalizão de governo, segundo coincidiram analistas políticos nesta quinta-feira (18).

A última queda no meio de um furacão de denúncias por supostas irregularidades em todas as esferas do poder foi a do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, influente dirigente do PMDB, que renunciou na quarta-feira ao cargo que tinha desde o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Para substituí-lo, Dilma designou nesta quinta-feira Mendes Ribeiro Filho, também do PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer.

O primeiro a cair nesta "faxina ética" foi o poderoso Antonio Palocci, histórico dirigente do PT que renunciou como ministro da Casa Civil em junho após escândalo de aumento de patrimônio. Em julho, foi a vez da demissão de Alfredo Nascimento, até então ministro dos Transportes e presidente do PR, que nesta semana retirou essa formação da coalizão governante, para adotar uma posição de "independência" e "apoio crítico".

Rossi caiu, mas nada indica que a "faxina" acabe por aí, pois a oposição exige a saída do titular de Turismo, Pedro Novais, cujo vice-ministro Frederico Silva da Costa foi detido na semana passada como suspeito de fraudes.

À margem das denúncias, Dilma perdeu também o ministro da Defesa, Nelson Jobim, outro ministro "herdado" de Lula, que renunciou após criticar as ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e confessar que nem sequer tinha votado nela para a Presidência.

Em relação às suspeitas de corrupção, imprensa e analistas destacaram a atitude implacável de Dilma e sua decisão de não interferir na atuação da Polícia Federal e dos órgãos controladores do Estado e o constraste em relação à gestão de Lula, que foi alvo da oposição sempre a oposição acusou de "amparar" os corruptos para garantir a governabilidade.

Se agora a palavra é limpeza será difícil frear este processo perante essa sujeira acumulada durante os oito anos de um Governo cúmplice, indicou nesta quinta-feira em seu editorial o jornal "O Globo".

O jornal "Folha de S. Paulo" também dedicou seu editorial à situação política e apontou que Dilma tem pleno apoio popular, refletido já nas enquetes. No entanto, ressaltou que o PMDB, que durante os últimos anos se envolveu em diversos escândalos de corrupção, "segue no Governo" e agora é "menos confiável do que nunca", pois um de seus dirigentes, como Rossi, foi alcançado pela "vassoura" de Dilma.

Segundo Rudolfo Lago, editor do portal de análise política "Congresso em Foco", Dilma deve ser "cautelosa", pois pode "perder o controle das vassouras" e ver uma faxina "muito maior do que gostaria".

Os temores na base de apoio a Dilma são compartilhados e expressados por parlamentares até do governo, como o senador Cristovam Buarque, que declarou à Agência Efe que "Dilma corre o risco de ter problemas por seus acertos e não por seus erros", situação que qualificou de "horrível".

Buarque, do Partido Democrático Trabalhista (PDT), disse confiar, no entanto, na "sensatez" dos partidos e citou como "esperança" uma frente suprapartidária criada nesta semana no Congresso para apoiar a cruzada de Dilma contra a corrupção.

O senador Pedro Simón, também dessa frente e membro do PMDB, afirmou nesta quinta-feira que o grupo tentará gerar um movimento na sociedade civil para "impedir que Dilma fique só". Segundo Simón, a presidente "está fazendo contra a corrupção tudo o que seus antecessores não fizeram em mais de 20 anos", por isso que "é preciso tirar as pessoas à rua para apoiá-la". EFE

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Pastor diz que deputada o queria como ‘laranja’ em convênio de R$ 2,5 milhões

 

Wladimir Furtado, da Conectur, afirma que Fátima Pelaes (PMDB-AP) pediu que ONG ‘entrasse só com o nome’

15 de agosto de 2011 | 0h 00

  • Leandro Colon – Enviado Especial – O Estado de S. Paulo – O Estado de S.Paulo

MACAPÁ – Wladimir Furtado, dono da Conectur, entidade investigada por fraudes com verbas do Ministério do Turismo no Amapá, revelou ontem em entrevista exclusiva ao Estado que recebeu uma proposta da deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP) para ser "laranja" num convênio de R$ 2,5 milhões com o governo federal.

Wilson Pedrosa/AE

Wilson Pedrosa/AE

Wladimir Furtado na sede da Conectur, em Macapá

"A deputada queria pegar a Conectur para servir de laranja. Ela gostaria que a Conectur entrasse só com o nome", afirmou Furtado. "Ela queria fazer o serviço do jeito dela, que ela tomasse conta, deixasse contador, advogados e técnicos por conta dela."

Furtado afirmou que preferiu não entregar a responsabilidade da execução do convênio de R$ 2,5 milhões para Fátima Pelaes: "Eu disse: deputada, não vou assinar cheque em branco. Depois sou eu que vou prestar contas".

Apesar do suposto cuidado na relação com a deputada, a Conectur, como mostra a investigação da PF, integrou o esquema de desvio de dinheiro do Ministério do Turismo. A entidade foi usada para subcontratar as mesmas empresas de fachada envolvidas no esquema do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), entidade pivô da Operação Voucher.

Igreja. Além dos R$ 2,5 milhões recebidos do ministério em 2009, a Conectur recebeu depois R$ 250 mil do Ibrasi a título de "subcontratação". De acordo com as investigações, a Conectur é o embrião do esquema de desvios de recursos do ministério no Amapá.

A entidade é registrada numa igreja evangélica – onde Furtado mora. Os R$ 2,5 milhões deveriam ser usados para "Realização de Estudos e Pesquisas sobre Logística no Turismo no Estado do Amapá, levando em conta a situação das redes estabelecidas ao redor dos serviços turísticos". Mas, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público Federal, o contrato não foi executado, além de ter sido palco de desvios para empresas de fachada.

Wladimir Furtado foi preso pela Operação Voucher, e solto na madrugada de sábado. É a primeira vez que ele admite o envolvimento da deputada no esquema que levou 36 pessoas à prisão na terça-feira.

No depoimento à PF, Furtado negou qualquer irregularidade e a participação da parlamentar. Ontem, decidiu dar mais detalhes ao Estado. "A deputada queria que eu assinasse o convênio em branco", disse, na entrevista.

Supremo. O advogado de Furtado, Maurício Pereira, disse que vai requisitar que todo o inquérito da Operação Voucher seja enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde Fátima Pelaes tem foro privilegiado. Na opinião dele, seu cliente não pode mais nem ser denunciado na primeira instância, como planeja o Ministério Público Federal. "Se há indícios de participação da deputada Fátima, a competência é do STF. Tem que subir tudo para lá", disse o advogado.

O Estado procurou a assessoria da peemedebista para comentar o teor da entrevista de Furtado, mas não houve retorno até o fechamento da edição. Ela tem negado as acusações de envolvimento com o esquema.

Cheque em branco. O teor da entrevista de Wladimir Furtado tem sintonia com pelo menos quatro depoimentos de pessoas presas na operação policial. De acordo com os relatos, incluindo os da secretária e do tesoureiro da Conectur, a entidade serviria apenas para intermediar o contrato com o Turismo e parte do dinheiro seria entregue a Fátima Pelaes.

Apadrinhada. O Ibrasi foi beneficiado por duas emendas parlamentares da deputada que somam R$ 9 milhões. Já o convênio direto da Conectur com o Ministério do Turismo não teve emenda, mas, segundo Wladimir Furtado, também foi intermediado pela parlamentar do PMDB.

Coube à ex-secretária do Turismo do Amapá Deuzanir Ribeiro, apadrinhada da deputada, orientar Wladimir Furtado a se cadastrar no ministério para receber o dinheiro.

Comprovantes. O dono da Conectur mostrou ontem ao Estado documentos que, segundo ele, comprovariam a execução dos serviços previstos no convênio. Havia relatórios, imagens e gravações de pesquisas.

O Ministério do Turismo aprovou a prestação de contas, mas sem fiscalização "in loco", ou seja, apenas avalizou os papéis, sem atestar se são verdadeiros. Na documentação mostrada ao Estado estava um extrato bancário do dia 7 de maio de 2009, quando a entidade tinha R$ 1,3 milhão na conta.

Entre os sócios de fachada das empresas que faziam os supostos serviços no Amapá está, por exemplo, o empresário Fábio de Mello, uma espécie de "lobista de ONGs" em Brasília e que também foi preso pela Operação Voucher.

Foi Fábio de Mello quem orientou os passos da Conectur dentro do ministério. Ele foi apresentado a Furtado por Deuzanir Ribeiro. Os encontros ocorreram num restaurante e num hotel em Brasília.

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Entidade que recebeu R$ 2,5 milhões para pesquisar turismo fica em igreja

 

Pastor que se apresenta como ‘turismólogo’ é responsável por Conectur, empresa de fachada que embolsou recursos de convênios do governo e, segundo as investigações da PF, os repassou para Fátima Pelaes

13 de agosto de 2011 | 21h 00

Leandro Cólon – Enviado Especial

MACAPÁ – Embrião do esquema de corrupção no Turismo do Amapá, a entidade Conectur é registrada numa igreja evangélica. Recebeu R$ 2,5 milhões do governo federal, mas nunca existiu. No seu endereço oficial funciona a Assembleia de Deus Casa de Oração Betel.

 

WILSON PEDROSA/AE

WILSON PEDROSA/AE

Entidade que recebeu R$ 2,5 milhões para pesquisar turismo fica em igreja

O pastor é o dono da Conectur, Wladimir Furtado. Ele mora no andar de cima e foi preso na Operação Voucher, da Polícia Federal. É acusado de envolvimento nos desvios de recursos em convênios do Ministério do Turismo e, segundo investigados, de repassar parte do dinheiro para a deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP).

A deputada é chamada de "advogada" nas conversas telefônicas, de acordo com a polícia. O pastor nega as acusações.

O Estado foi visitar a "sede" da Conectur na sexta-feira. Acabou encontrando uma igreja. A ousadia é tamanha que o pastor pendurou no alto do prédio religioso uma bandeira mencionando o convênio com o Ministério do Turismo. O banner estava lá três dias depois da operação policial que desmontou o esquema. Em depoimento à PF, Furtado disse ser "turismólogo". Sua entidade ganhou R$ 2,5 milhões do Ministério do Turismo para cuidar da "Realização de Estudos e Pesquisas sobre Logística no turismo no Estado do Amapá, levando em conta a situação das redes estabelecidas ao redor dos serviços turísticos". A verba foi liberada, mas projeto não saiu do papel. E o dinheiro sumiu.

O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), pivô do esquema revelado pela Operação Voucher, foi, depois de 2009, uma espécie de "sucessor" da Conectur, que virou uma "subcontratada de fachada" do próprio Ibrasi. É o que, na avaliação dos investigadores, revela os indícios de uma grande organização criminosa, uma "quadrilha", que contou com a participação de funcionários do Ministério do Turismo.

A casa – ou a igreja, no caso – "caiu" na madrugada de terça-feira, quando agentes da PF prenderam o pastor e o esquema começou a ser desvendado. Ele havia colocado o sobrinho e a cunhada, que moram na periferia de Macapá, como "laranjas" na diretoria da Conectur. Os dois também foram presos na terça-feira e entregaram o jogo para a PF: o dinheiro do Ministério do Turismo, segundo eles, foi parar nas mãos da deputada Fátima Pelaes.

Wladimir, ex-prefeito da cidade de Ferreira Gomes (AP), não só foi entregue pelos parentes, como teve de contratar um advogado às pressas por R$ 40 mil para tentar sair da cadeia e também livrá-los da prisão.