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IGREJAS EMERGENTES

LIDERANÇA

 

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Evitar associar-se a uma igreja num grau maior de compromisso é o que almejam

Por: Marcos Granconato

     Considerem-se agora, especificamente, as igrejas emergentes ultra informais. Conforme se viu, os proponentes desse modelo entendem que qualquer grau de institucionalização deve ser evitado na igreja, a fim de que o formato neotestamentário seja preservado.

     A pergunta que a análise crítica dessa proposta levanta é a seguinte: qual é exatamente o formato eclesiástico presente no Novo Testamento que essas igrejas pretendem preservar? Sim, pois, desde o evento de Pentecostes (c. 30 AD) até a composição do Livro de Apocalipse (c. 90 AD), ou seja, ao longo de um período de aproximadamente sessenta anos, a igreja primitiva desenvolveu uma estrutura de funcionamento que passou de um alto grau de informalidade para a fixação de um modelo institucional comparativamente complexo, criado a partir das necessidades que as circunstâncias foram impondo com o passar do tempo.

     Assim, se no ano 30 AD tudo que havia era a liderança dos apóstolos, dedicados somente à oração e ao ministério da Palavra (At 6.4), naquele mesmo tempo surgiu um grupo eleito pela comunidade cuja responsabilidade era cuidar das mesas das viúvas (At 6.1-6). Já a partir daqui pode-se ver o germe da institucionalização, com a prática do voto por parte dos membros (At 6.3,5) e a criação de um grupo autorizado para a realização de funções distintas (At 6.6). Em termos de organização, portanto, a igreja de Atos 6 é diferente da igreja de Atos 2!

     E as mudanças continuaram. Ao fim da Primeira Viagem Missionária (c. 47 AD), as igrejas fundadas por Paulo e Barnabé assumiram um formato diferente daquele inicialmente visto em Jerusalém. Com efeito, nas novas comunidades, o povo também aparece votando, dessa vez, porém, para escolher presbíteros (At 14.23).

     Logo em seguida, em cerca de 48 AD, a liderança eclesiástica apostólica, tão ligada ao modelo informal da igreja recém-inaugurada, começou a dar sinais de declínio. A supremacia da voz do bispo Tiago, pondo fim aos debates do Concílio de Jerusalém (At 15.1-29), talvez marque o início do fim da primazia dos apóstolos como chefes absolutos da igreja local. Essa percepção parece ser válida porque no Concílio de Jerusalém estavam presentes Pedro (até então o líder máximo da comunidade cristã em Jerusalém) e Paulo, ambos apóstolos. No entanto, o destaque da narrativa de Atos recai sobre a participação de Tiago (At 15.13-21), um pastor cujo parecer foi acatado na íntegra pela assembleia, que novamente participou das decisões por meio do voto (At 15.22).

     Vê-se assim a ascensão da figura do bispo. Recorde-se ainda que, cerca de dez anos depois, quando viajava para Jerusalém, Paulo dirigiu-se aos presbíteros de Éfeso (um grupo também denominado “presbitério”, cf. 1Tm 4.14), apontando-os como os líderes legítimos da igreja (At 20.17,28). Ora, a convocação de um concílio, a promoção de eleições em assembleia e a formação de presbitérios nas igrejas locais dão sinais óbvios da lenta institucionalização da igreja, menos de trinta anos depois da sua fundação.

     Componentes que marcam a igreja do Novo Testamento como uma instituição bem organizada podem ser encontrados também nas epístolas. Por exemplo, Filipenses 1.1 mostra que o grupo que, por volta de 30 AD, foi eleito para servir as mesas das viúvas (At 6.1-6), em cerca de 61 AD, transformou-se num conselho de oficiais da igreja, ao lado dos bispos e distinto da comunidade como um todo.

     Torna-se, assim, evidente que aquela equipe voltada apenas para o trabalho assistencial, num período aproximado de trinta anos, galgou uma posição eclesiástica mais elevada. Aliás, os “diáconos”, como passaram a ser chamados, começaram a exercer um papel tão sério como líderes que, em cerca de 66 AD, Paulo escreveu a Timóteo dizendo que os mesmos requisitos impostos a quem desejasse ser bispo deveriam também ser exigidos dos que quisessem ser diáconos. A única exceção parece ter sido a aptidão para ensinar (1Tm 3.8-13).

     Ademais, é impossível fazer alusão às Epístolas Pastorais (1 e 2 Timóteo e Tito), sem lembrar que essas cartas, escritas em meados da década de 60, não somente mostram uma liderança institucional na igreja (1Tm 3.1-13; 5.22; Tt 1.5-9), como também revelam a fixação de uma liturgia (1Tm 2.1; 4.13-14), além de regras de funcionamento que os crentes deveriam observar a fim de que se comportassem adequadamente na “Casa de Deus” (1Tm 3.14-15). Na organização mais complexa que já havia por volta de 66 AD há até uma ordem de viúvas, na qual as participantes só podiam ser inscritas se preenchessem certos requisitos enumerados pelo apóstolo (1Tm 5.9-12). As mulheres inscritas nessa ordem receberiam provisão material da igreja.

     Quanto ao modelo de liderança eclesiástica centralizado na figura de um só pastor, padrão tão comum em nossos dias, é possível vislumbrar seu embrião já nos tempos do Novo Testamento. De fato, a figura do “bispo monárquico”, que tanto marcou a igreja a partir do século 2, pode encontrar suas raízes nos pastores das sete igrejas do Apocalipse (caps. 2-3), cada um atuando como líder máximo de uma comunidade cristã específica (Ap 1.20).

     Quão diferentes são, portanto, as igrejas do Novo Testamento quando observados os diferentes estágios em que se encontram no seu lento processo de organização. Realmente, a igreja de Jerusalém, sob a liderança de Pedro, é marcada por quase completa informalidade. A de Éfeso, porém, debaixo da autoridade de Timóteo, tem todos os traços de uma instituição religiosa madura, com um presbitério, um conselho de diáconos, um processo fixo para a formação e investidura de líderes, um conjunto de regras objetivas de funcionamento, normas relativas ao culto e uma associação formalmente organizada de mulheres carentes.

     Assim, é vazia a crítica das igrejas emergentes ultrainformais, não havendo nada de antibíblico no modelo de funcionamento de igreja como instituição. Além disso, ao que parece (e a experiência aponta nessa direção), os defensores da plena informalidade não estão realmente interessados em reconstruir o modelo neotestamentário. Tudo indica que o que verdadeiramente almejam é evitar associar-se a uma igreja num grau maior de compromisso, livrando-se, inclusive, dos incômodos de viver sob a autoridade eclesiástica instituída pelo próprio Deus. O fato é que a busca da informalidade pode ser, na verdade, a fuga da responsabilidade.

Data: 2/8/2011 09:12:15

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Cultos Estudos

O PERIGO DO EVANGELHO COOL


TEOLOGIA

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Movimentos como Igreja Emergente tentam impedir êxodo da juventude

Por: McCracken Brett, no Wall Street Journal

“Como podemos parar o vazamento de petróleo?” pode ter sido a grande pergunta deste verão para a maioria dos norte-americanos. Para muitos pastores e líderes evangélicos, o acidente da BP não é nada quando comparado à ameaça representada por um outro vazamento contínuo, mas de um tipo diferente: jovem saindo das igrejas, para nunca mais voltar.

Sendo um evangélico de 27 anos de idade, entendo a preocupação deles. A maioria das pessoas da minha geração, muitos dos quais cresceram na igreja, estão perdendo o interesse pelo cristianismo que conhecem.

Estatísticas como essa criaram uma espécie de tendência nos últimos anos,enquanto os líderes evangélicos atuais tentam descobrir onde foi que erraram (e por que as grandes igrejas não se esforçaram para continuar atraindo a juventude?). Ao mesmo tempo, os líderes tentam elaborar um plano para manter os membros mais jovens envolvidos na vida da igreja.

Há um êxodo crescente de jovens das igrejas, especialmente depois que saem de casa e vão morar sozinhos. Em um estudo de 2007, a Lifeway relatou que 70% dos jovens evangélicos adultos (entre 18 e 22) pararam de frequentar a igreja regularmente.

Cada vez mais, esse “plano” parece ter tomado a forma de uma reformulação total da imagem, e o esforço maior é para repaginar o cristianismo, mostrando que pode ser algo como moderno, relevante e contracultural. O resultado disso foi que, no início dos anos 2000, surgiu algo chamado “igreja emergente” – um tipo de ataque pós-moderno ao movimento da Reforma Protestante. Talvez porque era radical demais na exigência que “devemos repensar tudo”, acabou fracando rapidamente. Mas o impulso por trás desse movimento – reabilitar a imagem do cristianismo e torná-lo cool – continua existindo.
 Os perigos do cristianismo querer ser “descolado”

Existem várias maneiras como as igrejas tentam parecer cool. Para alguns, significa a tentativa de parecer culturalmente engajada. O pastor gosta de citar Stephen Colbert ou fazer referências a Lady Gaga durante o sermão, ou uma igreja fecha um cinema para exibir ao seus membros o filme violento “Onde os Fracos não tem Vez”. Para outros, a ênfase está em ter uma aparência moderna, talvez dando ao pastor uma aparência metrossexual, com jeans apertados e um corte de cabelo de oitenta dólares. Há quem prefira insistir no uso de papel reciclado e apenas fontes Helvetica em todo o material impresso que produz. A opção de outro grupo é realizar um culto em um bar ou uma discoteca como é o caso da Mosaic, igreja de Los Angeles cujos cultos no centro da cidade ocorrem num espaço que à noite é usado  por um clube noturno conhecido como Club Mayan.

capa do livro de McCracken, lançado este mês

O cristianismo que “deseja parecer cool” também manifesta-se em sua obsessão de estar na vanguarda tecnológica. Igrejas como a Central Christian, de Las Vegas, e a Liquid Church, em New Brunswick, Nova Jersey, por exemplo, fazem cultos on line, onde as pessoas podem ter uma experiência de adoração em um iTemplo “. Muitas outras igrejas estão incentivando a interação com o pastor durante os cultos por SMS, Twitter e iPhone.

Um dos métodos mais populares – e sem dúvida o mais estranho – de fazer o cristianismo parecer legal é transformá-lo em algo chocante. Que melhor maneira de atrair as gerações mais jovens do que forçar a barra e chegar onde nenhum fundamentalista esteve antes?

Sexo é uma tática bastante popular para fazer algo ser chocante. Livros escritos por evangélicos com títulos como “Sex God” (de Rob Bell) e “Real Sexo” (de Lauren Winner) são bons exemplos disso nestes dias. Ao mesmo tempo, muitas igrejas estão encontrando maneiras criativas de usar temas truques de marketing envolvendo sexo para atrair pessoas à igreja.

A igreja Oak Leaf, de Cartersville, Georgia, criou um site chamado yourgreatsexlife.com[suagrandevidasexual.com] para despertar o interesse dos jovens. A igreja Flamingo Road, na Flórida, criou uma espécie de confessionário anônimo online (IveScrewedUp.com)[piseinabola.com], e teve uma série na web chamada MyNakedPastor.com[meupastornu.com], espécie de reality show que deixava a webcam ligada o dia inteiro, mostrando cinco semanas de vida do seu pastor, Troy Gramling. Depois, há Mark Driscoll, da igreja Mars Hill em Seattle – que criou uma série de vídeos online com perguntas e respostas, mostrando partes de cultos onde responde a perguntas de pessoas da igreja, sobre temas como “o sexo oral na Bíblia” e “como dar prazer ao seu esposo.”

Mas são esses truquezinhos realmente irão trazer os jovens de volta para a igreja?É para isso que as pessoas realmente vêm à igreja? Talvez sermões sobre sexo e rock louvor com música alternativa ajudem a reunir mais pessoas na porta to templo, e talvez até mesmo gerem novos convertidos. Mas a que tipo de cristianismo eles estão se convertendo?

Em seu livro, “The courage to be protestant” [A Coragem de ser protestante], David Wells escreve: “A igreja convertida e que usa o marketing entendeu que, se não fizesse adaptações culturais sérias e profundas, iria acabar fechando as portas, especialmente por causa  das gerações mais jovens. O que não eles não pensaram com cuidado suficiente é que assim eles podem estar fechando as portas com Deus. “A ironia maior”, acrescenta, “é que as gerações mais jovens, menos impressionadas com a tecnologia estrondosa, e que muitas vezes vê o que está além de uma capa colorida e bonita, já são alvos do marketing o suficiente para enjoar dele , estão mais  suscetíveis a se afastar dessas igrejas tão relevantes do que a entrar nelas. ”

Se a liderança cristã evangélica pensa que “o cristianismo cool” é um caminho sustentável para o futuro, estão muito enganados. Como representante de uma geração dos vinte e poucos anos, posso dizer com certeza que quando se trata de  igreja, não queremos algo cool, queremos algo verdadeiro.

Se temos interesse no cristianismo, com alguma seriedade, não é porque é algo fácil, está na moda ou é popular. É porque o próprio Jesus é atraente, e que ele diz parece verdadeiro. É porque o mundo em que vivemos é completamente falso, efêmero, narcisista, obcecado pela imagem e encharcado de sexo. Queremos uma alternativa. Não é porque queremos mais do mesmo.

Fonte: Tradução e edição: Jarbas Aragão/Pavablog