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Brasilenses relatam terror de abusos sexuais feitos por João de Deus

Segundo as mulheres, o médium, que atende em Abadiânia (GO), forçou sexo oral e ejaculou sobre elas

Mulheres mundo afora estão entre as vítimas que denunciaram o médium João de Deus por abusos sexuais cometidos durante tratamentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola. Apenas entre o sábado (8/12) e a segunda-feira (10), mais de 250 vítimas procuraram as autoridades para contar o que teriam sofrido nas mãos do cirurgião espiritual. No Distrito Federal, distante cerca de 100km do pequeno município de Abadiânia (GO), onde João atende, os relatos de pacientes que dizem ter sido estupradas ou molestadas sexualmente se multiplicam.

Um episódio de violência ocorrido há 10 anos envolve uma brasiliense. Ela procurou a Polícia Civil do Distrito Federal para relatar os momentos de terror vividos quando esteve com o médium. Em abril de 2008, a vítima prestou depoimento à Delegacia Especial de Atendimento á Mulher (Deam) dizendo ter procurado João de Deus, acompanhada de uma amiga, para tratar um tumor no pé.

Após passar por toda a triagem e os atendimentos de praxe, a vítima foi orientada a procurar o médium na hora do intervalo, na sala pessoal dele. Enquanto esperava, a mulher presenciou uma moça deixar a sala aos prantos, desorientada e correndo. Logo em seguida, ela foi chamada para a sessão com João de Deus.

“Dureza da fé”
Assim que entrou no cômodo, a mulher percebeu que o médium havia trancado a porta. O líder espiritual determinou que ela tirasse o sutiã e ficasse de costas para ele. A mulher narrou aos policiais que João de Deus começou a apalpar seus seios e barriga e mandou que ela tirasse a calça afirmando que a “energia negativa” estava acumulada em sua região pélvica.

Usando o nome de Deus e de vários santos, o espírita simulou estar em oração e começou a massagear a virilha, nádegas e região externa da vagina da vítima.

Em seguida, a mulher contou ter os dois braços puxados para trás e obrigada a acariciar a barriga e o pênis de João de Deus. Ainda em seu depoimento, a vítima relatou que sentiu quando o pênis do médium ficou ereto. “Abusando de sua fé em ficar curada, João de Deus dizia que aquela dureza era energia negativa que vinha da região pélvica da vítima e que ele estava absorvendo para o corpo dele”, diz o depoimento da vítima.

Ela chegou a questionar o motivo daquela situação e teria ouvido: “O que é que você quer? você tem que me ajudar”. Depois, João de Deus teria ordenado que ela continuasse a masturbá-lo.

Quando imaginou que a violência terminaria, a vítima contou ter sido levada para outra sala, onde João de Deus teria sentado em uma poltrona. Ele a colocou ajoelhada no chão, em uma posição entre suas pernas. A mulher relatou que João de Deus a mandou fechar os olhos e colocou o pênis em suas mãos. Naquele momento, o médium teria perguntado à mulher onde ela gostaria que o pênis estivesse. “Ele induzia a dizer que queria que seu pênis estivesse em seu útero, ora em seu ânus, ora em sua vagina, em seus seios e em sua boca”, diz o depoimento.

A mulher disse à polícia que, após aquele momento, João de Deus ejaculou em suas mãos. Para convencer a vítima, o médium falava que o pai dela, falecido havia 25 anos, estava presente em espírito e presenciava aquela cena. Durante todo o tempo, a mulher contou que João de Deus simulava estar orando e invocando a presença de entidades espirituais. Ele ainda teria afirmado que a mulher precisava fazer aquele ato por ter “carma de outras encarnações”.

“Punição espiritual”
“Tudo isso aconteceu graças a Deus e Nossa Senhora”, teria dito João de Deus. Desconfiada, a mulher perguntou ao médium se quem estava com ela naquele momento era o médium ou alguma entidade. João de Deus teria dito que seria uma entidade chamada José Valdivino.

Após liberar a mulher, o médium a orientou a não contar o que havia ocorrido, sob o risco de absorver uma grande quantidade de energia negativa em forma de “punição espiritual”. Já na estrada, dentro do carro na companhia de uma amiga, a mulher começou a chorar e afirmou ter sido estuprada pelo médium. As duas decidiram retornar a Abadiânia e confrontar João de Deus.

A vítima voltou até ao local onde havia sido abusada. Na frente do médium, a mulher o repreendeu e partiu para cima dele dando vários tapas em seu rosto. Assustado, João de Deus pediu socorro a um funcionário do local, que expulsou as duas mulheres da propriedade. Apesar do registro da ocorrência no DF, a investigação foi remetida para ser apurada pela Delegacia de Abadiânia.

Moradora do Noroeste, outra mulher que se diz vítima de João de Deus relata o terror psicológico que sofreu ao acompanhar a mãe para um tratamento espiritual de um câncer de ovário, em 2006. Ela foi ao centro com uma irmã e uma tia. No local, o médium teria pedido para que todos se retirassem da sala, menos a vítima.

“Chegamos lá e o lugar causou uma boa impressão. Tinha muita gente, do Brasil e de fora. Na época, morávamos no interior do Goiás, então todos sabiam quem ele era”, contou a vítima ao Metrópoles.

A princípio, ela não suspeitou de nada. Pensou que seria algo sobre o estado de saúde da mãe. “Ele me pediu para ficar em pé e disse que eu tinha de fazer um trabalho espiritual e minha mãe receberia energias através de mim. Achei estranho, fiquei relutante. Então, me pediu para tirar a calça. Eu disse que não faria aquilo.”

O líder espiritual, conforme o relato, começou a tocá-la, abraçá-la por trás e se esfregar. Também encostava nas partes íntimas e tentava colocar a mão dentro da calcinha da mulher. Ela, no entanto, segurou a calça para que ele não conseguisse tirá-la. “Ele não parou até ejacular na minha calça. Quando terminou, disse que uma entidade havia feito aquilo, e não ele próprio”, conta.

A mãe da vítima faleceu dois meses após se consultar com João de Deus. Antes de o escândalo vir à tona na madrugada de sábado (8), no programa televisivo Conversa com Bial, da TV Globo, a moradora do Noroeste tinha contado o ocorrido apenas a uma irmã. “Fiquei 12 anos sem falar disso. Agora me sinto aliviada. Só espero que haja Justiça”, diz. “Ele é alguém que usa a fragilidade dos outros para fazer maldade. Foi duro, foi cruel.”

Veja relatos de outras vítimas feitos no programa Conversa com Bial

Inocentado
Muito antes dessas novas acusações de abusos sexuais praticados pelo médium, o Ministério Público de Goiás (MPGO) havia denunciado João Teixeira de Faria por fraude sexual, conforme noticiou reportagem da revista Veja Brasília em 4 de setembro de 2013. Uma moça, na época com 16 anos, sofria com crises de pânico e buscou a Casa Dom Inácio de Loyola.

Durante seu atendimento, descreveu ao MP, João teria pedido ao pai da menina, seu acompanhante na ocasião, para ficar de costas e com os olhos fechados. “Em seguida, [João] acariciou os seios, barriga, nádegas e virilha da menina”, descreve a ação. E ainda sustenta: “Não satisfeito, o denunciado segurou, por cima da roupa, a mão da vítima, movimentando-a para cima e para baixo sobre seu órgão genital, afirmando que através daquele tratamento seria curada”.

No documento, a magistrada diz ter convicção de que o ato foi praticado, mas considera que a moça, embora com síndrome do pânico, tinha condições de evitar o episódio, por exemplo, pedindo ajuda ao pai, que estava na sala. Aos prantos, a menina teria ficado com nojo das mãos que tocaram em João. O médium foi inocentado em 2010 sob o argumento de defesa de falta de provas para a condenação.

Força-tarefa
Agora, João de Deus se vê às voltas com uma enxurrada de denúncias, que motivaram o MPGO a criar uma força-tarefa para apurar o caso. Segundo a Procuradoria, apenas nessa segunda-feira (10), quando investigação conjunta do MPGO com a Polícia Civil goiana foi instaurada contra João de Deus, 40 mulheres denunciaram às autoridades goianas abusos sexuais supostamente praticados pelo médium.

O MPGO criou um e-mail exclusivo para receber relatos de vítimas do cirurgião espiritual e, em menos de oito horas após tornar público o endereço – denuncias@mpgo.mp.br –, 35 ex-pacientes enviaram relatos de estupros e abusos. Outras cinco vítimas procuraram a sede do órgão.

A triagem dos casos está sendo realizada, e essas novas denúncias somam-se às mais de 200 vítimas estimadas pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), conforme revelou o programa televisivo Fantástico, na noite de domingo (9).Com informações Metropoles.com

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“João de deus” – Prefeitura de Anápolis manda demolir prédio de João de Deus na cidade

Edifício de quatro pavimentos foi erguido sem licença, ao lado da casa onde o médium mora no município goiano
ED FERREIRA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

ED FERREIRA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
Fernando Caixeta

O município de Anápolis (GO), onde João de Deus passa os dias quando não está fazendo atendimentos na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), entrou na Justiça contra o médium, pedindo a demolição de um prédio do cirurgião espiritual, construído em um imóvel vizinho à casa onde ele mora.

João Teixeira de Faria (nome verdadeiro de João de Deus) foi intimado da decisão nessa segunda-feira (10/12), conforme consta na movimentação processual do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO). O médium é acusado de estupros e abusos sexuais. Desde que o escândalo veio à tona, na madrugada de sábado (8), as denúncias se multiplicaram.

DANILO BOAVENTURA/PORTAL6
Danilo Boaventura/Portal6

Edifício alvo de ação da prefeitura fica ao lado de uma das casas (muro bege e portões marrons) que o médium possui em Anápolis (GO). Tanto o prédio quanto a residência são de João de Deus – é nela que ele mora

Até a segunda (10), o paradeiro dele era desconhecido. No entanto, o cumprimento do mandado de intimação indicaria que o médium estaria em casa, em Anápolis. O imóvel alvejado pela prefeitura fica ao lado (veja abaixo). No local – o Lote 7, Quadra S, na Rua Everton Batista – havia uma residência que deu lugar a um edifício de quatro pavimentos, ainda em construção.

A obra foi embargada por fiscais no dia 25 de outubro, pois estava sendo edificada sem expedição de alvará de licença e elaboração do projeto. João de Deus chegou a ser notificado a comparecer à prefeitura para que a situação fosse regularizada, mas não teria ido ao órgão.

Uma semana após a visita da fiscalização, e com a obra ainda embargada, servidores da Gerência Municipal retornaram ao local e constataram que os trabalhos haviam sido irregularmente reiniciados. Seis dias depois, o prédio já estava invadindo a frente e a lateral além dos limites do lote.

O município pediu urgência para a interdição da obra e a proibição de ocupação até o julgamento do caso. Solicitou, ainda, a demolição do imóvel.

Veja o documento:

Município de Anápolis pede a demolição de prédio irregular de João de Deus by Metropoles on Scribd

 

Decisão
O juiz responsável pelo caso, Carlos Eduardo Rodrigues de Souza, acatou o pedido de urgência em interditar o imóvel.

De início, infere-se claramente dos autos que a obra teria sido edificada à revelia da expedição do imprescindível alvará de construção e do indispensável projeto arquitetônico previamente aprovado pelo município, tratando-se, assim, de uma edificação completamente irregular

Trecho da decisão do juiz Carlos Eduardo Rodrigues de Souza

A decisão ressalta existirem indicativos de que a construção avançou indevidamente sobre os recuos frontais e laterais, violando norma urbanística vigente.

“O requerido, de sua parte, desobedeceu o embargo administrativo e, passando ao largo da legislação municipal, continua realizando novas intervenções na construção para terminá-la”, diz a decisão.

O magistrado reforça que a ocupação e o uso do prédio à revelia de projeto arquitetônico aprovado pode ensejar prejuízos para os vizinhos, “havendo, inclusive, risco para a própria estrutura do edifício e para as pessoas incautas que frequentam o local”.

A multa, caso João de Deus insista em ocupar o imóvel, é de R$ 2 mil por dia. Uma audiência de conciliação está marcada paras as 15h do dia 12 de março de 2019.

No processo, que corre no TJGO, não consta a indicação do advogado de defesa de João de Deus. O Metrópoles entrou em contato com o escritório de Alberto Zacharias Toron, que o defende das acusações de estupro, mas não obteve retorno até a última atualização deste texto.

Escândalo
Após o escândalo envolvendo o médium vir à tona, os promotores de Justiça de Goiás receberam diversas ligações no fim de semana. Eles formaram uma força-tarefa e disseram que, nesta terça-feira (11/12), as vítimas começam a ser ouvidas. A partir daí e de provas colhidas, o Ministério Público de Goiás (MPGO) pode pedir a interdição da Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia.

“Já há uma coordenação nacional com todas as promotorias das outras cidades e depoimentos marcados para outros Ministérios Públicos, como o de São Paulo e o de Minas Gerais. Isso vai servir para as vítimas se sentirem à vontade para procurar o MP”, disse o promotor Luciano Miranda, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal (Caocrim), um dos coordenadores da força-tarefa.

Ao lado da promotora Patrícia Otoni Pereira, coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (Caodh), ele deu entrevista coletiva nessa segunda (10), no MPGO, para explicar mais detalhes das investigações.

Ambos serão responsáveis por orientar os titulares que irão atuar no caso. De acordo com informações do Ministério Público de Goiás, a força-tarefa vai auxiliar profissionais de outros estados a receberem as acusações quando procurados pelas vítimas. O número de relatos, até essa segunda-feira, somava mais de 200 vítimas em todo o país e até mesmo no exterior.

Até agora os crimes a serem apurados são: estupro, abuso sexual mediante fraude e estupro de vulnerável. “Enquanto não tivermos algo concreto, por cautela, não podemos ingressar com nenhuma ação no Judiciário para interditar o estabelecimento de João de Deus. Vamos tomar todas as medidas no âmbito criminal e civil a partir das denúncias”, ressaltou o promotor do MPGO Luciano Miranda.

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Espiritismo: Crescimento inquietante

imageAlavancado por livros, filmes e ensinos que agradam ao público médio, kardecismo tem doutrinas incompatíveis com a fé cristã

Poucas coisas são tão capazes de trazer conforto a quem perdeu uma pessoa querida do que a possibilidade de encontrá-la novamente numa outra vida. Diversas expressões religiosas, inclusive o cristianismo, incluem em sua doutrina a crença veemente na existência da vida após a morte. Mas o espiritismo vai além. Seus praticantes dizem que é possível, aqui e agora, fazer contato direto com seres humanos que já se foram desta vida. Mais ainda – dizem os espíritas que as almas desencarnadas estão em outro plano, prontas e dispostas a auxiliar aqueles que vivem fisicamente em sua caminhada rumo à perfeição espiritual. Para isso, valem-se dos médiuns, pessoas que acreditam ter a capacidade de agir como intermediárias entre vivos e mortos. Afinal, para os espiritualistas, seguidores do conjunto de doutrinas organizado em meados do século 19 pelo pedagogo francês Hippolyte Leon Denizad Rivail, o Allan Kardec, a existência humana é uma sucessão de mortes e renascimentos, sendo que a cada nova vida o indivíduo tem a oportunidade de desenvolver-se.

Começa justamente aí o principal antagonismo entre os espiritualistas e os evangélicos, já que estes, com base em textos bíblicos como Hebreus 9.27 – “Ao homem está estabelecido morrer uma única vez, vindo depois disto o juízo de Deus” –, rechaçam peremptoriamente a possibilidade de reencarnação. Além desta, são muitas as divergências da Igreja Evangélica em relação ao espiritismo, como por exemplo quanto ao papel de Cristo. Se para os crentes ele é o Filho de Deus e Salvador do mundo, na opinião dos adeptos do kardecismo Jesus não vai além de um espírito iluminado, um homem que alcançou a perfeição graças ao amor e bondade que dedicou às pessoas. Mas o apelo forte que esse tipo de crença tem, sobretudo numa cultura religiosa sincrética como a brasileira, explica a popularidade do espiritismo em território nacional. O Brasil já é considerado o maior país espírita do mundo, com números que chegariam a 30 milhões de seguidores e simpatizantes. O último levantamento religioso oficial da população nacional, o Censo de 2000, encontrou pouco mais de 2,3 milhões de espiritualistas confessos, mas é sabido que muitas pessoas têm o kardecismo como uma espécie de segunda crença, à qual recorrem em momentos de aflição. Além disso, o espiritismo mesclou-se muito bem com credos de matriz africana como a umbanda e o candomblé, criando uma religiosidade popular que mistura a cosmovisão dos dois lados.

O sucesso estrondoso de Chico Xavier (Downtown/Sony Pictures), cinebiografia do mais celebrado médium brasileiro, que vem batendo recordes de público desde seu lançamento, é demonstração disso. Em dois meses, foram 3 milhões de espectadores, sinal de que a doutrina dos espíritos está em alta. De acordo com a Federação Espírita Brasileira (FEB) há no país cerca de 15 mil centros e casas de sessão das mais diversas linhas espiritualistas. Alguns locais, como o Centro Espírita Perseverança, considerado o maior da América Latina e localizado na capital paulista, recebe diariamente nada menos que 5 mil pessoas. Elas estão interessadas numa religião onde não existem amarras hierárquicas e na qual cada fiel é responsável pelo próprio crescimento espiritual, sobretudo através da prática da caridade, marca registrada do grupo. “Não há intermediação, nem velas ou imagens nos centros espíritas. O praticante precisa se prender a algo que é mais abstrato e pessoal”, explica a socióloga Célia da Graça Arribas. Outra característica do espiritismo é o estímulo ao estudo. “Não é qualquer pessoa que compreende esse sistema, por isso a importância do estudo constante”. Essa opinião é compartilhada pelo criador do Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB), Deolindo Amorim, que no prefácio do livro Espiritismo básico, de Pedro Franco Barbosa, afirma: “Não se pode estudar bem o espiritismo sem conhecimento seguro da doutrina”.

Célia investiga o crescimento do kardecismo no país e a formação dos primeiros grupos brasileiros que estudaram a doutrina. De acordo com sua tese de mestrado Afinal, espiritismo é religião? A doutrina espírita na formação da diversidade religiosa brasileira, a crença espírita chegou ao Brasil no início da década de 1860, com a primeira obra de Allan Kardec, O livro dos espíritos, lançado apenas três anos antes. A obra foi a primeira de uma série de cinco trabalhos, que formam a chamada “codificação espírita” (O livro dos médiuns, O Evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese). Todos, segundo a pesquisadora, despertaram grande interesse na elite nacional da época, formada por advogados, médicos, intelectuais, jornalistas e políticos, gente que mantinha muito contato com a produção intelectual da França, então o principal centro cultural do mundo.

Fé elitizada – Essa formação elitizada provavelmente tenha sido a responsável por manter a religião espírita focada principalmente na classe média. O perfil do espírita brasileiro é de pessoas com renda familiar alta, na casa dos R$ 5 mil mensais – bem acima, por exemplo, dos católicos (por volta de R$ 2 mil) e dos evangélicos (não mais que R$ 1,3 mil) –, média de escolaridade de 10 a 15 anos e forte hábito da leitura. A ênfase no estudo explica o desenvolvimento acelerado das editoras do segmento espiritualista em um país como o Brasil, em que somente 10% da população lê com assiduidade. Segundo um levantamento baseado em dados de 2006 da Câmara Brasileira do Livro (CBL), esse nicho de mercado editorial possuía 205 editoras, 4,3 mil títulos, cerca de 1 mil autores e editou nada menos que 6,5 milhões de livros. Isso significou um faturamento de quase R$ 100 milhões naquele ano. De lá para cá, a coisa só cresceu. Basta visitar uma livraria para se testar a popularidade dos temas espíritas. Uma das mais celebradas autoras ligadas ao segmento, Zibia Gasparetto, sempre tem um dos seus livros na lista de mais vendidos.

Mas é Francisco Cândido Xavier, ou simplesmente Chico, que neste ano completaria um século de vida (ele morreu em 2002), o campeão inconteste das letras espíritas. Ele lançou 450 livros supostamente psicografados por espíritos, que venderam mais de 18 milhões de exemplares. Apenas uma de suas obras, Nosso lar, que teria sido ditada pelo espírito conhecido como André Luiz, é um best-seller que já superou a marca de 1,6 milhão de volumes distribuídos. Não é a toa que o livro ganha ainda este ano uma versão cinematográfica, com previsão de estreia para setembro. A julgar pelo sucesso de Chico Xavier, vem aí um novo campeão de bilheteria.

A popularidade de Chico vem de uma série de fatores. Primeiro, por sua origem humilde: filho de pobres, ele estudou apenas até a antiga quarta série do ensino primário. Por isso, seus escritos são extremamente acessíveis a qualquer um, ao contrário das obras filosóficas de Kardec. Chico lançava livros romanceados, em que os princípios da doutrina espiritualista são apresentadas de maneira bem mastigada. Além disso, seu caráter desprendido – ele doou toda a renda de seus livros a obras de caridade, montou centros assistenciais e vivia de maneira modesta – e sua compleição física frágil ajudaram a moldar em torno de sua figura um ar de santidade, venerado abertamente por seus seguidores. O centro que fundou, na cidade de Uberaba (MG), é uma espécie de santuário à sua memória. Diariamente, devotos de vários pontos do país dirigem-se até lá em busca de uma prece, um passe ou simplesmente para rezar diante do busto de Chico. Muitos chegam a atirar cartas endereçadas ao médium falecido por cima do muro de sua casa, transformada em museu. “Ele veio para popularizar o espiritismo. Sua missão na terra foi de exemplificar o amor e decodificar a doutrina”, destaca a vice-presidente da União das Sociedades Espíritas de São Paulo (USE-SP), Júlia Nezu.

Para a mídia, a imagem de Chico Xavier é estratégica. Um personagem real, que nasceu e viveu no país, capaz de reunir pessoas de vários credos e ainda lhes dar esperança, é um alavancador de audiência. Não é a toa que novelas que exploram tema mediúnico são recorrentes na televisão, principalmente na rede Globo. O assunto passou a ser tratado mais diretamente a partir de A viagem (1994). Outros folhetins, como Alma gêmea, exibida entre 2005 e 2006, exploraram abertamente o interesse do público pelo espiritismo. Atualmente em exibição no horário das 18h, Escrito nas estrelas conta a história de um rapaz que morre num acidente de carro e continua se comunicando com os vivos. Para Júlia, o sucesso dos temas espíritas reflete uma busca dos tempos modernos. “As pessoas estão cansadas do materialismo e têm procurado uma resposta transcendental. O espiritismo traz essa resposta, embora não sejamos os donos da verdade”, afirma.

“Estratégia proselitista” – É a caridade, contudo, a bandeira mais levantada pelos seguidores do espiritismo. Fazer o bem ao próximo é fundamental para os devotos, que veem na solidariedade o caminho para a perfeição – crença bem expressa no slogan “Fora da caridade, não há salvação”. “O espiritismo atrai porque mexe com os sentimentos e emoções das pessoas. Afinal, qual a mãe que não gostaria de falar novamente com um filho morto?”, diz o ex-espírita Manoel Castillo. “E há muitas pessoas fazendo o bem nos centros espíritas”, elogia. Ele fala com a experiência de quem foi seguidor ativo do kardecismo durante mais de uma década, junto com a mulher, Graça. Evangélicos, eles hoje frequentam a Igreja Cristo é Vida, na Vila Formosa, em São Paulo. “Acontece que as pessoas são enganadas. A história que se conta por lá é muito bonita, mas a verdade é que os chamados ‘espiritos do bem’ são demônios”.

O testemunho do casal é semelhante ao de tantas pessoas que fizeram este tipo de migração religiosa. O envolvimento inicial com a fé espírita começou com uma alegada mediunidade. Graça conta que chegou a ter contato com o que considerava espíritos de luz e até previu a morte da filha adotiva, mesmo quando a menina não tinha nenhum sintoma de enfermidade. Fundador do Ministério Rhema e autor do livro Espiritismo – Conhecendo os cultos afro, o pastor Milton Vieira da Silva diz que o principal problema da doutrina espírita é a redução do papel de Jesus, que descaracteriza o conjunto de crenças espiritualistas como cristãs. “Eles veem Cristo como um dos melhores profetas, um mestre iluminado por excelência e o melhor homem que já existiu – menos como Senhor e Salvador da alma humana.”

O jornalista e missionário Jamierson Oliveira, ligado à Igreja Batista Betel, considera que as obras sociais e assistenciais são uma vitrine de justiça e o cartão de visita não só do espiritismo, mas de outros grupos religiosos. “É uma estratégia de proselitismo, mas é preciso registrar que também os evangélicos e protestantes realizam grandes obras em favor do próximo”. Ele cita como exemplo igrejas e organizações não-governamentais de caráter cristão, como Exército de Salvação, Visão Mundial e Compassion. Editor da Bíblia Apologética de Estudos, voltada à defesa da fé, e de diversos artigos e trabalhos na área de seitas e heresias, Jamierson concorda que o preparo teológico é fundamental para rechaçar os ensinos do espiritismo. “Como Igreja de Cristo, não temos que nos intimidar pela militância das seitas, mas nos despertarmos por alguns bons exemplo delas”, destaca. “Afinal de contas, fomos chamados para salgar a terra, além de iluminar o mundo. João disse que se amamos a Deus, a quem não vemos, devemos revelar isso em ação em favor do nosso próximo, que vemos e convivemos.”

Pesquisador de religiões e seitas há mais de 50 anos, o pastor Natanael Rinaldi, palestrante do Instituto de Estudos Cristãos (ICP), começou a estudar o espiritismo de Allan Kardec na mesma ocasião em que passou a se dedicar à apologética. Foi nesse percurso que avaliou não somente a doutrina espírita, mas também sua origem. Para ele, o caráter abrangente do espiritismo é apenas uma maneira sutil de se envolver nos meios religiosos com a finalidade de ter mais fácil aceitação, como se fosse também uma religião cristã. “O que não é verdade”, afirma o apologista. “Qualquer movimento religioso que alegue ser cristão deve ter seus ensinos confrontados com a Palavra de Deus para se verificar a veracidade dos mesmos”, sentencia. “Já os autores kardecistas dizem que sua base é o ensino dos espíritos. O espírita é um tipo de religioso eclético”. Mesmo assim, ele acha que alguns grupos religiosos são mais suscetíveis à doutrinação espírita. “Os católicos que simplesmente adotam a religião dos pais, mas desconhecem totalmente seus dogmas básicos, são presas fáceis”.

Rinaldi alerta que também muitos evangélicos estão na mesma situação: “Há crentes que ignoram as doutrinas bíblicas centrais. Não leem as Escrituras, não participam de estudos bíblicos, não têm como responder acerca da razão de sua fé”. Quanto às sessões mediúnicas, em que os adeptos acreditam ter contato com pessoas que já morreram, o pastor lembra que o apóstolo Paulo advertiu a igreja de Corinto sobre a possibilidade de o próprio diabo e seus anjos transfigurarem-se em anjos de luz: “Não são as pessoas falecidas que se manifestam, mas sim, espíritos mentirosos que tomam seus lugares nas invocações. E o pai da mentira é o diabo.”

 

Poucas coisas são tão capazes de trazer conforto a quem perdeu uma pessoa querida do que a possibilidade de encontrá-la novamente numa outra vida. Diversas expressões religiosas, inclusive o cristianismo, incluem em sua doutrina a crença veemente na existência da vida após a morte. Mas o espiritismo vai além. Seus praticantes dizem que é possível, aqui e agora, fazer contato direto com seres humanos que já se foram desta vida. Mais ainda – dizem os espíritas que as almas desencarnadas estão em outro plano, prontas e dispostas a auxiliar aqueles que vivem fisicamente em sua caminhada rumo à perfeição espiritual. Para isso, valem-se dos médiuns, pessoas que acreditam ter a capacidade de agir como intermediárias entre vivos e mortos. Afinal, para os espiritualistas, seguidores do conjunto de doutrinas organizado em meados do século 19 pelo pedagogo francês Hippolyte Leon Denizad Rivail, o Allan Kardec, a existência humana é uma sucessão de mortes e renascimentos, sendo que a cada nova vida o indivíduo tem a oportunidade de desenvolver-se.

Começa justamente aí o principal antagonismo entre os espiritualistas e os evangélicos, já que estes, com base em textos bíblicos como Hebreus 9.27 – “Ao homem está estabelecido morrer uma única vez, vindo depois disto o juízo de Deus” –, rechaçam peremptoriamente a possibilidade de reencarnação. Além desta, são muitas as divergências da Igreja Evangélica em relação ao espiritismo, como por exemplo quanto ao papel de Cristo. Se para os crentes ele é o Filho de Deus e Salvador do mundo, na opinião dos adeptos do kardecismo Jesus não vai além de um espírito iluminado, um homem que alcançou a perfeição graças ao amor e bondade que dedicou às pessoas. Mas o apelo forte que esse tipo de crença tem, sobretudo numa cultura religiosa sincrética como a brasileira, explica a popularidade do espiritismo em território nacional. O Brasil já é considerado o maior país espírita do mundo, com números que chegariam a 30 milhões de seguidores e simpatizantes. O último levantamento religioso oficial da população nacional, o Censo de 2000, encontrou pouco mais de 2,3 milhões de espiritualistas confessos, mas é sabido que muitas pessoas têm o kardecismo como uma espécie de segunda crença, à qual recorrem em momentos de aflição. Além disso, o espiritismo mesclou-se muito bem com credos de matriz africana como a umbanda e o candomblé, criando uma religiosidade popular que mistura a cosmovisão dos dois lados.

O sucesso estrondoso de Chico Xavier (Downtown/Sony Pictures), cinebiografia do mais celebrado médium brasileiro, que vem batendo recordes de público desde seu lançamento, é demonstração disso. Em dois meses, foram 3 milhões de espectadores, sinal de que a doutrina dos espíritos está em alta. De acordo com a Federação Espírita Brasileira (FEB) há no país cerca de 15 mil centros e casas de sessão das mais diversas linhas espiritualistas. Alguns locais, como o Centro Espírita Perseverança, considerado o maior da América Latina e localizado na capital paulista, recebe diariamente nada menos que 5 mil pessoas. Elas estão interessadas numa religião onde não existem amarras hierárquicas e na qual cada fiel é responsável pelo próprio crescimento espiritual, sobretudo através da prática da caridade, marca registrada do grupo. “Não há intermediação, nem velas ou imagens nos centros espíritas. O praticante precisa se prender a algo que é mais abstrato e pessoal”, explica a socióloga Célia da Graça Arribas. Outra característica do espiritismo é o estímulo ao estudo. “Não é qualquer pessoa que compreende esse sistema, por isso a importância do estudo constante”. Essa opinião é compartilhada pelo criador do Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB), Deolindo Amorim, que no prefácio do livro Espiritismo básico, de Pedro Franco Barbosa, afirma: “Não se pode estudar bem o espiritismo sem conhecimento seguro da doutrina”.

Célia investiga o crescimento do kardecismo no país e a formação dos primeiros grupos brasileiros que estudaram a doutrina. De acordo com sua tese de mestrado Afinal, espiritismo é religião? A doutrina espírita na formação da diversidade religiosa brasileira, a crença espírita chegou ao Brasil no início da década de 1860, com a primeira obra de Allan Kardec, O livro dos espíritos, lançado apenas três anos antes. A obra foi a primeira de uma série de cinco trabalhos, que formam a chamada “codificação espírita” (O livro dos médiuns, O Evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese). Todos, segundo a pesquisadora, despertaram grande interesse na elite nacional da época, formada por advogados, médicos, intelectuais, jornalistas e políticos, gente que mantinha muito contato com a produção intelectual da França, então o principal centro cultural do mundo.

Fé elitizada – Essa formação elitizada provavelmente tenha sido a responsável por manter a religião espírita focada principalmente na classe média. O perfil do espírita brasileiro é de pessoas com renda familiar alta, na casa dos R$ 5 mil mensais – bem acima, por exemplo, dos católicos (por volta de R$ 2 mil) e dos evangélicos (não mais que R$ 1,3 mil) –, média de escolaridade de 10 a 15 anos e forte hábito da leitura. A ênfase no estudo explica o desenvolvimento acelerado das editoras do segmento espiritualista em um país como o Brasil, em que somente 10% da população lê com assiduidade. Segundo um levantamento baseado em dados de 2006 da Câmara Brasileira do Livro (CBL), esse nicho de mercado editorial possuía 205 editoras, 4,3 mil títulos, cerca de 1 mil autores e editou nada menos que 6,5 milhões de livros. Isso significou um faturamento de quase R$ 100 milhões naquele ano. De lá para cá, a coisa só cresceu. Basta visitar uma livraria para se testar a popularidade dos temas espíritas. Uma das mais celebradas autoras ligadas ao segmento, Zibia Gasparetto, sempre tem um dos seus livros na lista de mais vendidos.

Mas é Francisco Cândido Xavier, ou simplesmente Chico, que neste ano completaria um século de vida (ele morreu em 2002), o campeão inconteste das letras espíritas. Ele lançou 450 livros supostamente psicografados por espíritos, que venderam mais de 18 milhões de exemplares. Apenas uma de suas obras, Nosso lar, que teria sido ditada pelo espírito conhecido como André Luiz, é um best-seller que já superou a marca de 1,6 milhão de volumes distribuídos. Não é a toa que o livro ganha ainda este ano uma versão cinematográfica, com previsão de estreia para setembro. A julgar pelo sucesso de Chico Xavier, vem aí um novo campeão de bilheteria.

A popularidade de Chico vem de uma série de fatores. Primeiro, por sua origem humilde: filho de pobres, ele estudou apenas até a antiga quarta série do ensino primário. Por isso, seus escritos são extremamente acessíveis a qualquer um, ao contrário das obras filosóficas de Kardec. Chico lançava livros romanceados, em que os princípios da doutrina espiritualista são apresentadas de maneira bem mastigada. Além disso, seu caráter desprendido – ele doou toda a renda de seus livros a obras de caridade, montou centros assistenciais e vivia de maneira modesta – e sua compleição física frágil ajudaram a moldar em torno de sua figura um ar de santidade, venerado abertamente por seus seguidores. O centro que fundou, na cidade de Uberaba (MG), é uma espécie de santuário à sua memória. Diariamente, devotos de vários pontos do país dirigem-se até lá em busca de uma prece, um passe ou simplesmente para rezar diante do busto de Chico. Muitos chegam a atirar cartas endereçadas ao médium falecido por cima do muro de sua casa, transformada em museu. “Ele veio para popularizar o espiritismo. Sua missão na terra foi de exemplificar o amor e decodificar a doutrina”, destaca a vice-presidente da União das Sociedades Espíritas de São Paulo (USE-SP), Júlia Nezu.

Para a mídia, a imagem de Chico Xavier é estratégica. Um personagem real, que nasceu e viveu no país, capaz de reunir pessoas de vários credos e ainda lhes dar esperança, é um alavancador de audiência. Não é a toa que novelas que exploram tema mediúnico são recorrentes na televisão, principalmente na rede Globo. O assunto passou a ser tratado mais diretamente a partir de A viagem (1994). Outros folhetins, como Alma gêmea, exibida entre 2005 e 2006, exploraram abertamente o interesse do público pelo espiritismo. Atualmente em exibição no horário das 18h, Escrito nas estrelas conta a história de um rapaz que morre num acidente de carro e continua se comunicando com os vivos. Para Júlia, o sucesso dos temas espíritas reflete uma busca dos tempos modernos. “As pessoas estão cansadas do materialismo e têm procurado uma resposta transcendental. O espiritismo traz essa resposta, embora não sejamos os donos da verdade”, afirma.

“Estratégia proselitista” – É a caridade, contudo, a bandeira mais levantada pelos seguidores do espiritismo. Fazer o bem ao próximo é fundamental para os devotos, que veem na solidariedade o caminho para a perfeição – crença bem expressa no slogan “Fora da caridade, não há salvação”. “O espiritismo atrai porque mexe com os sentimentos e emoções das pessoas. Afinal, qual a mãe que não gostaria de falar novamente com um filho morto?”, diz o ex-espírita Manoel Castillo. “E há muitas pessoas fazendo o bem nos centros espíritas”, elogia. Ele fala com a experiência de quem foi seguidor ativo do kardecismo durante mais de uma década, junto com a mulher, Graça. Evangélicos, eles hoje frequentam a Igreja Cristo é Vida, na Vila Formosa, em São Paulo. “Acontece que as pessoas são enganadas. A história que se conta por lá é muito bonita, mas a verdade é que os chamados ‘espiritos do bem’ são demônios”.

O testemunho do casal é semelhante ao de tantas pessoas que fizeram este tipo de migração religiosa. O envolvimento inicial com a fé espírita começou com uma alegada mediunidade. Graça conta que chegou a ter contato com o que considerava espíritos de luz e até previu a morte da filha adotiva, mesmo quando a menina não tinha nenhum sintoma de enfermidade. Fundador do Ministério Rhema e autor do livro Espiritismo – Conhecendo os cultos afro, o pastor Milton Vieira da Silva diz que o principal problema da doutrina espírita é a redução do papel de Jesus, que descaracteriza o conjunto de crenças espiritualistas como cristãs. “Eles veem Cristo como um dos melhores profetas, um mestre iluminado por excelência e o melhor homem que já existiu – menos como Senhor e Salvador da alma humana.”

O jornalista e missionário Jamierson Oliveira, ligado à Igreja Batista Betel, considera que as obras sociais e assistenciais são uma vitrine de justiça e o cartão de visita não só do espiritismo, mas de outros grupos religiosos. “É uma estratégia de proselitismo, mas é preciso registrar que também os evangélicos e protestantes realizam grandes obras em favor do próximo”. Ele cita como exemplo igrejas e organizações não-governamentais de caráter cristão, como Exército de Salvação, Visão Mundial e Compassion. Editor da Bíblia Apologética de Estudos, voltada à defesa da fé, e de diversos artigos e trabalhos na área de seitas e heresias, Jamierson concorda que o preparo teológico é fundamental para rechaçar os ensinos do espiritismo. “Como Igreja de Cristo, não temos que nos intimidar pela militância das seitas, mas nos despertarmos por alguns bons exemplo delas”, destaca. “Afinal de contas, fomos chamados para salgar a terra, além de iluminar o mundo. João disse que se amamos a Deus, a quem não vemos, devemos revelar isso em ação em favor do nosso próximo, que vemos e convivemos.”

Pesquisador de religiões e seitas há mais de 50 anos, o pastor Natanael Rinaldi, palestrante do Instituto de Estudos Cristãos (ICP), começou a estudar o espiritismo de Allan Kardec na mesma ocasião em que passou a se dedicar à apologética. Foi nesse percurso que avaliou não somente a doutrina espírita, mas também sua origem. Para ele, o caráter abrangente do espiritismo é apenas uma maneira sutil de se envolver nos meios religiosos com a finalidade de ter mais fácil aceitação, como se fosse também uma religião cristã. “O que não é verdade”, afirma o apologista. “Qualquer movimento religioso que alegue ser cristão deve ter seus ensinos confrontados com a Palavra de Deus para se verificar a veracidade dos mesmos”, sentencia. “Já os autores kardecistas dizem que sua base é o ensino dos espíritos. O espírita é um tipo de religioso eclético”. Mesmo assim, ele acha que alguns grupos religiosos são mais suscetíveis à doutrinação espírita. “Os católicos que simplesmente adotam a religião dos pais, mas desconhecem totalmente seus dogmas básicos, são presas fáceis”.

Rinaldi alerta que também muitos evangélicos estão na mesma situação: “Há crentes que ignoram as doutrinas bíblicas centrais. Não leem as Escrituras, não participam de estudos bíblicos, não têm como responder acerca da razão de sua fé”. Quanto às sessões mediúnicas, em que os adeptos acreditam ter contato com pessoas que já morreram, o pastor lembra que o apóstolo Paulo advertiu a igreja de Corinto sobre a possibilidade de o próprio diabo e seus anjos transfigurarem-se em anjos de luz: “Não são as pessoas falecidas que se manifestam, mas sim, espíritos mentirosos que tomam seus lugares nas invocações. E o pai da mentira é o diabo.”

Fonte Cristianismo hoje

06-06-16 013

Rev. Ângelo Medrado, Bacharel em Teologia, Doutor em Novo Testamento, referendado pela International Ministry Of Restoration-USA e Multiuniversidade Cristocêntrica é presidente do site Primeira Igreja Virtual do Brasil e da Igreja Batista da Restauração de Vidas em Brasília DF., ex-maçon, autor de diversos livros entre eles: Maçonaria e Cristianismo, O cristão e a Maçonaria, A Religião do antiCristo, Vendas alto nível, com análise transacional e Comportamento Gerencial.