A reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) para mais um mandato de quatro anos à frente do Brasil despertou pastores protestantes e os motivou a publicarem artigos e cartas abertas à mandatária, expressando suas preocupações.
O teor comum a todos os textos é de preocupação com os rumos da nação e temor com o processo – já em andamento, segundo muitos estudiosos – de implantação de um regime marxista disfarçado de democracia no Brasil.
O pastor presbiteriano Mauro Meister publicou o artigo “Reflexões esparsas pós resultados eleitorais” no blog O Tempora, O Mores. O texto expressa, de forma embasada, os mesmos alertas feitos por líderes pentecostais como Silas Malafaia e Marco Feliciano (PSC-SP), entre outros.
Para Meister, os maiores riscos a que a sociedade brasileira está exposta a partir da reeleição de Dilma Rousseff virão a médio e longo prazo.
“Corremos perigos? Sim! Imediatos? Nem tanto, mas, ainda assim, crescentes e rápidos. Minha percepção, por conta da ideologia e ações recentes, é que o partido no governo não preza a democracia. Sua origem de luta contra a ditadura de direita não o coloca na categoria democrática. Seus ideólogos gramicianios tem sido bem sucedidos, a despeito de seus líderes populares terem se embebedado com a glória do poder e suas riquezas”, escreveu Meister.
O gramscismo, como ficou conhecida a estratégia idealizada por Antônio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano, é a proposta de ocupar o Estado e o que ele chamou de “forças vivas” – mídia, igrejas e sistema econômico – de um país de forma gradual, com adeptos do comunismo/marxismo, para promover uma revolução silenciosa e converter os adeptos de ideais tradicionais em pessoas doutrinadas às suas propostas.
“Para que o projeto acima dê certo, é necessário um aparelhamento do Estado e, ao mesmo tempo, uma aparência de legitimidade democrática associada a conceitos de hegemonia de pensamento”, observou o pastor Meister.
Para o líder presbiteriano, “os mesmos que são acusados de ser ‘contra o partido’ (ex: Globo) são aqueles que promovem as causas dessa consolidação de pensamento: insistência no governo para as supostas minorias (negros, gays, mulheres como oprimidas, os sem terra) causa aborcionistas, desarmamento, etc. (vejam as ênfases no discurso da vitória da presidente)”.
“Tudo isso serve como uma quebra dos chamados valores tradicionais (mantidos pelas ‘elites’) e o surgimento de uma nova hegemonia de pensamento (quem foi o representante da juventude?)”, acrescentou o pastor Meister, fazendo referência ao deputado federal e ativista gay Jean Wyllys (PSOL-RJ), indicado por Dilma para ser o elo entre o governo e os jovens do país.
Outro ponto foi destacado por Meister em seu texto e apontado como essencial para a implementação do projeto que se convencionou chamar de “aparelhamento do Estado” ser bem sucedida: educação.
“A educação brasileira já está totalmente aparelhada, mas os que estão dentro, muitas vezes não percebem. Quanto mais ignorantes (aqueles que ignoram), melhor! Não há real interesse em que exista pensamento autônomo, no sentido do indivíduo que pensa por si mesmo (ainda que este seja o discurso da educação há décadas), mas no indivíduo que aja com a massa, como uma torcida, liderada pelos Conselhos Populares. Enquanto os cristãos deveriam lutar por uma educação heteronormativa (no caso, segundo a norma de Deus), as políticas governamentais tem sido sistematicamente opostas. Nossos filhos vão para a escola e voltam para casa achando que todos os tópicos citados acima são o certo e o verdadeiro, o contrário do que seus pais caretas e suas igrejas ensinam”, observou Meister
O teólogo e pastor presbiteriano Antônio Carlos Costa, fundador da ONG Rio de Paz, também se posicionou e publicou uma carta aberta à presidente reeleita, cobrando dela ações que atendam ao interesse da sociedade e respeitem a dignidade humana.
“Presidente Dilma, em seu governo e no do seu antecessor mais de 600 mil pessoas – a maioria esmagadora, pobres -, tiveram a vida interrompida pelo crime. Números de guerra civil. Milhões de brasileiros olham diariamente para o porta retrato de parentes amados que foram arrebatados do seu convívio por terem nascido num país que deixa matar. Jazem em nossas prisões quase 600 mil seres humanos, vivendo em masmorras medievais, com características de campo de concentração nazista, num país cuja presidente afirma conhecer a dura realidade do cárcere, por já ter passado por ele”, destacou o pastor Costa.
Com uma ênfase bem menos “ideológica”, Costa se ateve às necessidades emergenciais da sociedade brasileira e as possíveis soluções práticas.
“Apesar de toda essa sorte de graves problemas sociais, que geram sofrimento para milhões e instabilidade política num país agora bastante dividido, reportagem recente da Folha de S. Paulo (29/09), entretanto, prova que mais de 40% das promessas que Vossa Excelência fez em 2010 não foram cumpridas até hoje. Faço um apelo à Vossa Excelência. Apresente ao país – de modo claro que até o brasileiro mais humilde possa entender -, suas metas de governo e prazos para a realização do que foi prometido. Presidente, é fato, provado pela falta de infraestrutura que esteja à altura do nosso poder econômico, que o Estado brasileiro precisa ser gerido com mais eficiência, princípio constitucional basilar da administração pública”, cobrou o pastor.
Já o pastor Renato Vargens, líder da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RJ) falou sobre a distorção feita pelo PT do princípio de assistência social, que foi transformada em uma ferramenta de manipulação.
“Por favor, pare de usar políticas públicas como instrumento de perpetuação do seu partido no poder. Sei que o “Bolsa Família”, “Minha casa minha vida” e outros programas são extremamente importantes para parte do povo brasileiro, contudo, oferecer programas assistencialistas sem proporcionar uma ‘porta de saída’ àqueles que vivem na pobreza é desumano e desleal”, disparou Vargens.
O artigo do pastor acrescenta que é importante que Dilma respeite as características e princípios do povo e interrompa a iniciativa de forçar uma mudança de comportamento e pensamento sobre questões morais na sociedade.
“Por gentileza, valorize e respeite a família brasileira. As estatísticas dizem que a esmagadora maioria da população é conservadora. A pesquisa Ibope/Estado/TV Globo revelou por exemplo que 79% dos eleitores brasileiros são contra a descriminalização da maconha, e apenas 17% a favor. Se não bastasse isso: 79% da população são contrários ao aborto e 16%, favoráveis. A maioria também rejeita o casamento gay: 53% a 40%. Quanto o assunto é a pena de morte a população está dividida 46% defendem a medida, e 49% a rejeitam. Já a redução da maioridade penal tem o apoio de oito em cada dez brasileiros”, exigiu o pastor.
Renato Vargens também enfatizou questões ideológicas ligadas às motivações do Partido dos Trabalhadores em seu texto, e afirmou que não é aceitável que a presidente do Brasil refira-se a perseguidores de cristãos, como os terroristas do Estado Islâmico, como “pessoas de bem”.
“Não tente transformar o Brasil num leste europeu marxista. O povo brasileiro rejeita e repudia o Foro de São Paulo. Nossa nação não é a Venezuela, nosso povo não concorda com a ditadura de Fidel, nossa nação não pode ser conivente com estados despóticos como Irã, Cuba e Venezuela. Não trate terroristas do ISIS como gente do bem e que precisa de diálogo. Ora, presidente, não dá pra dialogar com aqueles que sem dó e piedade assassinam homens e mulheres pelo fato de serem cristãos”, frisou Vargens.
Ao final de seu artigo, Vargens lembrou do mais recente escândalo de corrupção e cobrou firmeza de Dilma: “Por favor preserve a Petrobrás. Vossa excelência tem a responsabilidade de cuidar do patrimônio da nação. Presidente, chega de escândalos, de roubos, de desvio de dinheiro público”.