Categorias
Estudos

Como entender que tudo coopera para o nosso bem?

 

Imagem do avatarPor Paulo César Nunes do Nascimento (perfil no G+ Social) em 19 de agosto de 2011

Como entender que tudo coopera para o nosso bem?

“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm 8.28)

Talvez este seja um dos versículos mais citados por nós evangélicos, especialmente diante de situações adversas vividas por outras pessoas! Geralmente buscamos conforto e refúgio nesse versículo.

Mas muitas vezes, Rm 8.28 é usado meramente como último recurso ou fuga face às complexidades da vida cristã. Quando irmãos conosco as tragédias que atingiram as suas vidas, nos sentimos impotentes, não encontramos palavras capazes de produzir conforto e tranqüilidade, então recorremos a Rm 8.28 e dizemos: “É assim mesmo irmão, todas as coisas cooperam…”

No entanto, a experiência cristã tem mostrado que esse versículo é doce e fácil de ser digerido até o momento em que as tragédias da vida não batem a nossa porta e invadem a nossa casa.

Esta semana recebi um email com o seguinte conteúdo: (12/06/07)“Não sei se você conhecia um amigo nosso que fez o CLM aqui no passado, o Carlinhos e a esposa Cristina. O Gino e eu fomos ontem à tarde no sepultamento deles em Goiânia. Sofreram um acidente de carro e morreram os dois no local, deixando dois filhos, um de 13 (menina) e o outro de 10 (menino).”

Como estas crianças pré-adolescentes irão entender que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus diante da dura realidade de terem perdido pai e mãe no mesmo dia e numa fase da vida tão complicada como a pré-adolescência?

Como entender que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus quando se tem uma mãe maravilhosa, uma esposa dedicada, serva de Deus, que aos 55 anos descobre que está com câncer e 43 dias depois vem a falecer?

Como entender que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus quando se dedica toda a vida à tradução da Bíblia para um povo indígena na Colômbia, depois de publicado os guerrilheiros queimam todos os exemplares? O missionário vem para o Brasil começa um processo de revisão desse NT que fora queimado e aí descobre que está com câncer na medula. Pede a Deus apenas duas coisas: dê-me ainda mais um tempo para que eu possa completar esta revisão e ver os meus netos crescerem. Obtém como resposta NÃO, e pouco tempo depois morre. Como entender?

O apóstolo Paulo nos deixou nesse texto algumas orientações que, se forem bem assimiladas por nós, nos proporcionarão maturidade cristã, e nos capacitarão a lidar com as tragédias de forma menos dramática. Observem: não de forma calma, tranqüila, mas de forma menos dramática.

Para entendermos que Deus manobra todas as coisas (inclusive tragédias) para o bem daqueles que o amam, é preciso que tenhamos em mente que…

1. Deus trabalha em cima de projetos eternos. VS. 29,30

Observemos o resumo que Paulo faz do projeto eterno de Deus em relação aos seus.
…conheceu de antemão… Predestinou… Essas duas ações divinas se deram na eternidade.
…chamou… Justificou… Essas outras duas ações divinas se deram, aconteceram num momento histórico das nossas vidas. Ele nos chamou através da pregação da sua Palavra. Quando respondemos positivamente ao seu chamado, ele nos declarou justos em Cristo Jesus.
…glorificou… Esta última ação divina se dará no futuro, no momento da vinda de Jesus.

Ocorrerá no futuro? Ou já ocorrera no passado?

Essa declaração de Paulo é considerada a mais ousada expressão de fé das escrituras. A glorificação dos servos de Deus se dará em algum momento no futuro, mas ele fala dela como já consumada no passado.
O princípio que podemos extrair desses versículos é que o que Ele planejou na eternidade acerca das nossas vidas tem o seu desfecho final garantido. Independentemente dos contratempos e das tragédias que atingem as nossas vidas hoje.
Amados, o Senhor nosso Deus trabalha em cima de projetos eternos, de sorte que pra Ele não existe surpresas, acontecimentos inesperados, tragédias repentinas. Para Ele está fora de cogitação declarações tais como: “Não tive o controle da situação! Sinto-me impotente diante do que está acontecendo! Tudo aconteceu tão de repente!!!”
Todas essas coisas fazem parte da nossa experiência. De fato, nós somos surpreendidos por algumas tragédias, por desastres, por perdas repentinas; nós nos sentimos impotentes diante de sofrimentos prolongados vivenciados por nós ou por pessoas intimamente ligadas a nós.

De fato nós não conseguimos entender nem perceber que todas as coisas vão cooperar para o nosso bem. Isso é fato!
· Na verdade, algumas tragédias, alguns desastres, algumas perdas e alguns sofrimentos. São entendidos e explicados com o tempo. (José do Egito). “Vós na verdade, intentaram o mal contra mim, porém Deus o tornou em bem…” Gn 50.20a.
· Outras e outros, porém, nos atingem aqui, mas os seus motivos e as suas razões se processam numa dimensão acima da nossa, os quais ficam sem explicação para nós. De maneira que, quando tentamos ou alguém tenta oferecer uma explicação plausível, tece comentários e chega a conclusões equivocadas.
· Jó sofreu uma tragédia familiar, uma tragédia financeira, uma tragédia física, e uma tragédia matrimonial.
O que se passava com Jó aqui na terra eram efeitos, resultados, de algo que se processava numa dimensão espiritual que ele desconhecia.

Todos os seus amigos que tentaram oferecer explicações plausíveis, falaram bobagens.

Em situações como esta de Jó, em que as tragédias ficam sem explicações e nós não conseguimos enxergar como essas coisas vão cooperar para o nosso bem, precisamos entender que para Deus, numa dimensão espiritual acima da nossa, todas as coisas estão perfeitamente claras e são perfeitamente explicáveis.
Precisamos descansar e confiar, que de alguma maneira, que nós desconhecemos, Ele promoverá o bem para nós porque
Ele trabalha em cima de projetos eternos.

Mas em segundo lugar, para entendermos que Deus manobra todas as coisas para o nosso bem (inclusive as tragédias), preciso que tenhamos em mente que…

2. O laço amoroso de Deus para conosco não se rompe mesmo diante das piores tragédias da vida v.35

No v.35 Paulo faz uma pergunta retórica “Quem nos separará do amor de Cristo?” ao fazer esta pergunta Paulo não estava em busca de respostas. Ele a fez simplesmente para fins de argumentação; para enfatizar uma verdade que ele já sabia.
Em seguida ele passa a alistar uma série de circunstâncias incômodas que quando estamos no meio delas temos dificuldade de perceber e entender o amor de Deus por nós. V. 35.

O que Paulo está enfatizando com estás duas perguntas retóricas e que nenhuma dessas circunstâncias incômodas, nenhuma tragédia da vida é capaz de romper o laço do amor de Deus para conosco.
Mas, pastor, como entender o amor de Deus por nós diante das tragédias da vida?… diante de um casamento desfeito?… diante do abandono do marido?… diante da morte dos pais quando ainda se é muito novo?… diante das agonias de um parente com uma doença incurável?… diante do fato de ter sido e ainda ser rejeitado?… quando se perde o emprego ou a fonte de renda para o sustento da família?… quando se é abandonado pelos pais?…quando Ele remove das nossas vidas as pessoas que mais amamos?

Em circunstâncias como essas é extremamente difícil perceber e entender o amor de Deus.

No entanto, nas Escrituras, o Senhor afirma e reafirma o seu amor para com o seu povo, especialmente em circunstâncias em que o povo sente o abandono e o desamparo do Senhor. Em Is 49.14,15 está escrito:

“Mas Sião disse: O Senhor me desamparou o Senhor se esqueceu de mim. Pode uma mãe esquecer-se do filho que ainda mama, de modo que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse, eu, todavia, não me esquecerei de ti.”

No Sl 27.10 Davi fala desse amor imutável do Senhor:

“Ainda que meu pai e minha mãe me desamparassem, o Senhor me recolheria.”
Observemos que para afirmar e reafirmar a imutabilidade do seu amor para conosco, até mesmo em meio as tragédias da vida o Senhor usa como ponto de comparação o mais elevado nível de amor nos relacionamentos humanos: o amor dos pais para com os filhos.

Portanto, tenhamos sempre em mente que o laço amoroso de Deus para conosco não se rompe mesmo diante das piores tragédias da vida.

Mas em terceiro lugar, para entendermos que Deus manobra todas as coisas (inclusive as tragédias) para o nosso bem, é preciso que tenhamos em mente que…

3. O laço amoroso de Deus para conosco ultrapassa os limites da própria morte. Vs. 38,39

A morte impõe limites a existência terrena, mas Paulo diz que nem mesmo ela põe fim à ligação amorosa de Deus para com os seus servos, nem mesmo ela rompe, quebra, desfaz o laço amoroso de Deus para com os seus filhos.
Desde novo convertido eu aprendi que a Bíblia fala de três tipos de morte: física, espiritual e eterna. Também aprendi que o conceito básico que inclui esses três tipos de morte é separação. Separação do espírito e do corpo, separação da comunhão com Deus, separação eterna do Criador.
Se este conceito de morte estiver teologicamente correto, o que Paulo está dizendo é que nem mesmo a “separação poderá nos separar do amor de Deus”.

Na experiência humana a morte é o ponto alto, o ápice de uma tragédia. Tragédias que terminam com a morte de pessoas, são mais angustiantes e dramáticas.

Entender o amor de Deus em tragédias desse tipo é muito difícil do que em qualquer outra situação.
Geralmente as pessoas acham que se Deus as amasse não teria tirado a vida do seu ente querido; se Deus amasse o seu ente querido não teria permitido que ele morresse numa situação como aquela.
Pensamentos como estes geram revoltas, abalam a fé, levam muitas pessoas a desacreditarem do amor de Deus.
Em momentos assim é preciso maturidade cristã, é preciso visão correta da morte: Deus não deixou de nos amar porque o nosso ente querido morreu de forma tão trágica, Ele não deixou de amar o que foi vítima da tragédia, porque o seu laço amoroso para conosco, diz Paulo, ultrapassa os limites da própria morte.
Amados esses meus 22 anos de evangelho, uma das declarações mais belas que eu já ouvi face à dura realidade da morte foi de um indígena. Fazendo uma visita para uma irmã de sua comunidade que estava com câncer em estado terminal, ele disse:
“vá minha irmãzinha, vá em paz! O câncer pode comer a sua carne, mas não pode comer o seu espírito”. (Senhor Jair – etnia Dâw).
Esse homem tão simples, na simplicidade da sua fé, expressou maturidade, visão correta da morte. Mesmo matando-a, o câncer não seria capaz de pôr fim à sua existência espiritual, ao seu relacionamento com Deus numa outra dimensão, de desfazer, de romper o laço amoroso de Deus para com sua serva.

Em outras palavras, Paulo já havia falado sobre isso na carta aos Romanos 14.7,8: Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos para o Senhor vivemos; se morremos para o Senhor morremos. Quer pois, vivamos ou morramos, SOMOS DO SENHOR.

Pr. Paulo César Nascimento

Categorias
Estudos

Haraquiri Teológico – Parte 1: Um reino sem súditos!

 

haraquiri-teologico-01

Existe um movimento em progressão na igreja, que é a própria negação da igreja, e se resumiria na inadequação e acomodação dos conceitos mundanos a uma suposta vida cristã, não revelada como o sábio e perfeito conselho de Deus, pelo contrário, repudiada e condenada pela Escritura. Infelizmente a maior parte dos ataques que a igreja cristã sofre atualmente provém de suas próprias fileiras; o joio, misturado ao trigo, tem-se levantado para desarraigar o que Deus plantou, e assim fazer da igreja uma extensão do mundo, uma espécie de sanitário aparentemente higienizado e perfumado, mas que se resumiria a um local onde as pessoas defecam pelo chão e se esfregam nas paredes para limparem-se.

Seria um local onde alguns poderiam amenizar suas dores, mas que se resume a um paliativo, um anestésico que aplicado sistêmica e subliminarmente, afasta-os do Evangelho, impedindo-os de reconher a verdade, acomodondo-os à má-consciência, à mentira deslavada e vergonhosa, como é toda mentira. O problema é a impossibilidade de se limpar um cômodo enchendo-o de lixo e entulho; da mesma forma a alma humana somente pode ser despoluída pelo puro Evangelho, que trará ao homem doente a cura através do arrependimento pelo qual vem o perdão: "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos de refrigério pela presença do Senhor" [At 3.19] [1].

Os agentes infiltrados têm por objetivo levar a cabo o plano de tornar irrelevante o conselho do próprio Deus para os homens; e é dessa forma que os idealizadores do movimento agem [ainda que muitos adeptos não se aperceberam disso, cegados e iludidos pelos apelos do próprio coração]. Como Paulo nos alertou: "Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho, e que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si." [At 20.29-30].

Mas do que estou falando? De uma corrente que se diz evangélica e que trabalha laboriosamente contra o Evangelho chamada “movimento do não-senhorio de Cristo”.

Em linhas gerais, para quem ainda não sabe, este grupo afirma que alguém pode ser salvo sem a necessidade de se apresentar um fruto sequer. A salvação, pela graça, em si mesma não está atrelada à santificação ou ao testemunho que o salvo deveria dar, nem aos frutos que deveria produzir. De tal forma que, contrariamente ao que a Bíblia afirma, o cristão pode ser salvo mesmo sem arrependimento, sem fé, sem testemunho, sem saber que foi salvo, sem mesmo querer sê-lo, bastando-lhe apenas e tão somente a graça de Deus; uma graça que pode passar completamente desapercebida, e pela qual não se terá nenhum sentimento de gratidão. É como se eu usasse uma mesma camisa todos os dias, sem tirá-la do corpo, sem a concepção de que ela exista. Ou comesse atum todos os dias, em todas as refeições, e jamais me apercebesse do que estava comendo, e mesmo da existência do próprio atum. É claro que são fíguras de linguagem precárias, especialmente quando se refere à salvação, mas a ideia de um crente completamente alheio à sua salvação é algo muito mais absurdo ainda.

O que torna essa falsa doutrina algo realmente perigoso é o fato dela conter parte da verdade, de ter em seus princípios algo verdadeiro, mas que somente está ali para facilitar o estratagema enganoso de capturar os incautos para um sistema completamente falacioso, perverso e maligno. Uma mentira, ainda que tenha elementos verdadeiros, continua e permanece uma mentira. Basta uma lida na passagem em que o Senhor Jesus é tentado no deserto pelo diabo [Mt 4.1-11] para se perceber como a astúcia, a habilidade para o mal e para o engano, pode-se confundir com a verdade, camuflando os seus reais intentos. Como alguém já disse alhures: meia-verdade é mentira inteira!

Sabemos que a salvação é dádiva e favor completamente divinos, onde o homem não pode participar de maneira alguma, sendo apenas o alvo de toda a obra redentiva planejada e executada por Deus. Não se pode colaborar em nada com ela[Ef 2.8-9]. Mas ela pressupõe um processo, ainda que tenha sido decretada eternamente. E esse processo também é decretado, de tal forma que o salvo terá fé, arrepender-se-á, será regenerado, santificado, e dará frutos para a glória de Deus [não nesta seqüência, necessariamente]. Portanto, um salvo não precisará das obras para a salvação, mas as obras confirmarão a sua salvação. Portanto, nós, os salvos, somos feitos do alto, "criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" [Ef 2.10]. Em outras palavras, os frutos não precedem a salvação, mas a sucedem, de tal maneira que por eles é possível se saber a sua procedência. Como o Senhor nos diz: “Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis” [Mt 7.16-20].

Alguém poderá dizer: “mas, nessa passagem, Cristo está a falar dos falsos profetas e mestres”. É verdade, mas ela serve perfeitamente para os cristãos também, porque se é possível distinguir o engano e a mentira através dos maus frutos, é-se possível distinguir a verdade através dos bons. O cristão dará bons frutos que revelem a sua semelhança com Cristo e a sua filiação ao Pai.

O que o movimento do “não-senhorio de Cristo” proclama é que Deus salvará o homem ainda que ele não saiba, não queira, e não seja capacitado a testemunhar a sua eleição. Poderá mesmo continuar tão ímpio que não haja diferença em sua natureza. Mas tudo isso é avesso e alheio à verdade, ao que a Bíblia nos revela, porque o homem, para ver o reino de Deus, terá de nascer de novo. Foi o que Cristo disse a Nicodemus: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” [Jo 3.3]. Da mesma forma, o Senhor também disse que seriamos reconhecidos como seus discípulos se amássemos uns aos outros [Jo 13.35]; ou seja, os frutos são uma espécie de atestado daquilo que somos, do que nos tornamos pelo poder Deus. Se o homem mantém a sua velha natureza e não reconhece a necessidade do arrependimento, do perdão divino, e de se sujeitar ao senhorio de Cristo, esse homem permanece morto em seus delitos e pecados [Ef 2.5], e carece de ser vivificado por Deus.

É estranho que haja entre aqueles que se dizem discípulos de Cristo quem defenda o não discipulado a um salvo. O argumento é autocontraditório, pois se é-se discípulo de Cristo, recebe-se o ensino de Cristo, e com ele aprender-se-á. E se dizem que o discipulado é desnecessário, em si mesma essa afirmativa já é um ensino, um ponto ou princípio definido por um sistema de crenças, que foi ensinado e aprendido. Na verdade, essa é a condição para se proteger de maneira eficaz todo o sistema distorcido e inválido do "não-senhorio de Cristo", de forma que os tolos aprendam necessariamente um único aspecto normativo: o discipulado é supérfluo, pois nada se precisa aprender além dessa falsa premissa ensinada.

Interessante que a doutrina do “não-senhorio” reconhece a parte mais fácil para o homem [a salvação, pela graça de Deus], mas sem as suas implicações diretas [a servidão, a sujeição ao Senhor; que resultará na morte do velho homem e no surgimento do novo homem]. Paulo diz que estamos mortos para o pecado, então como é possível ainda vivermos nele? [Rm 6.3]. "Assim também vós considerai-vos certamente mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor" [Rm 6.11]. Há um claro conflito de interesses entre o que dizem os proponentes do "movimento do não-senhorio" e o que a Bíblia nos revela. Ao ponto deles considerarem irrelevante o ato de se pecar ou não, pois já estão debaixo da graça, logo, quer pequem, quer não pequem, isso em nada afetará as suas condições de salvos. Para eles, qualquer alusão à Lei e à santidade não passa de legalismo, de hipocrisia, visto que ninguém consegue se ver livre totalmente do pecado. Ora, uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. O fato do homem regenerado ainda pecar, não é o mesmo que pecar deliberadamente. Por deliberado quero dizer, convicto, decidido, disposto a levar às últimas consequências o ato pecaminoso. O homem regenerado, ainda que conviva com os seus pecados, sente-os como um peso, um fardo duro de carregar; ele titubeia e oscila entre o fazer e o não fazer antes de fazer; feito, arrepende-se e é perdoado por Deus. Mas mesmo depois disso, ele ainda é capaz de experimentar uma certa angústia, de se aborrecer, se entristecer, pois tem a nítida noção de que seu ato ofendeu a Deus. Como está escrito: "Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte" [2Co 7.10]. Por isso, alguém que se considera salvo e nunca tenha se arrependido diante de Deus, somente receberá o salário do pecado: a morte! [Rm 6.23]. Porque é impossível ser salvo sem ser servo, ou de receber a redenção sem se sujeitar ao Redentor. O que eles querem é um reino sem súditos, e súditos sem reino.

[Continua]

NOTAS: [1] Esta é uma perspectiva do ponto de vista temporal e humana, pois é certo que o perdão de Deus é eterno e imutável, assim como o próprio Deus é etrno e imutável; logo, muito antes de virmos a nos arrepender no tempo, ele já nos perdoou eternamente, pois a obra de Cristo na cruz foi decretada também na eternidade. Leia o texto "Santidade: Temporal ou Eterna?", onde desenvolvo melhor este ponto. [2] Haraquiri – Técnica de suicídio praticada por membros da classe guerreira japonesa. A pessoa que comete haraquiri faz uma incisão em seu abdome, de determinada maneira prefixada, e estripa-se a si mesma. O termo japonês para designar esse ritual é Seppuku. [3] Este texto é uma ampliação ao que foi publicado no blog "Cotidiano Cristão", cujo título é "Como ser ‘salvo’ e ainda ir para o inferno!" [4] Indico, como complemento, a leitura do texto "O que não é, pode não ser mesmo, se não for. Mas, e se for?", bem como a leitura do livro do pr. John MacArthur Jr. "O Evangelho Segundo os Apóstolos", publicado pela Editora Fiel.

Categorias
Artigos Estudos

Apologética: A Verdadeira Defesa da Fé

 

Defino Apologética como “a arte de defender a fé dentro do princípio do mandamento de preservação da Palavra de Deus das contaminações do mundo.” O termo tem origem na palavra grega apologia que significa “apresentar a razão” ou “defesa”.

Roque M. Andrade em seu livro “A superioridade da Religião Cristã” – ed. Juerp, pág. 69, afirma: “A apologética vem a ser o conjunto de noções pelas quais se pode empenhar alguém na tarefa de articular qualquer defesa racional”. E continua: “O cristianismo sempre contou com excelentes apologistas, principalmente no decurso dos primeiros séculos desde seu surgimento na história universal”.

Sim, o cristianismo resistiu às fortes perseguições doutrinárias por parte das seitas porque usou de forma correta e coerente a defesa da fé. A reforma protestante é um grande exemplo, sua base foi a apologética.

Costumo dizer para os alunos das faculdades e seminários de ensino teológico que, a base da apologética não é o conhecimento teológico, mas a exposição desse conhecimento. Não basta apenas ter o conhecimento, é preciso saber apresentar tal conhecimento.

Defender a fé é oferecer respostas fieis e seguras a todas as pessoas que buscam a Verdade. Assim escreveu Pedro:

“Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, Tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo” . 1ª Pe. 3.15,16.

O versículo manda estarmos prontos. Talvez, jamais encontraremos alguém que faça perguntas difíceis sobre nossa fé; mesmo assim devemos estar prontos para responder caso alguém pergunte. Estar pronto não é só uma questão de ter a informação correta á disposição, é verdade também a atitude de prontidão e vontade de compartilhar a verdade sobre o que acreditamos.

“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos, Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo”. 1ª Pe. 3,4

Tipos de Apologética

A apologética é um campo amplo e por isso possui cinco classificações: apologética clássica, evidencial, experimental, histórica e pressuposicional. Cada classe busca a melhor maneira de fazer sua defesa da fé. Todas seguem uma linha em harmonia com sua pregação ora literária ora verbal.

A apologética sempre teve famosos cristãos desde a era primitiva, devido sua maneira de propagar a fé destruindo todo tipo de argumento contrário á Palavra de Deus, mesmo em meio as perseguições.

Apologética Clássica: A apologética clássica enfatiza argumentos a favor da existência de Deus. Vale-se do argumento teísta para estabelecer a Verdade do teísmo à parte do apelo à revelação especial. O passo inicial da apologética clássica é de chegar à conclusão lógica de que, se o Deus do teísmo existe, milagres são possíveis; na verdade o maior milagre, a criação, é possível. A credibilidade dos milagres é essencial ao próximo passo na apologética clássica.

Apologética Evidencial: A apologética evidencial enfatiza a necessidade da prova para apoiar as afirmações das verdades cristã. A evidência pode ser racional, histórica, arqueológica, e até experimental.

Apologética Experimental: É a experiência como evidência da fé cristã. Alguns apelam à experiência religiosa em geral. Outros à experiências religiosas especiais. O valor da experiência religiosa geral é de valor limitado para a apologética exclusivamente cristã. Na melhor das hipóteses, a experiência geral estabelece a credibilidade da crença em algum tipo de ser supremo (não necessariamente o Deus teísta). No entanto, as provas da experiência religiosa têm sido oferecidas por cristãos e outros. Experiências gerais estão disponível a todos.

Apologética Histórica: A apologética histórica enfatiza a evidência histórica como base para demonstração da veracidade do cristianismo. Esses apologistas acreditam que mesmo a existência de Deus pode ser provada apenas pela evidência histórica. Por um lado a apologética histórica pertence à classe mais ampla da apologética comprobatória, mas é diferente por que enfatiza a importância, até mesmo a necessidade de começar com o registro histórico.

Apologética Pressuposicional: A apologética pressuposicional afirma que é preciso defender o cristianismo a partir do alicerce de certas pressuposições. Geralmente o apologista desta escola de apologética pressupões a verdade básica do cristianismo e depois continua demonstrando que só o cristianismo é verdadeiro.

Deus lhe chamou para defender a fé!

“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo”

Isso significa que devemos confrontar questões nas nossas mentes e nos pensamentos expressos por outras que por ventura impeçam a nós e a eles de conhecer Deus. Essa é a essência da apologética.

“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos, Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo”. 1ª Pe. 3,4

A Bíblia não precisa ser defendida! Afirmam alguns. Sim, a Bíblia é viva e eficaz (Hb. 4.12), mas como sabemos que a Bíblia e não o Alcorão (livro sagrado dos mulçumanos) ou o livro de Mórmon é a Palavra de Deus? A apologética é uma grande necessidade! É um dever de todo cristão fiel á palavra de Deus.

Deus lhe chama para defender a fé com sabedoria, mansidão e unção da Palavra. Defenda a fé e mostre ao mundo o verdadeiro caminho para a salvação. Jesus Cristo, o Senhor!

Alex Belmonte – é Mestre em Teologia, Pós-graduado em Apologética Cristã e Lato Sensu em Heresiologia. Doutorado em Clínica Pastoral atua em ministrações com especialização em História das Religiões, Apologética e Escatologia, possui os títulos Honoris Causa de Doutor em Divindade pela Faculdade Luther King de Teologia e Filosofia de Franca (SP) e Fatecom. Pós-graduando em Línguas Originais (Grego e Hebraico).
Foi membro do Departamento de Educação Cristã da Convenção Batista Nacional (CBN-ES), Coordenador da Jornada  Teológica pela Fates – Faculdade Teológica do Espírito Santo (Extensão Itabatã – BA) e palestrante do ICP – Instituto Cristão de Pesquisas.

045

Rev. Ângelo Medrado, Bacharel em Teologia, Doutor em Novo Testamento, referendado pela International Ministry Of Restoration-USA e Multiuniversidade Cristocêntrica é presidente do site Primeira Igreja Virtual do Brasil e da Igreja Batista da Restauração de Vidas em Brasília DF., é autor de diversos livros entre eles: Maçonaria e Cristianismo, O cristão e a Maçonaria, A Religião do antiCristo, Vendas alto nível, com análise transacional e Comportamento Gerencial.