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O papa Bento 16 pediu nesta segunda-feira que a Igreja Católica reexamine suas mensagens e práticas, para que aprenda com o escândalo de abusos sexuais de crianças cometidos por padres.
Ao declarar seus votos de Natal aos cardeais, o papa afirmou que os casos de abusos em uma escala "inimaginável" foram um choque devastador para a Igreja, e que deveriam ser usados como ponto de partida para uma reforma.
"Devemos aceitar essa humilhação como uma exortação à verdade e um chamado à renovação. Apenas a verdade salva", disse o papa, de acordo com texto em italiano divulgado pelo Vaticano.
"Devemos nos perguntar quais foram os erros na nossa mensagem, em todo o nosso método do Cristianismo, para que essas coisas acontecessem. Devemos no esforçar para fazermos o máximo possível na preparação do sacerdócio, para que essas coisas não acontecem mais", acrescentou.
Neste ano o papa já pediu perdão pelo escândalo que abalou a Igreja Católica e levou à realização de vários protestos ao redor do mundo, mas ainda há muitos pedidos de grupos representantes das vítimas dos abusos para que a Igreja tome mais medidas.
Em seu discurso aos cardeais, o papa disse que a Igreja deve aceitar suas responsabilidades pelos pecados cometidos pelos padres.
"Mas não podemos nos silenciar no contexto dos tempos em que testemunhamos esses acontecimentos", disse. "Existe um mercado de pornografia infantil que em certo sentido parece ser considerado pela sociedade cada vez mais como algo normal."
"A devastação psicológica das crianças, em que pessoas são reduzidas a objetos de mercado, é um sinal devastador dos tempos."
O papa acrescentou que há crescentes informações passadas por bispos sobre turismo sexual no 3o Mundo, que ameaçam uma geração inteira.
(Por James Mackenzie)
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Um padre católico belga confessou ter abusado de uma criança de oito anos e pediu o fim de uma campanha para sua nomeação ao Prêmio Nobel da Paz devido à sua luta contra o impacto da globalização nos países em desenvolvimento.
A confissão do padre François Houtart, 85, foi publicada em um jornal belga nesta quarta-feira, agravando a crise em meio aos escândalos sexuais envolvendo membros da Igreja Católica em vários países.
Em outubro, depois que partidários deram início à campanha apoiando o sacerdote para o Nobel da Paz, uma mulher o denunciou à ONG que ele fundou, a Cetri (na sigla em francês).
Ela disse que Houtart teria abusado sexualmente de seu irmão há 40 anos, de acordo com o diretor da organização, Bernard Duterme.
No e-mail que enviou à ONG e ao comitê que fazia campanha pela nomeação de Houtart ao Nobel da Paz, a irmã da vítima fornece detalhes sobre os supostos abusos. Segundo ela, Houtart — que era amigo de seu pai– entrou no quarto de seu irmão duas vezes “para estuprá-lo”. “Antes da terceira vez, meu irmão procurou nossos pais e contou sobre os abusos”, disse a mulher no e-mail.
Segundo ela, seu pai conversou com o padre sobre o incidente alguns dias depois e disse que ele deveria se desculpar, mas o sacerdote se recusou e disse “que aquilo era normal”. A família cortou então qualquer contato com Houtart.
Ao jornal belga “Le Soir”, o padre admitiu que abusou do garoto em duas ocasiões na casa dos pais do menino em Liege, no leste da Bélgica. “Entrei no quarto do garoto e toquei suas partes íntimas por duas vezes, o que fez com que ele acordasse e se assustasse”, disse Houtart na entrevista.
Ele disse ainda à publicação que ficou “perturbado” com o incidente, já que tinha consciência da contradição entre o que fizera e seu papel na Igreja e sua fé cristã.
Houtart disse ainda que os pais do garoto sugeriram que ele entrasse em contato com um professor em Liege, que o aconselhou a continuar na Igreja e se concentrar em seu trabalho.
No mês passado, Houtart renunciou ao cargo no conselho da ONG, que publica relatórios críticos às ações de países desenvolvidos em nações em desenvolvimento.
O comitê que defendia a nomeação do sacerdote encerrou a campanha, dizendo que o próprio padre teria pedido o emcerramento porque “sua idade e seus projetos pessoais” não permitiriam que ele assumisse tal papel “nestas circunstâncias”.
Em um comunicado, o comitê diz que “milhares de pessoas de 74 países” assinaram a campanha, reconhecendo o papel de Houtart para a justiça social e o movimento antiglobalização.
“ERROS DO PASSADO”
Em setembro, a Igreja Católica da Bélgica reconheceu os “erros do passado” na gestão dos casos de abuso sexual de crianças por padres e prometeu ajuda às vítimas.
Na época, a Igreja católica disse ainda que iria tentar tirar “lições” do escândalo de pedofilia sem precedentes que atingiu seus padres, depois da publicaçãode um relatório que revela mais de uma centena de testemunhos de vítimas de abusos sexuais durante os últimos 50 anos.
O documento, que continha os testemunhos anônimos de 124 “sobreviventes” –termo utilizado pela própria comissão– destacava que os abusos sexuais da maioria das vítimas aconteceu aos 12 anos, mas também existem casos de crianças vitimadas dos dois aos sete anos.
A descrição das vítimas sobre os autores dos abusos geralmente é imprecisa, já que passaram muitos anos desde os crimes, mas depois das verificações pertinentes a comissão determinou que 102 eram membros de uma congregação religiosa.
Data: 30/12/2010
Fonte: Folha
O teólogo Leonardo Boff é um dos maiores críticos brasileiros ao comportamento recente da Igreja Católica. Expoente da Teologia da Libertação, foi expulso da Igreja nos anos 80, por criticar sistematicamente a hierarquia da religião. Doutor em Filosofia e Teologia pela Universidade de Munique, Boff falou a ÉPOCA sobre os principais motivos da grande perda de fiéis da Igreja Católica para as evangélicas e pentecostais no Brasil e fez críticas ao movimento carismático, comandado pelos padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo. “Eles são animadores de auditório. Isso não leva ninguém à transformação. É um Lexotan”.
ÉPOCA – O Papa Bento XVI reconheceu, no último dia 10, a enorme perda de fiéis da Igreja Católica no Brasil e a rápida expansão das evangélicas e pentecostais. A que se deve isso?
Leonardo Boff – São três causas. Primeiro, a Igreja não consegue ter padres suficientes pra atender fiéis, por causa do celibato. São 17 mil, e teriam de ser uns 120 mil. As pentecostais ocupam esse vazio. Elas vão ao encontro das demandas do povo. O povo não é dogmático, vai pro centro espírita, vai pra macumba… Em segundo lugar, a grande desmoralização que a igreja sofreu com os padres pedófilos. É a maior crise desde a Reforma Protestante. É uma crise grave, porque se desmoralizou e perdeu o conteúdo ético. A maneira como o Vaticano se comportou foi desastrosa. Tentou encobrir e depois disse que era um complô internacional. Só quando começaram a aparecer muitos casos que o papa disse que tinha que punir. Mas, mesmo assim, não mostrou solidariedade com as vítimas e nem como mudar isso. Só pensa na Igreja. Em terceiro lugar, o fato de a Igreja ter uma visão muito abstrata da realidade. Uma linguagem que o povo não entende direito.
ÉPOCA – O senhor acredita que nas últimas décadas houve um retrocesso na modernização da Igreja Católica?
Boff – João Paulo II e Bento XVI abortaram as inovações de João Paulo I e afastaram a Igreja do mundo. A Igreja não tem dialogo com as outras igrejas. Falta uma reconciliação com o mundo moderno. Desde o século XVI que a Igreja vive em briga com ele. A igreja se abriu a isso e João Paulo II, com sua visão medieval, abortou tudo isso. A Igreja não tem mais poder político. Só tem poder moral. Reforçou a estrutura hierárquica tradicional. Marginaliza mulheres, e os fiéis têm a representatividade de garis. A igreja dos anos 60 aos 80, quando surgiram a Teologia da Libertação e os movimentos de base, foi abortada. Isso tornou a igreja antipática.
ÉPOCA – O que os católicos encontram nas outras igrejas que não encontram na Católica?
Boff – O povo quer uma mensagem compreensível e simples. As evangélicas utilizam os instrumentos do mercado e são muito calcadas em cima da prosperidade. Há uma grande manipulação das expectativas e do sentimento religioso do povo. Mas, ao mesmo tempo, elas são formas de ordenar a sociedade. Muitas famílias que viviam nas drogas e na bebedeira se estruturaram, se inseriram na sociedade. Fator de ordem.
Data: 20/9/2010 08:48:52
Fonte: Revista Época