“Precisamos entender os princípios da interpretação bíblica”, alertou.
O teólogo e apresentador do programa “Bible Answer Man”, Hank Hanegraaff, diz que os especialistas em profecias modernas estão errados em vincular a profecia do livro de Ezequiel, capítulo 38, à atual guerra na Ucrânia.
Um dos especialistas que faz a associação é Pat Robertson, que acredita que o profeta falou sobre a invasão russa há 2500 anos. O fundador da CBN News, disse recentemente, que “as tropas de Putin e de Erdogan (presidente da Turquia), vão formar um exército nos últimos dias”.
Para ele, a Ucrânia é fundamental por ligar Bulgária, Grécia e Turquia. “Toda essa área será mobilizada contra Israel”, disse Robertson ao se referir à grande batalha contra os judeus no fim dos tempos.
Teólogo discorda
“Isso é coisa da nossa imaginação moderna e não faz parte do contexto histórico e bíblico. Ezequiel fala sobre o príncipe de Rosh e de outras nações que vão atacar Israel”, argumentou Hank.
“A Bíblia não está falando da Rússia moderna”, disse ao apontar para a necessidade de entender todo o contexto ao longo da história.
“Ezequiel profetizou sobre um período extremamente sombrio na história de Judá. O profeta nasceu na época em que Josias encontrou o Livro da Lei no templo. Isso foi quando um renovo espiritual invadiu a terra”, citou.
Ele explicou ainda que, “infelizmente, a reforma espiritual durou pouco. Na época da morte de Josias, as práticas idólatras do passado voltaram com força total, e assim, os atos do julgamento de Deus caíram sobre eles. E, como resultado, Ezequiel também foi parar nas planícies empoeiradas da Babilônia”.
‘Ezequiel profetizou à próxima geração’
Para Hank, o profeta Ezequiel estava fazendo um aviso aos companheiros de exílio que o pior ainda estava por vir.
“Ele se referia à profanação de Jerusalém e seu templo em 586 a.C. [pelos babilônios]. Ezequiel estava profetizando perto do rio Kebar. E ali ele olhou para o céu oriental e ansiava que a glória do Senhor voltasse a um templo que havia desaparecido nas rochas que o cercavam”, disse.
“Ezequiel ansiava pela promessa de um templo cuja glória excederia até mesmo a do templo de Salomão. E, no Espírito, ele estava prevendo eventos que aconteceriam uma geração depois”, continuou.
“Uma geração depois, não no século 21. Na próxima geração, quando Zorobabel reconstruiria a condição espiritual dos exilados que retornaram e quando Neemias desafiaria seus compatriotas a se levantar para reconstruir os muros destruídos de Jerusalém”, reforçou.
‘Deus derrotará Gogue’
Para o pastor, Rosh não significa Rússia e Gogue é uma pessoa. “Quem quer que seja Gogue, ele é da terra de Magogue e é o líder de Tubal e Meseque. Além disso, trata-se de uma confederação de outras nações: Pérsia, Cuxe, Pute, Gomer e Beth Togarmah, conforme Ezequiel 38.5-6”, mencionou.
“Quem quer que seja, ele terá planos de ‘atacar um povo pacífico e inocente’, isto é, Israel, conforme versículos 11, 14 e 18. Mas, independentemente dos planos de Gogue, o Senhor Deus está contra ele e o derrotará”, disse ainda.
‘A palavra Rosh não tem ligação semântica com Rússia’
Hank também cita que a “Pérsia”, nação listada como aliada de Magogue, é o Irã moderno. E também esclareceu que “a palavra ‘Rússia’ é uma palavra viking do século 11 e não está semanticamente ligada à palavra hebraica Rosh.
Precisamos entender os princípios da interpretação bíblica para que nossa imaginação moderna não nos enlouqueça”, alertou.
Vale citar ainda que vários teólogos exploram abertamente as profecias do Antigo Testamento associando-as ao fim dos tempos e colocando a Rússia como uma das peças do tabuleiro, que vai se mover contra Israel no jogo da guerra.
Joel Rosenberg, por exemplo, acredita que o líder da Rússia [disse sem citar nomes], fará uma aliança com Irã, Turquia e alguns outros países hostis para atacar Israel nos últimos dias.
O arqueólogo e historiador, Rodrigo Silva, explica que o foco em países como Rússia ou China, por exemplo, se dá por serem nações expansionistas e que lutam por poder. “Mas, não deveriam ser colocadas, neste momento, no cenário profético de Gogue e Magogue”, mencionou.
Ele também esclareceu que o nome “Ros” ou “Rosh”, dependendo da versão bíblica, apenas se assemelha ao nome Rússia. “Mas, é estranho pegar só a fonética similar porque gramaticalmente teremos problemas”, esclareceu.
“Rôs em hebraico (ro’sh) significa cabeça, topo, começo ou principal. Não há menção na Bíblia de que Rôs seja um lugar. Daí fica difícil dizer que Rôs possa ser a Rússia”, reforçou.
De acordo com o historiador, os russos são de tribos bárbaras do nono século. Além disso, a palavra “russo” quer dizer “remadores”.
Após fugir para o interior e encontrar um local seguro, o missionário brasileiro fez uma transmissão ao vivo para dar detalhes sobre a invasão russa.
O missionário e pastor batista que vive na Ucrânia, Anatoliy Shmilikhovskyy, continua dando notícias sobre a guerra que acontece por lá e disse, no sábado (26), numa transmissão ao vivo em seu Facebook, que “as orações da Igreja fazem a diferença”.
“Eu trago notícias boas e ruins. A notícia boa é que estamos vivos e estamos bem”, disse e logo após começou a relatar sobre tudo o que os ucranianos estão enfrentando desde o início da invasão russa.
“Putin é cercado por pessoas demoníacas. Ao redor dele há shamãs, como costumamos chamar essas pessoas por aqui. Eles gostam muito de números”, disse.
“A guerra na Geórgia começou em 08.08.08 e na Ucrânia em 22.02.22. Para eles, isso significa muita coisa. Então, entendemos que para Mr. Putin é uma coisa espiritual. O que está no coração dele é algo espiritual”, revelou.
“Devemos batalhar com armas espirituais”
“Mas, nós crentes sabemos que, contra as armas espirituais do maligno, também devemos batalhar com armas espirituais. Por isso, a oração é um dos momentos mais poderosos”, explicou.
Ele contou que sua filha mais nova está orando pelo Putin. “Ela está pedindo para que o coração dele seja bom. Nós entendemos a oração da criança. Para nós, isso parece impossível, mas o que é impossível para Deus?”, questionou.
Sobre a guerra, Anatoliy disse que ninguém é preparado para isso no seminário. “Guerra é guerra e nós estamos numa guerra aqui, bem no meio da Europa. O exército ucraniano está batalhando e defendendo o seu país. A Ucrânia não ataca, a Ucrânia se defende”, disse ainda.
Sobre as mortes de soldados e civis
“Ouvimos uma informação oficial de que, somente hoje, o exército russo perdeu mil soldados. Por um lado, eu devo confessar que até fico contente, mas eu sei que mil famílias perderam seus filhos, mil mães terão sofrimento dentro de sua casa”, ponderou.
“Há mortes também aqui na Ucrânia. Pela manhã, um míssil caiu num orfanato perto de Kiev, onde havia 50 crianças. Aí, eu acho que já passou de todos os limites”, disse ao se referir ao absurdo de colocar crianças em risco em meio à guerra.
“O nosso presidente Zelensky está pedindo à OTAN que nos dê cobertura contra os mísseis e eles estão decidindo ainda se vão ou não dar. Porque, se for uma batalha somente por terra, sem mísseis, a Ucrânia vai ganhar”, ele acredita.
“Nunca vi tantos ucranianos orando como agora”
“Às vezes, não entendemos por que Deus nos permite passar por esses momentos, mas, eu nunca vi tantos ucranianos orando como estão orando agora. Nunca vi na minha vida”, compartilhou.
Depois citou o apoio recebido do Brasil, Estados Unidos, Europa, Polônia, Alemanha, Chile, e muitos outros lugares. O missionário agradeceu e pediu para que todos continuem orando.
“Nós não queríamos falar de guerra e batalha, pois nosso papel é propagar o Reino de Deus”, lamentou, mas mostrou que esse é o contexto que a Igreja na Ucrânia está vivendo.
No momento em que gravou o vídeo, ele disse que estava num lugar seguro, no interior, após conseguir fugir da cidade de Lviv, uma das primeiras a ser atacada por soldados russos.
“A gente não quer mortes e não quer que o exército russo também sofra. A gente quer paz. Por favor, irmãos, orem por nós. Estamos vendo que quando a Igreja se mobiliza faz a diferença”, concluiu.
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