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A Peregrinação à Kaaba: quinto pilar do Islam

 

Por: Sami Isbelle, em 05/07/2011 às 18:32 – G1

Depois de analisarmos os 6 pilares da crença islâmica, hoje estamos concluindo a abordagem dos 5 pilares da religião, conforme prometemos no primeiro post deste blog. Esses pilares resumem o que é o Islam, mas se Deus quiser continuaremos postando textos com temas relacionados à nossa religião e aos muçulmanos.

Este quinto pilar consiste em empreender a peregrinação à Kaaba, localizada na mesquita Al Haram, na cidade de Makka, na Arábia Saudita, pelo menos uma vez na vida. Mas o cumprimento desta adoração somente é obrigatório para o(a) muçulmano(a) que tenha atingido a puberdade, goze de plena condição de saúde física e mental, e tenha possibilidades financeiras de realizar tal viagem. Aquelas pessoas que não preencherem esses requisitos
estão isentas desta obrigação.

Quando o muçulmano realiza esta peregrinação, ele está relembrando os rituais praticados pelos profetas Abraão e seu filho Ismael (que a bênção e a paz de Deus estejam sobre eles). Deus, o Altíssimo, incumbiu ambos de erguerem os pilares da Kaaba, que consideramos ter sido o primeiro local onde se adorou a Deus, quando Adão e Eva, após descerem do paraíso, ali fizeram as suas orações. Com o passar do tempo foram perdidos os vestígios da localização exata, então Deus informou a Abraão (que a benção e paz de Deus estejam sobre ele) que enviaria uma pedra do céu para indicar o local de
sua construção. Assim foi feito, e essa pedra encontra-se até hoje posicionada em uma das quinas da Kaaba.

A peregrinação pode ser considerada como o maior congresso anual de paz no mundo, pois para que ela seja aceita por Deus o muçulmano não pode causar nenhum tipo de dano à natureza – como matar plantas ou animais que não sejam para o consumo ou que impliquem em perigo para o ser humano – nem às pessoas que o cercam, sendo vedado discutir, brigar, ofender, etc. Logo, ali se pratica a paz da forma mais plena e abrangente possível, onde se encontram muçulmanos das mais variadas partes do mundo, de diferentes cores, etnias, status social, culturas, idiomas, costumes, níveis de educação, todos com um único objetivo: adorar a Deus.

Os muçulmanos não idolatram a Kaaba. Ela é apenas uma construção cúbica, que não possui nenhuma santidade ou sacralidade, não beneficia nem prejudica ninguém, sendo tão somente a indicação do local para onde todos os muçulmanos do mundo se dirigem em suas orações diárias. Os principais rituais da peregrinação, todos praticados em Makka e em locais próximos, são:

• Circundar a Kaaba no sentido anti-horário sete vezes;
• Percorrer a distância entre os montes de Al Safa e Al Maruá por sete vezes, relembrando o ato de Agar, esposa do profeta Abraão, ao procurar água para o seu filho Ismael (que a bênção e a paz de Deus estejam sobre eles) naqueles locais, onde surgiu neste episódio o poço de Zamzam, que jorra água ininterruptamente até os dias de hoje;
• Arremessar sete pedras pequenas em três pontos distintos, devidamente demarcados, na cidade de Mina, simbolizando o ato realizado pelo profeta Abraão quando foi sacrificar o seu filho Ismael (que a bênção e a paz de Deus estejam sobre eles) seguindo a determinação de Deus. Satanás então apareceu para ele nesses três pontos, tentando dissuadilo de seguir adiante para não obedecer a ordem de Deus, e o profeta Abraão (que a bênção e a paz de Deus esteja sobre ele) reagiu atirando sete pedras pequenas nele, fazendo com que sumisse.

Durante a peregrinação todos os muçulmanos se vestem de forma semelhante, com apenas dois pedaços de pano: um cobrindo da cintura para baixo e outro envolvendo a parte de cima. Desse modo fica evidente que somos todos iguais, ou seja, não somos superiores devido à nossa riqueza, beleza, poder, nível intelectual ou cor. O que irá nos diferenciar diante do nosso Criador é a temência: quem for mais temente a Deus e coerente na prática do Islam, será o melhor perante Ele.

Em Arafat, que é o único local onde todos os peregrinos ficam juntos no mesmo ponto, é o momento em que temos uma ideia de como será o Dia do Juízo Final, onde estarão todos os humanos reunidos aguardando o julgamento. Assim, nós aproveitamos a parada em Arafat para fazer uma autoanálise da nossa vida, verificando se estamos sendo coerentes com os ensinamentos do Islam e quais aspectos em que podemos nos aperfeiçoar. Afinal, é melhor nos autoavaliarmos aqui, enquanto temos a oportunidade de evoluir, do que aguardarmos estagnados a avaliação no Dia do Juízo Final. Além disso, aproveitamos esses preciosos instantes em Arafat para intensificar as nossas súplicas a Deus, o Altíssimo, pedindo perdão pelo que cometemos de errado.

Sami Isbelle é o autor dos livros "Islam: a sua crença e a sua prática" e "O Estado islâmico e a sua organização" e diretor do departamento educacional e de divulgação da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro (SBMRJ – http://www.sbmrj.org.br/).