Categorias
Noticias

Protesto entre Síria e Israel deixa pelo menos 20 mortos e 325 feridos

5/06/2011 – 16h13

 

DA EFE, EM JERUSALÉM

Pelo menos 20 manifestantes sírios e palestinos morreram neste domingo e outros 325 ficaram feridos por disparos de soldados israelenses quando tentavam atravessar a fronteira entre Síria e Israel, segundo a televisão estatal síria, durante o 44º aniversário da Guerra dos Seis Dias de 1967, conhecido no mundo árabe como a Naksa (ou "dia da derrota").

Os fatos mais violentos ocorreram neste meio-dia na fronteira entre Israel e Síria, quando um grupo de manifestantes tentou atravessar a divisa para entrar em Golã, território que o Estado judeu ocupou dos sírios na disputa relembrada neste domingo.

A televisão síria mostrou imagens de centenas de cidadãos que se concentraram junto à fronteira com bandeiras palestinas e que em alguns pontos conseguiram retirar a cerca de arame farpado que separa ambos países chegando a passar para o lado controlado por Israel.

Os participantes do protesto, muitos deles palestinos, se reuniram no início do dia na chamada "colina dos gritos", contígua com a localidade Drusa de Majdal Shams, nas ocupadas Colinas do Golã, onde pela tarde também se registraram distúrbios.

Porta-vozes do Exército israelense disseram que seus soldados, milhares dos quais se encontravam mobilizados na zona, "efetuaram disparos ao ar e advertências verbais" para impedir que os manifestantes se aproximassem à divisória.

Quando os concentrados se aproximaram da cerca, abriram fogo contra as extremidades inferiores, agregaram as fontes militares.

Fontes médicas sírias disseram que vários internados foram vítimas de disparos diretos e que alguns feridos estavam em estado grave.

As forças israelenses empregaram gás lacrimogêneo e mandaram atiradores de elite próximo do alambrado que separa ambos territórios.

Cerca de 12 simpatizantes com a causa palestina morreram nas fronteiras de Israel com a Síria e Líbano em 15 de maio, dia que os palestinos e o mundo árabe qualificam da "nakba" (tragédia) que marca para eles a criação do Estado de Israel, em 1948.

Há 44 anos se iniciou a denominada Guerra dos Seis Dias, na que Israel ocupou a Península do Sinai e a Faixa de Gaza ao Egito, as Colinas do Golã à Síria, e Cisjordânia e Jerusalém Oriental à Jordânia. Os soldados dispersaram a concentração com gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e balas de borracha, em um enfrentamento que durou pelo menos três horas. Houve dois feridos graves palestinos e outros 37 com ferimentos leves, segundo a agência Ma’an.

Categorias
Noticias

Autoridade Palestina aceita proposta de conferência

 

Organização vai a Paris, em julho, para tentar reviver as negociações de paz com Israel; governo israelense ainda não respondeu ao convite

04 de junho de 2011 | 15h 13

Agência Estado

A Autoridade Palestina aceitou neste sábado, sem condições, o convite feito pela França para comparecer a uma conferência em Paris, em julho, para tentar reviver as negociações de paz com Israel. O governo israelense ainda não respondeu ao convite.

Nabil Abu Rdeneh, assessor do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, disse que os palestinos estão preparados para enviar representantes à conferência de Paris e estão à espera das reações dos governos de Israel e dos EUA. O convite foi feito na última quinta-feira pelo ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, durante visita ao Oriente Médio.

A Autoridade Palestina tem se recusado a retomar conversações com Israel devido à insistência do governo israelense em continuar a promover a construção de assentamentos exclusivamente para judeus em terras palestinas. Ao mesmo tempo, os palestinos vêm se preparando para pedir que a Assembleia Geral da ONU, que se reúne em setembro, reconheça um Estado palestino mesmo que nenhum acordo de paz com Israel tenha sido alcançado.

Há duas semanas, o presidente dos EUA, Barack Obama, tentou atrair os palestinos de volta às conversações com Israel ao propor que as fronteiras de Israel anteriores à Guerra dos Seis Dias, de 1967, deveriam servir de base para futuras negociações para o estabelecimento de um Estado palestino. Embora essas sejam as fronteiras reconhecidas pela ONU e também tenham sido a base de todas as conversações de paz realizadas até agora, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, rejeitou qualquer possibilidade de aceitar a proposta de Obama. As informações são da Associated Press.



Tópicos: Autoridade Palestina, Proposta, Conferência, França, Internacional, Geral

Categorias
Noticias

Obama autoriza os piores impulsos de Israel

 

Discurso do presidente dos EUA no American Israel Public Affairs Committee repetiu cada ponto retórico importante para o atual governo israelense

28 de maio de 2011 | 16h 00

Rashid Khalidi – Salon.com

Reza o velho provérbio árabe que os cães ladram e a caravana passa. Os comentários de Barack Obama sobre o conflito israelense-palestino em seus discursos no Departamento de Estado e depois no American Israel Public Affairs Committee (Aipac) na semana retrasada causaram muito estardalhaço em Washington. Mas a sensação que tive estando em Beirute e no Golfo quando eles foram proferidos foi de que eles significaram muito menos para os árabes que em Washington ou Israel. Poucos no mundo árabe e entre palestinos acreditam que os Estados Unidos tenham um papel construtivo a jogar na solução desse conflito. Aliás, ao contrário, eles só conseguiram se tornar um empecilho maior do que antes ao progresso.

Baz Ratner/ Reuters

Baz Ratner/ Reuters

Trecho da controversa barreira israelense

Em ambos os discursos o presidente reafirmou uma posição tomada por todos os seus antecessores desde Lyndon Johnson: que os Estados Unidos consideram as fronteiras de 1967 a base para um acordo nos termos da Resolução 242 do Conselho de Segurança. Somente em Israel e no Congresso americano isso é considerado novidade, porque Obama não mencionou a concessão de George W. Bush a Ariel Sharon em 2004: "À luz de novas realidades no terreno, incluindo grandes centros populacionais israelenses já existentes, é irreal esperar que o resultado das negociações finais de status venham a ser um retorno pleno e completo às linhas do armistício de 1949". O discurso no Aipac reprisou essa importante concessão, ainda que numa forma ligeiramente menos completa, referindo-se somente a "novas realidades demográficas no terreno".

Deixando de lado essa provisão, o discurso repetiu cada ponto retórico importante do atual governo israelense:

– Um acordo deve envolver a aceitação palestina de "Israel como um Estado judeu e a pátria do povo judeu", o que significa que o 1,4 milhão de palestinos que viviam dentro de Israel devem permanecer cidadãos de segunda classe, ou pior, e que os palestinos precisam renunciar à ideia de que a totalidade da Palestina seja também sua pátria. A "pátria" dos palestinos seriam os fragmentos da Palestina Obrigatória pré-1948 que puderem ser salvos em negociações com Israel, presumivelmente, em torno de 20% do país.

– As "preocupações básicas de segurança" de Israel (nenhuma menção, é claro, à segurança dos palestinos, que mais precisam dela) devem ser um determinante chave de um acordo. Dada a maneira como são abrangentes e elásticos os requisitos de "segurança" israelense, isso basicamente significa que Israel pode contestar praticamente qualquer aspecto de um acordo com o qual não concorde.

– Ligada à aceitação das necessidades de segurança de Israel está a provisão de que um Estado palestino teria de ser "não militarizado". Como um acordo teria de "prover segurança eficaz de fronteiras", isso presumivelmente significa a aceitação da nova demanda do governo Netanyahu de continuar no controle do vale do Rio Jordão e, portanto, dessas fronteiras do "Estado" palestino, no futuro indefinido.

– Nenhum envolvimento do Hamas no processo, a menos que ele aceite precondições como a renúncia à violência e o reconhecimento de Israel antes das negociações, precondições que, nem seria preciso dizer, não são impostas ao outro lado. Dada a recente reconciliação interpalestina, isso descarta, na verdade, a possibilidade de negociações. No discurso do Aipac, essa condição é declarada de maneira ainda mais vigorosa que antes: a reconciliação interpalestina é descrita como "um enorme obstáculo à paz".

– Terá de haver um novo adiamento (após um adiamento de 20 anos por insistência de Israel, iniciado em Madri em 1991) no tratamento das questões centrais de refugiados e Jerusalém. Isso significa que Israel é livre para continuar a construir na Jerusalém Oriental árabe ocupada, expulsar o máximo possível de sua população palestina, mudar os nomes de lugares, apagar marcos históricos e, enfim, tornar a cidade tão judaica quanto Tunbridge Wells é inglesa.

– Não deverá haver nenhuma "deslegitimação" de Israel (uma adoção americana nova em folha de um termo da direita israelense) via colocação do problema da cidadania palestina na ONU, pois, como o presidente declarou no Aipac, um Estado palestino precisa nascer como resultado de negociações, não de uma resolução da ONU. Os escritores de discurso do presidente aparentemente não se lembraram de que o Estado de Israel nasceu com a Resolução 181 da Assembleia-Geral.

Qualquer governo israelense sensato (hoje em dia, talvez uma contradição nos termos) saltaria sobre isso como uma base para negociação, ou pelo menos como uma oportunidade de fazer os árabes parecerem rejeicionistas que se opõem aos desejos de Washington. Um indício de quanto Israel oscilou para a direita é que essa não foi a reação imediata de Netanyahu. Mas ele chefia um governo de coalizão cujo único denominador comum é um compromisso com a expansão dos assentamentos, manter territórios palestinos ocupados e a oposição a negociações sérias com os palestinos.

A campanha para as eleições presidenciais americanas de 2012 já está em curso. Obama e os democratas já estão em modo defensivo ante os ataques insidiosos de líderes republicanos sobre "ter jogado Israel embaixo do ônibus", "traição à única democracia no Oriente Médio", e assim por diante. A questão israelense-palestina já virou uma bola de futebol, e o adágio americano de que a política cessa à beira d’água (no sentido de que os partidos devem se unir em torno da política externa do país) não se aplica claramente a ela.

Dadas as mudanças revolucionárias em curso no mundo árabe e seu impacto profundo nos palestinos, como pôde ser visto na reconciliação interpalestina e na marcha dos palestinos vindo de cinco direções até as fronteiras de Israel em 15 de maio, os eventos no Oriente Médio de algum modo ultrapassaram o presidente Obama. Não somente porque as mãos deste estão atadas pelo começo da campanha presidencial. Ele também é vítima do mau conselho de veteranos como Dennis Ross, que ajudaram a conduzir governos na direção errada desde Ronald Reagan.

Em vista desses fatores, não surpreende que, no que diz respeito a um verdadeiro processo de paz, Washington esteja atrasado e mal preparado. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

RASHID ISMAIL KHALIDI É UM HISTORIADOR PALESTINO-AMERICANO, DIRETOR DO INSTITUTO DE ESTUDOS DO ORIENTE MÉDIO DA UNIVERSIDADE COLÚMBIA. AUTOR DE RESURRECTING EMPIRE (HOUGHTON MIFFLIN)