O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) calcula que cerca de 400 pessoas foram enganadas em um esquema de pirâmide financeira investigado em Caiapônia, no sudoeste de Goiás. De acordo com as investigações, um pastor evangélico, presidente de uma igreja, e mais três pessoas ofereciam lucro na negociação de barris de petróleo mediante investimento em uma falsa empresa. A defesa nega as acusações.
A promotora de Justiça Teresinha de Jesus Paula Sousa denunciou o pastor Gersil Caetano Rosa, o filho dele, Fábio Gomes Caetano, o escrivão da Polícia Civil Adolfo de Freitas Filho e a fiel da igreja Patrícia Castro Bessa. A suspeita é que o grupo conseguiu obter, com o esquema, cerca de R$ 500 mil.
“A gente não sabe mensurar a quantia exata porque as vezes, num grupo familiar, foi todo o grupo [enganado]. Mas estimo cerca de 400 pessoas. A maioria não quis aparecer, umas por vergonha, outras porque são, a maioria, rebanho da igreja e tem aquele temor de falando alguma coisa do presidente”, disse a promotora ao G1.
O advogado dos quatro denunciados, Watson Nunes de Oliveira, afirmou que seus clientes são inocentes.
“Ele foi vítima de um sistema vicioso, assim como todas as outras pessoas que estão reclamando agora desse investimento”, afirmou.
Segundo a TV Anhanguera, Gersil foi afastado da presidência da Assembleia de Deus em Caiapônia e transferido para outra igreja.
“A igreja é um corpo docente, não tem nada a ver com isso. Agora, até que ele prove o contrário, tem que ser ele [a responder sobre o assunto]”, afirma Ivaldo Nures de Almeida, vice-presidente da igreja.
A Polícia Civil disse à TV Anhanguera que o escrivão foi afastado da função.
Pastor Gersil foi afastado da presidência da Assembleia de Deus em Caiapônia — Foto: TV Anhanguera/Reprodução
A promotora explicou que o caso começou a ser investigado após um grupo de vítimas procurarem o MP para denunciar o golpe. Ela explica que chegou a ser realizada uma audiência pública entre as partes, no intuito de promover o ressarcimento, mas não houve acordo.
Ela disse que, no decorrer das investigações, surgiu a informação de que o delegado que investigava o caso estava sendo ameaçado.
“Essas supostas ameaças de morte é o que fez aflorar tudo isso agora junto à conclusão desse inquérito. Foi descoberto isso, esse plano para tirar a vida do delegado”, destaca.
Um homem, que prefere não se identificar, conta que ele e mais três pessoas da família investiram juntos quase R$ 10 mil no suposto negócio, mas ficaram no prejuízo.
“Eles vinham até a residência nossa com um papel, onde a gente preenchia aquele formulário e repassava esses valores para eles”, conta.
A denúncia relata que o esquema foi colocado em prática em 2016 e teria enganado pessoas em ao menos quatro cidades de Goiás e uma do Mato Grosso.
Para participar, os interessados faziam os investimentos e pagavam ainda um valor de R$ 120 por uma “taxa de participação”. De acordo com o MP, o grupo dizia aos “clientes” que “as aplicações que estavam realizando eram seguras e não precisavam ter receio algum, pois os lucros seriam garantidos”.
Igreja era usada para reuniões do grupo, segundo o MP — Foto: TV Anhanguera/Reprodução
Porém, eles começaram a ser procurados por pessoas reclamando que não conseguiam resgatar o dinheiro. Inicialmente, os envolvidos alegavam que o site da empresa estaria com defeito e que os lucros seriam recebidos “brevemente”.
Seguindo sem respostas, as vítimas voltavam a procurar os denunciados, que alegavam que “a empresa tinha quebrado” e não seria mais possível ressarcir o valor.
O MP destaca que Gersil e o filho pesquisaram sobre uma forma de obterem um “lucro fácil” e descobriram o negócio com os barris de petróleo. Por ser “conhecido na cidade”, diz a denúncia, ele conseguiu atrair várias pessoas e boa parte dos fiéis para investir na empreitada.
Fábio teria ainda, conforme o MP, procurado Adolfo e Patrícia para também participarem da situação. A eles caberia o papel de encontrar e convencer novas pessoas a investirem no negócio.
A investigação apontou que as reuniões sobre o assunto seriam realizadas nas instalações da igreja. Quando as pessoas aceitavam a proposta, iam até a casa de Fábio para se cadastrarem e fazer os pagamentos a ele. Eram feitos cerca de 35 atendimentos diários.
O órgão ministerial apurou que Adolfo e Patrícia também iam nas casas ou trabalho das pessoas para aplicar dinheiro na empresa.
Os quatro denunciados devem responder por estelionato, associação criminosa e crime contra e economia popular.
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