Texto: Lucas 1.46-56, RA
"Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome. A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem. Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais. Maria permaneceu cerca de três meses com Isabel e voltou para casa."
Introdução.
No segundo domingo de fevereiro os presbiterianos celebram com gratidão o dia da mulher presbiteriana. Considerando que desde a década de 60 houve uma verdadeira revolução do ponto de vista cultural, a mulher vem ganhando espaço em todos os seguimentos da sociedade. Mais do que nunca elas merecem ser lembradas.
Por vezes a linguagem do feminismo se dá com certa agressividade, quase que grávida dos séculos em que a mulher foi coisificada e reprimida. Contudo, ainda que a linguagem seja emocionada e carregada de desejos de igualdade, às vezes me ocorre que as mulheres exigem o direito de serem machistas. Logo tanto “elas” assim como “eles” precisam re-econtrar o sentida da vida a luz das categorias do Evangelho.
Sendo assim, quando tanto se fala em direitos da mulher, sua liberdade, seus sonhos, sua autonomia, venho dizer que a bíblia nos fala de uma revolução feminina que desconstrói tanto o machismo como o feminismo reduzindo-os a um construto histórico criticável. E no texto do Evangelho que hoje lemos, recebemos uma luz que indica o perfil da mulher de Deus que desafia positivamente a ideologia da identidade do gênero feminino nos dias atuais.
I. A mulher de Deus vive pela alegria do Senhor. (46 – 47)
O texto sagrado do Evangelho nos diz primeiramente que Maria irrompeu do fundo de sua alma, com um cântico, dizendo: "Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador".
Evidentemente que nas palavras cantadas por Maria estão as marcas de sua piedade diante de Deus, revelando que ela era uma mulher de fé, em cujo coração havia o desejo de falar da grandeza do Senhor.
A piedade dela nem de longe poderia ser comparada com uma obrigação, um fardo pesado ou uma burocracia gélida. A piedade que Maria ofereceu diante do Senhor era uma manifestação de alegria do coração. Era um estado de felicidade e júbilo pela certeza da salvação graciosa do Senhor, que em seus desígnios, prometeu libertar os cativos trazendo uma nova realidade de paz e bem aventurança ao mundo dos homens e das mulheres.
No mundo de Maria não existiam muitos motivos para poetizar a vida. As mulheres que o digam! Talvez elas fossem as que menos tivessem razões para cantar em verso e prosa a existência na qual elas estavam jogadas. Naquela época as mulheres:
• Eram em tudo inferiores aos homens;
• Eram tratadas como objetos dos homens;
• Ocupavam lugares secundários nos cultos;
• Não eram dignas de instruir ou mesmo de testemunhar nos tribunais;
Maria viveu esse mundo onde a mulher era diminuída, discriminada, alienada, marginalizada e espoliada em sua dignidade. Todavia, o que me ocorre é exatamente a forma como ela reagiu diante desse mundo que a cercava e a cerceava – ao invés de tomar parte nas militâncias radicais daquele período, ou mesmo se tornar uma pessoa seca e azeda de alma por causa das faltas de oportunidades – Maria, como uma mulher de Deus, decidiu viver a alegria do Senhor.
Num mundo de pobreza, inveja, injustiça, maldade, exploração e incredulidade, Maria resolveu cantar a alegria da comunhão com Deus. Ela mergulhou no relacionamento com o Senhor lutando contra a mediocridade do seu mundo engrandecendo o nome do Senhor. Ela superou as tristezas da alma, relembrando em forma de poesia o plano salvador de Deus.
Hoje, em nossos dias, a mulher realizou muitas conquistas, passou a assumir direitos que antes era monopólio de homens. Mas será que a mulher ainda hoje é diminuída? Será que ainda hoje a mulher esta sendo tolhida e espoliada das benções da imagem e semelhança divina implantada na existência delas? Penso que sim. Ainda hoje as mulheres são diminuídas e alienadas de sua verdadeira existência quando:
Supervalorizam a estética em prol de um erotismo fútil – deixando de lado a ética do temor a Deus.
Confundem submissão com escravidão – e liberdade com machismo as avessas.
Usam a ideologia como forma de desobediência a lei de Deus – principalmente no tocante a questão da vida e aborto.
Colocam a carreira profissional acima do dom de ser mãe e esposa.
Abrem mão de sonhar com a justiça e a felicidade – para aceitarem a pachorra de homens embrutecidos que humilham e maltratam e as tratam como objetos.
Perdem a dimensão da comunhão com Deus – em nome de um feminismo, carregado de um ódio militante.
O mundo que vivemos impõe sobre homens e mulheres uma existência medíocre e viciada numa forma incrédula de desdenhar os valores do reino de Deus e por causa desse contexto caótico que estamos vivendo estou plenamente convencido que o papel da mulher de Deus é fundamental para o enfretamento da realidade mundana vigente.
Diante do mundo que vivemos a mulher de Deus:
1. É aquela que assume corajosamente a comunhão com o Senhor. Ele segue os preceitos do Senhor com temor e tremor.
"Enganosa é a graça, e vã, a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada." (Provérbios 31:30, RA)
"Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo." (1 Timóteo 3:11, RA)
2. É aquela que engrandece em tudo a vontade de Deus.
"Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada." (Tito 2:3-5, RA)
3. É aquela que se alegra com as promessas de salvação.
"Então, orou Ana e disse: O meu coração se regozija no Senhor, a minha força está exaltada no Senhor; a minha boca se ri dos meus inimigos, porquanto me alegro na tua salvação. Não há santo como o Senhor; porque não há outro além de ti; e Rocha não há, nenhuma, como o nosso Deus." (1 Samuel 2:1-2, RA)
O texto sagrado também nos diz que:
II. A mulher de Deus considera intensamente o agir soberano do Senhor. (48 – 49)
Nos versos 48 e 49 do evangelho que lemos, Maria disse: "porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome."
O encontro de Maria com Deus foi um evento sobrenatural que marcou profundamente a vida dela. Primeiramente houve uma anuncio angélico que trouxe para ela a notícia do nascimento do Messias que seria formado no ventre dela, por obra e poder do Espírito Santo. Diante de tamanho ato divino de poder, graça, amor e providência Maria disse: "Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra." (Lucas 1:38, RA)
Dias depois, Maria vai a casa de sua prima Isabel e naquele momento Isabel, cheia do Espírito disse: " Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro de mim. Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor. " (Lucas 1:42-45, RA)
Após considerar todos os atos divinos, a mensagem angelical e o testemunho do Espírito Santo, Maria louvou ao Senhor "porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome."
Vemos nesses versos que Maria era uma mulher sempre pronta para ouvir, discernir e considerar com o coração todos os atos do Senhor.
Maria considerou alguns fatos, a saber:
Maria considerava o olhar de Deus sobre a vida dela – ao meditar nos atos de Deus, Maria percebeu que o Senhor olha para os pobres, ele vela pelos simples, ele socorre o necessitado.
Maria considerava a soberania do Senhor – ao cogitar em tudo que lhe foi dito, Maria percebeu que a sua vida não estava mais em suas mãos. Ela percebeu que na caminhada com Deus é preciso assumir a postura de um escravo que em tudo obedece ao seu Senhor.
Maria considerava o agir de Deus no seu presente – diante da providência divina, Maria viu o agir de Deus no tempo e no espaço. Ela considerou nos atos de um Deus presente que invade o agora dos homens semeando a esperança quanto ao futuro.
Maria considerava o poder de Deus – perturbada pela irracionalidade de uma gravidez virginal, Maria foi desafiada a crer Naquela que pode todas as coisas com o seu poder. Dali em diante ela tomou a consciência do grande poder de Deus.
Maria considerava a santidade de Deus – um ente santo estava sendo gerado dentro dela. O verbo encarnado; o filho de Davi; o cordeiro de Deus; o leão de Judá, estava sendo formado em seu ventre. Tudo isso lhe fez pensar na santidade do “ser” de Deus. Ele viu que Deus é totalmente outro.
Irmãos e irmãs existe uma orientação apostólica que nos remete a crescer na graça e no conhecimento de Deus, mas para haver esse conhecimento, é preciso que tenhamos uma disposição definida no tocante a meditar nos atos de Deus.
Maria, como mulher de Deus, fez a experiência de uma reflexão profunda dos atos de Deus em sua vida. Lucas registra que diante dos atos de Jesus, Maria “guardava todas estas palavras, meditando-as no coração”. (Lucas 2:19, RA)
Hoje o Espírito de Deus, convoca homens e mulheres para meditarem nas intervenções de Deus na história de suas criaturas para que tenhamos em nossa alma algumas certezas, a saber:
Deus está olhando para você. Ele olhou para uma pobre camponesa, como prova de que ele não se cativa com a estética desse mundo. Ele vê sua vida, seu coração e suas dores. Em alguns momentos nos sentimos sozinhos, impotentes e desprezados, mas ainda que estes sentimentos persigam sua alma saiba hoje que Deus olha para você. A mulher de Deus vive confiando no cuidado de Deus para com os seus servos.
Deus é soberano, nós somos seus servos. A mulher de Deus deve viver diante do Senhor como uma serva disposta a fazer sua vontade. Por isso, em Nome de Jesus seja uma mãe dedicada; seja uma mulher adornada por dentro e por fora; seja submissa ao seu marido no Senhor;
Deus é o artesão da história. Ele o dono do agora, ele é que fez o futuro. Como mulher de Deus, viva pela certeza de que tudo está sob controle. Viva em submissão a Deus, sabendo que cada centímetro da nossa vida pertence a ele.
Deus é Todo Poderoso. Nada é impossível para Deus. Por vezes encontramos realidades difíceis para enfrentar. Nem sempre o casamento é um mar de rosas; às vezes os filhos se envolvem em lugares que jamais desejamos e por conta das dificuldades desanimamos; como mulher de Deus, em nome de Jesus, jamais deixe de crer no poder de Deus;
Deus é santo. “Deus é totalmente outro”. Ele é diferente de nós. Ele faz muito mais do pedimos ou pensamos. Por isso tenha esperança no tocante a mudança de sua sorte.
E por fim,
III. A mulher de Deus vive pela utopia do Reino de Deus.
O fato de Maria ter sido uma mulher de fé, nem longe depõe contra ela, como se ele fosse uma mulher alienada da realidade. Pelo contrário, a luz das promessas do Senhor ela louvou a Deus dizendo:
"A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem. Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais." (Lucas 1:50-55, RA)
Se tomarmos o termo utopia como uma realidade criada que desafia o status quo, podemos dizer que Maria desafia a realidade do seu tempo apelando para algumas utopias;
1. A utopia da misericórdia. Maria enfrentava o mundo na certeza de que misericórdia de Deus alcança todas as gerações. E por mais difícil que seja a vida as criaturas podem contar com a compaixão de Deus.
2. A utopia do temor a Deus. Maria estava convencida a caminhar pelo mundo temendo a Deus. Obedecendo a sua Palavra.
3. A utopia da justiça de Deus. Maria caminhava pelo mundo sabendo que o Senhor é justo e em sua justiça ele destrói a falsas ideologias; humilha os poderosos e nada oferece as elites. Por outro lado ela enche de bens os famintos e exalta dos humildes.
4. A utopia da promessa. Maria não esperava por um tempo de paz inaugurado pelos homens. Ela esperava pelo tempo de Deus, pelo reino de Deus. Nessa expectativa ela retirava os olhos do mundo para olhar para o horizonte de um novo céu e terra prometidos por Deus.
Vivemos uma realidade carente de utopias. As maiorias das pessoas aceitam a vida da forma como ela é e dizem que é assim mesmo e que não adianta lutar. Por outro lado existe uma militância que tenta promover uma utopia de gênero onde os interesses humanísticos do ponto de vista da mulher devem ser conquistados para que haja pelo menos um mundo igualitário e altero.
Apesar de todas essas formas de ver o mundo, a experiência de Maria como mulher de Deus, nos serve como exemplo para assumirmos um novo ponto de vista diante da realidade. Tomando o termo utopia como uma nova forma de ver e enfrentar a realidade, a mulher de Deus deve assumir:
• A utopia da misericórdia – enfrente a realidade confiando na bondade de Deus. Por mais difícil que esteja a vida, conte todos os dias com a compaixão de Deus.
• A utopia do temor a Deus – enfrente a realidade buscando em tudo fazer a vontade de Deus, seja uma boa mãe, seja uma mulher ética; respeite a vida gerada no seu ventre, ame seus filhos; ame seu marido, seja no Senhor submissa a ele;
• A utopia da justiça – enfrente a realidade requerendo a justiça social; lute contra tudo aquilo que fere os princípios do Reino de Deus; não se cale frente a violência; não abra mão de instruir seus filhos; enfrente e lute em favor de tudo que promova a vida e a dignidade da imagem e semelhança de Deus que está em você;
• A utopia da promessa – enfrente a realidade, sabendo que o Senhor mesmo trará um mundo novo.
Conclusão.
Diante da palavra do Evangelho que hoje ouvimos, conclamo as mulheres de nossa igreja para repensarem o seu papel sob a perspectiva da revelação de Jesus Cristo. Como mulheres de Deus busquem viver pela alegria do Senhor. Considere em seu coração o agir soberano de Deus e assumam no cotidiano a utopia do Reino de Deus.
Que o Senhor nos ajude.
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