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Cada vez mais cedo crianças viram pastores e preocupam psicólogos

OVELHAS NO LUGAR DE PASTORES

 

De terno, gravata e olhar sério. É assim que Matheus Moraes, 13 anos, divide as atividades escolares, brincadeiras, aulas de música e partidas de futebol com algo que considera muito mais importante. Ele é um dos precoces pastores mirins que estão tomando os púlpitos de igrejas evangélicas, crianças que se destacam pela desenvoltura da fala, surpreendem com a capacidade de raciocínio rápido e boa memória, e se tornam quase que imediatamente responsáveis pela conversão de centenas de fiéis.

Como Matheus, a estudante Ana Carolina Dias, hoje com 17 anos, foi uma das primeiras crianças a se tornar pregadora no Brasil. Iniciou sua carreira aos quatro. Aos sete, um vídeo em que aparece pregando foi publicado no Youtube, virou funk e bateu recorde de audiência. A postagem original foi vista quase 2 milhões de vezes. A “Menina Pastora”, como ficou conhecida, permanece na igreja até hoje. Além de pregar quase diariamente para centenas de fiéis, participa de congressos e eventos em todo o País. Paralelamente, estuda Física na Universidade Rural do Rio de Janeiro.
Os dois, filhos de pais evangélicos, são considerados pedras preciosas para as igrejas. Colocados à frente das pregações, sensibilizam centenas de fiéis e mantêm uma agenda lotada. Matheus, por exemplo, já gravou 30 DVDs com louvores e cantos, à venda em seu site. Acumula as funções de pastor, cantor e estudante. Viagens são rotina em sua vida.
Da mesma forma, Ana Carolina conheceu a Europa para pregar e atualmente coordena a vida particular com inúmeras funções na igreja. Mas o que desperta orgulho na família e faz sucesso nos púlpitos das igrejas também causa apreensões, especialmente de psicólogos. Afinal, a responsabilidade de mobilizar multidões frequentemente pode pesar, embora na maioria das vezes o talento destas crianças seja encarado meramente como uma vocação, e não obrigação.

Filho de peixe
Francinete Moraes fez cirurgia para não engravidar após dar à luz seu terceiro filho. Mesmo assim, depois de 13 anos, teve Matheus. Ainda bebê, o menino ficou em coma em função de problemas respiratórios e, durante o período, a família se debruçou em súplicas e orações. Para eles, sua sobrevivência foi um milagre e seu pai, Juanez Moraes, frequentador da Assembleia de Deus, virou pastor. Três anos depois, era Matheus que, ainda sem saber falar todas as palavras, pregou na igreja pela primeira vez. “Lembro perfeitamente: foi na cidade de Estrela Dalva, no interior de Minas Gerais, eu nem sabia falar direito”, conta o menino. Aos seis anos, já era reconhecido como um pequeno missionário.

A história de Carolina é semelhante. Quando tinha apenas três anos, teve uma inflamação que afetou seu intestino e garganta. Ficou internada durante dez dias e, segundo o pai, o pastor Ezequiel Dias, foi desenganada pelos médicos. “Ela faleceu em meus braços, até que orei a Deus e a Carolina voltou à vida. E voltou servindo a esse Deus”, diz ele, que fala pela filha e cuida de todos os seus interesses. “Mesmo falando errado, pois era criança, pregava a Palavra”. Desde então, Carolina nunca mais deixou de pregar. Ezequiel garante não ter havido pressão familiar e afirma que a menina jamais teve problemas para conciliar suas funções na igreja com os estudos.

Matheus também afirma que nunca foi pressionado para seguir a vida religiosa. “Nunca deixei e nem deixo de fazer nada por conta do Evangelho. Eu tenho uma vida normal, como toda criança: jogo bola, vou à escola [ele está no sexto ano do Ensino Fundamental, na escola particular Santa Mônica, no Rio de Janeiro], convivo com amigos”, ressalta o garoto. “Faço tudo o que as demais crianças fazem, mas com responsabilidade, pois tenho um compromisso com Deus”.

O fato de pregar hoje para multidões não parece incomodá-lo: “Eu sabia qual era a minha missão. Deus tinha uma promessa para mim. Tive certeza da minha vocação aos cinco anos, quando estava louvando em uma igreja do Méier e Deus falava comigo sobre a cura”. Matheus admite suas atividades religiosas são motivo de preconceito: “Hoje, 70% dos meninos querem ser jogadores de futebol e sinto que sou discriminado por pregar a Palavra, pelo fato de correr atrás da Bíblia. Eles não gostam, encarnam em mim. Não sou um garoto admirado”.

Ana Carolina e Matheus entendem que foram escolhidos. Para eles, a função exercida é, sobretudo, uma vocação. Mas nem todos concordam. Pastora há cinco anos de uma das igrejas da Assembleia de Deus, a teóloga Maria Vita Umbelino diz ver “quase diariamente” crianças sendo levadas pelos pais até a igreja para se transformarem em pequenos pastores. “No meu Ministério eu não tenho criança pregando, sou contra”, diz ela. “Esse período é de aproveitar as brincadeiras típicas da idade e esperar pelo amadurecimento”. Segundo Maria Vita, a escola bíblica oferecida pela igreja já é “mais do que suficiente para o primeiro contato dos jovens”.
A pastora acredita que a iniciação precoce na pregação resulta no desinteresse futuro de seguir o caminho da fé. A psicóloga especializada em terapia familiar Aldvan Figueiredo concorda, explicando que o contato das crianças com a espiritualidade é comum e geralmente despertado entre os cinco e sete anos de idade. “Os pais não precisam se preocupar, desde que o interesse ocorra naturalmente”, explica. “Após esse período, as crianças tendem a se desligar desses assuntos”. O perigo, segundo ela, está em obrigá-la a ingressar em rotinas religiosas cedo demais. “A atitude pode causar danos emocionais e afastar de vez essas crianças da religião, tornando-se um trauma na vida adulta”.
Rita Kather é professora de psicologia da PUC-Campinas e tem uma opinião mais radical. Ela acredita que o reforço precoce de uma escolha, seja ela religiosa ou artística, dificulta o desenvolvimento e o interesse da criança por outras áreas. “Uma vez que essa criança começa a desempenhar bem o papel, raramente sua vida tomará outro rumo”, diz. “As crianças não devem ser incentivadas a tomar decisões logo nos primeiros anos de vida”.
Rita ainda considera perigosa a exposição das crianças. “Nesta idade, nem as habilidades ainda foram totalmente desenvolvidas”, pondera. “A religiosidade é importante, mas esse contato da criança com o mundo religioso precisa ser suave. É nobre cultivar a religião para um mundo de paz, mas isso deve ser natural”. Para a professora, raramente a criança irá expressar nitidamente sua insatisfação em cumprir um papel que agrada aos pais.

Ezequiel insiste que a vida da filha sempre foi saudável. “Ela teve uma infância tranquila, brincou, viajou o mundo. Conheceu lugares como a Europa, esquiou, fez coisas que eu não teria condições financeiras de bancar. E tudo isso por meio da pregação da Palavra”, compara. Hoje, Ana Carolina é líder da Mocidade, o grupo dedicado a jovens dentro de sua igreja, e auxilia o pai nos cultos. “É uma sensação indescritível ser pai de uma missionária. Creio que milagres não se explicam, não se justificam, e a minha filha é um milagre de Deus”, diz ele.

Data: 5/10/2011
Fonte: Ig

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Papa Bento XVI se diz ‘Perplexo’ com Avanço das Igrejas Petencostais

 

Por Jussara Teixeira|Correspondente do The Christian Post

O papa Bento XIV disse nesta sexta-feira que as igrejas cristãs históricas estão "perplexas" e preocupadas com o avanço das igrejas pentecostais, e convidou os protestantes a trabalhar junto com os católicos para testemunhar a fé em um mundo secularizado.

A declaração foi feita por Joseph Ratzinger em um encontro com os representantes do Conselho da Igreja Evangélica Alemã (EKD) em Erfurt, segundo a Agência EFE.

A cidade é conhecida como o lugar onde Martinho Lutero (1483-1546) foi ordenado sacerdote católico em 1507, antes de liderar a reforma protestante, em 1521.

Bento XVI fez questão que o encontro acontecesse no antigo convento onde Lutero estudou, em um claro esforço por aproximação com o protestantes, dado o caráter ecumênico da viagem.

Na manhã desta sexta-feira o Papa defendeu que o mais necessário para o ecumenismo é não perder as grandes coisas que têm em comum.

"A coisa mais importante para o ecumenismo é que, pressionados pela secularização, não percamos as grandes coisas que temos em comum, aquelas que nos fazem cristãos e que temos como dom e tarefa", afirmou, de acordo com a Agência EFE.

"Foi um erro ter visto majoritariamente aquilo que nos separa e não ter percebido de forma essencial o que temos em comum nas grandes pautas da Sagrada Escritura e nas profissões de fé do Cristianismo antigo", acrescentou.

O Papa defendeu a comunhão entre que os Cristãos como um fundamento imperecível. "Infelizmente, o risco de perdê-la é real. Nos últimos tempos, a geografia do Cristianismo mudou profundamente e continua mudando".

O chamado ‘fenômeno mundial de mudança’, segundo Bento XVI, traz um Cristianismo com pouca densidade institucional, pouca bagagem racional e pouca estabilidade. Por isso, ele defende a obrigação de questionar o que permanece válido e o que pode ser mudado na opção pela fé.

Bento XVI e os líderes religiosos protestantes estarão juntos em uma celebração ecumênica, quando o Papa fará uma oração pela unidade dos Cristãos, e o presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch, fará uma prece sacerdotal, recitando a oração do Pai-nosso.

Um bispo evangélico lerá o salmo 164 na tradução feita por Lutero, na qual expressa a vocação cristã comum para louvar a Deus, segundo informações da Agência EFE.

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Igrejas e cultos brasileiros expandem presença em Londres

 

Iracema Sodré

Da BBC Brasil em Londres

Atualizado em  1 de setembro, 2011 – 06:02 (Brasília) 09:02 GMT

Igrejas e cultos brasileiros vêm expandindo sua presença na capital britânica nos últimos anos, segundo analistas e líderes religiosos ouvidos pela BBC Brasil.

Só as igrejas evangélicas brasileiras em Londres já são mais de 80, de acordo com a Pastoral Alliance, que reúne pastores evangélicos na Grã-Bretanha, e a estimativa não inclui a Igreja Universal do Reino de Deus, que tem 16 templos na cidade.

Na lista do Consulado do Brasil, há cerca de 50 diferentes denominações registradas.

"Enquanto nos anos 90 havia poucas igrejas evangélicas brasileiras em Londres, esse número vem crescendo rapidamente, com a maioria das igrejas tendo sido fundada no início dos anos 2000", diz Daniel Clark, pesquisador da University of Wales.

A Capelania Católica Brasileira, que começou a funcionar em Londres há 15 anos com apenas uma missa semanal em português, já celebra missas em seis igrejas espalhadas pela cidade, por exemplo. E basta olhar os classificados de uma das várias revistas destinadas à comunidade brasileira em Londres para encontrar também informações sobre centros espíritas e terreiros de umbanda e candomblé na capital britânica e seus arredores.

Religiões de origem amazônica, que utilizam o chá ayahuasca (ou hoasca) em seus rituais – como o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal e o Santo Daime – também estão presentes na capital britânica.

"É a exportação de uma cultura. Um dos temas culturais do Brasil é a diversidade religiosa e isso acaba se reproduzindo no exterior", diz Pedro Strozenberg, secretário-executivo do Iser, o Instituto de Estudos da Religião.

Missões

Ministério Luz para os Povos Foto: BBC Brasil

Segundo a Pastoral Alliance, as igrejas evangélicas têm ao menos 8 mil fiéis brasileiros em Londres

Segundo pesquisadores, após séculos como destino de missões religiosas, o Brasil começou, nos anos 80, a exportar igrejas e cultos junto com as levas de brasileiros que migravam para o exterior.

O Brasil pode ser visto como a maior nação católica do mundo, a capital mundial do espiritismo e o país com a segunda maior comunidade de protestantes praticantes – atrás apenas dos Estados Unidos em números absolutos – além de ser o berço de diversas outras crenças.

Hoje, a multiplicidade de credos vista no Brasil se reflete nos países em que a comunidade brasileira ganha peso.

"Em linhas gerais, o que acontece é que quase todo o campo religioso brasileiro se reproduz no exterior, mas não nas mesmas proporções em que existem no Brasil. O pentecostalismo, por exemplo, que cresce muito em termos de visibilidade no Brasil, se torna ainda mais visível no exterior", diz Paul Freston, professor catedrático em Religião e Política em Contexto Global da Wilfrid Laurier University, no Canadá.

CliqueLeia mais: Conheça diferentes igrejas e cultos brasileiros em Londres

Para a pesquisadora Christina Vital, professora de antropologia da Universidade Federal Fluminense, isso talvez possa ser explicado pelo sucesso das igrejas evangélicas em ajudar a solucionar problemas frequentemente enfrentados pelos imigrantes brasileiros.

"As missões dessas igrejas são voltadas a proporcionar uma rede de proteção espiritual e material para pessoas que estão nas margens da sociedade. Isso também pode incluir a questão da ilegalidade para imigrantes."

Dinâmica religiosa

"O catolicismo é mais lento para se deslocar. As igrejas evangélicas em geral têm mais facilidade, porque estão mais descentralizadas."

Paul Freston, professor da Wilfrid Laurier University

Paul Freston diz que as igrejas evangélicas brasileiras no exterior ajudariam seus fiéis a manter uma atitude positiva em relação ao trabalho duro que muitos deles têm de fazer, além de estabelecer redes de contato que ajudariam os imigrantes a encontrar lugares para morar e trabalhar.

As igrejas evangélicas também seriam muito mais rápidas em acompanhar a movimentação de brasileiros ao redor do mundo, principalmente as pentecostais.

"O catolicismo é mais lento para se deslocar. As igrejas evangélicas em geral têm mais facilidade, porque estão mais descentralizadas, são mais autônomas e abertas à iniciativa leiga. Elas acompanham com mais facilidade os movimentos populacionais", diz Freston.

Um exemplo disso é o Ministério Luz para os Povos, que abriu sua primeira igreja em Londres há apenas um ano.

O catolicismo é mais lento para se deslocar. As igrejas evangélicas em geral têm mais facilidade, porque estão mais descentralizadas

Anne e Olair são os pastores do Ministério Luz para os Povos em Londres

Os pastores Olair e Anne Oliveira, que já faziam parte da igreja em sua cidade natal, Trindade, a 17 quilômetros de Goiânia, vieram para Londres em 2008.

Na capital britânica, eles frequentaram outras igrejas enquanto ele trabalhava como operário de construção e ela, como faxineira e babá, até que eles decidiram entrar em contato com a coordenação do Ministério Luz para os Povos na Europa e abrir uma igreja em Londres.

"Hoje, temos cerca de 40 fiéis frequentando o ministério. A maioria deles é de brasileiros, mas temos também portugueses, africanos e italianos", conta o pastor Olair.

Segundo os pesquisadores, a falta de dados concretos sobre a população brasileira no exterior – estimada em algo entre dois a três milhões de pessoas em todo o mundo, muitos deles ilegais – torna muito difícil estimar com precisão o número de frequentadores de cada um dos cultos e igrejas de origem brasileira.

"No Brasil, há o censo, que pergunta com que religião o entrevistado se identifica e com que frequência pratica sua crença. Sobre a comunidade brasileira em Londres, não temos dado nenhum. Não se sabe universo total, nem com que religião as pessoas se identificam", diz Freston.

"Além disso, é um universo muito fluido, há igrejas fechando, enquanto outras surgem a todo momento."