“Apagaram teu nome de seus templos. Escrevê-lo-ei na História”.
Às vezes nos dá um certo sentimento nostálgico, não é, como se nossa mente divagasse e nos remontasse a épocas nas quis quiséssemos retornar para acertarmos algo, resolvermos assuntos mal resolvidos, repararmos um erro, completarmos uma tarefa inacabada. Pensando nisto, lembro um pouco da história de Moisés. Como é rica, bela e inspiradora sua história, cujas nuances principais tentarei resumir em breves palavras.
Moisés tinha laços no Egito, onde crescera, se instruíra, e para onde voltara, quarenta anos após o exílio a que se submetera após ter assassinado um egípcio que maltratava um dos seus compatriotas hebreus, nesta época escravos dos egípcios. Ao retornar, a mando de Deus, vira novamente o Nilo, as estátuas colossais dos faraós, as pirâmides, a esfinge, e deve ter revisto algumas pessoas que conhecera há tempos. Havia muito o que dizer, o que lembrar, do que chorar, mas, acima de tudo, havia uma obra a se fazer, cuja urgência era presente no dia-a-dia de Moisés.
Ao sair com o seu povo, que era escravo, ele sabia que aquela empreitada o tiraria do Egito definitivamente. Moisés deve ter contemplado o Mar Vermelho se fechando, envolvendo as bigas furiosas de Faraó e, simbolicamente, encerrando-lhe para sempre o caminho para o Egito. Moisés teria seu nome banido dos templos, palácios e até da história egípcia. Laços quebrados que jamais seriam refeitos. Tudo isso pode ter passado por sua mente, no exato momento em que as águas do mar afogavam os ruidosos guerreiros egípcios e cobriam as pegadas dos hebreus fugitivos.
Moisés, se chorou, enxugou as lágrimas, apoiou-se em seu cajado de pastor de ovelhas, olhou para o povo, pensou na Terra Prometida, sobre a qual ouvira a partir das histórias deixadas pelos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, ancestrais de seu povo, que gemia escravo já há quatrocentos anos no Egito. E, talvez, algo como uma voz suave, divina e paternal deve ter lhe confortado, dizendo mais ou menos o seguinte: “Adiante, meu filho! Não é tanto o que tu deixaste, mas o que te espera. Apagaram teu nome de seus templos. Escrevê-lo-ei na História“.