MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO
No final de novembro, outra biografia sobre um mito brasileiro foi interditada ao público. O juiz Aldo de Albuquerque Mello, da 7ª Vara Cível de Aracaju (Sergipe), proibiu a publicação do livro "Lampião – O Mata Sete".
A obra, escrita pelo advogado e juiz aposentado Pedro de Morais, 67, defende a tese de que o rei do cangaço era homossexual e dividia com a mulher, Maria Bonita, o também cangaceiro Luiz Pedro.
A ação na Justiça foi movida por Expedita Ferreira Nunes, 79, filha de Lampião e Maria Bonita. Em seu despacho, o juiz alegou que a decisão foi tomada para "proteger a honra e a intimidade da requerente e seus genitores".
Morais, contudo, alega que boatos sobre a homossexualidade de Lampião existem há mais de 40 anos.
Lauro Cabral de Oliveira/Divulgação
Lampião com o uniforme do Batalhão Patriótico
Colecionador de livros sobre o cangaço desde os anos 1960, ele aprofundou suas pesquisas quando trabalhou como juiz em Poço Redondo (SE), cidade na qual Lampião morreu em 1938."Ex-cangaceiros me falaram que Lampião tinha encontros amorosos com Luiz Pedro. São histórias comuns na região."
Além disso, em algumas entrevistas, Morais também lançou dúvidas sobre Lampião ser o verdadeiro pai de Expedita –segundo o biógrafo, ele ficou incapacitado de procriar após ser atingido por um tiro na genitália, em 1922.
"A família ficou incomodada, mas meu livro é sério e embasado. Tenho certeza que vamos cassar a liminar."
Wilson Mota, advogado de Expedita, alega que não houve motivação homofóbica no caso. "Se enaltecesse o lado hétero dele, a família manteria a mesma postura. Ressaltar a orientação sexual do casal é violar a privacidade."
Fora a polêmica nos tribunais, o trabalho de Morais também é contestado quanto aos fatos históricos.
"A tese é delirante. Os registros da época não autorizam essa conclusão", diz Frederico Pernambucano de Mello, um dos principais pesquisadores do cangaço.