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Cientistas falam sobre procedimentos em caso de ‘contato alienígena’

 

Jason Palmer

Da BBC News

Atualizado em  17 de janeiro, 2012 – 11:56 (Brasília) 13:56 GMT

Representação artística de aliens/AP

É provável que notícia fosse divulgada por grupo de cientistas que monitora o espaço

Há décadas mandamos sinais, deliberados ou acidentais, ao espaço, além de procurar por emissões de sinais por alienígenas. Mas qual seria o plano caso um dia ouvíssemos alguma coisa?

Se isso acontecer, é mais provável que os cientistas da Seti (sigla em inglês para Search for Extra-Terrestrial Intelligence, ou Busca por Inteligência Extraterrestre) percebam primeiro os sinais.

Este grupo de cerca de 20 cientistas pelo mundo monitoram constantemente o universo na esperança de captar comunicações alienígenas, geralmente contando com recursos parcos e sendo ridicularizados.

Eles buscam por algo estranho por entre os sinais dos maiores telescópios do mundo.

A Seti começou com um único homem com um telescópio em 1959. Hoje computadores são usados para vasculhar o tráfego de ondas de rádio, enviando para astrônomos possíveis indícios de vida alienígena.

Mas o que aconteceria caso fosse detectada uma comprovada comunicação alienígena?

Teorias da conspiração defendem que os governos impediriam a divulgação desta informação, mas o principal astrônomo da Seti, Seth Shostak, pensa diferente.

"A ideia de que os governantes iriam manter isso em segredo para evitar pânico não faz sentido. A História mostra que não é assim", diz ele.

"No início do século 20 muitos acreditavam que existiam canais em Marte, uma vasta civilização hidráulica a apenas 50 milhões de km da Terra. A população dizia só que era coisa de marcianos, sem entrar em pânico."

O que fazer?

Chris 73 / Wikimedia Commons

As conchas Nautilus são relacionadas com a sequencia Fibonacci

A primeira coisa a ser feita caso os computadores detectem algo seria confirmar a autenticidade com outros telescópios, o que levaria alguns dias.

"Neste período você pode ter certeza de que muita gente falaria sobre isso em e-mails ou blogs… o assunto não ficaria secreto."

É provável portanto que a notícia de um contato alienígena fosse divulgada primeiro por um astrônomo da Seti.

Em 1997, um "alarme falso" mostrou a reação provável.

"Observamos este sinal durante todo o dia e a noite toda, aguardando alguém de algum governo se manifestar", diz Shostak.

"Nem mesmo políticos locais telefonaram. Os únicos interessados eram da imprensa."

Não há nem um plano de ação detalhando quais organismos internacionais devem ser informados primeiro.

"O protocolo é simplesmente fazer o anúncio", diz Shostak.

As Nações Unidas têm um pequeno escritório em Viena chamado Office for Outer Space Affairs (UNOOSA), ou Escritório para Assuntos do Espaço Sideral. Os cientistas da Seti tentam sem sucesso há anos estabelecer um plano comum de ação.

Perguntados o que aconteceria no caso de mensagem alienígena, a UNOOSA respondeu que seu mandato atual "não inclui nada referente à questão colocada".

Portanto, o planejamento fica a cargo de pessoas como Paul Davies, da Universidade do Arizona, que lidera a equipe de pós-detecção da Seti. Mas não sabemos que tipo de informação, se é que existirá alguma, estaria contida em algum sinal. E sua decodificação poderia levar anos ou mesmo décadas.

E o que eles poderiam dizer? Poderia ser uma saudação simples, como um "Olá terráqueos, estamos aqui", diz Davies.

"Poderia ser algo totalmente transformador e revolucionário, algo simples como a forma de controlar o processo de fusão nuclear… que resolveria a crise energética mundial."

"Por causa do grande tempo que levariam as viagens de um ponto muitos e muitos anos-luz de distancia, teríamos tempo o bastante para refletir sobre as consequências de nos engajar em um diálogo nessa escala lenta."

O que dizer?

Pergunte a qualquer um na comunidade Seti se deveríamos responder e o consenso é de que sim. Mas o que dizer e como é motivo de discórdia.

"Quando lidamos com uma mente alienígena – o que eles poderiam apreciar, o que eles considerariam interessante, belo ou feio – será muito relacionado com o desenho de sua arquitetura neurológica que realmente não podemos adivinhar", diz Davies.

"Portanto, a única coisa que devemos ter em comum pode ser no terreno da matemática e da física."

De volta ao instituto Seti na Califórnia, o diretor de composição de mensagens interestelares, Doug Vakoch, concorda.

"É difícil entender como alguém poderia construir um transmissor de rádio se não souber que dois mais dois são quatro", diz ele.

Animação de Doug Vakoch

Uma característica humana como o altruísmo poderia ser enviada para alienígenas

"Mas como usamos este conhecimento em comum para comunicar algo que é mais idiossincrático para outras espécies? Como diremos a eles como é realmente ser humano?"

Alguns cientistas da Seti argumentam que, uma vez que saibamos para onde mandar um e-mail interestelar, poderíamos simplesmente enviar todo o conteúdo da internet por meio de um raio de laser.

Alienígenas teriam então informação bastante para construir padrões, identificar linguagens e ver imagens, de todos os tipos, sobre o que é ser humano.

Mas Vakoch acredita que mandar um "carregamento de dados digitais" seria uma aproximação "feia". "Deve existir algo mais elegante para dizer sobre nós mesmos do que isso".

Poderíamos expressar nossa ideia de beleza, embora de forma simples, ao enviar um sinal representando a sequencia Fibonacci, na qual cada número é a soma dos dois anteriores: um, dois, três, cinco, oito, 13 e assim por diante. Em uma sequência vista em galáxias espirais e como algumas conchas nautilus crescem, uma constante algébrica conhecida como Proporção Áurea, que é esteticamente prazerosa e usada na arquitetura clássica.

Vakoch também espera mostrar características possivelmente idiossincráticas como o altruísmo. Para isto, ele preparou uma animação simples de uma pessoa ajudando outra a subir um penhasco.

Mas qualquer mensagem precisaria de consenso internacional antes de ser enviada, coisa que só seria atingida por meio de negociações se um sinal realmente for captado. Até lá, ele pretende continuar pensando no que dizer em um microfone interestelar.

"Talvez mais importante do que se comunicar com extraterrestres, este exercício de compor mensagens é uma oportunidade para refletir sobre nós mesmos, sobre com o que nos importamos e como expressamos o que é importante para nós", diz ele.

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Traços alienígenas na Lua?

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Será que a Lua já foi palco de explorações alienígenas? Para pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona, a resposta é sim. E mais do que isso: tal especulação rendeu um artigo científico sobre a importância da busca por supostos artefatos alienígenas na superfície lunar.

De acordo com Paul Davies, físico teórico e cosmólogo, e Robert Wagner, estudioso da Escola da Exploração da Terra e do Espaço, é hora de ampliar a procura por inteligência extraterrestre. Ao invés de olhar apenas para as mensagens de rádio, a ciência deve procurar por vestígios de explorações alienígenas em corpos celestes do nosso sistema solar – a começar pelo nosso satélite natural.

No estudo, é dito que as civilizações alienígenas podem ter enviado sondas para a nossa região da galáxia e que essas missões teriam ocorrido há muito tempo. Para os pesquisadores, o ambiente lunar poderia ter preservado os artefatos durante milhões de anos, já que não há muita atividade por lá. Eles até indicam o uso do banco de dados do Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO), da Nasa, para encontrar fotografias sobre os traços alienígenas.

Segundo Davis e Wagner, há uma grande probabilidade dos aliens terem deixado um recado, do tipo ‘Estivemos aqui!’, em uma cratera ou uma das cavernas de lava que existem na superfície lunar.

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‘Não há a menor dúvida de que a vida existe fora da Terra’

 

O físico brasileiro Marcelo Gleiser conversou com VEJA sobre a busca por vida em outros planetas. O pesquisador está reunido em São Paulo em encontro que discute a origem da vida na Terra e a existência extraterrestre

Marco Túlio Pires

Gliese 581c

Concepção artística de como seria uma possível manifestação da vida em um dos exoplanetas orbitando a estrela anã Gliese 581, na constelação de Libra (Walter Myers)

Pesquisadores e estudantes do Brasil, Chile, Colômbia, Europa e América do Norte estão reunidos em São Paulo para discutir a origem da vida na Terra e em outros planetas até 20 de dezembro. As discussões fazem parte do encontro Escola Avançada de Astrobiologia, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo e organizada pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo.

Dartmouth College

Marcelo Gleiser

Vida única: "É impossível que dois planetas tenham a mesma história"

O evento foi aberto com a palestra do físico brasileiro Marcelo Gleiser. O pesquisador mora há 20 anos nos Estados Unidos e é professor da Universidade de Dartmouth, onde leciona e pesquisa cosmologia e astrobiologia. Gleiser é também autor de sete livros de divulgação científica, entre eles A Dança do Universo(Companhia das Letras, 24,90 reais, 434 páginas), que trata da questão da origem do universo tanto sob o ponto de vista científico quanto religioso. Em 1998, o livro ganhou o prêmio Jabuti, o mais importante prêmio da literatura brasileira.
Antes da palestra, Gleiser conversou com o site de VEJA sobre a incessante busca por vida em outros lugares do universo e por que essa jornada melhora a compreensão da vida na Terra.
Faz sentido procurar vida fora da Terra? A astrobiologia não pretende estudar somente a vida fora da Terra. Queremos entender a origem da vida aqui no planeta. Apesar de estudarmos outros planetas, um dos pontos focais mais importantes é entender quais foram os mecanismos que permitiram a formação de vida na Terra. É uma espécie de ponte para entender como a vida pode ter surgido em outros lugares.
Os cientistas estão perto de descobrir como a vida surgiu na Terra? Não. A verdade é que ainda não descobrimos e talvez nunca possamos saber exatamente como a vida surgiu aqui.
Por quê? Porque nunca poderemos recriar as condições da Terra há quatro bilhões de anos, quando a vida surgiu. Contudo, podemos estudar os canais bioquímicos viáveis que podem ter levado à autoestruturação de moléculas que chamamos de vida.
O senhor acha que existe vida fora da Terra? A vida existe fora da Terra, não tenho a menor dúvida.
O que o faz pensar isso? As leis da física e da química são as mesmas em qualquer lugar do universo. Só a Via Láctea possui 200 bilhões de estrelas. Cerca de 20% com sistemas planetários e luas. Os números são ridiculamente grandes.
Mas só os números sozinhos não nos dão certeza… Já estamos encontrando planetas que podem ser muito parecidos com a Terra, como o Kepler 22b, anunciado recentemente. Isso quer dizer que a probabilidade é muito alta de que outros planetas possuam uma vida parecida com a nossa.
Esses planetas abrigariam seres inteligentes? Aí é uma questão diferente. Não estou falando de coisas complexas, mas de vida simples parecida com a nossa, baseada em carbono, com uma genética normal de DNA.
E vida complexa? Entendo que a vida se forma em três níveis: simples, complexa e complexa inteligente. A vida simples são os seres unicelulares. Os dinossauros eram complexos, mas não eram inteligentes. A vida inteligente precisa de pulos evolucionários que talvez nunca sejam repetidos.
Como assim? Se outro planeta abrigar vida complexa inteligente, não será primata, dinossauro nem nada do que conhecemos. A história da vida na Terra é única, assim como a história de cada planeta. No nosso caso, houve um asteroide que se chocou com o planeta há 65 milhões de anos e acabou com os animais dominantes, abrindo espaço para outros prosperarem. Essas questões estão ligadas às erupções vulcânicas em massa e tragédias com colisões cósmicas. Essas coisas não se repetem da mesma maneira em dois planetas diferentes. Cada vez que isso acontece, a vida começa de novo. É por isso que não tenho a menor dúvida de que a nossa história é única. Somos únicos no universo.