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Usos e Costumes: Doutrinas de Deus ou dos Homens?

Thiago Lima Barros

A questão do comportamento cristão sofre um debate sem paralelo nos últimos duzentos e cinquenta anos. Nesse período, surgiram interpretações sem precedentes anteriores, que terminaram por se tornar majoritárias, ao mesmo tempo em que buscavam justificativas para seus entendimentos ao longo das Sagradas Escrituras. Refiro-me às chamadas doutrinas de usos e costumes, muito em voga principalmente no meio pentecostal histórico, do qual constituem um traço cultural bastante arraigado.

A cerveja do pai da reforma.

Até meados do século XVIII, questões como vestuário, uso do álcool, acesso à informação e à arte seculares, dentre outras, eram desconhecidas da igreja cristã. Mesmo porque o padrão de indumentária europeu era uniforme, as restrições à leitura se restringiam ao Index romanista.
Lutero fabricava sua própria cerveja (na verdade não ele, mas sua esposa Catarina), e Calvino recebia, como parte de seu salário anual em Genebra, sete tonéis de vinho. A igreja era doutrinada a usufruir de tudo com moderação, como produto da Graça de Deus, e não se deixar dominar por nenhuma delas.

Calvino é marca de cerveja européia.

Todavia, o início do movimento metodista nas Ilhas Britânicas veio acompanhado de uma reversão de tendência quanto a esses assuntos, a começar pela questão das bebidas alcoólicas. À época, com o advento da Revolução Industrial, as cidades não oferecem infraestrutura suficiente para atender às demandas da população que aflui do campo para trabalhar na indústria nascente, o que inclui a oferta de água potável. Bebidas destiladas e fermentadas passam a substituir a água. Porém, o ambiente de pobreza extrema em que viviam os operários propicia os excessos no uso de bebidas. A embriaguez se torna uma constante, e se transforma num problema social.

John Wesley foi o primeiro a se insurgir contra os excessos do álcool entre os crentes, e foi o primeiro a articular um movimento de proibição do seu uso. Em seus sermões, Wesley reprovava o uso não-medicinal de bebidas destiladas, como conhaque e uísque, e dizia que muitos destiladores que vendiam seus produtos indiscriminadamente não eram nada mais do que “envenenadores e assassinos amaldiçoados por Deus”. Porém, os Artigos de Religião de Wesley, adotados pela Igreja Metodista Episcopal nos Estados Unidos em 1784, admitiam em seu Artigo XVIII que o vinho é para ser usado na Ceia do Senhor, e preceituavam, no Artigo XIX, que ele deveria ser ministrado a todas as pessoas, e não apenas aos clérigos. Da mesma forma, as recomendações para pregadores metodistas indicam que eles deveriam escolher água como bebida comum e usar o vinho apenas como medicamento ou na Ceia.

O Movimento de Temperança

J. Wesley, o precursor do movimento anti-alcool.

No entanto, o pensamento metodista acerca do assunto era compartilhado por poucas pessoas, até a publicação de um folheto de autoria do médico Benjamin Rush, um dos signatários da Declaração de Independência norte-americana, que deblaterou contra o uso de “espíritos ardentes” (álcool destilado), introduziu a noção de vício e prescreveu a abstinência como única cura.

Apesar da adesão de alguns pregadores proeminentes, o movimento perdeu força durante a Guerra de Secessão, para mais tarde ressurgir por meio da União Feminina pela Temperança Cristã, e foi tão bem sucedido na realização dos seus objetivos que Catherine Booth, esposa do fundador do Exército da Salvação William Booth, observou, em 1879, que quase todos os ministros cristãos estadunidenses haviam se tornado abstêmios. O movimento, liderado por feministas conservadoras como Frances Willard, conseguiu a aprovação de leis anti-álcool em vários estados, e atingiu o seu zênite político em 1919, com a promulgação da Décima Oitava Emenda à Constituição dos Estados Unidos (Lei Seca), que estabeleceu a proibição da venda e consumo de álcool no país inteiro, revogada mais tarde, em 1933, pela Vigésima Primeira Emenda.

Francis Willard ajudou a “secar” os E.U.A.

Inicialmente se opondo apenas ao álcool destilado, a mensagem do movimento de temperança foi mais tarde alterada para defender sua eliminação total, especialmente na Ceia do Senhor. Tal posicionamento foi em grande medida influenciado pelo Segundo Grande Despertar, que enfatizava a santidade pessoal e o perfeccionismo na práxis cristã.

Os efeitos jurídicos e sociais resultantes do movimento, como visto, atingiram seu pico no início do século 20 e começaram a declinar logo depois. Os efeitos sobre a prática da igreja foram principalmente um fenômeno do protestantismo americano. O Pentecostalismo e as Restrições Consuetudinárias – Porém, no ambiente pentecostal, que sofreu, como (e do) Movimento de Temperança um influxo filosófico bastante forte do Movimento de Santidade, (o qual, por sua vez, é resultado direto do Segundo Grande Despertar), o proibicionismo, longe de arrefecer, foi adotado como cláusula pétrea. Afinal, ainda não havia bases teológicas de fundo mais intelectual: tudo era mais voltado ao experiencialismo da glossolalia e da cura divina, o que enfatizava ainda mais a tese de separação artificial do mundo e de suas coisas.

Mais tarde, porém, mesmo com o aprimoramento teológico dos ministros pentecostais, as mudanças de postura foram poucas, e meramente pontuais, fora a tolerância com abusos na rigidez das regras, mormente em locais menos desenvolvidos economicamente. Logo, para além da proibição da ingestão de álcool, surgiriam outras questões nas quais a resposta era uma só: proibido.

Ademais, tanto o pentecostalismo como o neo-pentecostalismo, juntamente com metodistas e grupos afiliados ou decorrentes destes, são os únicos grupos que elevaram tais restrições ao status de doutrina; se não na teoria, pelo menos na prática diária. Os demais ramos da cristandade protestante rechaçam esse tipo de associação, muito embora tambem tenham cometido esse tipo de excesso ao longo da história. Basta ver, nesse ponto, o que sofreram dois músicos cristãos: o alemão Johann Sebastian Bach, que foi obrigado a conter sua criatividade diante do estilo simplório de música imposto pela corte do príncipe calvinista Leopoldo de Anhalt-Köthen; e o brasileiro Luiz de Carvalho, que era anatematizado nos meios batistas por tocar… Violão!

O principe os púlpitos – Spurgeon era fumador de charutos e virou marca. Um outro momento cultural.

Usos e costumes no pentecostalismo brasileiro

Otto Nelson

É com os pentecostais, mormente da Assembleia de Deus, que o proibicionismo do Movimento de Temperança deita suas raízes no Brasil. De início, essa influência não se dá de forma institucional: o debate sobre questões relativas à inserção do pentecostal no mundo, ao contrario do que alguns líderes querem fazer parecer, era intenso e muitas vezes descambava para o rompimento pessoal entre os pastores divergentes. Nessa fase (de 1930 a 1975), o tratamento dessas questões era eminentemente personalista: cada pastor decide acerca das regras comportamentais a serem seguidas pelo rebanho, e muitos o fazem de forma radical.

Foi o caso do presbitério da AD de São Cristóvão (fundada por Gunnar Vingren em 1924), o qual, n’O Mensageiro da Paz da primeira quinzena de julho de 1946, em decisão unilateral datada do dia 4 de junho, sob a presidência do missionário sueco Otto Nelson, estabeleceu regramentos draconianos sobre o vestuário e cortes de cabelo femininos.

Samuel Nyströn

A dureza da Resolução de São Cristóvão, como passou a ser conhecida, aliada à evidente misoginia que a perpassava, não deixaram de ser notadas na 8ª Reunião da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, realizada em Recife em fins de outubro do mesmo ano. Os convencionais exigiram a retratação da congregação carioca. Quase no apagar das luzes da rodada de reuniões, o Presidente da CGADB, o tambem missionário sueco Samuel Nyströn, faz publicar um texto intitulado “Dando lugar à operação do espírito”, no qual rechaça o zelo jacobino da Resolução. Não por acaso, Nyströn abre o artigo com a citação do capítulo 4, versículo 6, do livro de Zacarias: “não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito diz o Senhor dos Exércitos”.

Com a refutação, veio a retratação da AD de São Cristóvão, em janeiro de 1947, e um silêncio de 16 anos acerca de questões consuetudinárias. Elas só voltam à baila em 1962, e de forma pontual. Essa tendência é revertida em 1975, com a publicação de uma resolução na 22ª reunião da CGADB, realizada em Santo André (SP), contendo oito restrições comportamentais, de observância obrigatória para os membros das AD’s. Eis a íntegra da mesma:

E ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo, e separai-vos dos povos, para serdes meus (Lv 20.26).

A Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, reunida na cidade de Santo André, Estado de São Paulo, reafirma o seu ponto de vista no tocante aos sadios princípios estabelecidos como doutrinas na Palavra de Deus – a Bíblia Sagrada – e conservados como costumes desde o início desta obra no Brasil. Imbuída sempre dos mais altos propósitos, ela, a Convenção Geral, deliberou pela votação unânime dos delegados das igrejas da mesma fé e ordem em nosso país, que as mesmas igrejas se abstenham do seguinte:


1. Uso de cabelos crescidos, pelos membros do sexo masculino;

2. Uso de traje masculino, por parte dos membros ou congregados, do sexo feminino;

3. Uso de pinturas nos olhos, unhas e outros órgãos da face;

4. Corte de cabelos, por parte das irmãs (membros ou congregados);

5. Sobrancelhas alteradas;

6. Uso de mini-saias e outras roupas contrárias ao bom testemunho da vida cristã;

7. Uso de aparelho de televisão – convindo abster-se, tendo em vista a má qualidade da maioria dos seus programas; abstenção essa que justifica, inclusive, por conduzir a eventuais problemas de saúde;

8. Uso de bebidas alcoólicas.

Geziel Gomes

Um detalhe interessante: a resolução acima foi lida na Convenção pelo pastor Geziel Nunes Gomes, a pedido do presidente da CGADB à época, pr. Túlio Barros Ferreira, coincidentemente (ou não) responsável pela AD de São Cristóvão. Ambos se desfiliaram da AD anos mais tarde, aderindo às doutrinas heréticas da Confissão Positiva e do G-12.

Daí por diante, a tendência é de recrudescimento dessa postura até 1999, quando, por ocasião do 5º Encontro de Líderes da Assembleia de Deus (ELAD), ocorre uma espécie de aggiornamento assembleiano: sem abrir mão do positivismo exacerbado de Santo André, tenta-se contextualizar as exigências mais como recomendação do que como decálogo (ou octólogo) denominacional. Mas mesmo esse documento padece de um certo “complexo de Gabriela”, numa indisfarçável demonstração de soberba denominacional:

Quando afirmamos que temos as nossas tradições, não estamos com isso dizendo que os nossos usos e costumes tenham a mesma autoridade da Palavra de Deus, mas que são bons costumes que devem ser respeitados por questão de identidade de nossa igreja. Temos quase 90 anos, somos um povo que tem história, identidade definida, e acima de tudo, nossos costumes sãos saudáveis. Deus nos trouxe até aqui da maneira que nós somos e assim, cremos, que sem dúvida alguma ele nos levará até ao fim.


Conclusão

Nas faculdades de Direito, estudamos que o costume é um dos vários meios de integração do ordenamento jurídico, utilizados em virtude do caráter genérico dos textos legais, que não raro apresentam lacunas. Ele deriva da prática reiterada de dado comportamento, devido à convicção sobre sua obrigatoriedade (a qual, se violada, acarretaria alguma sanção), e seu uso deve ser uniforme, constante, público e geral.

Túlio Barros

No entanto, a história dos avivamentos pelos quais a Igreja Cristã passou a partir do século XVIII, malgrado seus benefícios espirituais, teológicos, éticos e sociais, trouxe um grave efeito colateral para essa mesma Igreja: uma prática de usos e costumes nascida não da convicção do corpo iluminado pelo Espírito Santo, como deveria ser, mas do tacão dos líderes. Embora siga uma linha pentecostal clássica, seja neto de assembleianos por parte de pai e creia que a conduta cristã deva ser diferenciada da que é corrente no mundo, creio que essa jurisprudência deve ser escrita nas tábuas do coração, e não imposta de maneira bonapartista pela liderança, por mais bem-intencionada que esta seja.

Nenhum cristão realmente nascido de novo em Cristo, em sua saníssima consciência, vai defender a libertinagem, vestimentas indecorosas, embriaguez, enfim, uma postura de evidente mundanismo. Precisamos, de fato, ser santos como o Nosso Senhor o é. O problema é que, no afã de vivenciar essa santidade, houve um retorno inconsciente ao legalismo mosaico e aos seus rudimentos fracos, e o bebê foi jogado fora junto com a água do banho. Ou seja, a fruição dos bens dados pelo Senhor ao ser humano (quem lê, entenda) foi relegada, em alguns casos, a uma condição de conduta pecaminosa, mesmo que não ofenda as Escrituras em momento algum.

Cuidados com o corpo e o vestuário são pecado? Jamais! Antes, evidenciam o cuidado que temos com o templo do Espírito Santo: nosso corpo. Sem extravagâncias, mas com elegância. E o vinho, não alegra o coração do homem (Sl. 104:15)? E, da mesma forma, a embriaguez é condenada (Pv. 20:1). Sem contar que o mau uso que se faz dos meios de comunicação não os torna invenções de Satanás. Afinal, se a televisão não podia sequer entrar nos lares dos crentes, como os herdeiros dos que contra ela verberavam hoje dela se valem? Enfim, os lineamentos para o usufruto das dádivas de Deus são explícitos na Bíblia: basta segui-los, pois todas as coisas nos são lícitas, mas não nos deixamos dominar por nenhuma delas (I Co. 6:12). Encerro rememorando o rasgo de sensatez que o Nosso Deus e Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo bafejou no coração do pastor Samuel Nyströn, por ocasião do debate acerca da Resolução de São Cristóvão, no gracioso libelo “Dando lugar à operação do espírito”, orando ardentemente para que todos os cristãos, lideres principalmente, façam dessas palavras sua prática diuturna de vida:

Em qualquer tempo, lugar ou circunstância, devemos lembrar-nos que não se consegue fazer a obra do Senhor por força nem por meios violentos, resoluções ou imposições, mas a obra do Senhor se realiza pela intervenção criativa de Deus e pela lei do crescimento externo da obra do Senhor, mas igualmente quando se tratar do crescimento interno desta, tanto individual como coletivamente.


Mesmo durante a Dispensação da Lei, a Lei não conseguiu outra coisa senão descobrir e pôr o pecado em atividade, tendo como resultado a morte (…) enquanto a fé não tinha vindo, a Lei teve um alvo como pedagogo: conduzir homens a Cristo. Mas, tendo vindo a fé, não estamos mais debaixo do pedagogo (a Lei), e nem devemos fazer ressuscitar leis ou inventar outras leis para que não fiquemos no lugar dos gálatas, que foram chamados insensatos e a respeito dos quais Paulo temia que todo o seu trabalho se tornasse vão (…) Cristo veio com a graça e, então, a Dispensação da Lei se encerrou. Em lugar do mandamento prévio. que foi ab-rogado por sua fraqueza e inutilidade, pois ‘a Lei nada fez perfeito’, foi introduzida uma melhor esperança, pela qual nos chegamos a Deus: Cristo, que é nosso Sacerdote, segundo o poder de uma vida indissolúvel (…) Portanto, o que realmente tem valor para nós é ‘a fé que opera por amor’, por isso não nos justificamos pela Lei ou leis, para não sermos decaídos da graça e separados de Cristo (Gl 5.6).


As ordenanças para manifestar humildade e servidade com o corpo servem para satisfazer a carne, o erro, e elas com facilidade arranjam os que se julgam mais santos do que outros, e isto resulta em inchação vã e cria espírito de fariseu, que é o maior impedimento para as bênçãos de Deus.


Há muitos países e muitas formas de se trajar neste mundo, bem como muitos climas diferentes, e tudo isto deve ser considerado, mas como a Palavra de Deus diz: ‘com modéstia e sobriedade’. O que a Escritura ensina em relação a este assunto é que as mulheres devem ser castas e tementes a Deus, tanto as que são casadas como as moças (…) lembremo-nos também que há muitas outras coisas que são igualmente perigosas para a obra do Senhor, que só pelo Espírito Santo poderão ser removidas, como o amor ao dinheiro (…) o homem ostentado justiça própria, criticando tudo e todos, é um indivíduo perigoso para o avanço da unidade da obra do Senhor.

Genizah

06-06-16 013

Rev. Ângelo Medrado, Bacharel em Teologia, Doutor em Novo Testamento, referendado pela International Ministry Of Restoration-USA e Multiuniversidade Cristocêntrica é presidente do site Primeira Igreja Virtual do Brasil e da Igreja Batista da Restauração de Vidas em Brasília DF., ex-maçon, autor de diversos livros entre eles: Maçonaria e Cristianismo, O cristão e a Maçonaria, A Religião do antiCristo, Vendas alto nível, com análise transacional e Comportamento Gerencial.

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Los paises europeos mas atrasados es por su “concepcion católica del trabajo”

Serie de César Vidal

Los países europeos más atrasados es por su “concepción católica del trabajo”

¿Es el atraso económico español culpa de su rechazo al protestantismo y su cultura del trabajo? Así lo cree César Vidal, que mantiene un animado debate con Pío Moa.

El escritor protestante César Vidal ha planteado recientemente en su columna en LibertadDigital  un debate interesante sobre el arraigo de determinados sistemas económicos en unas naciones y el fracaso en otras.
La serie, que se encabeza con el título “Las razones de una diferencia”, comienza centrándose en el trabajo y la concepción que de éste se tiene en diferentes países occidentales, centrándose en las diferencias catolicismo-protestantismo.
Vidal, de fe protestante, defiende que el hecho de que  la Reforma protestante del siglo XVI no triunfara en España, Italia, Grecia, Irlanda o Portugal “tuvo enormes consecuencias que trascendieron del fenómeno religioso y modelaron la sociedad, la economía y la política” ya que “la Reforma presentó una visión radicalmente distinta del trabajo”.
UNA REVISIÓN BÍBLICA
“De entrada, el regreso a la Biblia permitió descubrir –¡más de un milenio para darse cuenta!– que Adán ya había recibido de Dios la misión de trabajar antes de la Caída y que esa labor consistía en algo tan teóricamente servil como labrar la tierra y guardarla (Génesis 2: 15). Aquel sencillo descubrimiento cambiaría la Historia de Occidente –y con ella la de la Humanidad– de manera radical”, considera Vidal.
Por ejemplo, recuerda, Lutero  escribió que “cuando una ama de casa cocina y limpia y realiza otras tareas domésticas, porque ése es el mandato de Dios, incluso tan pequeño trabajo debe ser alabado como un servicio a Dios que sobrepasa en mucho la santidad y el ascetismo de todos los monjes y monjas”, añade el historiador.
EL TRABAJO, SAGRADO
Continúa Vidal argumentando que “en su comentario a Génesis 13:13, el reformador alemán señalaría en relación con las tareas de la casa que ‘no tienen apariencia de santidad, y, sin embargo, esas obras relacionadas con las tareas domésticas son más deseables que todas las obras de todos los monjes y monjas… De manera similar,  los trabajos seculares son una adoración de Dios y una obediencia que complace a Dios’.  Igualmente en su Exposición del Salmo 128:2 añadiría: ‘Vuestro trabajo es un asunto muy sagrado. Dios se deleita en él y a través de él desea conceder Su bendición sobre vosotros’”.
Otro de los reformadores, Calvino , “al que se suele asociar un tanto exageradamente con la denominada ética protestante del trabajo”, explica Vidal, “fue también muy claro al respecto. En su Comentario a Lucas 10:38 afirmó: ‘Es un error el afirmar que aquellos que huyen de los asuntos del mundo y se dedican a la contemplación están llevando una vida angélica… Sabemos que los hombres fueron creados para ocuparse con el trabajo y que ningún sacrificio agrada más a Dios que el que cada uno se ocupe de su vocación y estudios para vivir bien a favor del bien común’”.
LA VISIÓN DEL COMERCIO
“Otro puritano, Richard Steele , en un texto llamado de manera bien significativa The Trademan’s Calling (La vocación del comerciante), afirmó que en el comercio ‘se puede esperar de la manera más confiada la presencia y la bendición de Dios’”, continúa Vidal.
El escritor e historiador añade que “la línea estaba claramente definida y era uniforme en cualquiera de las iglesias nacidas de la Reforma. Como señalaría un panfleto publicado a finales del siglo XVII en Inglaterra con el revelador título de Paul the Tentmaker (Pablo, el fabricante de tiendas), el protestantismo había impulsado un ‘deleite en los empleos seculares ‘”.
CONTRAPOSICIÓN CATÓLICA
Vidal explica a continuación la diferente visión que se encuentra en los países en los que no triunfa la Reforma . “En España, por ejemplo, en 1492 se había expulsado a unos judíos que tenían una visión del trabajo idéntica a la de los protestantes e, iniciado el siglo XVI, éstos tendrían que optar entre la hoguera o el exilio. Porque, desde luego,  la visión del trabajo de los motejados como herejes era clara desde el principio y nada se parecía a la católica”.
“Así, mientras se ventilaba la supervivencia de España como primera potencia de Europa, la nación siguió uncida a la idea de lo intolerable e infames que podían ser ciertos trabajos. Sus adversarios protestantes –que debieron dar gracias al Altísimo por ello– tenían un punto de vista muy diferente y, a pesar de tratarse, en general, de naciones más pobres y pequeñas, el resultado no pudo serles más favorable”.
Pero  no se trata de una “vagancia” de los españoles, un concepto que según Vidal “se suele repetir injustamente –y, al respecto, basta con ver el resultado que dan fuera de España– pero no creían que el trabajo tuviera el mismo valor que le dan aquellos que nacieron y crecieron en naciones donde triunfó la Reforma protestante”.
PÍO MOA REBATE A VIDAL
Otro de los colaboradores en LibertadDigital, el historiador gallego Pío Moa, ha salido al paso de la tesis de César Vidal sobre el atraso de España y la mentalidad “católica” del trabajo desde su blog.
Con el título “Debate con César Vidal: catolicismo, trabajo y decadencia / Lutero y los judíos”, Pío Moa presenta argumentos en contra de la tesis de Vidal.
Pío Moa señala que “la tesis de Vidal es que la diferencia de España afecta igualmente a las naciones católicas con respecto a las protestantes, las cuales él ve como más o menos modélicas. En dos palabras, el catolicismo suponía el desdén hacia el trabajo, y el protestantismo (o el judaísmo) lo contrario. Para mantener su teoría, César Vidal debería empezar explicando cómo España se mantuvo durante un siglo y cuarto como primera potencia europea”.
Moa pregunta “¿Pudo hacerlo un país donde no se trabajaba y que había expulsado a las únicas minorías laboriosas, judíos y moriscos según la disparatada teoría de Américo Castro, y cortado la infiltración protestante? Tenemos estampas, y buenos restos, de las muy bellas, a menudo espléndidas ciudades españolas de la época: ¿se construyeron solas, sin trabajo?”.
El historiador va enumerando distintos aspectos asociados a la “prosperidad” del siglo XVI en España, como “las flotas que descubrieron el mundo y por primera vez en la historia establecieron lazos comerciales entre todos los continentes”, “las universidades, tan pobladas para la época”, o “los hidalgos que conquistaron América, que construían barcos en plena selva, proyectaban y alzaban fuertes y ciudades y vías de comunicación, llevaban imprentas y fundaban centros de enseñanza”. Todos ellos son ejemplo, según Pío Moa, del afán de trabajo en la España del XVI.
“El más elemental sentido común indica que España alcanzó su supremacía mediante un inmenso trabajo físico, técnico e intelectual, como no pudo ser de otro modo, y en contra de tópicos tan arraigados como falsos”, añade Moa.
DECADENCIA GENERALIZADA
Para Pío Moa, la decadencia posterior “también llegó a Holanda, Francia, Alemania o Inglaterra, pero aún en el siglo XVIII España prosiguió su expansión ultramarina , racionalizó gran parte de su aparato estatal, construyó flotas muy respetables”. “Contra un tópico habitual -explica Moa- en España siempre se ha trabajado mucho, con más o menos acierto o rendimiento, esa es otra cuestión. Todavía suele considerarse que a principios del siglo XIX la renta per capita española equivalía a la francesa, pues fue a lo largo del XIX cuando España quedó casi estancada económicamente mientras Inglaterra, Francia, Alemania o Italia (del norte) prosperaban con rapidez”.
Al llegar a la Revolución Industrial, se produce el mayor retraso en España con respecto a los países protestantes. Pero, para Pío Moa, esto no se debe a que fuese por su concepción católica. “No parece fundada tal idea, porque dicha revolución no surgió en los países protestantes, sino en uno, Inglaterra, que era casualmente el menos protestante, el más semejante en religión al catolicismo. Y aquella revolución fue imitada en primer lugar por la católica Bélgica, mientras que la calvinista Holanda quedó retrasada mucho tiempo”, apunta Moa.
Argumenta además que países protestantes, como los escandinavos, “no empezaron a levantar cabeza hasta bien avanzado el siglo XIX”. O que “en Alemania se desarrolló una gran industria en Renania, mayoritariamente católica, mientras que la protestante Prusia se mantuvo largo tiempo agraria y con formas feudales”.
Pío Moa considera que el análisis de Vidal se basa en percepciones basadas en el estado actual económico y no en una visión histórica. “Las alternativas económicas de países católicos y protestantes en la época reciente son muy variables y con grandes altibajos. España creció económicamente, durante quince años, con mayor rapidez que cualquier país protestante (¿sería entonces más aficionada al trabajo?”, dice Moa, que termina acusando de “la matriz de la crisis actual” a un país “mayoritariamente protestante, es decir, Estados Unidos”.
El escritor finaliza su crítica apuntando que “si César Vidal prestara atención a estos hechos se percataría de que el catolicismo tuvo muy poco que ver con el asunto y que, por lo que respecta a España, conviene buscar las causas de su decadencia por distintas vías”.
LA SERIE CONTINÚA
César Vidal continúa con la serie sobre el atraso en España.  Ya se pueden leer dos nuevos artículos: De bancos y banqueros , sobre la historia de estas instituciones financieras, y Educación . El debate sigue, por tanto, intenso y abierto en la web y los comentarios del blog.

Fuentes: Libertad Digital
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