Errou o governador de São Paulo ao dizer que o “Lula é o retrato do PT” e vice-versa. Não. Lula é o retrato do Brasil, do malandro brasileiro que vê na política uma oportunidade de ficar rico. A corrupção faz parte da história do Brasil não como algo necessariamente expontâneo, mas por uma série de situações, como pobreza e deficiência na formação educacional e cultural do povo brasileiro. A pobreza, por outro, é a principal responsável por tudo de errado que vemos neste país, como corrupção e violência. Por que não há corrupção generalizada em países como Suécia e Dinamarca? Porque a formação cultural, educacional e econômica é diferente da do Brasil. Somente nos livraremos de fíguras como a do Lula quando a pobreza for radicalmente combatida e tivermos uma revolução cultural e educacional no Brasil. Digo em sala de aula que temos que investir nesta nova geração de crianças e jovens. Daí, no futuro, teremos poucos lulas, alckmins, serras, aécios e outros da mesma estirpe – porque, vale dizer, tanto tucanos como petistas estão no mesmo barco, assim como milhares de outros políticos.
Curta a nossa página no Facebook
Não há do que duvidar de que a gestão Lula contribuiu sobremaneira com a melhoria da educação no Brasil, com a criação e ampliação de projetos importantes, como o ProUni, o Fies, o Enem, o Ciências sem Fronteiras, e mesmo a expansão dos campus da Universidade Federal. Apesar de suas inegáveis contribuições, Lula conseguiu desenvolver uma imagem semelhante ao do Padre Cícero – a do messias popular que a todos agrada, que a todos contempla em suas necessidades. É algo positivo – vale dizer, o investimento em políticas sociais -, mas o que nos preocupa é a exploração do capital político como forma de “se fazer na vida”. Lula errou neste aspecto e começa a colher os frutos de sua propensão as grandes construtoras, incorporadoras e empresas automobilísticas. Também é inegável o fato de que, não obstante sua relação com grandes empresários ser um fato notório mesmo antes da Operação Lava Jato, ele ainda possui inúmeros seguidores – particularmente em Estados do Norte e Nordeste, e em outras regiões do Brasil.
São estas as características que o aproxima de fíguras como a do Padre Cícero. Adorado por moradores e peregrinos que todos os anos percorrem as ruas de Juazeiro do Norte, Padre Cícero teve uma história conturbada, como revela com detalhes a biografia Poder, Fé e Guerra no Sertão, do jornalista Lira Neto (Companhia das Letras). Segundo Neto, o “milagreiro” tinha uma relação próxima com fíguras políticas e coronéis da época, além de uma provável relação com jagunços e cangaceiros – tendo, segundo Lira, concedido ao cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva a patente de capitão. De religioso o padre se aventurou na política, tendo sido eleito o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, e posteriormente deputado federal e vice-governador do Ceará. Amado pelo povo e seguido por fieis que acreditavam em seus “dons milagreiros”, Padre Cicero acumulou riqueza e prestígio. Era um manipulador e foi condenado pela própria Igreja Católica por ser um “mistificador e aproveitador da boa-fé do povo”. Alguma semelhança com o pernambucano Lula?
No artigo “O que Lula e o Padre Cícero têm comum”, o jornalista Lira Neto aprofunda a discussão sobre a semelhança entre as fíguras nordestinas controversas. Impelido por uma série de e-mails e comentários de gente que, ainda em 2010, o inquiriam a se manifestar sobre a polêmica, Lira Neto inicialmente estabelece uma distinção entre Lula e Cícero Romão Batista, mas descontadas as diferenças iniciais o autor destaca que, “a certeza de que a história se repete como farsa há, de fato, muitas simetrias entre o polêmico cratense Cícero e não menos controvertido garanhuense Luiz Inácio”. Lira destaca alguns aspectos importantes, como a origem nordestina dos personagens, a alta popularidade de ambos – no caso de Lula por conta de seus programas sociais e Cícero por seus “milagres” -, ausência de traços intelectuais, espontaniedade no discurso e relação com os pobres. Na política o biógrafo destaca a aproximação dos personagens com caciques ao dizer que “não havia candidato às urnas que recusasse as bençãos do então prefeito de Juazeiro”. Lula idem. Igualmente importante é destacar a inteligência e perspecácia natural de Lula e Padre Cícero, como pontua o biógrafo. “Como Lula, Cícero possuía um tipo específico de inteligência, orgânica, que não se obtém e não se cultiva por meio da simples erudição e da densidade letrada. Os dois se equivalem, portanto, no território das sutilezas, das habilidades, das argúcias.” Alguma dúvida?
“As opiniões ditas pelos colunistas são de inteira e única responsabilidade dos mesmos, as mesmas não representam a opinião do Gospel+ e demais colaboradores.”
Johnny Bernardo é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC) Outros detalhes sobre o pesquisador no blog – http://jtbernardo.blogspot.com.br/ Contato:
[email protected] Google PlusPor
Johnny Bernardo