Lula encerra em Curitiba caravana marcada por violência

Lula encerra em Curitiba caravana marcada por violência

(26 mar) Policiais vigiam partidários e oponentes do ex-presidente Lula em Foz do Iguaçu – AFP
AFP

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerra nesta quarta-feira (28), em Curitiba, uma agitada caravana pelo sul do Brasil, durante a qual dois ônibus de sua comitiva foram alvo de tiros.

A presença da Polícia foi intensificada na capital paranaense, aonde também irão grupos de direita e seguidores do deputado Jair Bolsonaro (PSL).

“Espero que nós tenhamos segurança, que a polícia nacional e estadual, a Inteligência possam cumprir seu papel para que, assim, a gente possa fazer uma manifestação pacífica e democrática como sempre tivemos”, disse à AFP, por telefone, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

A senadora fez estes comentários depois dos tiros efetuados na noite de terça-feira contra dois dos três ônibus da comitiva.

Um dos veículos, que transportava jornalistas, foi atingido por disparos, e outro, com convidados do PT, foi alvejado por um tiro. Lula e Hoffmann viajavam no único carro que saiu ileso do ataque, segundo a legisladora.

Os críticos de Lula hostilizaram sua comitiva durante seu trajeto de dez dias pelos três estados do sul. Os protestos tiveram baixa adesão, mas não deram trégua.

“A nossa caravana está sendo perseguida por grupos fascistas. Já atiraram ovos, pedras. Hoje deram até um tiro no ônibus”, relatou Lula em sua conta no Twitter.

Antes do incidente, Bolsonaro, segundo mais bem colocado nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de outubro, atrás de Lula, havia cumprimentado os ativistas que organizaram atos contra Lula, a quem chamou de “bandido”.

O sul do Brasil é uma região hostil ao ex-presidente e, segundo meios de comunicação, vários assessores o desaconselharam a se lançar nesta caravana.

– Lula, Bolsonaro, MBL, todos em Curitiba –

Bolsonaro, que deve chegar à capital paranaense às 11h30 de quarta, desafiou Lula na segunda-feira a mostrar “quem mais leva o povo na rua de graça”.

Seus simpatizantes vão recebê-lo no aeroporto, de onde partirá para Ponta Grossa (a 115 km de Curitiba), para participar de um ato político.

Apesar de liderar as pesquisas de intenção de voto, Lula pode ter a candidatura invalidada por ser ficha suja, após ter tido confirmada a condenação a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo nas consultas, mas com metade dos votos, Bolsonaro faz apologia da ditadura militar (1964-85).

O Movimento Brasil Livre (MBL), muito ativo nos protestos que acompanharam o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, convocou uma passeata até o Parque Barigui, a menos de um quilômetro de outra praça, a Santos Andrade, onde será celebrado um ato do PT.

“Há risco de confrontos”, disse o consultor e cientista político Paulo Mora, que percebe uma radicalização crescente no país.

“Se a campanha oficial nem começou e já chegamos à fase de ovadas e pedradas, o risco é a eleição sair do controle, estimulada pelo excesso de candidatos versus a falta de ideias e programas”, avaliou nesta terça-feira a colunista Eliane Cantanhede, do Estado de S.Paulo.

A própria Dilma Rousseff expressou o temor de um “banho de violência” durante a campanha.

Os adversários de Lula sentiram-se frustrados depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a prisão do ex-líder sindical até pelo menos 4 de abril, quando os ministros devem decidir se ele tem o direito a apelar em liberdade aos máximos tribunais da sentença de mais de 12 anos de prisão.

“Pelo que se viu das hostilidades entre esses movimentos no sul, se o Lula não for preso, nós teremos uma campanha marcada pela violência”, afirma Paulo Mora.

É em Curitiba que atua o juiz federal de primeira instância Sérgio Moro, impulsionador da operação Lava Jato, que desvendou um gigantesco esquema de corrupção montado na Petrobras. As investigações levaram para a prisão altos empresários e políticos de todas as tendências e está na base da condenação de Lula.

Também nesta terça-feira, o ministro Nelson Fachin denunciou ter sofrido ameaças contra a sua vida.

“Nos dias atuais uma das preocupações que tenho não é só com julgamentos, mas também com segurança de membros de minha família. Tenho tratado desse tema e de ameaças que tem sido dirigidas a membros da minha família (…). Essas circunstâncias não são singelas e espero que nada passe”, disse Fachin em entrevista ao canal GloboNews.

Fachin é relator da Operação Lava Jato e do pedido de habeas corpus preventivo apresentado pela defesa de Lula, que começou a ser analisado pelo plenário do Supremo na última quinta-feira.

O ministro foi contrário à análise do habeas corpus pelo plenário do Supremo.

A violência de cunho político demonstrou este mês que no Brasil é possível ir além das ameaças, após o assassinato da vereadora do PSOL-RJ Marielle Franco, conhecida por sua luta contra o racismo, as discriminações e as denúncias de excessos policiais em comunidades. Com informações da Isto é Independente.

Debate sobre armas projeta Bolsonaro e racha presidenciáveis 

          João Amoêdo e Alvaro Dias também são a favor de flexibilizar Estatuto do Desarmamento
          Anna Virginia Balloussier
          SÃO PAULO-Folhauol
Os deputados Alberto Fraga e Jair Bolsonaro fazem sinal com as mãos imitando armas de fogo durante a votação do projeto que muda a maioridade penalOs deputados Alberto Fraga e Jair Bolsonaro fazem sinal com as mãos imitando armas de fogo durante a votação do projeto que muda a maioridade penal Alan Marques – 19.ago.2015/Folhapress

Na semana em que divulgava as canções “Apelido Carinhoso” e “Homem de Família”, Gusttavo Lima postou no Instagram uma foto com fuzil em mãos. Uma “tarde no clube do tiro”, dizia na mesma legenda em que o sertanejo declarou seu apoio ao pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro.

Lima defende armar “cidadãos de bem”, como Bolsonaro  afirma sempre que pode.  Em passagem recente pelo Japão, ele sugeriu que mulheres tenham “uma pistola em casa” em vez de contar com “aquela palhaçada da Lei do           Feminicídio”. “Se a mulher tiver uma arma em casa, [o vagabundo] não vai fazer besteira.”

 Filho do presidenciável e deputado como ele, Eduardo Bolsonaro publicou uma imagem da funkeira Jojô Toddynho e o emote de uma carinha chorando   de rir: “Nesse momento Gusttavo só pensa numa coisa!” Jojô é famosa pelo hit “Que Tiro Foi Esse?”.

Tanto esse episódio quanto a intervenção federal no Rio, açoitado por uma crise na segurança pública, vêm sendo usados por grupos de direita para reviver a polêmica do armamento no Brasil. Por pressão da bancada da bala, a Câmara pode destravar uma votação —há anos emperrada— por mudanças que enfraquecem o Estatuto do Desarmamento, sancionado no primeiro ano do governo Lula.

O tema divide a população, como revelou pesquisa Datafolha feita em novembro com 2.765 entrevistados em 192 cidades. Do total, 56% responderam que “a posse deve ser proibida, pois representa ameaça à vida de outras pessoas”, e 42% disseram que “possuir uma arma legalizada deveria ser um direito do cidadão para se defender” (2% não souberam opinar).

O assunto racha também os pré-candidatos ao Planalto. Os favoráveis à revisão do Estatuto vão do centro à direita no leque político, como Bolsonaro (que se filiará ao PSL), João Amoedo (Novo) e Alvaro Dias (Podemos).

Exceção: o PCO (Partido da Causa Operária), sigla de extrema-esquerda que, em contraposição “à direita ‘pacifista’ e à esquerda pequeno-burguesa”, diz que, na “ótica revolucionária, o direito de se armar é a necessidade de se defender justamente do Estado”.

De doutrina liberal, Amoedo se diz contra o Estatuto “em respeito às liberdades individuais”. “Não é razoável o que temos: a assimetria criada por uma lei que desarma o cidadão de bem, mas deixa as armas nas mãos do assassino. O Estado incapaz de nos defender dos 60 mil homicídios anuais não pode acabar com os meios da legítima defesa.”

Para o senador Alvaro Dias, flexibilizar também é a resposta. “Entendo que cabe ao Estado oferecer segurança à sociedade. Afinal, pagamos impostos. Mas isso não nos impede de oferecer ao cidadão a liberdade de decidir sobre o porte.”

Quem é contra a ideia questiona: se é a preocupação com segurança pública que alimenta esse debate, qual a eficiência de armar civis? Geraldo Alckmin (PSDB) afirma que “a luta contra o crime deve ser feita por uma polícia treinada, moderna e valorizada”. “O Brasil já tem uma legislação restritiva sobre porte de armas. Não se trata de restringi-la nem flexibilizá-la.”

Na mesma toada vai Ciro Gomes (PDT): “Segurança pública não se resolve armando toda a população. Se resolve com investimento em inteligência, polícia bem treinada, bem paga e, acima de tudo, políticas publicas de educação, saúde, cultura e lazer para não deixar a juventude ser aliciada pelo crime”.

Prestes a se filiar ao PSOL, Guilherme Boulos diz que mais munição nas ruas “vai apenas criar uma falsa sensação de segurança e ampliar os crimes de ódio. Imaginem se cada intolerante que esbraveja e ataca nas redes sociais tivesse uma arma?”.

Para Manuela D’Ávila (PC do B), “quando as pessoas estão armadas, está comprovado que as mulheres são as maiores vítimas da violência”.

Presidente da Câmara e potencial presidenciável do DEM, Rodrigo Maia advoga pelo aumento de rigidez do porte em alguns pontos, como “idade mínima de 25 anos, cinco anos sem nenhuma ocorrência policial desabonadora de conduta e exame psicotécnico mais amplo testando o equivalente emocional”.

Procurados pela Folha, Henrique Meirelles (PSD) e Fernando Collor (PTC) não responderam.

Lula (PT) e Marna Silva (Rede) idem, mas ambos têm posições conhecidas sobre o tema: o ex-presidente, afinal, sancionou o Estatuto, e a ex-senadora, em 2016,  declarou que, se exitosas, as tentativas de flexibilizar a legislação no Congresso seriam um “retrocesso de dimensões trágicas”.

CNBB NA MIRA

Por lamentar “que se apresentem soluções para superar a violência recorrendo a mais violência”, o cardeal Sérgio da Rocha, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), entrou na mira de grupos evangélicos e de direita.

Eles acusam o braço do Vaticano no país de desestimular católicos a votar em Bolsonaro após Rocha dizer que a CNBB rejeitará “candidatos que promovam ainda mais a violência”, no lançamento da Campanha da Fraternidade 2018, em fevereiro.

“Historicamente alinhada a partidos de esquerda e movimentos como MST, a postura da CNBB não surpreende”, disse o portal Gospel Prime.

À reportagem Rocha negou que sua fala carregasse com indiretas eleitorais. “A CNBB não se pronuncia sobre candidatos/partidos. A Igreja no Brasil oferece critérios para discernimento sem substituir a consciência do eleitor.”

LOBBY

“O Estatuto do Desarmamento está sob ataque do lobby pró-armas desde que virou lei”, diz Robert Muggah, especialista em segurança e desenvolvimento e coordenador de pesquisas do Instituto Igarapé.

São mosqueteiros da ideia de que a legislação “falou em promover segurança pública no Brasil”. Estão errados, segundo Muggah. “Para cada 1% de aumento do armamento em circulação no país, há uma projeção de 2% de alta nos homicídios.”

Diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, Ivan Marques aponta que o discurso bélico é um ótimo fermento eleitoral. “O que [candidatos armamentistas] estão apostando, no fim das contas, é na potencial popularidade que ganham ao dizer que a gente vai armar o cidadão de bem,  para se venderem como defensores da ordem.”

Marques define a tática como “estelionato eleitoral”, pois, em sua opinião, não é possível deter a escalada da violência dessa forma. “Imagina um arrastão na linha amarela do Rio. Se cada um dentro dos carros estiver armado, será que vai fazer com que arrastão não aconteça?”

“Tá todo mundo com medo, tentando achar tábua de salvação no caos da segurança pública. Falar isso acaba sendo maneira de ganhar holofote. Mas o que a gente quer? Ir ao Pão de Açúcar e sair com uma arma, como acontece nos EUA, onde em 15 minutos no Walmart você compra uma?”

Bolsonaro abre queixa-crime contra Jean Wyllys pelos crimes de injúria e calúnia

Ação foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF)

          Bolsonaro abre queixa-crime contra Wyllys

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC/RJ) abriu junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma queixa-crime contra o também parlamentar Jean Wyllys (PSOL-RJ), acusando-o dos crimes de injúria e calúnia.

A base do pedido é uma entrevista de Wyllys ao jornal “O Povo”, em agosto do ano passado, onde ele chama Bolsonaro de “fascista”, “burro”, “ignorante”, “desqualificado”, “racista” e “canalha”.

Embora o ex-BBB não tenha citado o deputado nominalmente destacou ao jornal que tem “milhares de usuários de redes sociais” e o chamam de “mito”. Wyllys também seria responsável por uma calúnia, porque teria afirmando que Bolsonaro recebeu uma quantia ilegal da JBS.

Segundo a defesa de Bolsonaro, o parlamentar foi atacado de modo “profundamente ofensivo, atingindo-lhe a honra”. O relator do caso no Supremo será o ministro Celso de Mello.

Chama atenção o fato de o pedido requerer que seja afastada a imunidade parlamentar de Jean Wyllys no caso. A justificativa é que os comentários foram feitos fora do Congresso, e não dizem respeito ao exercício do cargo.

Bolsonaro repete assim a mesma estratégia da ação movida contra ele pela deputada federal Maria do Rosário (PT/RS), por declarações dele que não tinham “conexão direta com o desempenho do mandato”. Ele é acusado por ela de injúria e apologia ao crime por ter dito, em 2014, que “não estupraria a deputada porque ela não mereceria”. Outro processo foi aberto pelo Ministério Público Federal (MPF), que viu, na conduta do deputado, “incitação ao crime de estupro”.

Como no caso de Bolsonaro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) alega que ele não estaria protegido pela imunidade parlamentar, pede o mesmo tratamento para o psolista.

A assessoria de Jean Wyllys garante que o deputado não cometeu nenhum ato ilícito. Com informações de Estadão