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Sansão heroii ou bandido?

Por Simão

 

Sansão, herói ou bandido?Sansão, herói ou bandido?

Portela, Simão Dias[1]

RESUMO: Este artigo apresenta a figura de um homem entre um dos mais importantes do mundo bíblico. Sua história é marcada por paixões, lutas e traições. Muitas vezes incompreendido por boa partes dos cristãos e teólogos, Sansão tem sido constantemente demonstrado por estes estudiosos como alguém que estava diuturnamente em pecado.

O objetivo deste estudo é dar o devido valor a este grande nome do mundo bíblico, que o autor do livro aos Hebreus narra como um dos que venceu exércitos e agradou a Deus.

A fé encontrada em Sansão, chega a ser uma relíquia, em comparação ao mundo atual, onde ela passou a ser uma raridade A Fé esta para Sansão como o riacho está para rio. Fé que venceu não apenas um exército de mil homens, como fez fender uma rocha e sair água viva “Então o Senhor abriu a cavidade que estava em Lei, e dela saiu água” (Juízes 15:19). Renovando suas forças para as próximas lutas.

A fé de Sansão nos faz lembrar a declaração de Jesus. Que “o Filho do homem”, havia de voltar. (Mat. 25:31-33). Todavia, Ele suscitou a seguinte pergunta: “Quando o Filho do Homem voltar encontrará a fé sobre a terra?”.

A pergunta de Cristo é crucial, pois a fé, que fez de Sansão um homem que alcançou um bom testemunho perante Deus, será o mesmo que faltará quando da volta de sua volta. Sendo assim, enquanto Sansão esbanjava Fé, Cristo por sua vez mostrara-se preocupado quanto ao futuro. E sua pergunta para os dias atuais poderia ser assim reformulada: – Quando o Filho do Homem voltar encontrará alguém na terra, que tenha a mesma fé que Sansão teve?

Palavras chave: Teologia, Teologia Histórica, Estudos Bíblicos.

APRESENTAÇÃO

Sansão é sem dúvida um dos personagens mais marcantes, para não dizer intrigante da bíblia. É um dos mais conhecidos Juízes de Israel. Julgou Israel por vinte anos. Seus feitos foram espetaculares.

Era Nazireu, ou seja, separado para o serviço de Deus. Tinha algo incomum que era sua força extradionária, que segundo as escrituras provinha de Deus. Suas histórias estão escritas na Bíblia no livro dos Juízes do capítulo 13 ao 16. Seus feitos são relembrados no Novo Testamento (Hebreus 11:32).

O autor da carta aos Hebreus o coloca no patamar dos grandes heróis da história bíblica, junto com; Enoque, Noé, Abraão, Jacó, José, Moisés, Davi e Samuel. Segundo a bíblia, Sansão por meio da fé venceu exércitos e praticou a justiça.

O fato é que toda vez que examinamos a história de Sansão somos tendenciosos em não olharmos para Hebreus 13.32. E quando não fazemos isso, somos levados por uma leitura totalmente equivocada. Por uma estrada que não é a mesma que foi percorrida por ele. Sendo assim, o objetivo deste artigo é justamente colocar o herói Sansão nos mais altos degraus da história, visto ser este o seu lugar.

Contexto Histórico

A bíblia narra em Juízes 13:1, que o povo de Israel havia desviado o seu olhar de Deus, acarretando com isso, a servidão por parte dos filisteus por cerca de 40 anos.

Como Deus havia tirado o povo de Israel com sua mão forte da terra do Egito, não havia lógica alguma, este mesmo povo, tornar-se escravo de outra nação. Sendo assim, Deus através do seu grande poder e amor para com o povo de Israel e principalmente por suas promessas feitas no passado aos profetas, resolve levantar um Libertador.

As escrituras relatam em Juízes 13:5 que Sansão não libertaria o povo totalmente, mais iniciaria a libertação “…porquanto o menino será nazireu de Deus desde o ventre e ele começará a livrar a Israel da mão dos filisteus”. Com isso, caberia a Sansão dar início ao grande projeto de Deus, que era novamente resgatar o seu povo do domínio inimigo.
Sansão é introduzido na história

A bíblia narra em Juízes 13:25 que o “Espírito do Senhor começou a impelir de quando em quando para o campo Dã, entre Zorá e Estaol”. Ou seja, a bíblia relata que o Espírito de Deus começou a agir na vida de Sansão, com o propósito de guerrear contra os filsteus para libertação do seu povo. Israel estava acomodado, acostumado com a escravidão. Prova disso está em Juízes 15:11 “Então, três mil homens de Judá desceram até a cova da rocha de Etã e disseram a Sansão: não sabias tu que os filisteus dominam sobre nós?”. Nota-se claramente através dos textos que Israel estava pacificamente acostumado com o jugo do inimigo, de maneira alguma estavam dispostos a mudarem este quadro. Acontece que Deus não tirou Israel do Egito para tornar-lhe escravos de outra nação. Mesmo que houvesse merecimento de tal estado, não era este o destino que Deus tinha traçado para o seu povo.

Ao relatar que o Espírito do Senhor começou a impelir a escritura esta nos mostrando que Deus estava capacitando Sansão para sua grande obra. Ficando entendido que os feitos de Sansão são obra do Espírito de Deus agindo em sua vida.

Sansão versus os grandes homens da bíblia

Sansão não é diferente dos outros personagens tido como os grandes homens da história bíblica. A sua ação não é diferente dos juízes, reis e profetas. Todos seus atos, eram atos impulsionados e autorizados por Deus. A questão é que muitas vezes ao lermos a sua história, fazemos sob a nossa ótica e esquecemos que a sua vida é produto de um contexto histórico, no qual, o Deus verdadeiro era aquele que vencia a guerra.

Em Hebreus 11:34 é relatado que os homens de fé puseram em fuga os exércitos dos estranhos. O mesmo fizeram os filisteus quanto ao aprisionamento de Sansão, ao atribuir aquela vitória ao deus Dagon . Juízes 16:23 “Então, os príncipes dos filisteus se ajuntaram para oferecerem um grande sacrifício ao seu deus Dagon e para se alegrarem e diziam: nosso deus nos entregou nas mãos a Sansão, nosso inimigo”.

Sansão foi Criado para Matar.

Deus não criou Sansão para ser um homem de paz, pelo contrário, Deus o criou para ser uma máquina mortífera. – Ou, você acha que um homem que vence mil homens é o quê? Se Deus quisesse que Sansão fosse um homem de paz, acostumado com aquela submissão, jamais o teria criado com toda aquela força. Mas o leitor pode questionar, porque Deus queria a guerra? Deus queria a guerra para libertar seu povo. Sendo assim, Sansão nasceu para ser o grande braço forte de Deus. Todo os seus atos, do capítulo 14 e 15 de Juízes foram influenciado pelo poder de Deus em sua vida, ou seja, Deus estava com ele.

No capítulo 14, a bíblia narra que Sansão procura uma moça filisteia para se casar. Tal escolha não agradara seus pais. Mas pela leitura do texto, não há demonstração que tal atitude fosse proibida. Como os pais de Sansão eram pessoas simples talvez eles não fossem habituados com a lei. Prova disso foi a preocupação que Manoá, pai de Sansão, teve quanto o anuncio especial do nascimento do seu filho –

“Então, Manoá orou insistentemente ao Senhor e disse: Ah! Senhor meu, rogo-te que o homem de Deus, que enviaste, ainda venha para nós outra vez e nos ensine que devemos fazer ao menino que há de nascer” Juízes 13:8. Percebe-se que Manoá e esposa não sabia como teriam que criar seu filho, mesmo que o anjo já houvesse dito anteriormente em Juiz 13: 4-5 “Agora, pois guarda-te de que bebas vinho, ou bebida fortes, nem coma coisa imunda. Porque eis que tu conceberás e terás um filho sobre cuja cabeça não passará navalha; porquanto o menino será nazireu de Deus desde o ventre e ele começará a livrar a Israel da mão dos filisteus”.

Estas mesmas palavras são ditas pela segunda vez em Juízes 13:12. Manoá insiste em saber como será o modo de viver e a ocupação do menino. “E disse o Anjo do Senhor a Manoá: De tudo quanto eu disse à mulher se guardará ela. De tudo quanto procede da vide não comerá, nem vinho, nem bebida forte beberá, nem coisa imunda comerá; tudo quando lhe tenho ordenado guardará”.

Tudo indica que a vida de Sansão tenha sido moldada segundo as palavras do anjo. Isto explica o comportamento de Sansão em Juízes 14. É interessante que seus pais não condenam por tal escolha, mas também não aprova. Mas em nenhum momento eles fazem uso de uma lei que pudesse proibir tal atitude.

O autor ao narrar sobre a advertência que os pais fizeram ao filho sobre tal casamento com um moça filisteia, nos leva a afirmativa que tal escolha provinha de Deus. “Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do Senhor; pois buscava ocasião contra os filisteu, porquanto, naquele tempo, os filisteus dominavam sobre Israel.” (Juízes 14:4). Mas se o casamento com pessoas de outras nações era proibido, como somos levados a pensar, com explicar tal versículo? O teológo Vincent Chong no livro “Sansão e Fé” , pág, 17 nos faz o seguinte esclarecimento:

“Deus tinha construído em Sansão uma arma destrutiva contra inimigo de Israel, e essa foi a sua maneia de desdobrá-la. O Desejo de Sansão para se casar uma mulher veio de Deus. Ele estava decidindo soberanamente não somente o propósito da vida de Sansão, mas também como ele realizaria esse propósito. Escolher uma mulher filisteia para ser sua esposa, levaria uma ocasião ou oportunidade, confrontar o filisteus” (NIV).

O casamento criou uma oportunidade e uma razão para Sansão lutar contra os inimigos de Israel. Todavia, visto que era contra a vontade preceptiva de Deus se casar uma incrédula, foi um pecado para Sansão o casar-se com uma mulher filisteia. Deus era soberano sobre Sansão, e podia fazer com que ele realizasse justiça ou impiedade, de acordo com sua própria vontade divina.”

Todavia este comentário de Vincent Cheung faz com que Deus aja contrário a sua lei para atingir seus objetivos. E atribui ao homem (Sansão), o pecado desta escolha, que não foi feito por ele (Sansão) e sim por Deus. Tiago 1:13 nos diz “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte“.

Sendo assim, o argumento de Vincent Cheung não poder ser considerado em razão de que Deus jamais induz alguém ao pecado. Visto que tal atitude é contrária a natureza do próprio Deus. Mas se Deus não induz ninguém ao pecado como Tiago diz; como explicar o fato de Sansão tomar uma moça filisteia para casar-se com o consentimento de Deus? No artigo “Sansão de Nazireu a cego” publicado por Paulo Augusto Muniz Malafaia, o autor nos oferece uma informação valorosa. Segundo ele, tal casamento não era proibido pela lei de Moisés, pois os filisteus não faziam parte das 7 nações cananéias, condenadas à destruição (Êxodo 34:11-16;Dt. 7.1-4 ).

“Quando o Senhor, teu Deus, te tiver introduzido na terra, a qual passas a possuir, e tiver lançado fora muitas nações de diante de ti, os heteus, e os girgaseus, e o amorreus, e o cananeus, e o ferezeus, e o heveus, e os jebuseus, sete nações mais numerosas as destruirás: não farás com elas concerto, nem terás piedades delas; nem te aparentarás com elas; não darás tuas filhas a seus filhos e não tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para servissem a outros deuses; e a ira dos Senhor se acenderia contra vós e depressa vos consumiria”. O mesmo ponto de vista é compartilhado pelo escritor
R David Jones em seu artigo intitulado “Sansão”.

“Ele apenas viu e logo se enamorou de uma das filhas dos filisteus, e quis casar-se com ela. Seus pais não aprovaram, porque os filisteus eram inimigos dos israelitas; no entanto, não seria desobediência à lei de Deus, porquanto os filisteus não eram uma das sete nações condenadas ao extermínio (Êxodo 34:11-16; Deuteronômio 7:1-4)”.

A partir deste ponto de vista fica mais fácil compreender a narrativa de Juízes 14. A escolha de Sansão poderia não ser uma das melhores escolhas. Seus pais consentiram, mas não aprovaram. O fato é que, não era uma escolha proibitiva. O máximo que se possa dizer, é que, tal escolha não foi tão sabia. Lógico, que nosso olhar é de algo que já aconteceu a milhares de anos atrás, ou seja, sabemos o final da história. Mas poderia ser diferente. Sansão poderia ter casado com moça filisteia e terem sido felizes para sempre. Mas, o que importa é que neste caso específico não houve nenhum tipo de desobediência por parte de Sansão. Ele não violou qualquer tipo de lei. Isto fica claro em Juízes 14;4 “Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do Senhor, porquanto, naquele tempo, os filisteus dominavam sobre Israel”. Se houvesse qualquer tipo de proibição Deus jamais compartilharia com tal atitude.

No Versículo 8 do capítulo 14 a bíblia narra que Sansão toma em suas mãos um favo de mel, comeu e deu aos seus pais. “E tomou-o nas suas mãos e foi-se andando e comendo dele: e comeram, porém não lhes deu a saber que tomara o mel do corpo do leão”, Juízes 14:9. Muitos pastores e estudiosos tem discutido sob esta atitude de Sansão, visto ser ele Nazireu “E descobriu-lhe todo o seu coração e disse-lhe: Nunca subiu navalha à minha cabeça, porque sou nazireu de Deus….”, Juízes 16:17 e segundo números 6:6 o nazireu não poderia jamais aproximar de um cadáver, quanto menos tocá-lo. Se tal fato acontecesse teria que no dia da purificação, rapar a cabeça. Mas, como se explica que Sansão tocou em cadáveres e não deixou de ser nazireu? O [2]Dr Paulo de Aragão Lins em seu artigo

“A Bíblia não diz que Sansão era um verdadeiro nazireu” diz que Sansão só obedecia a parte referente ao cabelo, pois a Bíblia diz que ele participava de banquetes, andava com concubinas, e aproximava-se de cadáveres. Fato que é comprovado em Juízes 16:17 “Nunca subiu navalha à minha cabeça, porque sou nazireu de Deus.”.

Portanto, fica evidente que havia diferenças nas exigências para os que optavam por ser nazireus (Num.6:1) e para os que eram nazireus por toda a vida. Sansão não fez voto para ser nazireu ele foi designado por Deus para ser nazireu enquanto vivesse. Portanto, a restrição de tocar num cadáver não se aplicava no caso dele. Sendo que, o que vale é a restrição imposta pelo anjo aos seus pais em Juízes 13:4 “Agora guarda-te, não bebas vinho nem bebida forte, nem coisa imunda. Porque conceberás e darás à luz um filho, sobre cabeça dele não passará navalha…”

Andando com Deus

Aquilo que costumeiramente dizem de Sansão; libertino, mulherengo, brigão, amante dos prazeres carnais, são totalmente equivocadas. Visto que o Apóstolo Paulo em Romanos nos traz as seguintes palavras: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos Deus”. Rm 8:14. Segundo as palavras do Apóstolo o homem que é guiado pelo espírito de Deus, como Sansão foi, é filho de Deus. Neste sentido, Sansão não era um libertino como muitos querem fazer crer, se assim fosse ele jamais poderia estar desfrutando das bênçãos de Deus. Juízes 14: 6

“Então, o Espírito do Senhor se apossou dele tão possantemente, que o fendeu de alto baixo, como quem fende um cabrito, sem ter nada em suas mãos:” Juízes 14: 19 “Então, o Espírito do Senhor tão possantemente se apossou dele, que desceu aos asquelonitas, e matou deles trintas homens” Juízes 15: “E, vindo ele a Leí, os filisteus lhe saíram ao encontro, jubilando; porém o Espírito do Senhor possantemente se apossou dele, e as cordas que ele tinha nos braços se tornaram como fios de linho que estão queimados, e as suas amarraduras se desfizeram das suas mãos.” Todas estas passagem mostram a intimidade de Sansão com Deus, ele era amigo de Deus, estava cumprindo o seu propósito.

O Apostolo João descrevendo as palavras de Nicodemos em João 3:1,2 e nos diz a seguinte afirmação “E havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, príncipe dos Judeus. Este foi ter de noite com Jesus e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele”. Veja que, Nicodemos reconhece Jesus como ungido de Deus através dos seus feitos. Segundo Nicodemos era impossível Jesus fazer tudo o que fazia se Deus não estivesse com Ele. O mesmo pode ser aplicado a Sansão, ninguém pode vencer mil homens em uma luta, sem ter Deus ao seu lado.

Decadência

“E julgou a Israel, nos dias dos filisteus, vinte anos” Juízes 15:20. A partir da grande vitória que Sansão teve em Ramate-Leí ferindo mil homens, começa o seu governo enquanto Juiz em Israel. O povo reconhece nele um homem provindo de Deus. A partir deste feito extraordinário, Sansão vai liderar o seu povo por 20 anos. Tudo o que aconteceu até aquele momento, serviu como um aprendizado. Deus estava ensinando Sansão, mostrando, que mesmo não sendo proibido unir com os filisteus seja em forma de casamento ou qualquer outro tipo de aliança, mesmo assim, sempre terminaria em traição. Deus queria mostrar que qualquer tipo de aproximação com os filisteus terminaria em tragédia.

“E foi-se Sansão a Gaza, e viu ali uma mulher prostituta[3], e entrou com ela”Juízes 16.1. Percebe-se que a partir deste momento, o narrador não menciona mais a presença de Deus na vida Sansão. Ou seja, ele estava por conta própria. Deus havia mostrado a ele o que acontecia quando da união com os filisteu, mas mesmo assim, parece que o tempo fez Sansão esquecer-se de tudo que havia acontecido.

No versículo 3, Sansão arranca as portas da cidade. “Porém Sansão deitou-se até à meia-noite, e à meia-noite levantou, e travou das portas da entrada da cidade com ambas as umbreiras, e juntamente com tranca as tomou, pondo-as sobre os ombros; e levou-as para cima, até ao cume do monte que está defronte de Hebrom”.

Pergunto ao caro leitor, onde está o Espírito do Senhor, narrado nos versículos anteriores? Simplesmente não existe mais e você também não encontrará nos próximos versículos seguintes. O que aconteceu que levou Deus a abandonar Sansão?.

Acontece que Israel vivia sob o julgo dos filisteus e estava acomodado com esta situação. Deus havia levantado Sansão justamente para mudar este quadro. Tudo que ele fez foi com o consentimento de Deus, para que com isso, ele pudesse sentir na pele o que aconteceria se ele unisse àquele povo. A sua vitória, não foi vitória dele, mas sim do próprio Deus que lutava por ele.

Acontece que as decisões que Sansão tomara a partir do capitulo 16 não provinha de Deus, quanto menos era o seu propósito. Mas podemos perguntar: se o Espírito de Deus não estava mais com Sansão, como foi que ele arrancou os portões da cidade de Gaza? Diria que foi apenas uma questão técnica. O pacto que simbolizava o cabelo ainda não havia sido quebrado, por isso, ele ainda possuía a sua força. Acontece que mesmo com toda força que alguém possa ter, sem a unção do Espírito de Deus agindo na vida dessa pessoa, tal força não tem nenhum significado. Contudo, mesmo com a força incalculável que Sansão pudesse ter, mesmo assim, humanamente falando, seria impossível ele vencer mil homens. Não há dúvida que sua vitória provinha do Espírito de Deus que possantemente se apossava dele e não na sua força propriamente dita. Sendo assim, não há dúvida que a partir do momento que ele escolhe uma prostituta e em seguida Dalila, ambas escolhas não fazeim parte dos planos de Deus. Sansão a partir daquele momento estava totalmente desprotegido da graça de Deus e a única coisa que ele possuía era sua força, ou seja, nada.

OS PROPÓSITOS DE DEUS

Não basta ter uma força sobrenatural para vencer uma guerra. Sansão tinha força para vencer mil homem. Mas mesmo assim, isto não significava garantia de vitória. A certeza da vitória estava no poder de Deus que operava em sua vida.

Nos capítulos 13 ao 15, Deus tinha um propósito para com Sansão, seus atos não só foram aprovados por Deus, como provinha de Deus “Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do Senhor, que buscava ocasião contra os filisteus; pois naquele tempo os filisteus dominavam sobre Israel”.

Juízes 14:4. Acontece que a partir do capítulo 16, o autor começa narrando que Sansão passou uma noite com uma prostituta e no versículo 4, simplesmente Sansão se encanta com Dalila. Em ambos os casos, não havia nenhum tipo de proibição ou pecado que possa ser atribuído a ele. Mas mesmo assim, há claramente uma rejeição por parte Deus. O autor deixa isto bem claro em omitir em todo o capitulo 16 a interferência do Espirito do Senhor nos atos de Sansão. Mas se Sansão não estava em pecado, como se explica o fato de Deus não estar mais aprovando seus atos?.

A resposta está naquilo que Deus queria de Sansão. Ele nasceu para libertar o povo de Israel do jugo dos filisteus, sendo assim, todas aqueles incidentes contribuíram para criar uma inimizade entre as duas nações. “e o Espirito do Senhor começou a incitá-lo em Maomé-Dã, entre Zorá e Estaol’ Juízes 13:25.

Depois que todos estes incidentes passaram, e Sansão venceu mil homens, começa a sua liderança, que segundo as escrituras foram de 20 anos. ”Sansão julgou a Israel vinte anos nos dias dos filisteus”. Até este momento havia um propósito de Deus para com Sansão, ou seja, ser líder de um povo autônomo e independente dos Filisteus. Sendo assim, o propósito de Deus era fazer com que Sansão quebrasse todo e qualquer tipo de laços com esta nação. E isto foi possível graça ao seu casamento com a filisteias que foi um verdadeiro fracasso.

Durante estes 20 anos anos de liderança de Sansão, é bem provável que o mesmo tivesse pensado em tudo isso. A partir do versículo 16 Sansão esquece tudo, e retorna a manter laços com os Filisteus, é por este motivo que autor omite a participação do Espírito de Deus, nas aventuras de Sansão. Significando como isso, que mesmo que Sansão não estive em pecado, mesmo assim, a sua presença em Gaza não era propósito de Deus. E se não era propósito de Deus, então Deus não tinha porque estar com ele.

A palavra de Deus nos diz em João 15:5 “Sem mim nada podeis fazer”. Mesmo que Sansão tivesse toda aquela força, sem Deus ao seu lado, esta força seria inútil. A nossa vitória provém de Deus. Ele é a nossa rocha e fortaleza. Golias era um homem forte, temido pelos seus inimigos. Um belo dia derrapou-se com um pequeno homem de nome Davi. Pequeno em tamanho, mas grande na fé.. Golias, olhou para si mesmo e achou que venceria. No entanto Davi olho para gigante em diz “Tu vens a mim como espada, com lança, e com escudo, mas eu venho a ti em nome do Senhor dos exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado”. Quem venceu a guerra? Foi Davi? Ou Senhor Deus que lutou por ele.

Sansão tinha muita força, mas suas vitórias não provinham dele e sim do grande Deus que lutava por ele. A partir do momento que ele passou a confiar em sua força e não em seguir os propósitos que Deus tinha traçado para sua vida, neste momento, Sansão desmorona. Sendo assim, é preciso que entendamos que não basta termos certos dons para fazer algo. È preciso cumprir os propósitos que Deus traçou para a nossas vidas. Não estamos aqui para fazer aquilo que queremos e sim aquilo que Deus quer de nós.

A vitória

Como se pode ver, o rótulo aplicado a Sansão, por muitos, seja pastores ou estudiosos, tem sido de uma visão distorcida e descontextualizada que se tem deste grande herói. Os erros aplicados a ele, são simplesmente equivocados, suas ações são de quem tem Deus e não de um depravado espiritualmente. O próprio Deus declara em Êxodo 23:7 que não aceita aqueles que são tidos como culpados. “De palavras de falsidade te afastarás e não matarás o inocente e o justo; por que não justificarei o ímpio.”. Estas palavras são opostas a de Hebreus 11:33 quando Sansão é declarado como alguém que praticou a Justiça.

Sendo assim, é preciso ver que todo homem de Deus, tem suas derrotas e vitórias e Sansão não foge a regra. O que não podemos fazer é esquecer o seu legado como homem de Deus e focarmos apenas nas suas [4]derrotas.

Sansão pagou um preço, por sua escolha. Mas isso não significou sua derrota. O homem que tem Deus, por mais difícil que esteja, ele deve se espelhar em Deus. O que Sansão fez foi algo extraordinário. Mesmo sem seus olhos, ele acreditou que Deus poderia dar-lhe uma grande vitória. A grandeza de Sansão esta exatamente neste ponto. Deus é soberano Ele é o Deus do impossível e se for preciso, mesmo sem os olhos Ele nos dá a vitória. Neste sentido é que está o grande feito de Sansão, crer que Deus poderia dar-lhe uma vitória bem maior do que quando ele tinha os olhos.

Por este motivo é que o autor do livro aos de Hebreus coloca-o no patamar dos grandes heróis de Israel, a qual Deus agradou-se com seus atos de fé.

Neste sentido perguntamos: há algo mais importante para Deus do que a fé do seu servo? Sem fé é impossível agradar a Deus. Logo, Sansão segundo Hebreus tinha fé. Então ele agradou a Deus. Mas onde podemos encontrar a fé de Sansão? Podemos encontrar a fé de Sansão nas suas vitórias. Ninguém luta com mil homens, se não acreditar que existe um Deus todo poderoso ao seu lado.

Outra cena marcante na vida Sansão, foi sem dúvida a sua prisão e consequentemente a perda de seus olhos. Mesmo neste estado deplorável que encontra-se, ele teve fé, para crer em um Deus que pode tudo. Sansão consegue sem seu olhos, fazer aquilo que muito de nós não conseguimos quando estamos em meio a aflição. Crer, que mesmo sem os olhos, pernas, braços ou na ânsia da morte, Deus pode nos dar uma vitória bem maior do que antes, quando tínhamos olhos e membros. Juizes 16:26 “Então, Sansão clamou ao Senhor e disse: Senhor Jeová, peço-te que te lembres de mim e esforça-me agora, só esta vez, ó Deus, para que de uma vez me vingue do filisteus, pelo meus dois olhos”.

O teológo Vincent Chong em seu livro “Sansão e Fé” , pág., 43, fala sobre a fé que fez de Sansão o grande homem comparado com os grandes heróis da bíblia:

“Apesar de tudo o que Sansão tinha e como ele estava, e quando a situação parecia final, ele ainda tinha fé para crer que Deus podia operar através dele. Que poder deve ter estado em Sansão, pela graça soberana de Deus, para ele ter este tipo de fé perseverante! Esse tipo de fé é raro mesmo em cristãos professos, que tem o todo da escritura para convencer-lhes da misericórdia de Deus. Não é de se admirar que embora Sansão seja frequentemente retratado de maneira negativa, Deus, pelo contrário, o honrou colocando o seu nome juntamente com o de Abrão, Noé, Moisés, Davi e outros homens e mulheres fiéis de Hebreus 11. O mundo não é digno de alguém que entende e crê na graça soberana de Deus.

Se você olhar para vida de Sansão somente no contexto de seu relacionamento com Dalila, você não entenderá a sua grandeza. Mas se você contemplá-lo a partir da perspectiva de Hebreus 11 – como um homem de fé – você chegará a entender porque Deus o aprovou, tendo misericórdia concedendo-lhe fé na graça soberana, mediante falhas e fracasso”.
Prudência

A Bíblia nos diz em Mateus 10:16 “Portanto sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas”. O que faltou para Sansão, depois de vinte anos de liderança, é o que acontece com boa parte daqueles que com o decorrer do tempo acreditam que sabe tudo sobre Deus, e não tem nada para aprender. Não aceita conselhos, acredita nas suas próprios forças, e esquece os votos que fez no passado com Deus. Sendo que no auge do sucesso, com sua liderança consolida, é neste momento que aparecem as propostas tentadoras. Dalila com sua voz mansa e suave, representa justamente toda a beleza que o mundo pode oferecer. E não sejamos hipócrita, o mundo, assim como Dalila, é belo. Ou seja, o pecado não é feio quando apresentado na forma da bela Dalila.

A questão é qual o preço a pagar para que se tenha o encanto passageiro de Dalila. A resposta é a mesma que Sansão teve, ou seja, olhos arrancados. Este foi o preço que Sansão pagou no auge do sucesso. Ao ceder aos encantos de Dalila, Sansão cometeu o maior crime que o homem pode cometer. Deixar de ouvir a voz de Deus e seguir os seus próprios caminhos. De tudo que se fala de Sansão, o único erro realmente passível de punição foi a quebra do pacto de nazireu, ou seja, revelar o segredo de Deus a Dalila. Ao fazê-lo, Sansão quebra a confiança que Deus havia depositado nele. É interessante que este único erro cometido por Sansão, é determinante para a sua vida.

Sendo assim, é de suma importância que possamos tirar um exemplo dessa história entre Sansão e Dalila. De que é preciso estar atentos, e não perdermos de vista o propósito que Deus tem para nós. Muitos tem caído como Sansão caiu, e nas mesmas condições que Sansão encontrava-se. A astuta Dalila tem se apresentado para homens fortes como Sansão, e muitos não consegue resistir aos seus encantos e tem violado o pacto que fizeram com o grande Deus. E o mais triste é que nem todos tem a fé que Sansão teve, para dar a volta por cima. Acabando cegos e humilhados pelo mundo.

Conclusão

Segundo Morris (pág. 374), uma das Joias do Novo Testamento é a galeria de retratos de homens e mulheres de fé em Hebreus 11. Ela representa o tipo de literatura que louvava os heróis do passado, do qual um exemplo bem conhecido é o que começa com: “Elogiemos os homens ilustres..” ([5]Eclesiástico 44.1-50.21). Mas enquanto Eclesiástico estava preocupado em escolher pessoas (Heróis) com qualidades variáveis, Hebreus no entanto, demonstra estar preocupado tão somente com a fé.

O autor aos Hebreus vê na fé a certeza das coisas que esperam, e prova das coisas que não se veem. (Heb. 11.1). È a confiança em um futuro desconhecido, mas ao mesmo tempo comprometido com a certeza de que Deus fará dos que confiam nEle vencedores. Por ela os antigos alcançaram bom testemunho (Heb. 11.2). Em todo o capítulo 11, os leitores são convidados a depositarem incondicionalmente sua confiança em um Deus criador e independente da situação que possa acontecer, Ele sempre continua no comando de tudo. O autor nos convida a sermos imitadores dos que pela fé e paciência herdaram as promessas (Heb.6:12).

É nesse cenário retratado pelo autor de Hebreus, onde a fé é o grande diferencial, onde grandes homens mudaram o curso deste mundo. Venceram reis, atravessaram o mar, o fogo, e derrubaram muros. E neste cenário estão homens como: Enoque, Noé, Abrão, Isaque, Jacó, José , Moisés, Gideão e Sansão. Juntos praticaram a justiça e alcançaram a promessa.(Heb. 11:33).

Sansão, nos deixa um grande legado que é sua confiança incondicional no nosso Deus. A falta dos olhos, que poderia ser um grande obstáculo para cada um de nós, é visto por Sansão, como uma nova oportunidade. “Fortalece-me agora só uma vez, ó Deus, para que eu vingue dos filisteus” (Heb. 16:28). O que faz de Sansão um dos grandes homens da fé, é justamente sua confiança em Deus. Para ele, não existe impossível para os que os creem. Sendo assim, ele tem confiança suficiente, para acreditar que mesmo sem os seus olhos, Deus poderiam lhe dar uma vitória bem maior do que antes. “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, porque é necessário que aqueles que aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que buscam.” ( Heb. 11:6) .

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sans%C3%A3o_(B%C3%ADblia)

http://www.estudosdabiblia.net/d118.htm

http://www.watchtower.org/t/20050315/article_01.htm

http://www.estudosnovotempo.com.br/sansao/

http://www.infopedia.pt/$sansao-e-dalila

http://www.ibsweb.com.br/ipsw3/index.php?option=com_content&view=article&id=299:pastoral-190607&catid=49:pastorais&Itemid=72

http://www.icnvcg.com.br/audio/pdf/estudopanoramicodabiblia(9-olivrodejuizes).pdf

http://www.priberam.pt/dlpo/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tribo_de_D%C3%A3

http://pt.wikipedia.org/wiki/Zor%C3%A1

http://www.webservos.com.br/gospel/estudos/estudos_show.asp?id=2547

http://www.respondi.com.br/2005/06/deus-induz-algum-pecar.html

http://www.bible-facts.info/comentarios/vt/juizes/Sansao.htm

http://www.apostolas.org.br/2010/capela/biblia/antigo/Sapienciais/Eclesiastico.pdf

http://pt.wikipedia.org/wiki/Eclesi%C3%A1stico

CHEUNG, Vincente – “Sansão e Fé” – Publicado Originalmente por Reformation Ministries Intenacional (www.rmiweb.org) – PO Box 15662, Boston, MA 02215, USA
SCHUTZ, J. Schultz –A História de Israel no Antigo Testamento – Edições Vida Nova – São Paulo – SP
MORRIS, Leon – Teologia do Novo Testamento: tradução Hans Udo Fuchs – São Paulo: Edições Vida Nova, 2003.

http://www.artigos.com/artigos/humanas/religiao/sansao-nao-era-um-verdadeiro-nazireu-7693/artigo/

http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_16280/artigo_sobre_o_que_a_biblia_n%C3%83o_diz_(4)

[1]Portela, Simão Dias. MBA em Planejamento e Gestão Estratégica (FACINTER) e Mestre em Teologia (ESUTES)
[2]O Rev. Dr. Paulo de Aragão Lins é autor de vários livros, quase todos versando sobre a Bíblia, seu assunto favorito. É jornalista, conferencista em todos os Estados brasileiros, em vários países das três Américas e em toda a Europa Ocidental. Em 1999 recebeu a “International Medal of Honor” da Universidade de Cambridge
[3]No Antigo Testamento, palavras como “adultério”, “imoralidade sexual”, “prostituta” e “infidelidade”, podem ter um significado literal ou um significado espiritual. A lei mosaica determinava a pena de apedrejamento de quem fosse pego praticando o adultério. Entretanto, como a lei de Moisés admitia a poligamia masculina, a configuração do delito era geralmente caracterizada quando uma mulher casada mantinha relações com um outro homem que não fosse o seu marido. Ou seja, não era considerado adultério, um homem ter relações sexuais com uma mulher, até mesmo uma prostituta, desde que ela fosse solteira.
[4]Por derrotas entendem-se quando Sansão quebrou o pacto de Nazireu, cedendo aos caprichos da sedutora Dalila. “e raspou-lhe as sete tranças do cabelo de sua cabeça..” Juízes 16:19
[5]Eclesiásticoou Sirácida é um dos livros deuterocanônicos da Bíblia,de composição atribuída a Jesus filho de Sirach (Jesus Ben Sirac ou Ben Sirá, ou, em grego Sirácida ). O livro, formado por reflexões pessoais do autor, era comumente lido em templos cristãos, aliás o nome Eclesiástico (Livro da Igreja ou da Assembléia[) provém do uso oficial que a Igreja faz desse livro, em contraposição à Sinagoga judaica, que não o aceita como Palavra de Deus, tal designação vem desde da época de São Cipriano de Cartago. O livro foi originalmente escrito em hebraico, entre 190 e 124 AC possui 51capítulos e, posteriormente, foi traduzido para o grego por um neto de Jesus filho de Sirach, em 123 AC. http://pt.wikipedia.org/wiki/Eclesi%C3%A1stico

06-06-16 013

Rev. Ângelo Medrado, Bacharel em Teologia, Doutor em Novo Testamento, referendado pela International Ministry Of Restoration-USA e Multiuniversidade Cristocêntrica é presidente do site Primeira Igreja Virtual do Brasil e da Igreja Batista da Restauração de Vidas em Brasília DF., ex-maçon, autor de diversos livros entre eles: Maçonaria e Cristianismo, O cristão e a Maçonaria, A Religião do antiCristo, Vendas alto nível, com análise transacional e Comportamento Gerencial.

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Três Surpresas para o cego Bartimeu –

Everson Barbosa

 

 

Texto Bíblico: Marcos 10.46-52

Introdução:

 – Jesus estava em Jericó. A grande multidão fazia contraste com o solitário e cego esmoler, sentado à beira da estrada.

– Jesus o notaria? Faria alguma coisa por ele? Já sabemos que assim seria.

– Jesus pararia. Ajudaria. Cuidaria daquele indivíduo miserável.

Que mensagem de esperança temos nesta passagem:

1 – Ele Para. (v.49ª).

– Movido de misericórdia. A fim de ministrar a um pobre miserável.

– Em Jesus encontramos: atenção, interesse, compaixão, simpatia e poder divino.

2 – Ele Chama. (v.49b).

Jesus está chamando ainda hoje! (Mt 11.28).

– Pelo nome. (Is 43.1; 45.4; Lc 19.5 – Zaqueu).

– De amigo. (Jo 15.15).

– O pecador ao arrependimento. (Mt 4.17).

– Para a vitória. (vv.49,51,52).

– O cego não deixaria nada atrapalhar seu caminho para chegar até Jesus.

Saltamos a fim de atender ao seu chamado e receber sua benção.

3 – Ele Ajuda. (vv.51,52).

Como?

Exemplos:
– Samuel. (1Sm 7.12). – “A pedra de ajuda.”

– Davi. (1Sm 23.28). – “A pedra de escape.”

– Israel. (Is 41.10). – “O sustento.”

Conclusão:

Se você clamar como o cego Bartimeu, O milagre pode acontecer a qualquer momento/

Fonte: Blog do Eloisio / Esboços de Sermões

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POR DENTRO DO CÉREBRO – Entrevista com Paulo Niemeyer Filho, neurocirurgião

CEREBROEnviado por Célio Duarte Faria

POR DENTRO DO CÉREBRO

O neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho conta os avanços nos tratamentos de doenças como o mal de Parkinson e como evitar aneurisma e perda de memória.
E projeta, ainda, o futuro próximo, quando boa parte do sistema neurológico estará sob controle do homem.
Chegar à casa do neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, no alto da Gávea, no Rio de Janeiro, é uma emoção. A começar pela vista deslumbrante da cidade, passando pelos macacos que passeiam pelos galhos até avistar as orquídeas que caem em pencas das árvores, colorindo todo o jardim.
Ou seja: a competência desse médico, com 33 anos de profissão, que dedica sua vida à medicina com a paixão de um garoto, pode ser contada em flores. E são muitas.
Filho do lendário neurocirurgião Paulo Niemeyer, pioneiro da
microneurocirurgia no Brasil, e sobrinho do arquiteto Oscar Niemeyer, Paulo escolheu a medicina ainda adolescente.
Aos 17 anos, entrou na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Quinze dias depois de formado, com 23 anos, mudou-se para a
Inglaterra, onde foi estudar neurologia na Universidade de Londres.
De volta ao Brasil, fez doutorado na Escola Paulista de Medicina. Ao todo, sua formação levou 20 anos de empenho absoluto.

Mas a recompensa foi à altura. Apaixonado por seu ofício, Paulo chefia hoje os serviços de neurocirurgia da Santa Casa do Rio de Janeiro e da Clínica São Vicente, onde atende e opera de segunda a sábado, quando não há uma emergência no domingo, e ainda encontra tempo para dar aulas no curso de pós-graduação em neurocirurgia na PUC-Rio.

Por suas mãos já passaram o músico Herbert Vianna – de quem cuidou em 2001, depois do acidente de ultraleve em Mangaratiba, litoral do Rio -, o ator e diretor Paulo José, a atriz Malu Mader e, mais recentemente, o diretor de televisão Estevão Ciavatta – marido da atriz Regina Casé que, depois de um tombo do cavalo, recupera-se plenamente -, além de centenas de outros pacientes, muitos deles representados pelas belas flores que enchem de vida o seu jardim.

Revista PODER: Seu pai também era neurocirurgião. Ele o influenciou?

PAULO NIEMEYER: Certamente. Acho que queria ser igual a ele, que era o meu ídolo.

PODER: Seu pai trabalhou até os 90 anos. A idade não é um complicador para um neurocirurgião? Ela não tira a destreza das mãos, numa área em que isso é crucial?

PN: A neurocirurgia é muito mais estratégia do que habilidade manual. Cada caso tem um planejamento específico e isso já é a metade do resultado. Você tem de ser um estrategista..

PODER: O que é essa inovação tecnológica que as pessoas estão chamando de marcapasso do cérebro?

PN: Tem uma área nova na neurocirurgia chamada neuromodulação, o que popularmente se chama de marcapasso, mas que nós chamamos de estimulação cerebral profunda. O estimulador fica embaixo da pele e são colocados eletrodos no cérebro, para estimular ou inibir o funcionamento de alguma área. Isso começou a ser utilizado para os pacientes de Parkinson. Quando a pessoa tem um tremor que não controla, você bota um eletrodo no ponto que o está provocando, inibe essa área e o tremor pára. Esse procedimento está sendo ampliado para outras doenças. Daqui a um ou dois anos, distúrbios alimentares como obesidade mórbida e anorexia nervosa vão ser tratados com um estimulador cerebral.Porque não são doenças do estômago, e sim da cabeça.

PODER: O que se conhece do cérebro humano?

PN: Hoje você tem os exames de ressonância magnética, em que consegue ver a ativação das áreas cerebrais, e cada vez mais o cérebro vem sendo desvendado.

Ainda há muito o que descobrir, mas com essas técnicas de estimulação você vai entendendo cada vez mais o funcionamento dessas áreas. O que ainda é um mistério é o psiquismo, que é muito mais complexo. Por que um clone jamais será igual ao original?

Geneticamente será a mesma coisa, mas o comportamento depende muito da influência do meio e de outras causas que a gente nunca vai desvendar totalmente.

PODER: Existe uma discussão entre psicanalistas e psiquiatras, na qual os primeiros apostam na melhora por meio da investigação da subjetividade, e os últimos acreditam que boa parte dos problemas psíquicos se resolve com remédios.. Qual é sua opinião?

PN: Há casos de depressão que são causados por tumores cerebrais: você opera e o doente fica bem. Há casos de depressão que são causados por deficiência química: você repõe a química que está faltando e a pessoa fica bem. Numa época em que se fazia psicocirurgia existiam doentes que ficavam trancados num quarto escuro e quando faziam a cirurgia se livravam da depressão e nunca mais tomavam remédio. E há os casos que são puramente psíquicos,emocionais, que não têm nenhuma indicação de tomar remédio.

PODER: Já existe alguma evolução na neurologia por causa das células-tronco?

PN: Muito pouco. O que acontece com as células-tronco é que você não sabe ainda como controlar. Por exemplo: o paciente tem um déficit motor, uma paralisia, então você injeta lá uma célula-tronco, mas não consegue ter certeza de que ela vai se transformar numa célula que faz o movimento. Ela pode se transformar em outra coisa, você não tem o controle, ainda.

PODER: Existe alguma coisa que se possa fazer para o cérebro funcionar melhor?

PN: Você tem de tratar do espírito. Precisa estar feliz, de bem com a vida, fazer exercício. Se está deprimido, com a autoestima baixa, a primeira coisa que acontece é a memória ir embora; 90% das queixas de falta de memória são por depressão, desencanto, desestímulo. Para o cérebro funcionar melhor, você tem de ter motivação. Acordar de manhã e ter desejo de fazer alguma coisa, ter prazer no que está fazendo e ter a autoestima no ponto.

PODER: Cabeça tem a ver com alma?

PN: Eu acho que a alma está na cabeça. Quando um doente está com morte cerebral, você tem a impressão de que ele já está sem alma… Isso não dá para explicar, o coração está batendo, mas ele não está mais vivo.

PODER: O que se pode fazer para se prevenir de doenças neurológicas?

PN: Todo adulto deve incluir no check-up uma investigação cerebral. Vou dar um exemplo: os aneurismas cerebrais têm uma mortalidade de 50% quando rompem, não importa o tratamento. Dos 50% que não morrem, 30% vão ter uma sequela grave: ficar sem falar ou ter uma paralisia. Só 20% ficam bem. Agora, se você encontra o aneurisma num checkup, antes dele sangrar, tem o risco do tratamento, que é de 2%, 3%. É uma doença muito grave, que pode ser prevenida com um check-up.

PODER: Você acha que a vida moderna atrapalha?

PN: Não, eu acho a vida moderna uma maravilha. A vida na Idade Média era um horror. As pessoas morriam de doenças que hoje são banais de ser tratadas. O sofrimento era muito maior. As pessoas morriam em casa com dor. Hoje existem remédios fortíssimos, ninguém mais tem dor.

PODER: Existe algum inimigo do bom funcionamento do cérebro?

PN: O exagero. Na bebida, nas drogas, na comida. O cérebro tem de ser bem tratado como o corpo. Uma coisa depende da outra. É muito difícil um cérebro muito bem num corpo muito maltratado, e vice-versa.

PODER: Qual a evolução que você imagina para a neurocirurgia?

PN: Até agora a gente trata das deformidades que a doença causa, mas acho que vamos entrar numa fase de reparação do funcionamento cerebral, cirurgia genética, que serão cirurgias com introdução de cateter, colocação de partículas de nanotecnologia, em que você vai entrar na célula, com partículas que carregam dentro delas um remédio que vai matar aquela célula doente. Daqui a 50 anos ninguém mais vai precisar abrir a cabeça.

PODER: Você acha que nós somos a última geração que vai envelhecer?

PN: Acho que vamos morrer igual, mas vamos envelhecer menos. As pessoas irão bem até morrer. É isso que a gente espera. Ninguém quer a decadência da velhice. Se você puder ir bem de saúde, de aspecto, até o dia da morte, será uma maravilha, não é?

PODER: Você não vê contraindicações na manipulação dos processos naturais da vida?

PN: O que é perigoso nesse progresso todo é que, assim como vai criar novas soluções, ele também trará novos problemas. Com a genética, por exemplo, você vai fazer um exame de sangue e o resultado vai dizer que você tem 70% de chance de ter um câncer de mama. Mas 70% não querem dizer que você vai ter, até porque aquilo é uma tendência. Desenvolver depende do meio em que você vive, se fuma, de muitos outros fatores que interferem. Isso vai criar um certo pânico. E, além do mais, pode criar problemas, como a companhia de seguros exigir um exame genético para saber as suas tendências. Nós vamos ter problemas daqui para frente que serão éticos, morais, comportamentais, relacionados a esse conhecimento que vem por aí, e eu acho que vai ser um período muito rico de debates.

PODER: Você acredita que na hora em que as pessoas puderem decidir geneticamente a sua hereditariedade e todo mundo tiver filhos fortes e lindos, os valores da sociedade vão se inverter e, em vez do belo, as qualidades serão se a pessoa é inteligente, se é culta, o que pensa?

PN: Mas aí você vai poder escolher isso também. Esse vai ser o problema: todo mundo vai ser inteligente. Isso vai tirar um pouco do romantismo e da graça da vida. Pelo menos diante do que a gente está acostumado. Acho que a vida vai ficar um pouco dura demais, sob certos aspectos. Mas, por outro lado, vai trazer curas e conforto.

PODER: Hoje a gente lida com o tempo de uma forma completamente diferente. Você acha que isso muda o funcionamento cerebral das pessoas?

PN: O cérebro vai se adaptando aos estímulos que recebe, e às necessidades. Você vê pais reclamando que os filhos não saem da internet, mas eles têm de fazer isso porque o cérebro hoje vai funcionar nessa rapidez. Ele tem de entrar nesse clique, porque senão vai ficar para trás. Isso faz parte do mundo em que a gente vive e o cérebro vai correndo atrás, se adaptando.

PODER: Já aconteceu de você recomendar um procedimento e a pessoa não querer fazer?

PN: A gente recomenda, mas nunca pode forçar. Uma coisa é a ciência, e outra é a medicina. A pessoa, para se sentir viva, tem de ter um mínimo de qualidade. Estar vivo não é só estar respirando. A vida é um conjunto. Há doentes que preferem abreviar a vida em função de ter uma qualidade melhor. De que adianta ficar ali, só para dizer que está vivo, se o sujeito perde todas as suas referências, suas riquezas emocionais, psíquicas. É muito difícil, a gente tem de respeitar muito.

PODER: Como é o seu dia a dia?

PN: Eu opero de segunda a sábado de manhã, e de tarde atendo no consultório. Na Santa Casa, que é o meu xodó, nós temos 50 leitos, só para pessoas pobres. Eu opero lá duas vezes por semana. E, nos outros dias, na Clínica São Vicente. O que a gente mais opera são os aneurismas cerebrais e os tumores. Então, é adrenalina todo dia. Sem ela a gente desanima e o cérebro funciona mal. (risos)

PODER: Você é workaholic?

PN: Não é que eu trabalhe muito, a minha vida é aquilo. Quando viajo, fico entediado. Depois de alguns dias, quero voltar. Você perde a sua referência, está acostumado com aquela pressão, aquele elástico esticado.

PODER: Como você lida com a impotência quando não consegue salvar um paciente?

PN: É evidente que depois de alguns anos, a gente aprende a se defender. Mas perder um doente faz mal a um cirurgião. Se acontece, eu paro com o grupo para discutir o que se passou, o que poderia ter sido melhor, onde foi a dificuldade. Não é uma coisa pela qual a gente passe batido. Se o cirurgião acha banal perder um paciente é porque alguma coisa não está bem com ele mesmo.

PODER: Como você lida com as famílias dos seus pacientes?

PN: Essa relação é muito importante. As famílias vão dar tranquilidade e confiança para fazer o que deve ser feito. Não basta o doente confiar no médico. O médico também tem de confiar no doente. E na família. Se é uma família que cria caso, que é brigada entre si, dividida, o cirurgião já não tem a mesma segurança de fazer o que deve ser feito. Muitas vezes o doente não tem como opinar, está anestesiado e no meio de uma cirurgia você encontra uma situação inesperada e tem de decidir por ele. Se tem certeza de que ele está fechado com você, a decisão é fácil. Mas se o doente é uma pessoa em quem você não confia, você fica inseguro de tomar certas decisões. É uma relação bilateral, como num casamento. Um doente que você opera é uma relação para o resto da vida.

Poder: Você acredita em Deus?

PN: Geralmente depois de dez horas de cirurgia, aquele estresse, aquela adrenalina toda, quando você acaba de operar, vai até a família e diz: “Ele está salvo”. Aí, a família olha pra você e diz: “Graças a Deus!”. Então, a gente acredita que não fomos apenas nós.

PODER: Como você relaxa?

PN: Estudando. A coisa que mais gosto de fazer é ler. Sábado e domingo, depois do almoço, gosto de sentar e ler, ficar sozinho em silêncio absoluto.

PODER: E o que gosta de ler?

PN: Sobre medicina ou história. Agora estou lendo um livro antigo, chamado Bandeirantes e Pioneiros, do Vianna Moog, no qual ele compara a colonização dos Estados Unidos com a do Brasil. E discute por que os Estados Unidos, com 100 anos a menos que o Brasil, tiveram um enriquecimento e um progresso tão rápidos. Por que um país se desenvolveu em progressão geométrica e o outro em progressão aritmética.