Poluído e com o fluxo reduzido, rio onde Jesus foi batizado está ameaçado por catástrofe ecológica
O rio Jordão, um dos mais conhecidos do mundo, corre risco de morrer em breve. Mais da metade do curso das águas está poluído por esgotos e dejetos industriais. A construção de represas e o desvio da água para irrigação e consumo doméstico diminuíram em cem vezes o fluxo original do rio, famoso pelas citações na Bíblia e por ser considerado pelos cristãos o local de batismo de Jesus.
“O rio pode morrer em breve São necessárias medidas imediatas para evitar uma catástrofe ecológica”, diz Dana Tal, diretora da organização Salve o Rio Jordão. Segundo ela, mesmo começando agora, o trabalho de despoluição pode levar décadas.
No norte de Israel, o Jordão é limpo. Famílias costumam acampar às suas margens e é possível nadar sem problemas. Há também passeios de barco pelas partes mais selvagens, onde as correntezas fortes dão ar de aventura.
Os animais encontram água limpa e alimentos e os pescadores com sorte tiram alguns peixes. O problema começa quando o rio sai do Mar da Galileia. Ali o Jordão começa a receber esgoto residencial e, pelos próximos 200 quilômetros, é bombardeado por mais esgoto e água contaminada por elementos químicos de indústrias.
Quando chega ao fim do seu percurso e desemboca no Mar Morto, o rio é apenas um córrego de água suja e mal cheirosa. Naquela região a distância entre as margens diminui para 5 metros, metade dos 10 metros originais.
Em anos de seca o nível das águas cai ainda mais. Além de fonte de água, recurso valioso no Oriente Médio, o rio Jordão também é uma atração turística internacional. Milhares de pessoas visitam partes do rio para celebrar cerimônias religiosas de batismo. Mas um dos locais considerados sagrados, perto da cidade de Jericó, está contaminado.
“Quem entra na água para purificar-se espiritualmente corre o risco de pegar doenças graves”, afirma Dana.Algumas iniciativas já foram tomadas. Autoridades israelenses construíram uma estação de tratamento de esgoto e os governos de Israel e da Jordânia estudam em conjunto e sem prejudicar o meio ambiente como aproveitar o rio, uma das únicas fontes de água naquela região.
Para preservar o turismo, os israelenses também conservam a pureza das águas na região de Tiberíades, e ali os peregrinos ainda podem fazer o batismo sem risco para a saúde.
Problema antigo
Os problemas do rio começaram na década de 1950. Os judeus que fundaram o Estado de Israel desviaram e represaram parte das águas para uso em agricultura e abastecimento doméstico.
Países vizinhos como Jordânia e Síria também bloqueiam alguns riachos que alimentam o Jordão. Os governos justificam as ações que estão secando o rio dizendo que, hoje em dia, o Vale do Jordão é uma das regiões mais férteis do Oriente Médio, produzindo alimentos para mais de 5 milhões de pessoas e dando empregos para mais de 150 mil agricultores, entre israelenses, palestinos e jordanianos. Tudo com água desviada do rio e de seus afluentes. “Mas nada disso vale a pena se as próximas gerações não puderem aproveitar os recursos do rio. Se o Jordão não voltar a receber água, vai secar. E toda a economia montada ao redor de suas águas, também”, relata Dana. [email protected]