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Usos e Costumes: Doutrinas de Deus ou dos Homens?

Thiago Lima Barros

A questão do comportamento cristão sofre um debate sem paralelo nos últimos duzentos e cinquenta anos. Nesse período, surgiram interpretações sem precedentes anteriores, que terminaram por se tornar majoritárias, ao mesmo tempo em que buscavam justificativas para seus entendimentos ao longo das Sagradas Escrituras. Refiro-me às chamadas doutrinas de usos e costumes, muito em voga principalmente no meio pentecostal histórico, do qual constituem um traço cultural bastante arraigado.

A cerveja do pai da reforma.

Até meados do século XVIII, questões como vestuário, uso do álcool, acesso à informação e à arte seculares, dentre outras, eram desconhecidas da igreja cristã. Mesmo porque o padrão de indumentária europeu era uniforme, as restrições à leitura se restringiam ao Index romanista.
Lutero fabricava sua própria cerveja (na verdade não ele, mas sua esposa Catarina), e Calvino recebia, como parte de seu salário anual em Genebra, sete tonéis de vinho. A igreja era doutrinada a usufruir de tudo com moderação, como produto da Graça de Deus, e não se deixar dominar por nenhuma delas.

Calvino é marca de cerveja européia.

Todavia, o início do movimento metodista nas Ilhas Britânicas veio acompanhado de uma reversão de tendência quanto a esses assuntos, a começar pela questão das bebidas alcoólicas. À época, com o advento da Revolução Industrial, as cidades não oferecem infraestrutura suficiente para atender às demandas da população que aflui do campo para trabalhar na indústria nascente, o que inclui a oferta de água potável. Bebidas destiladas e fermentadas passam a substituir a água. Porém, o ambiente de pobreza extrema em que viviam os operários propicia os excessos no uso de bebidas. A embriaguez se torna uma constante, e se transforma num problema social.

John Wesley foi o primeiro a se insurgir contra os excessos do álcool entre os crentes, e foi o primeiro a articular um movimento de proibição do seu uso. Em seus sermões, Wesley reprovava o uso não-medicinal de bebidas destiladas, como conhaque e uísque, e dizia que muitos destiladores que vendiam seus produtos indiscriminadamente não eram nada mais do que “envenenadores e assassinos amaldiçoados por Deus”. Porém, os Artigos de Religião de Wesley, adotados pela Igreja Metodista Episcopal nos Estados Unidos em 1784, admitiam em seu Artigo XVIII que o vinho é para ser usado na Ceia do Senhor, e preceituavam, no Artigo XIX, que ele deveria ser ministrado a todas as pessoas, e não apenas aos clérigos. Da mesma forma, as recomendações para pregadores metodistas indicam que eles deveriam escolher água como bebida comum e usar o vinho apenas como medicamento ou na Ceia.

O Movimento de Temperança

J. Wesley, o precursor do movimento anti-alcool.

No entanto, o pensamento metodista acerca do assunto era compartilhado por poucas pessoas, até a publicação de um folheto de autoria do médico Benjamin Rush, um dos signatários da Declaração de Independência norte-americana, que deblaterou contra o uso de “espíritos ardentes” (álcool destilado), introduziu a noção de vício e prescreveu a abstinência como única cura.

Apesar da adesão de alguns pregadores proeminentes, o movimento perdeu força durante a Guerra de Secessão, para mais tarde ressurgir por meio da União Feminina pela Temperança Cristã, e foi tão bem sucedido na realização dos seus objetivos que Catherine Booth, esposa do fundador do Exército da Salvação William Booth, observou, em 1879, que quase todos os ministros cristãos estadunidenses haviam se tornado abstêmios. O movimento, liderado por feministas conservadoras como Frances Willard, conseguiu a aprovação de leis anti-álcool em vários estados, e atingiu o seu zênite político em 1919, com a promulgação da Décima Oitava Emenda à Constituição dos Estados Unidos (Lei Seca), que estabeleceu a proibição da venda e consumo de álcool no país inteiro, revogada mais tarde, em 1933, pela Vigésima Primeira Emenda.

Francis Willard ajudou a “secar” os E.U.A.

Inicialmente se opondo apenas ao álcool destilado, a mensagem do movimento de temperança foi mais tarde alterada para defender sua eliminação total, especialmente na Ceia do Senhor. Tal posicionamento foi em grande medida influenciado pelo Segundo Grande Despertar, que enfatizava a santidade pessoal e o perfeccionismo na práxis cristã.

Os efeitos jurídicos e sociais resultantes do movimento, como visto, atingiram seu pico no início do século 20 e começaram a declinar logo depois. Os efeitos sobre a prática da igreja foram principalmente um fenômeno do protestantismo americano. O Pentecostalismo e as Restrições Consuetudinárias – Porém, no ambiente pentecostal, que sofreu, como (e do) Movimento de Temperança um influxo filosófico bastante forte do Movimento de Santidade, (o qual, por sua vez, é resultado direto do Segundo Grande Despertar), o proibicionismo, longe de arrefecer, foi adotado como cláusula pétrea. Afinal, ainda não havia bases teológicas de fundo mais intelectual: tudo era mais voltado ao experiencialismo da glossolalia e da cura divina, o que enfatizava ainda mais a tese de separação artificial do mundo e de suas coisas.

Mais tarde, porém, mesmo com o aprimoramento teológico dos ministros pentecostais, as mudanças de postura foram poucas, e meramente pontuais, fora a tolerância com abusos na rigidez das regras, mormente em locais menos desenvolvidos economicamente. Logo, para além da proibição da ingestão de álcool, surgiriam outras questões nas quais a resposta era uma só: proibido.

Ademais, tanto o pentecostalismo como o neo-pentecostalismo, juntamente com metodistas e grupos afiliados ou decorrentes destes, são os únicos grupos que elevaram tais restrições ao status de doutrina; se não na teoria, pelo menos na prática diária. Os demais ramos da cristandade protestante rechaçam esse tipo de associação, muito embora tambem tenham cometido esse tipo de excesso ao longo da história. Basta ver, nesse ponto, o que sofreram dois músicos cristãos: o alemão Johann Sebastian Bach, que foi obrigado a conter sua criatividade diante do estilo simplório de música imposto pela corte do príncipe calvinista Leopoldo de Anhalt-Köthen; e o brasileiro Luiz de Carvalho, que era anatematizado nos meios batistas por tocar… Violão!

O principe os púlpitos – Spurgeon era fumador de charutos e virou marca. Um outro momento cultural.

Usos e costumes no pentecostalismo brasileiro

Otto Nelson

É com os pentecostais, mormente da Assembleia de Deus, que o proibicionismo do Movimento de Temperança deita suas raízes no Brasil. De início, essa influência não se dá de forma institucional: o debate sobre questões relativas à inserção do pentecostal no mundo, ao contrario do que alguns líderes querem fazer parecer, era intenso e muitas vezes descambava para o rompimento pessoal entre os pastores divergentes. Nessa fase (de 1930 a 1975), o tratamento dessas questões era eminentemente personalista: cada pastor decide acerca das regras comportamentais a serem seguidas pelo rebanho, e muitos o fazem de forma radical.

Foi o caso do presbitério da AD de São Cristóvão (fundada por Gunnar Vingren em 1924), o qual, n’O Mensageiro da Paz da primeira quinzena de julho de 1946, em decisão unilateral datada do dia 4 de junho, sob a presidência do missionário sueco Otto Nelson, estabeleceu regramentos draconianos sobre o vestuário e cortes de cabelo femininos.

Samuel Nyströn

A dureza da Resolução de São Cristóvão, como passou a ser conhecida, aliada à evidente misoginia que a perpassava, não deixaram de ser notadas na 8ª Reunião da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, realizada em Recife em fins de outubro do mesmo ano. Os convencionais exigiram a retratação da congregação carioca. Quase no apagar das luzes da rodada de reuniões, o Presidente da CGADB, o tambem missionário sueco Samuel Nyströn, faz publicar um texto intitulado “Dando lugar à operação do espírito”, no qual rechaça o zelo jacobino da Resolução. Não por acaso, Nyströn abre o artigo com a citação do capítulo 4, versículo 6, do livro de Zacarias: “não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito diz o Senhor dos Exércitos”.

Com a refutação, veio a retratação da AD de São Cristóvão, em janeiro de 1947, e um silêncio de 16 anos acerca de questões consuetudinárias. Elas só voltam à baila em 1962, e de forma pontual. Essa tendência é revertida em 1975, com a publicação de uma resolução na 22ª reunião da CGADB, realizada em Santo André (SP), contendo oito restrições comportamentais, de observância obrigatória para os membros das AD’s. Eis a íntegra da mesma:

E ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo, e separai-vos dos povos, para serdes meus (Lv 20.26).

A Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, reunida na cidade de Santo André, Estado de São Paulo, reafirma o seu ponto de vista no tocante aos sadios princípios estabelecidos como doutrinas na Palavra de Deus – a Bíblia Sagrada – e conservados como costumes desde o início desta obra no Brasil. Imbuída sempre dos mais altos propósitos, ela, a Convenção Geral, deliberou pela votação unânime dos delegados das igrejas da mesma fé e ordem em nosso país, que as mesmas igrejas se abstenham do seguinte:


1. Uso de cabelos crescidos, pelos membros do sexo masculino;

2. Uso de traje masculino, por parte dos membros ou congregados, do sexo feminino;

3. Uso de pinturas nos olhos, unhas e outros órgãos da face;

4. Corte de cabelos, por parte das irmãs (membros ou congregados);

5. Sobrancelhas alteradas;

6. Uso de mini-saias e outras roupas contrárias ao bom testemunho da vida cristã;

7. Uso de aparelho de televisão – convindo abster-se, tendo em vista a má qualidade da maioria dos seus programas; abstenção essa que justifica, inclusive, por conduzir a eventuais problemas de saúde;

8. Uso de bebidas alcoólicas.

Geziel Gomes

Um detalhe interessante: a resolução acima foi lida na Convenção pelo pastor Geziel Nunes Gomes, a pedido do presidente da CGADB à época, pr. Túlio Barros Ferreira, coincidentemente (ou não) responsável pela AD de São Cristóvão. Ambos se desfiliaram da AD anos mais tarde, aderindo às doutrinas heréticas da Confissão Positiva e do G-12.

Daí por diante, a tendência é de recrudescimento dessa postura até 1999, quando, por ocasião do 5º Encontro de Líderes da Assembleia de Deus (ELAD), ocorre uma espécie de aggiornamento assembleiano: sem abrir mão do positivismo exacerbado de Santo André, tenta-se contextualizar as exigências mais como recomendação do que como decálogo (ou octólogo) denominacional. Mas mesmo esse documento padece de um certo “complexo de Gabriela”, numa indisfarçável demonstração de soberba denominacional:

Quando afirmamos que temos as nossas tradições, não estamos com isso dizendo que os nossos usos e costumes tenham a mesma autoridade da Palavra de Deus, mas que são bons costumes que devem ser respeitados por questão de identidade de nossa igreja. Temos quase 90 anos, somos um povo que tem história, identidade definida, e acima de tudo, nossos costumes sãos saudáveis. Deus nos trouxe até aqui da maneira que nós somos e assim, cremos, que sem dúvida alguma ele nos levará até ao fim.


Conclusão

Nas faculdades de Direito, estudamos que o costume é um dos vários meios de integração do ordenamento jurídico, utilizados em virtude do caráter genérico dos textos legais, que não raro apresentam lacunas. Ele deriva da prática reiterada de dado comportamento, devido à convicção sobre sua obrigatoriedade (a qual, se violada, acarretaria alguma sanção), e seu uso deve ser uniforme, constante, público e geral.

Túlio Barros

No entanto, a história dos avivamentos pelos quais a Igreja Cristã passou a partir do século XVIII, malgrado seus benefícios espirituais, teológicos, éticos e sociais, trouxe um grave efeito colateral para essa mesma Igreja: uma prática de usos e costumes nascida não da convicção do corpo iluminado pelo Espírito Santo, como deveria ser, mas do tacão dos líderes. Embora siga uma linha pentecostal clássica, seja neto de assembleianos por parte de pai e creia que a conduta cristã deva ser diferenciada da que é corrente no mundo, creio que essa jurisprudência deve ser escrita nas tábuas do coração, e não imposta de maneira bonapartista pela liderança, por mais bem-intencionada que esta seja.

Nenhum cristão realmente nascido de novo em Cristo, em sua saníssima consciência, vai defender a libertinagem, vestimentas indecorosas, embriaguez, enfim, uma postura de evidente mundanismo. Precisamos, de fato, ser santos como o Nosso Senhor o é. O problema é que, no afã de vivenciar essa santidade, houve um retorno inconsciente ao legalismo mosaico e aos seus rudimentos fracos, e o bebê foi jogado fora junto com a água do banho. Ou seja, a fruição dos bens dados pelo Senhor ao ser humano (quem lê, entenda) foi relegada, em alguns casos, a uma condição de conduta pecaminosa, mesmo que não ofenda as Escrituras em momento algum.

Cuidados com o corpo e o vestuário são pecado? Jamais! Antes, evidenciam o cuidado que temos com o templo do Espírito Santo: nosso corpo. Sem extravagâncias, mas com elegância. E o vinho, não alegra o coração do homem (Sl. 104:15)? E, da mesma forma, a embriaguez é condenada (Pv. 20:1). Sem contar que o mau uso que se faz dos meios de comunicação não os torna invenções de Satanás. Afinal, se a televisão não podia sequer entrar nos lares dos crentes, como os herdeiros dos que contra ela verberavam hoje dela se valem? Enfim, os lineamentos para o usufruto das dádivas de Deus são explícitos na Bíblia: basta segui-los, pois todas as coisas nos são lícitas, mas não nos deixamos dominar por nenhuma delas (I Co. 6:12). Encerro rememorando o rasgo de sensatez que o Nosso Deus e Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo bafejou no coração do pastor Samuel Nyströn, por ocasião do debate acerca da Resolução de São Cristóvão, no gracioso libelo “Dando lugar à operação do espírito”, orando ardentemente para que todos os cristãos, lideres principalmente, façam dessas palavras sua prática diuturna de vida:

Em qualquer tempo, lugar ou circunstância, devemos lembrar-nos que não se consegue fazer a obra do Senhor por força nem por meios violentos, resoluções ou imposições, mas a obra do Senhor se realiza pela intervenção criativa de Deus e pela lei do crescimento externo da obra do Senhor, mas igualmente quando se tratar do crescimento interno desta, tanto individual como coletivamente.


Mesmo durante a Dispensação da Lei, a Lei não conseguiu outra coisa senão descobrir e pôr o pecado em atividade, tendo como resultado a morte (…) enquanto a fé não tinha vindo, a Lei teve um alvo como pedagogo: conduzir homens a Cristo. Mas, tendo vindo a fé, não estamos mais debaixo do pedagogo (a Lei), e nem devemos fazer ressuscitar leis ou inventar outras leis para que não fiquemos no lugar dos gálatas, que foram chamados insensatos e a respeito dos quais Paulo temia que todo o seu trabalho se tornasse vão (…) Cristo veio com a graça e, então, a Dispensação da Lei se encerrou. Em lugar do mandamento prévio. que foi ab-rogado por sua fraqueza e inutilidade, pois ‘a Lei nada fez perfeito’, foi introduzida uma melhor esperança, pela qual nos chegamos a Deus: Cristo, que é nosso Sacerdote, segundo o poder de uma vida indissolúvel (…) Portanto, o que realmente tem valor para nós é ‘a fé que opera por amor’, por isso não nos justificamos pela Lei ou leis, para não sermos decaídos da graça e separados de Cristo (Gl 5.6).


As ordenanças para manifestar humildade e servidade com o corpo servem para satisfazer a carne, o erro, e elas com facilidade arranjam os que se julgam mais santos do que outros, e isto resulta em inchação vã e cria espírito de fariseu, que é o maior impedimento para as bênçãos de Deus.


Há muitos países e muitas formas de se trajar neste mundo, bem como muitos climas diferentes, e tudo isto deve ser considerado, mas como a Palavra de Deus diz: ‘com modéstia e sobriedade’. O que a Escritura ensina em relação a este assunto é que as mulheres devem ser castas e tementes a Deus, tanto as que são casadas como as moças (…) lembremo-nos também que há muitas outras coisas que são igualmente perigosas para a obra do Senhor, que só pelo Espírito Santo poderão ser removidas, como o amor ao dinheiro (…) o homem ostentado justiça própria, criticando tudo e todos, é um indivíduo perigoso para o avanço da unidade da obra do Senhor.

Genizah

06-06-16 013

Rev. Ângelo Medrado, Bacharel em Teologia, Doutor em Novo Testamento, referendado pela International Ministry Of Restoration-USA e Multiuniversidade Cristocêntrica é presidente do site Primeira Igreja Virtual do Brasil e da Igreja Batista da Restauração de Vidas em Brasília DF., ex-maçon, autor de diversos livros entre eles: Maçonaria e Cristianismo, O cristão e a Maçonaria, A Religião do antiCristo, Vendas alto nível, com análise transacional e Comportamento Gerencial.

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A Gloriosa Relação entre a Predestinação e o Convite do Evangelho

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Nº1762
Sermão pregado no Exerter Hall, Londres
Por Charles Haddon Spurgeon
Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. (João 6:37)
Estas duas sentenças têm sido consideradas como representativas de dois aspectos da doutrina cristã. Permitem-nos vê-la de dois pontos de vista – em direção a Deus e em direção ao homem. A primeira sentença contém o que alguns chamam de alta doutrina. Se por ‘alta ” eles querem dizer ‘gloriosa para com Deus’ concordo plenamente com eles; pois é uma grande e divina verdade o que o Senhor Jesus declara nestas palavras: ‘Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim.’ Alguns têm identificado este lado da verdade como Calvinista; mas enquanto é verdade que Calvino a ensinou, também o fizeram Agostinho, Paulo e o próprio Senhor, de quem são estas palavras. No entanto, não discutirei com aqueles que vêm nesta sentença uma declaração da grande verdade da graça da predestinação. A segunda sentença estabelece uma abençoada e encorajadora doutrina evangélica, sendo na verdade uma promessa e um convite: ‘O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.’ Esta é uma declaração sem nenhuma forma de limites: tem sido entendida como deixando a livre graça de Deus aberta ao livre arbítrio do homem, de tal sorte que quem porventura se agradar dela pode vir e ter certeza de que não será recusado. Não temos permissão para reduzir o sentido de qualquer uma destas frases, nem existe nenhuma necessidade de fazê-lo. A primeira sentença parece-me dizer que Deus escolheu um povo, e entregou este povo a Cristo, e que este povo deve ir e irá a Cristo, e será assim salvo. A segunda verdade declara que todo homem que vem a Cristo será salvo, uma vez que não será lançado fora, o que implica dizer que ele será recebido e aceito. Estas são duas grandes verdades; vamos levá-las conosco, pois ambas se contrabalançam entre si.
Certa ocasião fui solicitado a reconciliar estas duas declarações, e respondi: ‘Não, eu nunca reconcilio amigos’. Estas duas passagens nunca se contradizem: estão em
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perfeita concordância. É tolice imaginar que existe diferença e tentar então remove-la. É como fazer um homem de palha e depois tentar lutar com ele.
A grande declaração do propósito de Deus que ele salva os seus é perfeitamente consistente com a declaração maior de que quem quer que venha a Cristo será salvo. É pena que se imagine ser difícil sustentar ambas estas verdades; ou que, supondo existir alguma dificuldade, pensemos em tentar remove-la. Creiam-me, amados, a tarefa de remover dificuldades religiosas é a de menor remuneração debaixo dos céus. O verdadeiro caminho é aceitar a dificuldade quando encontrada nas palavras de Deus e exercitar sua fé sobre elas. Não é razoável supor que a fé estará isenta das provações; todas as outras graças são exercitadas, e por que a fé não seria posta a prova? Às vezes meu espírito alegra-se por ter que crer naquilo que eu não entendo; e quando às vezes tenho de dizer a mim mesmo: ‘Como é que isto pode ser?’ alegro-me com a resposta de que assim está escrito, e portanto assim deve ser. Em lugar de todo e qualquer raciocínio predomina a declaração de Deus.
Nosso Pai fala, e as dúvidas são silenciadas; seu Espírito escreve, e nós cremos. Sinto alegria em percorrer o rio da revelação, numa viagem de descobrimento, e a cada hora obtendo conhecimentos novos da verdade divina; mas quando chego a um ponto em que não progrido, e vejo meu caminho bloqueado por uma enorme e sublime dificuldade, encontro igual prazer em lançar âncora a sotavento do obstáculo, e esperar até que o piloto me diga o que fazer a seguir. Quando não podemos enveredar pelo meio de uma verdade, podemos ser conduzidos por sobre ela ou ao seu redor; e o que importa? Nosso maior benefício vem não da resposta aos enigmas, mas da obediência aos comandos pela força do amor. Supondo que não podemos penetrar no assunto – e daí? Devemos nos preocupar com isto? Não é verdade que deva existir um limite em algum ponto para o conhecimento humano? Não devemos ficar satisfeito em que Deus determine os limites da compreensão? Não vamos bater nossas cabeças contra as dificuldades que nós mesmos criamos, e certamente não contra aquelas que Deus aprouve deixar para nós.
Tomemos, pois, estas duas verdades e saibamos que elas são partes igualmente preciosas de um todo harmônico. Não vamos tergiversar sobre elas, ou nos deixarmos envolver a respeito de um tolo favoritismo para com uma e preconceito para com outra; recebamos ambas com um grande amor à verdade, como deve ser próprio dos filhos de Deus. Não somos chamados para explicar, mas para aceitar. Vamos crer se não podermos reconciliar. Aqui estão duas belas jóias, vamos usar ambas. Tão certo como este Livro é verdadeiro, Deus tem um povo a quem ele
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escolheu, e a quem Cristo redimiu dentre os homens; e pela graça soberana eles serão levados no devido tempo ao arrependimento e a fé, pois nenhum deles jamais perecerá. Mas é igualmente verdade que quem quer dentre os filhos do homem que venham a Cristo e depositem nele sua confiança receberão a vida eterna. ‘E quem quiser receba de graça a água da vida’ (Apocalipse 22:17).
As duas verdades do meu texto não são inconsistentes entre si; estão em perfeita concordância. Feliz é o homem que pode acreditar em ambas, quer veja a concordância entre elas ou não.
Eu viajava certa ocasião pelo interior. Era um dia esplêndido, e um cenário glorioso tornara nossa viagem como uma excursão a um mundo encantado; mas chegou ao seu fim, pois a escuridão e a noite exerceram sua soberania. Logo à frente estava o promontório da ilha de Arran. Como ele se projetava contra o céu crepuscular! A formidável rocha perecia pendurada sobre o mar. Em sua base existia uma pequena baia, e para lá nos dirigimos e ancoramos para passar a noite, livres de qualquer ventania que podesse surgir à procura de uma presa. Naquele braço de mar parecíamos estar nos braços de uma montanha enquanto seus ombros poderosos nos protegiam do vento. E a primeira parte do meu texto ‘Todo aquele que o Pai me dá esse virá a mim’ eleva-se como um enorme promontório que alcança o céu. Quem irá escalar esta subida? Para alguns parece inacessível. Mas aqui no fundo encontra-se um lago plácido de infinito amor e misericórdia: ”E o que vem a mim de modo nenhum o lançarei fora’. Vamos navegar até lá e permanecermos seguros à sombra da grande rocha, gratos a Deus pelo texto que não nos repele, e nos oferece segurança.
Vejamos primeiro aquela montanha majestosa e velejemos depois para aquele remansoso regaço.
I. Consideremos com reverencia alegria O PROPÓSITO ETERNO. Nosso Senhor Jesus Cristo, ao descobrir que a massa do povo o rejeitava, virou-se para eles e disse: ‘Mas vós não credes, porque não sois minhas ovelhas'(João 10:26) Mas ele sabia em seu coração, no entanto, que se eles o recusassem, nem todos os fariam – muitos certamente iriam crer nele. E por isso declarou com segurança: ‘Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim”. Ele lançou esta verdade gloriosa ante a face dos que o repudiavam com energia. Era o seu consolo e a resposta à turba. Não pretendo, neste noite, lançar isto ante a face de quem quer que seja; pelo contrário,
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desejo usar esta declaração como um mão estendida a convidar qualquer coração sofrido que deseja chegar até Jesus e ser salvo.
Vi outro dia protegendo o jardim de uma pessoa um grande e alto paredão, completada em seu aparato de exclusividade por um número superabundante de grampos fixados no seu topo e uma boa quantidade em sua metade superior. Comentei jocosamente com o meu acompanhante sobre a bondade do proprietário ao colocá-los para que os meninos podessem escalar o muro agarrado a eles. Meu companheiro protestou dizendo que aqueles grampos rasgariam dedos e roupas, que não seriam de nenhuma ajuda para quem fosse escalar o paredão. E eu respondi: ‘Não seriam de nenhuma ajuda como também não seriam os comentários que o seu pastor fizera sobre a soberania de Deus sendo considerada como uma ajuda para os que procuram o Senhor Jesus’. O bom homem explicara a verdade da pior e mais perniciosa maneira possível, nada existindo ali para ajudar a quem quisesse escalar o muro da salvação, mas apenas grampos para dificultar a escalada de intrusos indesejáveis. Eu jamais vi uma multidão desejosa de salvação para quem fosse necessário construir paredões e colocar grampos para impedir seu acesso. Mas vejo muitos que estão temerosos e necessitando de encorajamento, e tantos em dúvida que necessitam instrução, que me comprazo em tornar toda a palavra, toda a promessa e toda a doutrina do Senhor no mais cordial convite para que todos ao meu redor para que venham e sejam bem-vindos ao grande coração do Crucificado. Não tenho receio de que o número dos que venham seja excessivo; meus temores são na direção oposta. Oh, como eu desejaria que todos os que agora me ouvem se chegassem prontamente a Jesus!
Notemos, cuidadosamente, que se todos os que o Pai deu a Cristo se chegarem a ele, certamente alguns chegarão a Cristo; e por que não estaríeis vós entre eles? Isto me parece uma doce sugestão para ajudar o desespero em seu pior nível; alguns têm de vir a Cristo, por que não eu? Quando Satanás vos diz que não podeis ir a Cristo, e vós mesmos vos sentis como se não podesses faze-lo; quando o pecado vos domina, vos derruba, e não podeis fazer como desejaríeis – ainda assim está decretado e determinado que alguns têm de ir, e por que não vós? Por decreto divino eles irão; por que não estaríeis entre eles? Isto não vos ajuda? Se Deus vos abençoa, não mais vos encontrareis à beira do desespero. Suponha que uma praga assola a cidade, mas existem pessoas que estão predestinadas a serem curadas. Eu ficaria alegre ao saber disto. Certamente ficaria alegre mesmo sabendo que não estaria entre os favorecidos, pois me regozijo com o bem-estar dos outros; mas estaria ainda mais alegre ao correr para o médico com esta segurança em minha mente – Alguns serão curados: por que não eu? Se a fome assola a terra e ouço o
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profeta a revelar que um certo número jamais morrerá de inanição, por que não ultrapassaria eu aqueles dias terríveis para estar entre eles? Por que não? Ouço alguém dizer: ‘Eu suponho que eu não sou um dos eleitos de Deus’. E a este eu respondo: ‘Suponha que você seja um deles.’ Melhor ainda, suponha que deixe de imaginar coisas e vá ter com Jesus Cristo e veja. Ir até ele é uma providência que cabe a você adotar; é sua prerrogativa como dito na Palavra, portanto não demorai. Invés de ficar do lado de fora, como alguns fazem, porque está escrito ‘Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim’ eu fico do lado de dentro, e digo: ‘Eu estarei entre eles’. E por que não? Oh, Senhor, se ordenastes que alguns virão, eu vejo que para eles não existirá nenhuma dificuldade insuperável, e porisso eu mesmo irei, e em teu nome entrarei ali onde todo o que vem é bem-vindo.
Em seguida, vejo que aqueles que vêm a Cristo, conforme este texto, vêm por causa do Pai e do Filho. Vamos reler: ‘Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim’ Isto é, eles vêm a Jesus. E por que eles vêm? Por que o Pai os deu a Cristo. E por que irão eles? Será porque existe alguma coisa boa neles? Não, nada foi dito sobre isto de uma ou de outra maneira. Será porque eles têm força de vontade e uma firme determinação, e porisso irão? A Escritura igualmente silencia a respeito deste ponto, a não ser para dizer em outra passagem que o Novo Nascimento não vem da vontade do homem. A razão que é dada para o fato de que eles virão a Jesus é porque alguma coisa foi feita para eles pelo Pai e pelo Filho. Por que, então, não devo eu ir? Supondo que eu sou fraco; supondo que eu sou pecador; supondo que eu seja sete vezes mais pecador do que qualquer outro; uma vez que ‘virão’ depende não do caráter daqueles a quem a promessa é feita, mas a alguma coisa feita para eles pelo Pai e pelo Filho, por que não estaria eu entre aqueles para quem o Pai e o Filho fizeram esta certa coisa, e por que não seria eu levado a Cristo? Nunca houve uma alma que realmente desejasse vir a Jesus que não pudesse fazê-lo. Nunca houve um pecador sofredor e desejoso de chegar-se que tenha sido afastado da presença de Cristo. Quando ele desejou Cristo, Cristo o desejava cem vezes mais. Se tendes um menor desejo ou a mais tênue aspiração a estar com o Senhor Jesus Cristo, então os laços do amor estão ao teu redor, e suas mãos poderosas estão puxando estes laços para levar-te até ele. Cedei à doce pressão e ireis, não por causa do que sois, ou pelo jamais fostes, mas por causa do que o Pai está fazendo, e por causa do que o Filho está fazendo. Está escrito ‘Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer’ (João 6:44); mas quando ele está puxando podeis vir. O Pai vos está puxando, pois estás desejando ir, e estais ansiosos para encontrar um Salvador. Não tentai inverter esta verdade para evitar de irdes a Cristo. A doutrina do propósito divino não é um espinho para vos afastar da árvore da vida; ao contrário, devereis considerá-la como uma porta
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aberta. Alguns irão Por que não eu? Os que assim o fizerem será por causa de alguma coisa feita para eles pelo Pai e pelo Filho; e por que isto não teria sido feito para mim? Por que não deveria eu aproximar-me de Deus?
Notemos, em terceiro lugar, que todas estas pessoas são salvas porque se chegam a Cristo. Observais as palavras: ‘Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim’. Eles são salvos unicamente por virem a Cristo. Estas são pessoas diferentes das demais, pois o Pai as deu a Cristo. Mas, não importa quão diferente elas são das demais; elas têm de ser salvas da mesma maneira que as outras pessoas. Não existe um outro caminho de salvação preparado especialmente para essas pessoas peculiares; elas têm de seguir o caminho que leva ao Senhor. O caminho único para a salvação é chegar-se a Cristo, e todos os que o Pai deu a Cristo têm de passar por este portão. E esta é a porta que Deus abriu; não existe outra; nunca haverá outra. Vinde, meu amigo, tende ânimo, erguei a cabeça que está curva como o junco – o melhor santo no céu chegou até ali unicamente por confiar em Jesus Cristo. Por que não podeis chegar até lá da mesma forma? Muitos pecadores do mais escuro dos matizes foram salvos por intermédio de Jesus Cristo, e por que não serieis salvos da mesma maneira? Perguntai a Pedro, e Tiago, e João, e Paulo, e todos os outros apóstolos, se eles entraram no céu por uma ponte particular preparada só para eles; e eles irão te dizer que foram salvos pelo Redentor. Como nenhuma Escritura existe só para uma interpretação individual, podes estar certo de que não existe nenhum Salvador particular e secreto só para umas poucas pessoas favorecidas. ‘Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo'(1 Coríntios 3:11). Os eleitos de Deus só podem ser salvos vindo a Cristo. Jesus diz: ‘Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim’; pois não podem ser salvos de outra maneira. Ir a Cristo é o essencial. Diz alguém ‘Ah se eu soubesse que era um dos eleitos de Deus’. Por que desejar saber algo fora do contexto, quando podeis conhecer toda a verdade de que necessitais estudando outras verdades que vos conduzirão até lá? Ide a Cristo, e sabereis que fostes dado a Cristo; pois ninguém vai até ele a não ser os que são dele, e chegar a ele é o melhor testemunho de sua eleição. Conheceis a história do irmão em Cornwall que disse a Malaquias, que era um devotado Calvinista: ‘Pois é, Malaquias, eu te devo 2 libras. Mas antes que eu quite o meu débito quero que me digas se estou predestinado a te pagar.’ Malaquias abriu sua grande mão e disse: ‘Põe aqui as 2 libras, e eu prontamente te direi.’ Como a maioria das pessoas sensatas ele preferia profetizar após o fato ocorrido – e existe muita vantagem em adotar este método. É evidentemente a ordem natural das coisas para os que não são inspirados. Se o Pai me deu a Cristo ou não, não poderei descobrir até que eu saiba que fui a Cristo. Quando eu souber que realmente eu cheguei a Cristo com todo o meu coração,
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então terei a certeza de que fui dado a Cristo, e não terei nenhuma dificuldade em crer; sim, meu coração regozija-se em pensar que eu estou salvo da mesma forma que outros são salvos.
Ainda uma vez, torna-se bem claro por meio deste texto que se eu for a Cristo, o Pai me deu a Cristo. Se eu, seja eu quem for, simplesmente confiar em Jesus – pois é isto o que ir a Cristo significa – então eu sou um dos que o Pai deu ao Filho. Se da maneira como eu estou lanço-me em seu sangue e sua justiça, e torno-me seu discípulo, jurando segui-lo, esperando que com sua ajuda eu possa seguir-lhe os passos; então eu saberei que antes da estrela dalva conhecer sua posição, ou que os planetas começassem a girar em suas órbitas, o Pai Eterno havia olhado para mim com olhos de amor eterno, e que ainda me aceita, e nunca me lançará fora. Não é isto na realidade? ‘Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim’; e se eu vim, então o Pai me deu a Cristo: a grande indagação está respondida, o mistério eterno está desvendado, e meu espírito pode regozijar-se em Deus meu Salvador, e em todas as preciosas coisas daquele pacto eterno que está determinado em tudo e com toda a certeza.
Isto quanto aquela enorme rocha sobre as nossas cabeças. Sobre ela não vou falar mais; sob seu abrigo ancorei há muito tempo, e neste ancoradouro pretendo permanecer. Desde que vim a Jesus sei que pertenço a ele por dádiva do Pai, e estou bem convencido de que o propósito de Deus se cumprirá em mim, e que ele sem dúvida me levará, junto com todos os Seus demais eleitos, para Seu reino e Sua glória, quando veremos sua face para todo o sempre. Esta pode ser chamada de doutrina antiquada; não me interessa o que seja chamada, é a minha vida, e nela ouso repousar o peso da minha alma para o tempo e para a eternidade.
II – Entramos agora em águas plácidas: o mistério está desvendado, vamos desfrutar de sua alegria. Temos, em segundo lugar, de vos falar um pouco sobre o EVANGELHO ETERNO – "E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora". Você pode até esquecer o meu primeiro tópico se o desejar, especialmente se estiver perturbado por ele, mas devo insistir para que você lembre deste segundo tópico.
"E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora". Este é um dos mais generosos textos do Evangelho que eu lembro ter encontrado entre as capas deste livro. Generoso, em primeiro lugar, quanto à caraterística a quem a promessa é feita. ‘O que vem a mim’ é a característica. O homem pode ter sido culpado por um
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pecado atroz, negro demais para ser enunciado; mas se for a Cristo não será lançado fora. Àquele pecado atroz ele pode ter acrescentado muitos outros, preenchendo uma longa e extensa lista de condenação; mas se ele for a Cristo não será lançado fora. Ele pode ter ficado empedernido a todas as demonstrações de prudência e quaisquer apelos de misericórdia; pode ter pecado muito por seu próprio desejo; mas se ele for a Cristo não será lançado fora. Pode ter-se tornado mais negro que a noite – tão negro quanto o inferno – e, no entanto, se vier a Cristo o Senhor não o lançará fora. Não sei dizer quais os tipos de pessoas que estão aqui esta noite; mas sejam ladrões, assassinos ainda assim eu os convido a vir a Cristo, pois ele não os lançará fora.
Suponho que a maioria dentre vós seja toleravelmente decente quanto à moral e ao caráter; e a vós eu direi: se vierdes a Cristo ele não vos lançará fora. Filhos de pais cristãos, ouvintes da Palavra, ele não vos lançará fora. Vós a quem falta apenas uma coisa, mas coisa significante, ele não vos lançará fora. Apóstatas! Estarão aqui alguns que praticamente esqueceram o caminho até o santuário de Deus, para quem o sino da Igreja não representa um convite? Vinde a Jesus, e ele não vos lançará fora. Vós que cansastes da casa do Senhor, e do dia de Deus – milhões de vós; mas com toda a vossa falta de religião estais aqui esta noite, e a verdade vos pertence também – se confiares em Jesus, ele não vos lançará fora.
Se aqui em nosso meio existe alguém cujo caráter melhor seria não descrever, e se encolhem ao simples pensamento de serem escolhidos e mencionados pelo nome; se no entanto tais pessoas vieram a Jesus ele alegremente vos receberá. Seja qual for o vosso caráter, vós que estais envoltos em mistério, não sereis lançados fora. Gostaria de poder falar àqueles que estão perturbados por uma vida de pecado; pois para aquele que passou a sua vida transgredindo as leis o texto ainda é verdadeiro. O meu Senhor proclama um ato de perdão cobrindo todo o passado. Será como se nunca tivesse acontecido. Por intermédio de Jesus Cristo, se apenas creres nele, teu passado será guardado e jogado fora, como se nunca tivesse existido, e tu nascerás novamente. Quando Naamã voltou depois de lavar-se no Jordão lemos que ‘sua carne se tornou como a carne duma criança, e ficou limpo'(II Reis 5:14); e assim será convosco. O homem velho tomará a criança de lindos cabelos em seu colo, e passando o dedo entre os cachos de sua cabeça dirá: ‘Meu jovem que Deus vos guarde do pecado em que tenho chafurdado. Minha vida foi toda cheia de pecado. Agora está próxima do fim, e eu não tenho mais esperanças. Quisera Deus que eu fosse de novo uma criança’ O homem com 100 anos de idade pode ainda tornar-se uma criança; e aquele que tem suas barbas esbranquiçadas de
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infâmia pode ainda tornou-se um recém-nascido inocente por intermédio do poder de limpeza da água e do sangue que fluíram do flanco ferido de Jesus. Ide e escrevei de ponta a ponta no véu da noite; escrevei nas novas estrelas se puderes: "E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora".
Pendurai esta declaração no céu do meio-dia, e deixai que os raios do sol resplendam sobre ela, até que pareça ter sido escrita pelo esplendor de Deus – "E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora". O caráter de quem vai ser recebido não é mencionado, para que mencionando um pecador outro não pareça ter sido excluído. Nenhum limite é estipulado quanto ao tamanho do pecado; qualquer um em todo o mundo – quando blasfemo, demoníaco ser que venha a Cristo será bem vindo. Uso palavras fortes para que possa abrir bem o portão da misericórdia. Quem quer que vá a Cristo – venha ele das favelas ou dos bares, do antro de jogatina, da prisão ou do prostíbulo – Jesus de modo nenhum o lançará fora.
Além disto, o texto é muito generoso pois não estabelece limite para a ida. O único limite para a maneira de ir é que vão a Cristo. Conheço alguns que vieram a Cristo correndo – passos rápidos, seguros. Você lê sobre isto nos Evangelhos. Ficaram tão alegres ao ouvir falar do Salvador que correram imediatamente para o seu lado. Muitas crianças e muitos jovens fazem isso, e eles são tão abençoados. Vinde espíritos alegres e temerosos; eles não vos lançará fora se pulardes correndo em sua direção. Se correres subitamente para ele nesta noite ele não vos lançará fora.
Outros, um grande número, quando vão a Cristo, caminham aos poucos, lentos e claudicantes. Estão sobrecarregados com um fardo enorme de pecado e cheios de dúvidas e temores, por isso progridem lentamente. Não olham para Jesus e vivem, tudo ao mesmo tempo. Ficam olhando aqui e acolá, invés de olhar para Ele. Demoram a vir, pois estão receosos, ignorantes e embrutecidos. Não vos perturbeis, irmãos. O caracol alcançou a arca; e se vierdes a Cristo ele não vos lançará fora, ainda que vosso passo seja tristemente lento. Alguns olham para Cristo logo que ouvem falar a seu respeito, com olhos límpidos e claros como os de Raquel Oh que olhar! Eles parecem abeberar-se em Cristo e sua salvação tudo ao mesmo tempo, com aquele olhar. Mas tenho encontrado muitos cujo olhar é como o de Lia: ‘Lia tinha os olhos baços, porém Raquel era formosa de porte e de semblante’ (Gênesis 29:17). Olham no meio da fumaça de suas dúvidas, e da chuva de suas lágrimas e não enxergam a metade do Cristo que deveriam poder
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contemplar. Mas ainda assim aquele olhar semi-encoberto os salvará. Qualquer que seja o olhar, se for em direção a Cristo, vos salvará. Comparecer aos sacramentos poderá vos condenar; ir aos padres poderá arruinar-vos; mas ir a Cristo vos salvará. Se a vossa fé bastante simples alcançar a salvação de Cristo existe vida naquele toque. Se vossos pensamentos lembram o Salvador, se vosso coração o abraça, se vossa alma confia nele, por mais fracos e imperfeitos que sejais em vossa ida a Cristo, ele não vos lançará fora. Esta é uma verdade gloriosa para mim; não é também para vós? Contanto que cheguemos a ele, nosso Salvador não nos lançará fora. Alegro-me por pregar este Evangelho neste templo; não estais alegres por ouvi-lo? Se não estiverdes, triste será a vossa sorte.
Em terceiro lugar, não há limite aqui quanto ao tempo. "E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" é uma declaração gloriosa, expressa livremente, abrangendo todas as idades. Existem aqui algumas crianças, e me alegro em vê-las no meio de nossa congregação. Escutai-me, crianças! Estou contente em vê-los, e nós pregadores cometemos um grande erro se não pregarmos para vocês. Meu prezado João e Jane, Maria e Tomé, desejaria que viesses a Cristo enquanto sois jovens, colocando nele a vossa confiança, e tornando-se jovens cristãos. Não existe razão que vos impeça. Tendes idade bastante para morrer, e idade bastante para pecar, e tendes idade bastante para crer no Senhor Jesus Cristo. Por que não o fazerdes logo? Quando eu tinha apenas 15 anos fui ajudado pelo Espírito de Deus a lançar-me com Cristo; e jamais me arrependi de ter ido a Jesus tão cedo. Quem me dera ter chegado ainda mais cedo como quando eu conheci minha mãe. Alguns de vós ouviram falar de Jesus em vossa infância; seu nome fazia parte da música com que vossa mãe vos embalava. Oh que possais conhecer a Jesus tanto pela fé como pelo ouvir! Não penseis que tereis de esperar até estares crescidos antes de ir a Jesus. Temos batizado um bom número de meninos e meninas de 10, 11 e 12 anos. Falei outro dia com um menino de 9 anos; e posso dizer que ele conhecia mais sobre Cristo do que muitos homens grisalhos conhecem.; e ele amava Jesus com entusiasmo. Quando aquela doce criança me contava o que Cristo fez por ele, lágrimas vieram-me aos olhos, ao ver com que felicidade e brilho ele sabia falar do que sentia em sua alma sobre o poder do Salvador para abençoar. Vós, crianças, sois como botões de flores; e todo mundo gosta mais de um botão de flor do que uma rosa já crescida. Meu Senhor Jesus vos receberá alegremente como botão de flor. Oferecei-vos a ele, pois ele não vos lanará fora. Tenho certeza disso.
Se alguém aqui está no extremo oposto da vida, desejo lembrá-lo de que o texto "E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" aplica-se tanto aos idos como aos jovens. Ouvi certa vez um dedicado pastor dizer que se as pessoas não se
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convertessem entre os cinco e os quarenta anos de idade, ele não acreditava que jamais poderiam ser convertidas depois disso; e reforçava sua declaração com o testemunho de que nunca vira ninguém convertido depois dos cinco e dos quarenta. Eu gostaria de ter estado em seu púlpito. Não iria questionar suas declarações, mas iria compará-las com outras de outro tipo. Sem dúvida este irmão devia viver em um local muito pequeno; ou então ele nunca havia pregado o evangelho em toda a sua extensão a toda criatura. Talvez ele não acreditasse na conversão dos idosos, e por conseqüência nenhum idoso fora convertido por seu intermédio. Tenho visto tantas pessoas convertidas de uma idade como de outra; isto em proporção ao seu número, pois não existem no mundo de hoje tantas pessoas acima dos cinqüenta como as de menos de cinqüenta; e por causa disto uma grande proporção dos que compõem a nossa congregação são jovens. Temos em nossos cultos um bom número de ambas as idades, e quanto aos novos membros, tenho notado a mesma proporção de jovens e de mulheres e homens de idade. Temos batizado, após a profissão de fé, homens e mulheres de mais de oitenta anos, sobre cuja conversão tínhamos tanta convicção como sobre as dos pequeninos; nem mais nem menos. Quem ousa dizer que existe uma idade depois da qual a graça de Deus não é exercida? Desafio quem quer que seja a apresentar um texto que indique isto; e além disso desafio a veracidade de quaisquer observações que cheguem a tal conclusão. Minha pregação tem sido tal que jovens e idosos em proporção igual a têm assistido, e em igual proporção têm sido salvos. Por mais idosos que sejais, meu Mestre manda que eu vos diga "E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora". Vinde, amigo velho, ainda que não possais vir sem vossa bengala. Vinde, ainda que vossa vista já esteja fraca; vinde com vossos óculos. Embora não possais fazer muito pelo Mestre, ele pode fazer tudo por vós. Embora vos reste pouco tempo sobre a terra, tereis toda a eternidade para louvá-lo. E estou certo de que sereis um dos mais diligentes. Acredito que serais como uma idosa senhora que conheço. Quando lhe falei a respeito da conversão em idade avançada, ela disse: ‘Se o Senhor Jesus Cristo salvar uma velha pecadora como eu, ele nunca vai deixar de ouvir falar a respeito disso." É por isso que eu quero que ele o salve; pois ele nunca deixará de ouvir falar sobre isso. Irás abençoa-lo para todo o sempre pelo que ele terá feito por vós. Sem dúvida.
Queridos ouvintes, vinde a Jesus! Vinda pela manhã quando o orvalho ainda está sobre os vossos membros, pois ele não vos lançará fora. Vinde no calor do meio-dia, quando a seca dos cuidados vos assola, e ele não vos lançará fora. Vinde quando as sombras já se alongaram, e a escuridão da noite chega até vós, pois ele não vos lançará fora. A porta não está fechada; pois a porta da misericórdia não se
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fecha enquanto a porta da vida está aberta. Correi para Cristo e encontrai misericórdia nele!
Mais uma vez, amigos, notai em meu texto a abençoada certeza da salvação. Diz "E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora". Duas ou três negativas na língua grega reforçam uma negativa, o que não acontece com a língua inglesa. A negativa aqui é bastante forte. Diz "E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" ou ‘eu nunca nunca o lançarei fora". O que equivale a dizer – De maneira nenhuma, por nenhuma razão, por qualquer pretexto, por qualquer motivo, jamais durante a vida ou na eternidade eu lançarei fora a alma que vem a mim. Esta é a declaração – a declaração de uma certeza absoluta da qual não há como fugir. Que benção é repousarmos nas certezas! Certos pregadores, muito conhecidos hoje em dia, são pregadores inseguros, pois eles mesmos não sabem o que estarão propondo para o amanhã. Eles elaboram seu credo à medida que vão avançando, e muito pobre em sua essência. Eu acredito em algo certo e seguro; a saber, na infalibilidade da Escritura, e que aquilo que o Senhor ali escreveu nunca será alterado enquanto o mundo existir. Meu texto é tão certo quanto a verdade de Jesus Cristo; e podessemos ter visto seu belo rosto não poderíamos desconfiar dele. Pode sua imaginação tentar vislumbrar por um minuto a sempre abençoada face do Filho de Deus? Poderieis olhar aquele rosto e suspeitar que houvesse ali mentira? E quando ele diz "Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida"(João 5:24) sua declaração deve ser verdadeira. Ele nunca, nunca vos lançará fora, sejais vós quem quer que seja, qualquer que seja o tempo de vossa vida, ou aconteça o que acontecer, desde que chegues a ele. Existem muitas razões, aparentemente, para que ele devesse lançar-vos fora, mas ele as eliminou todas dizendo diga "E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" isto é ‘De modo algum, e sob nenhum pretexto, jamais lançarei fora uma alma que venha até a mim.’ E se Cristo não nos lança fora, é porque nos recebe; e se nos recebe, somos recebidos pelo coração de Deus; somos recebidos para a vida eterna; e eventualmente seremos recebidos pela benção eterna. Oh, a alegria do meu texto e sua absoluta certeza!
Vou concluir aqui, amigos, com uma ou duas palavras mais de encorajamento ao assinalar a personalidade do meu texto; pois aqui reside uma da liberalidade. Observemos que a primeira parte do texto começou dizendo ‘Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim’. Mas ao começar a lidar com pecadores de corações quebrantados, ele deixou de lado o ‘Todo’ e qualquer forma de declaração genérica
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e usou o pronômio pessoal no singular: "E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora". E aqui ele quer dizer para cada um que aqui está esta noite ‘Se tu vieres a mim, eu não te lançarei fora’. Não é no plural, é no singular. Se vós individualmente; vosso servo individualmente; vosso filho individualmente; e especialmente vós mesmos individualmente; se vieres ao Senhor Jesus ele não vos lançará fora. Não podeis duvidar disto. Vinde, pois, queridos ouvintes, crede no Salvador. Não estou falando esta noite a pessoas que duvidam da veracidade do Filho de Deus, não estou falando a pessoas que pensam que Cristo é mentiroso. Vós sabeis que ele vos receberá se fordes até ele. Por que não ides, então? Pensai em ir, eventualmente, um desses dias? E por que não agora? O que é que vos detém? Como ousais demorar? Estarás vivo na próxima semana? Como podeis certeza de um dia, de uma hora? Quando algum pagamento vai ser feito, não vejo as pessoas demorando para recebe-lo, dizendo ‘Deixa para o ano que vem’. Não, elas dizem ‘Melhor é um pássaro na mão do que dois voando’. Oh, ter Cristo na mão, e te-lo agora. E por que não agora? Será porque não entendeis realmente o que é recebê-lo, ou crer nele? É a coisa mais simples do mundo, e esta é a única razão porque é tão difícil; é tão exageradamente simples que os homens não acreditam que seja como a declaramos. Fé é simplesmente confiar em Cristo; e confiar em Cristo traz por si mesmo uma nova vida, e a salvação do pecado. ‘`As vezes cito um verso de Watts –
‘Um verme culpado, fraco e indefeso,
nas mãos de Cristo eu caio’.
Certa vez, após uma pregação, um jovem disse-me: ‘Senhor, eu não sei cair’. E eu lhe disse: Então eu não sei me expressar; pois eu não me referia a alguma coisa que você possa fazer, mas à cessação de todos os seus esforços, simplesmente lançando-se – ou se quiser, tropeçando – porque não podeis permanecer de pé – só isso. ‘ Porque eu mesmo não posso salvar-me, lanço-me nos braços de Cristo. Deixando de apegar-me a qualquer coisa que seja minha, eu lanço-me sobre ele. Mas direis ‘Deve existir alguma coisa além disso’. Nada mais existe além disso. Se crerdes que Jesus é o Cristo, então nascestes para Deus. "Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado". (Marcos 16:16) . “Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo". (Romanos 10:9). ‘Mas eu preciso, eu devo fazer alguma coisa misteriosa, ou sentir algo que atualmente está muito longe de mim’ Se assim for estarás mentindo para Deus, e afastando de vós a vida eterna.
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Já ouvistes a história do navio que estava no mar há muito tempo, tendo o capitão perdido o seu rumo; e descarregou-se até a foz do grande rio Amazonas e depois de estar viajando muito tempo rio acima sem jamais imaginar que estava em um rio, acabou-se a provisão de água. Ao verem outro navio, fizeram sinais desesperados e ao se aproximarem gritaram ‘Água! Estamos morrendo de sede!’ E ficaram muito surpresos com a resposta: ‘Lança o balde e apanhe água. Vocês estão num rio. Estão cercados de água doce’ Eles nada mais tinham a fazer do que lançar um balde a água, e apanhar toda a água de que necessitassem. E aqui estão pobres almas gritando: ‘Senhor, que devo fazer para ser salvo?’ quando o grande trabalho já está feito, e tudo o que resta é receber o dom gratuito da vida eterna. Que deveis fazer? Já fizestes o suficiente para uma vida, pois vos desfizestes tentando fazer por vós mesmos. Esta não é a questão. A questão é: ‘Senhor, o que fizeste? ‘ E a resposta é: ‘Está consumado. Já fiz tudo. Basta vir a mim e confiar em mim’ Pecador, estais navegando num rio de graça e de misericórdia. Jogai o balde, homem, e bebei até saciar a vossa sede; pois jamais conseguirás esvaziar o rio da graça.
Um rio está livre para qualquer cachorro que corre por suas margens; toda vaca que se achega ao rio pode beber até matar a sua sede. Assim é a misericórdia de Deus para todo pecador, seja ele quem for, bastando que venha a Jesus. Este rio corre esta noite ao vosso lado. Abaixai-vos, sedentos, bebei e terás vida. Mas dizeis: ‘Devo sentir-me diferente do que estou agora’. Não é necessário; vinde mesmo com o vosso mau temperamento de agora. ‘Mas o meu coração ainda não está enternecido" dirá alguém. Vinde a Cristo, e ele mudará vosso coração. ‘Mas ainda não estou realmente sentindo a necessidade’. Vinde a Cristo e ele vos ajudará a sentir a vossa necessidade. ‘Oh, mas eu não sou ninguém’ Vós sois a pessoa em quem Cristo se deleita, pois ele tudo será para vós.
Vede aquela bela árvore no pomar carregada de fruto? É um pessegueiro. Está coberto de alto a baixo por frutas. Nunca vi tantas juntas – cada galho está carregado. Alguns estão quase se quebrando com tanto peso. Enquanto ouço o ruído daqueles galhos carregados, posso ouvir a árvore dizendo: ‘Cestos, cestos, cestos. Trazei cestos’. Quem terá um cesto? ‘Eu tenho um’ dirá alguém, ‘mas de nada serve porque está vazio’ Trazei-o até aqui, homem: é exatamente isto este tipo de cesto que a árvore precisa. Outra pessoa diz: ‘Oh, eu tenho um ótimo cesto. Está cheio de alto a baixo". Guarda teu cesto para teu próprio uso. Não vai servir para a minha árvore carregada. Aonde existe um cesto vazio? Quem tem um cesto
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vazio? Vinde, trazei-o, e colhei da árvore tanto quanto quiserdes. Trazei todos os vossos cestos. Trazei milhares de cestos, todos vazios, e enchei-os. Notai que à medida que enchemos os cestos os frutos começam a se multiplicar? Existem mais depois que enchemos os cestos do que havia no começo, pois esta árvore inexaurível produz mais e mais frutos, tão rápido quanto os colhemos. O que o Senhor deseja é uma alma vazia para receber a plenitude do que Deus tem guardado para ela.
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FONTE:
Traduzido de http://www.spurgeongems.org/vols28-30/chs1762.pdf
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público e com permissão
Sermão nº 1762—Volume 30 do The Metropolitan Tabernacle Pulpit, Original em inglês: High Doctrine and Broad Doctrine
Tradução: Clarindo Gueiros
Prova: Armando Marcos Pinto
Capa: Beatriz Rustiguel
Projeto Spurgeon – Proclamando a CRISTO crucificado. Projeto de tradução de sermões, devocionais e livros do pregador batista reformado Charles Haddon Spurgeon (1834-1892) para glória de Deus em Cristo Jesus, pelo poder do Espírito Santo, para edificação da Igreja e salvação e conversão de incrédulos de seus pecados.
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