SÃO PAULO — O Ministério Público estadual denunciou à Justiça o padre Pedro Leandro Ricardo, sob acusação de atentado violento ao pudor, com abuso da autoridade contra quatro ex-coroinhas da diocese de Limeira, no interior de São Paulo.

O religioso está afastado da igreja desde janeiro, quando passou a ser formalmente investigado pela polícia nas cidades de Limeira, Americana e Araras.

No documento, o promotor do caso, Luiz Alberto Segalla Bevilacqua, explica que deixou de pedir a prisão preventiva do religioso porque ele não tem mais contato com as vítimas. No entanto, ele sustenta que há “nos autos prova da materialidade dos crimes e indícios suficientes de autoria”. Apesar disso, deixou claro que pode pedir a detenção do religioso, caso este deixe de cumprir medidas cautelares, como comparecer a todos os atos do processo e ficar impedido de manter contato com vítimas, familiares e testemunhas.

Na peça, o promotor considerou que o padre usou de sua “ascendência sobre as vítimas, em diversas oportunidades, mediante violência e grave ameaça, para praticar atos libidinosos contra a dignidade sexual” de três adolescentes e uma criança de 11 anos no período de 2002 a 2006.

“É dos autos que o denunciado, padre da igreja católica, exercia autoridade moral e inegável influência sobre os membros de sua comunidade religiosa. Nessa qualidade, atraía criança e adolescentes para a função de “coroinha”, bem assim para as tarefas cotidianas da igreja, com o propósito último de satisfazer sua lascívia”, sustenta o promotor no documento, que está sob sigilo e a que O GLOBO teve acesso.

O Ministério Público ainda enviou os documentos da investigação para que a polícia de Americana investigue acusações de mais dois ex-coroinhas contra o religioso.

Além disso, o promotor arquivou a denúncia de um outro ex-coroinha, cujos fatos teriam ocorrido em data incerta em 1999, o que levou a prescrição dos crimes. Ele também deixou de denunciar crimes atribuídos a outro ex-coroinha aponta como “namorado do padre”, mas que sempre negou qualquer assédio ou abuso sexual pelo religioso. Esse caso já chegou a ser investigado em 2016, mas acabou arquivado pela delegacia de Americana.

Já faz quase um ano que a diocese de Limeira está imersa em denúncia de corrupção e assédio sexual de menores. O caso levou à renúncia do bispo Vilson Dias de Oliveira, que também responde a inquéritos, e que foi acusado de extorsão de outros padres e de fechar os olhos para abusos do padre Leandro.

Em março, O GLOBO revelou denúncias de seis padres que afirmaram que o bispo Dom Vilson Dias de Oliveira condicionava a pagamentos em dinheiro a permanência ou a transferência de subordinados em determinadas igrejas, sobretudo as de regiões mais ricas. De acordo com os padres, o sacerdote não escondia que seus “pedidos” eram para uso pessoal, como móveis, despesas de obras e melhorias nos 10 imóveis que possui e até festas.

Em fevereiro, outra reportagem antecipou que o Vaticano usaria as denúncias de abusos de menores e corrupção que abalam a diocese de Limeira, como exemplo da nova política de tolerância zero da Igreja contra esse tipo de crime.

O advogado do padre, Paulo Sarmento, disse que ainda não foi notificado sobre a denúncia e que só vai comentar o caso após ter conhecimento do teor da denúncia.